4º DOMINGO DO TEMPO DA
QUARESMA – ANO B -
A liturgia do 4º Domingo
da Quaresma garante-nos que Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e
incondicional, a vida eterna.
A primeira leitura 2 Cr 36,14-16.19-23, diz-nos que, quando o homem prescinde de Deus e escolhe
caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, está a construir um futuro marcado
por horizontes de dor e de morte. No entanto, diz o autor do Livro das
Crónicas, Deus dá sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer
o caminho da esperança e da vida nova.
O Evangelho deste domingo virá, precisamente, demonstrar os
limites desta perspectiva e apresentar um Deus que, embora abominando o pecado, ama o
homem para além de toda a medida e está sempre disposto a oferecer-lhe a vida e
a salvação.
O Cronista recorda-nos algo
que é indesmentível: quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de
egoísmo e de auto-suficiência, está a construir um futuro marcado por
horizontes de dor e de morte. Na verdade, a nossa experiência de todos os dias
mostra como a indiferença do homem face a Deus e às suas propostas gera violência,
opressão, exploração, exclusão, sofrimento. Na leitura que o Cronista
faz da história do seu Povo, há um convite claro a escutar Deus e a pautar as
opções que fazemos pelas propostas de Deus.
A perspectiva de que a
libertação do cativeiro é comandada por Deus e de que Deus oferece ao seu Povo a
oportunidade de um novo começo, aponta no sentido da esperança. Cá
está: o Deus que nos é proposto é um Deus que abomina o pecado, mas que dá
sempre aos seus filhos a oportunidade de recomeçar, de refazer tudo, de
refazer o caminho da esperança e da vida nova. Neste tempo de Quaresma, este
texto abre-nos horizontes de esperança e convida-nos a embarcar na apaixonante
aventura da vida nova.
A segunda leitura (Ef 2, 4-10) ,ensina que Deus ama o homem com um amor
total, incondicional, desmedido; é esse amor que levanta o homem da sua
condição de finitude e debilidade e que lhe oferece esse mundo novo de vida
plena e de felicidade sem fim que está no horizonte final da nossa existência.
A vida do homem sobre a terra
está marcada pela debilidade, pela finitude, pelas limitações inerentes
à nossa condição humana. A doença, o sofrimento, o egoísmo, o pecado são
realidades que acompanham a nossa existência, que nos mantêm prisioneiros
e que nos roubam a esperança. Parece que, por nós próprios, nunca conseguiremos
superar os nossos limites e alcançar essa realidade de vida plena, de
felicidade total com que permanentemente sonhamos. Por isso, certos filósofos
contemporâneos referem-se à futilidade da existência, à náusea que acompanha a
vida do homem, à inutilidade da busca da felicidade, ao fracasso que é a vida
condenada à morte… Este quadro seria desesperante se não existisse o amor de Deus.
É precisamente isso que o autor da Carta aos Efésios nos recorda: Deus
ama-nos com um amor total, incondicional, desmedido; e é esse amor que
nos levanta da nossa condição, que nos faz vencer os nossos limites, que nos
oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim a que aspiramos.
Não somos pobres criaturas derrotadas, condenadas ao fracasso, limitadas por um
horizonte sem sentido, mas somos filhos amados a quem Deus oferece
a vida plena, a salvação.
Na verdade, Deus
introduziu na nossa realidade humana dinamismos de superação e de vida nova que
apontam para o homem novo, livre das limitações, da debilidade e da
fragilidade. Aqueles homens e mulheres que acolheram o dom de Deus são chamados
a dar testemunho de um mundo novo, livre do sofrimento, da injustiça, do egoísmo,
do pecado. Por isso, os crentes têm de anunciar e de construir um
mundo mais justo, mais fraterno, mais humano. Eles são testemunhas,
nesta terra, de uma realidade nova de felicidade sem fim e de vida eterna.
Muitas vezes, a vida nova
de Deus manifesta-se nas nossas palavras, nos nossos gestos de partilha e de
serviço, nas nossas atitudes de tolerância e de perdão e somos sinais de
esperança e de libertação para os irmãos que nos rodeiam. Convém, no entanto,
não esquecer este facto essencial: o mérito não é nosso, mas sim de Deus. É
Deus que age no mundo, que o transforma, que o recria; nós somos, apenas, os
instrumentos frágeis através dos quais Deus manifesta ao mundo e aos homens o
seu amor.
No Evangelho (Jo 3, 14-21), João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma que
enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna.
Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele a lição do amor total,
a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida. É esse o caminho da
salvação, da vida plena e definitiva.
O Evangelho deste domingo
convida-nos a contemplar, com João, esta incrível história de amor e a
espantar-nos com o peso que nós – seres limitados e finitos, pequenos grãos de
pó na imensidão das galáxias – adquirimos nos esquemas, nos projectos e no
coração de Deus.
O amor de Deus traduz-se
na oferta ao homem de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita,
incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Aos
homens – dotados de liberdade e de capacidade de opção – compete decidir se
aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, os homens acusam Deus pelas
guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento e morte
que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O nosso texto, contudo,
é claro: Deus ama o homem e oferece-lhe a vida. O sofrimento e a morte não vêm
de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelo homem que se
obstina na auto-suficiência e que prescinde dos dons de Deus.
João define claramente o
caminho que todo o homem deve seguir para chegar à vida eterna: trata-se de
“acreditar” em Jesus. “Acreditar” em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou
teórica a certas verdades da fé; mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e
os seus valores, segui-l’O nesse caminho do amor e da entrega ao Pai e
aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os
projectos pessoais e pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os
apelos e os desafios de Deus; passa por despir o egoísmo, o orgulho, a
auto-suficiência, os preconceitos, para realizar gestos concretos de dom, de
entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que
caminham lado a lado connosco. Neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos
convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total
que Ele percorreu.
Alguns cristãos vivem
obcecados e assustados com esse momento final em que Deus vai julgar o homem,
depois de pesar na balança as suas acções boas e as suas acções más… João
garante-nos que Deus não é um contabilista, a somar os débitos e os créditos do
homem para lhes pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois ele sabe
que Deus é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida
eterna. Não é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida
eterna que Deus nos oferece ou a eterna infelicidade.
Fonte:
Resumo e adaptação local de
um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”