sábado, 9 de março de 2019

SÁBADO DEPOIS DAS CINZAS


SÁBADO DEPOIS DAS CINZAS

Primeira leitura: Isaías 58, 9b-14

Depois da forte denúncia dos pecados do povo (Is 58, 1), a pedido de Deus, o profeta passa à exortação. Exorta àquilo que hoje se poderia chamar a caridade fraterna (vv. 9- 10a), motivada pela promessa da comunhão com Deus e da restauração do país (vv. 10b-12).

Vem, depois, a exortação ao respeito pelo sábado, agora visto a partir dos direitos de Deus (v. 13) e a consequente promessa de felicidade no Senhor (v. 14). Por outras palavras: primeiro Deus pede que seja afastado tudo o que divide o povo em si mesmo (opressão, falsas acusações em tribunal, difamação).

Em consequência, Deus promete a comunhão Consigo e a prosperidade. A reconstrução da justiça social é condição para que também sejam restauradas as antigas ruínas. Depois, vem a exigência de abandonar o eficientismo e retomar o sentido do repouso sabático, com a consequente promessa de saborear a alegria do Senhor e dos seus bens.

Evangelho: Lucas 5, 27-32

A conversão de Levi concretiza a afirmação de Jesus:

«Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecedores.» (v. 32). Sintetiza toda a anterior acção de Jesus: a chamada dos primeiros discípulos, homens simples e rudes; a cura do leproso, sem medo da impureza legal.

O perdão dos pecados e a cura do paralítico. Agora, Jesus convida ao seguimento um homem duplamente desprezível porque é um explorador profissional e um colaboracionista do ocupante romano.

Jesus revela a liberdade total das suas escolhas.

Trata-se de uma liberdade que liberta, porque nasce do amor. Levi, «deixando tudo», pesos, amarras, «levantou-se» (anastás = o mesmo verbo que é usado para indicar a ressurreição de Jesus) e seguiu-o». A libertação e a vida nova estão orientadas para o seguimento de Jesus, para o discipulado.

Levi, libertado e tornado discípulo, quer fazer da sua experiência um acontecimento de graça para outros. Por isso, organiza um banquete em sua casa (v. 29).

«Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores» (vv. 32-33).

Jesus veio ao mundo para chamar o homem pecador à conversão e à comunhão com Deus. Mas, para experimentarmos a Misericórdia, devemos reconhecer-nos doentes e pecadores. Mas, por vezes, não é fácil colocar-nos entre os pecadores, porque, temos consciência de, por graça de Deus, não ter cometido faltas graves. Mas esta resistência em nos considerarmos pecadores, já é sinal de orgulho e de egoísmo.

Cada um de nós há-de reconhecer-se nos doentes a quem Jesus cura e em Levi a quem Jesus perdoa. Só então poderemos experimentar a felicidade da Misericórdia que cura e perdoa.

Há que sentir-nos pecadores, solidários com os outros pecadores e dispostos a carregar os seus pesos, tal como Jesus se fez solidário connosco e se dispôs a carregar sobre Si o nosso pecado.

Pela boca de Isaías, Deus exorta-nos à solidariedade e à partilha com os irmãos. Jesus é, para nós, o exemplo perfeito dessa solidariedade e dessa partilha. Ele partilhou a nossa vida e a nossa condição. Assumiu as nossas limitações e o nosso pecado. Passou fazendo o bem a todos e acolhendo a todos. Reconhecendo a misericórdia que usou para connosco, só a Ele havemos de procurar, solidarizando­nos com Ele na obra da redenção do mundo.

O Evangelho é realmente Boa Nova para todos quantos nos sentimos carecidos da misericórdia de Deus que nos cura e nos perdoa.

É também Boa Nova para toda e qualquer pessoa humana, cuja dignidade defende de modo intransigente, especialmente quando se trata de gente espezinhada pelos outros, os pobres, os marginalizados (os leprosos), as pessoas desprezadas (os pecadores, publicanos, prostitutas).

 "O sábado foi feito para o homem - diz Jesus - e não o homem para o sábado" (Mc 2, 27).

 Para realçar a dignidade da pessoa humana, Jesus realiza muitos milagres ao sábado (cf. Mc 3, 1-6; Lc 14, 1-6; Jo 5, 1-14). Para Jesus, fazer bem ao homem é o melhor modo de santificar o sábado.
“Não são os que têm saúde que precisam do médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores" (Mc 2, 17).

"Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes preceder-vos-ão no reino de Deus" (Mt 21,31).

Fonte: Adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”

sexta-feira, 8 de março de 2019

SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS


SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

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Primeira leitura: Isaías 58, 1-9a

Neste discurso, o profeta pretende alertar o povo para a falta de autenticidade com que vive (vv. 1-3a), proclamar o verdadeiro jejum (vv. 3b-7) e indicar as consequências positivas da ligação do jejum à prática da justiça (vv. 8-12).

O povo tinha regressado do exílio cheio de entusiasmo e de esperança. Mas as dificuldades eram grandes. Deus parecia surdo e indiferente às súplicas e ao culto do seu povo. Mas o profeta alerta para a prática de um jejum misturado com injustiças sociais, e condena-o.

O culto deve estar unido à solidariedade com os pobres. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os pobres e oprimidos. Isaías parece já ter ouvido as palavras de Jesus:

«Tinha fome e destes-me de comer … (cf. Mt 25, 31-46).

Mas afirmar que o verdadeiro jejum e o verdadeiro culto consistem na caridade, não significa negar o valor dessas práticas, mas afirmar que elas têm sentido e valor em vista da mesma caridade.

O jejum tem sentido e valor quando se torna expressão de amor a Deus e ao próximo. Por sua vez, o verdadeiro culto é relação com Deus, sem individualismo e falsidade.

Evangelho: Mateus 9, 14-15

Os discípulos de Jesus são acusados de não Jejuarem. Jesus responde dando a entender que, com Ele, começaram os tempos messiânicos, o tempo das núpcias, o tempo escatológico anunciado pelos profetas, tempo de alegria durante o qual não se jejua, pois o Esposo está presente.

Mas muitos não conseguem ver em Jesus o Messias esperado, e não reconhecem que o Reino de Deus é festa, é pérola pela qual se está disposto a deixar tudo com alegria.

A renúncia, por Deus, não é um peso. Não há que ter medo do rosto alegre do Senhor. O jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador.

O contexto deste evangelho ajuda-nos a compreendê-lo. Nos versículos seguintes Jesus recorre a duas comparações:

«Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha.. 17Nem se deita vinho novo em odres velhos. »(vv. 16.17),

 que oferecem outra motivação em favor do comportamento dos discípulos de Jesus. Com a vinda de Jesus, começou o tempo novo do Reino em que já não se sentem prisioneiros do jejum ou de outras práticas da Antiga Aliança.

A novidade de Cristo não se limita a adaptar as velhas formas: arranca o pano velho, rebenta os velhos odres. Há um novo começo.

O jejum começa a reentrar na nossa cultura actual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.

A Igreja, como sempre, também recomenda o jejum, particularmente na Quaresma.

Mas podemos entender mal as suas motivações ou até cair no egoísmo e do orgulho. Por isso, a mesma Igreja, nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade.

Expliquemos: jejua-se porque Cristo, o Esposo, ainda não está totalmente presente em cada um de nós nem na sociedade em que vivemos. O Esposo está pronto. Mas nós não estamos prontos.

Ainda não nos deixamos invadir completamente pelo seu amor. Jejuamos para Lhe dar lugar em nós, para que possa ocupar toda a nossa existência.

Jejuamos para nos unirmos à sua Paixão. Já no século II era recomendado aos fiéis que não jejuassem nos mesmos dias em que jejuavam os judeus, mas sim na sexta-feira, em memória da paixão de Jesus.

Mas também jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carenciados.

A memória da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um acto de misericórdia, no sentido da palavra do Senhor:

«Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13).

A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade com todos nós.

 

Tendo bem presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com os outros.

Deixemo-nos conduzir pelo Espírito nas formas de ascese a escolher para vivermos proveitosamente a nossa Quaresma. E sucederá connosco o que sucedeu com Jesus:

 "O Espírito do Senhor está sobre Mim – diz Jesus na sinagoga de Nazaré – … enviou-Me a anunciar a boa nova aos pobres … e a pregar um ano de graça do Senhor’ (Lc 4,18-19; Cf. Cst 28).

Amar um pequeno, um pobre, é amar Jesus:

 "Todas as vezes que fizeste isto (as obras de misericórdia) a um só destes meus irmãos mais pequenos, foi a Mim que o fizestes" (Mt 25, 40).

O tempo da Quaresma é propício a percorrermos os diversos graus da caridade evangélica:

"Ama o próximo como a ti mesmo" (Mt 19, 19).

É a regra de ouro que já foi proclamada no Antigo Testamento e que Jesus faz Sua: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti (Cf. Mt 7,12); Lc 6,11; Lv 19,18; Tob 4,15). Este é o primeiro grau da caridade.

O segundo grau é: ama o próximo como amas a Jesus (Cf. Mt 25, 40; cf. n. 28).

O terceiro grau é amar o próximo como Jesus nos ama:

"Este é o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amel’ (Jo 15,12).

O quarto grau, o mais perfeito, é revelado por Jesus em forma de oração: pede que os seus discípulos se amem uns aos outros como as Três Pessoas da SS. Trindade se amam:

"Não rogo só por estes, mas também por aqueles que, graças à sua palavra, hão-de acreditar em Mim, para que todos sejam um. Como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, sejam também eles uma só coisa, para que o mundo creia que Tu Me enviaste" (Jo 17,20-21).

O fruto da caridade é Jesus presente no meio de nós:

"Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio deles" (Mt 18, 20).

Mas o preço da caridade é sempre a cruz, a negação de nós mesmos, a superação do nosso egoísmo:

"Se alguém quiser vir após Mim, renegue a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-Me" (Lc 9, 23).

Fonte: Adaptação local de um texto de  “dehonianos.org/portal/liturgia”

quinta-feira, 7 de março de 2019

QUINTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS - 7 Março 2019



QUINTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS - 7 Março 2019

Primeira leitura: Deuteronómio 30,15-20

Os desterrados de Israel são convidados a reflectir sobre as causas da sua sorte, a acolher novamente a aliança do Senhor com todas as suas exigências e a abrir-se à esperança.

Para ser mais incisivo, o autor sagrado recorre à contraposição dizendo que se trata de uma escolha entre a vida e a morte, entre o bem e o mal, entre a bênção e a maldição. Há que fazer uma opção responsável, com todas as suas consequências. O céu e a terra são testemunhas dessa opção (v. 19).

A vida é um dom de Deus, mas também é participação no seu ser (c. 20). Deus é Aquele que vive e faz viver. Há que estar unidos a Ele no amor e na obediência aos seus preceitos. Esses preceitos não têm outra finalidade que não seja a de nos ajudar a percorrer os seus caminhos (v. 16) e a alcançar a sua promessa (v. 20) de vida e de bênção.

Evangelho: Lucas 9, 22-25

Jesus anuncia, pela primeira vez, a necessidade da sua paixão aos discípulos, que acabavam de Lhe referir a opinião do povo sobre Ele e de proclamar a sua fé. Jesus reserva este ensinamento a um pequeno grupo de discípulos, os mais íntimos.

Mas a todos ensina o caminho a seguir por quem pretende tornar-se seu discípulo. De acordo com os costumes de então, quem decidia tornar-se discípulo de um rabi, caminhava seguindo os seus passos.

Àqueles que o querem seguir, Jesus apresenta o caminho da abnegação, do sofrimento e da morte, o caminho da cruz. Era frequente, sob a dominação romana, que um condenado carregasse o braço transversal da cruz desde o lugar da condenação ao lugar da execução. Tratava-se, pois, de uma imagem tremendamente realista: seguir a Cristo era viver como condenados à morte pelo mundo, prontos a enfrentar o desprezo de todos. Mas é a morte de Jesus, a sua cruz, que nos dá a vida verdadeira. Por isso, há que estar prontos a perder tudo, que de nada serve, se não alcançarmos a vida.

A primeira leitura apresenta-nos Deus que, com afecto paterno, respeitando-nos e querendo o nosso bem, nos apresenta dois caminhos, aconselhando-nos a escolher o bom:

«Coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal... Ordeno-te hoje que ames o SENHOR... que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar posse» (w. 15-16).

A vida consiste em amar o Senhor, em observar os seus preceitos, em ser dócil à sua palavra. O mal consiste em seguir os caprichos do coração ... E leva à morte:

 «Se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os servires, declaro-vos hoje que morrereis ... » (VII. 16- 17).

Deus avisa-nos, mas não nos obriga a obedecer-lhe. Ninguém, como Ele, respeita a liberdade que nos deu. Quero que O sirvamos, mas por amor e, por isso, livremente: «Escolhe» (v. 19).

Mas, como deseja o nosso bem, quase nos suplica: «Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, 20amando o SENHOR, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele» (v. 19).

A escolha da vida não é óbvia, porque encerra um paradoxo: Jesus diz que se alcança a vida segundo Deus, que é Deus, renunciando a nós mesmos, carregando a cruz de cada dia, aceitando perder a vida presente por causa d ' Ele.

É seguindo Cristo, de modo radical, até ao fim, que se chega à vida. O seguimento de Cristo implica passar pelo Calvário, pela cruz. Mas é por aí que se chega à ressurreição, que se salva a vida.

O ensinamento de Jesus deita por terra os modelos das velhas religiões.

A grandeza do homem não consiste em transcender a finitude da matéria, subindo à altura do ser do divino (mística oriental), nem consiste em identificar-nos sacramentalmente com as forças da vida latentes na profundidade radical do cosmos (religião dos mistérios), nem é perfeito quem cumpre a lei até ao fim (farisaísmo), nem o que pretende escapar da miséria do mundo, na esperança da meta que se aproxima (apocalíptica) ...

Diante de todos os possíveis caminhos da história dos homens, Jesus apresenta-nos o seu caminho: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me».

Fonte: Adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”

quarta-feira, 6 de março de 2019

QUARESMA É UM TEMPO PARA A RECONCILIAÇÃO: CONVERTE-TE E ACREDITA NO EVANGELHO

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QUARTA FEIRA DAS CINZAS




QUARTA-FEIRA DE CINZAS - 6 MARÇO 2019



Primeira leitura: Joel 2, 12-18


Joel é provavelmente um sacerdote-profeta, que vive no Templo, depois do exílio. Fiel ao serviço da Casa de Deus, exorta o povo, que passa por uma grave carestia provocada por uma invasão de gafanhotos (1, 2-2, 10), à oração e à conversão .. O próprio culto, no templo, tinha cessado (1, 13.16).


O profeta, que sabe ler os sinais dos tempos, anuncia a proximidade do «dia do sennot», e convida o povo ao jejum, à súplica e à penitência (2, 12.15-17). «Convertei-vos», grita o profeta. O termo hebraico subjacente é schOb que significa arrepiar caminho, regressar ...


O povo que virara costas a Deus, devia voltar novamente o coração para Ele, e retomar o culto no templo, um culto autêntico, que manifestasse a conversão interior. O povo pode voltar novamente para Deus, porque Ele é misericordioso (v. 13), e também pode mudar de ideia e voltar atrás (v. 14).


Um amor sincero a Deus, uma fé consistente, e uma esperança que se torna oração coral e penitente, darão ao profeta e aos sacerdotes as devidas condições para implorarem a compaixão de Deus para com o seu povo.


Segunda leitura: 2 Coríntios 5, 20 - 6,2


«Reconciliai-vos com Deus», é o apelo de Paulo. A reconciliação é possível, porque essa é a vontade do Pai, manifestada na obra redentora do Filho e no poder do Espírito que apoia o serviço dos apóstolos. O v. 21 é o ponto alto do texto, pois proclama o juízo de Deus sobre o pecado e o seu incomensurável amor pelos pecadores, pelos quais não poupou o seu próprio Filho (cf. Rm 5, 8; 8, 32).


Cristo carregou sobre si o pecado do mundo e expiou-o na sua própria carne. Assim, podemos apropriar-nos da sua justiça-santidade. O Inocente tornou-se pecado para nos pudéssemos tornar justiça de Deus. E, agora, o tempo favorável para aproveitar essa graça: deixemo-nos reconciliar  com Deus. O termo grego indica a transformação da nossa relação com Deus e, por consequência, da nossa relação com os outros homens. Acolhendo o amor de Deus, que nos leva a vivermos, não já para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (w. 14s.), podemos tornar-nos nova criação em Cristo (5, 18).


Evangelho: Mateus 6, 1-6.16-18


Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras que eles.: «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles». Agora aplica esse princípio a algumas práticas religiosas do seu tempo: a esmola, o jejum e a oração. Há que estar atentos às motivações que nos levam a dar esmola, a orar, a jejuar, porque o Pai vê o que está oculto, os sentimentos profundos do coração. Se buscamos o aplauso dos homens, a vanglória, Deus nada tem para nos dar. Mas se buscamos a relação íntima e pessoal com Ele, a comunhão com Ele, seremos recompensados. Se não fizermos as boas obras com recta intenção somos hypokritoi, isto é, comediantes, e mesmo ímpios, de acordo com o uso hebraico do termo.


A Liturgia da Palavra dá-nos, hoje, a orientação correcta para vivermos frutuosa mente a Quaresma, tempo favorável de graça, dia de salvação. Penitência e arrependimento não são caminho de tristeza, de depressão, mas caminho de luz e de alegria, porque, se nos levam a reconhecer a nossa verdade de pecadores, também nos abrem ao amor e à misericórdia de Deus.


a profeta, em nome de Deus, convida o povo a percorrer o caminho da esperança, fazendo penitência; os apóstolos recebem de Deus o ministério da reconciliação; a Igreja repete a boa nova: «É este o tempo favorável~ é este o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). Com todo o povo de Deus, somos convidados a arrepiar caminho, a voltar-nos para o Senhor, a deixar-nos reconciliar, a d
ar a Cristo ocasião de tomar sobre Si o nosso pecado, porque só Ele o conhece e pode expiar.


Renovados pelo amor, podemos viver alegre e confiadamente na presença de Deus, nosso Pai, cumprindo humildemente tudo quanto Lhe agrada e é útil para os irmãos. E a presença do Pai, no mais íntimo de nós mesmos, garante-nos a verdadeira alegria.


Jesus, no evangelho, mostra-nos qual deve ser a nossa atitude quando praticamos obras de penitência (tais como a esmola, a oração, o jejum), e insiste na rectidão interior, garantida pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude e a orientação do próprio Jesus em todas as suas palavras e obras. Nada fazia para ser admirado pelos homens. Nós podemos ser tentados a fazer o bem para obtermos a admiração dos outros. Mas essa atitude, por um lado, fecha-nos em nós mesmos, por outro lado projecta-nos para fora de nós, tornando-nos dependentes da opinião dos outros.


Há, pois, que fazer o bem porque é bem, e porque Deus é Deus, e nos dá oportunidade de vivermos em intimidade e solidariedade com Ele, para bem dos nossos irmãos. Estar cheios de Deus, viver na sua presença, é a máxima alegria neste mundo, e garante-nos essa mesma situação, levada à perfeição, no outro.


Façamos nesta Quaresma as obras de penitência que pudermos. Mas façamo-Ias na intimidade e na presença do Senhor, que havemos de procurar na oração, na Eucaristia, na comunidade... Não esqueçamos a ascese, especialmente a que nos é exigida pelo fiel cumprimento dos nossos compromissos com Deus e com os irmãos.


Fonte: adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia” para a IV Feira das Cinzas.

terça-feira, 5 de março de 2019

A IRMÃ ALICE, SUPERIORA GERAL DAS IRMÃS DE CERISTO CRUFICADO "MULHER DO ANO" PELA REGIÃO DE MURCIA - ESPANHA

La hermana Alicia Plaza Mazón, reconocida como Mujer del año 2019 en la Región, en una fotografía de archivo./Diócesis de Cartagena




A Irmã Alice Plaza Mazón, Superiora Geral das Irmãs de Cristo Crucificado foi distinguida  pela Região de Múrcia (Espanha), como a "Mulher do Ano 2019",  com motivo do Dia Mundial Da Mulher que se celebra no próximo dia 8 de Março.


As Irmãs Apostólicas de Cristo Crucificado trabalham na Paróquia de S. Tiago Maior, no Distrito de Namarrói, Diocese de Gurúè, e Província da Zambézia, onde tem uma Escolinha e colaboram nas actividades pastorais da Paróquia.


A comunidade está formada actualmente pelas seguintes Irmãs:
Irmã Conceição del Toro López, Irmã Angelita Cárceles López e Irmã Patrícia Ayllón.

CAMINHANDO ENTRE DOIS MESES: NOS FINS DE FEVEREIRO E PRINCÍPIOS DE MARÇO…


CAMINHANDO ENTRE DOIS MESES:  NOS FINS DE FEVEREIRO E PRINCÍPIOS DE MARÇO…
24.02.2019
PROFISSÃO PERPÉTUA DA IRMÃS DADI DUARTE VILELA

Na Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Invinha, Dominical, D. Francisco Lerma Martínez. Bispo da Diocese, presidiu à celebração da Eucaristia, durante a qual a Irmãs DADI DUARTE VILELA, da Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição, fez a sua Profissão Perpétua.
A Imãs Dadi, é natural da Paróquia da Imaculada Conceiçãod e Invinha, e da família do primeiro catequista da antiga Missão de Invinha, o zeloso Catequista Paulo Mucarua. Ele, vindo do Niassa da Paróquia de S. José de Mitúè, enviado pelos Missionários da Consolata a pedido dos Padres Dehonianos em 1948, Faleceu em 1976 e está sepultado no Cemitério Diocesano de Invinha.
Participaram na Celebração litúrgica diversos sacerdotes do clero diocesano e religioso de Gurúè e das Diocese de Nampula e Quelimane, Irmãs da Congregação das Framciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição e das Congregações da Diocese e das dioceses vizinhas, e numerosos fiéis de várias paróquias de Diocese e de fora. Também participaram diversos membros do governo local, municipal, distrital e provincial.
28.02.2019
REUNIÃO DO COLÉGIO DOS CONSULTORES
Convocado anteriormente pelo Bispo Diocesano,  na Casa Diocesana, reuniu em Sessão Extraordinária o Conselho dos Consultores Diocesanos.
Como órgão consultivo e representativo do Conselho dos Presbíteros a sua agenda e sessões foram reservadas  e confidências, tendo em conta a natureza dos problemas: estado da Diocese, plano diocesano de pastoral, pessoal missionário, economia, da Diocese, saúde de D. Manuel e de alguns sacerdotes, transferências, situação dos seminários, novas congregações; projetos e obras mais urgentes; situação da Rádio Diocesana e nova edição do “Missal dominical em Lomwe”.
Após a discussão de cada um dos assuntos apresentados, foram apresentadas oportunas propostas à consideração do Bispo. Uma vez examinadas, o Sr. Bispo comunicará o que for necessário comunicar publicamente a toda a Diocese.
 
01.03. 2019
I.- ABERTURA DO ANO ACADÉMICO NA EXTENSÃO DE GURÚÈ DA UCM
 
Na passada VI Feira, 01.03.2019, na Casa Diocesana, celebrou-se a Abertura do no Académico 2019, da Extensão do Gurúè da Universidade Católica de Moçambique.
Às 7.30. no Casa Diocesana, concentraram-se os alunos, professores, pessoal auxiliar e convidados à participarem ao evento. A seguir, e presidida por D. Francisco Lerma Bispo da Diocese,  celebrou-se a Eucaristia concelebrada pelo Pe.  Daniel Raúl, Director da Extensão da UCM de Gurúè; Pe. Agostinho Vasconcelos, Director do Secretariado da Coordenação Pastoral; Pe. Tonito Muananoua, Chanceler da Cúria; Pe. Pedro Esquadro, Pároco da Paróquia N. S. de Fátima de Muliquela; Pe. João Tarua e Pe. Adelino Eduardo Mualicamo, Reitor e Vice-Reitor  respetivamente do Seminário  Diocesano S. José.
Após a celebração litúrgica, realizou-se a sessão académica com a apresentação do Corpo Académico e alunos para esta Ano Académico que agora começa. Foi também a vez da apresentação dos convidados de honra, as autoridades do Distrito e do Município, da Direcção Distrital de Educação, dos Partidos Políticos e demais representantes das entidades civis como das Unidades básicas da Universidade Católica de Moçambique em Nampula e Quelimane.
A “Lectio Sapientiae” foi a cargo do Prof. Dtr. Alfandega Estêvão Manjoro, Director da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas da UCM de Quelimane, sob o título: O Papel da Universidade para a promoção da Solidariedade e Humanização do cidadão moçambicano.
A Extensão de Gurúè da UCM, no seu 6º Ano de funcionamento oferece os seguintes cursos:
 Administração Pública, Direito e Contabilidade, Gestão e Administração Educacional, Psicopedagogia e Administração Pública.
Para este ano académico matricularam-se 150 alunos.para a promoção da
II.- INICÍO DO ANO DE FORMAÇÃO E ACADÉMICO NO SEMINÁRIO DIOCESANO DE S. JOSÉ. INVINHA.
D. Francisco encontrou-se com os alunos e formadores do Seminário Propedêutico S. José, Invinha,  para dar início ao novo Ano de Formação e Académico de 2019. Teve um encontro com os formadores. A seguir, reuniu com todos os alunos.
Apresentação da nova equipa de formadores e alunos
  1. Pe João Tarua, Reitor.
  2. Pe Adelino Mualicamo, Vice Reitor.
Alunos:
1º Ano: 12
2º Ano 11
3º Ano 8.
A seguir aos encontros, presidiu à celebração da Eucaristia concelebrada pelos novos Formadores Pe. João Tárua, Reitor, e Adelino Mualicamo, Vice- Reitor; pelos anteriores Formadores, Pe. Américo António e Pe Francisco Matias; e pelo Pe. Agostinho Vasconcelos.
Com esta celebração fez-se a Abertura formal do novo Ano de Formação e Académico 2019.
04.03.2019
 RETIRO DOS CATEQUISTAS DA PARÓQUIA DE S. ANTÓNIO DA SÉ CATEDRAL DE GURÚÈ.
Na Casa Diocesana, orientado pelo Pe. Tonito Muananoua e com o acompanhamento da Irmã Henriqueta, realizou-se o Retiro de preparação para a Quaresma para os Catequistas da Paróquia de S. António da Sé catedral, com a participação de 50 animadores.
De 05 a 07 03.2019
Encontro de Formação de animadores comunitários da ONG  moçambicana  (Núcleo das Associações Femininas da Zambézia) NAFEZA sobre: “Revelação da HIV dos cuidadores para os adolescentes”.
NAFEZA é uma organização não governamental moçambicana fundada em 1997; é uma pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, dotada de autonomia administrativa, financeira e patrimonial que luta para a reversão da situação de vida desfavorável da maioria das mulheres frente as desigualdades de género.
 Actualmente NAFEZA possui cerca de 63 Associações sedeadas na Província da Zambézia que desenvolvem as mais diversas actividades em áreas como a educação, agricultura, pecuária, HIV e SIDA, Género, Violência baseada no género, meio ambiente sustentável, artesanato, comunicação social e advocacia pelos Direitos Humanos, particularmente da Mulher.
Fonte: A redacção

3ª FEIRA - VIII SEMANA - T C - ANOS ÍMPARES - VIII SEMANA - 5 MARÇO 2019


3ª FEIRA - VIII SEMANA - T C - ANOS ÍMPARES - VIII SEMANA - 5 MARÇO 2019

Primeira leitura: Ben Sirá 35, 1-12

Ben Sirá é simultaneamente um ritualista e um moralista, isto é, um homem apegado ao culto e apegado à Lei. Uma vez que vê o cumprimento da Lei como culto a Deus, podemos dizer que predomina nele o espírito do culto:

«Aquele que observa a Lei faz numerosas oferendas;oferece sacrifício salutar o que guarda os preceitos» (v. 1).

Nos versículos seguintes, o autor sagrado documenta um profundo conhecimento dos diferentes actos de culto com que se honrava a Deus.

Com a afirmação «a oblação do justo enriquece o altar, e o seu perfume sobe ao Altíssimo. O sacrifício do justo é aceitável» (vv. 5-6ª), Ben Sirá relaciona o compromisso ou santidade de vida com o rito de oferta no templo, antecipando e satisfazendo aquela exigência de unidade/comunhão da pessoa que Mateus afirmará de maneira categórica:

«Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta» (Mt 5, 23s.).

Ao mesmo tempo, o autor sagrado, apela para a generosidade nas ofertas ao Senhor, lembrando Ex. 23, 15:

«ninguém se apresente diante de mim de mãos vazias»,

porque «o Senhor retribuirá a dádiva, recompensar-te-á de tudo, sete vezes mais» (v. 7). O homem sábio experimentou repetidamente que, com Deus, nunca ficamos a perder.

Evangelho: Marcos 10, 28-31

O discurso de Jesus, depois do colóquio com o homem rico, deixou os discípulos apavorados. Pedro toma a palavra para tentar clarificar a confusão que se abatera sobre todos: que será de nós que «deixámos tudo e te seguimos»? (v. 28).

Jesus garante-lhes que Deus não se deixa vencer em generosidade. Acolherá na vida eterna aqueles que, deixando tudo, O seguem; mas também lhes permite usufruir, desde já, da riqueza dos seus dons, e está com eles para os apoiar nas perseguições.

Marcos faz uma lista detalhada dos bens de que os discípulos podem, desde já, usufruir, e conclui com a máxima sobre os primeiros e os últimos no Reino (cf. Mt 19, 30; 20, 26; Lc 13, 30). Há que estar atento contra as falsas seguranças, e empenhar-se num permanente esforço de conversão.

Uma leitura superficial dos textos bíblicos, que a liturgia de hoje nos oferece, pode induzir-nos em erro e levar-nos a concluir que a nossa relação com Deus é semelhante à que podemos ter com um banco: depositamos determinada soma e, no devido tempo, vamos levantar os juros. Na primeira leitura o rendimento seria sete vezes maior do que o depósito.

No evangelho, os ganhos seriam a cem por cento. Mas, obviamente, não estamos a fazer uma boa leitura dos textos.

O Sábio oferece-nos uma catequese completa sobre os sacrifícios. O piedoso israelita não deve descuidar as oblações prescritas na Lei. Os sacrifícios de animais, no Templo, devem ser feitos com generosidade e alegria: «não regateies as primícias das tuas mãos. Faz todas as tuas oferendas com semblante alegre, consagra os dízimos com alegria» (vv. 7b-8).

Mas demora-se a explicar que a vida é mais importante do que as vítimas. O mais importante é construir uma relação interior com o Senhor. É esse o objectivo principal da Lei. Mas há que estar atentos ao próximo, porque o bem que se faz aos outros também é sacrifício agradável a Deus. Dar esmolas equivale a um sacrifício de louvor a Deus.

O evangelho mostra-nos os Apóstolos que aderiam a Jesus e O seguem. Também aqui, como no texto de Ben Sirá, se trata de entrar em comunhão com Alguém. O que mais vale é a oferta da nossa vida, na fidelidade à vontade de Deus, na generosidade em seguir os seus ensinamentos. A oferta de um qualquer dom é apenas epifania da oferta de nós mesmos

Fonte:

Adaptação local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia/”

segunda-feira, 4 de março de 2019

SEGUNDA-FEIRA - VIII SEMANA -T C M - ANOS ÍMPARES -


SEGUNDA-FEIRA - VIII SEMANA -T C M - ANOS ÍMPARES -

4 MARÇO 2019

Primeira leitura: Ben Sirá 17, 20-28 (gr. 24-29)

Ben Sirá, hoje, trata um tema de importância vital: o arrependimento e o perdão. Não é fácil arrepender-se nem é facil perdoar. Mas são atitudes indispensáveis na nossa relação com Deus e com os outros.

O arrependimento nasce da consciência de que, no nosso modo de pensar e de agir, há sempre algo de incorrecto. Todos nos sentimentos sujeitos a pecar e mesmo pecadores. Que fazer? A palavra de Deus é clara:

 «Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados» (v. 25).

A conversão consiste em deixar de pecar e em voltar-nos para Ele, em regressar ao seu amor. O pecador é incapaz de louvar o Senhor, porque a sua vida é semelhante à dos que «jazem nas trevas e sombras da morte». Um salmista pede a Deus que o livre da morte para que, continuando a viver, tenha oportunidade de O louvar (Sl 88, 11-13).

Deus oferece o seu perdão ao pecador que se arrepende. Trata-se de um dom da misericórdia divina, pois o homem pecador a nada tem direito.

Evangelho: Marcos 10, 17-27

O diálogo entre Jesus e o homem rico é referido pelos três sinópticos. Mas a versão de Marcos apresenta alguns pormenores interessantes: o homem ajoelha-se diante de Jesus (v. 17); Jesus verifica que se trata de um homem religiosamente sincero e, por isso, sente afeição por ele e fala-lhe (v. 21); tendo ouvido as palavras de Jesus, o homem ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso (v. 22).


Jesus está a caminho de Jerusalém. A pergunta deste israelita praticante é séria. Mas Jesus apresenta-lhe uma proposta mais vasta: despojar-se dos seus bens e aderir à comunidade dos discípulos. Assim daria prova da sinceridade com que buscava a vida eterna.

Mas o homem, que «tinha muitos bens» (v. 22), não é capaz de dar essa prova. Jesus aproveita a ocasião para sublinhar que as riquezas são um grave obstáculo para entrar no reino de Deus, porque impedem de centrar o coração e os afectos em Deus, de tender para Ele, que é o fim de todos e cada um dos mandamentos e prescrições.

Os discípulos ficam espantados, pois sabem que Jesus não quer uma comunidade de esfarrapados Mas o Senhor repete a afirmação servindo-se da riqueza metafórica oriental: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus» (v. 25).

«Quem pode, então, salvar-se?» (v. 26), perguntam os discípulos. Então, Jesus acrescenta: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27). É a «teologia da gratuidade», característica do segundo e evangelho, e em consonância com o pensamento paulino (cf. Rm 11, 6; Ef 2, 5; 1 Cor 15, 10; etc.).

Jesus coloca-se numa posição oposta ao «automatismo farisaico», que supunha que o cumprimento de certas regras de pobreza assegurava a vida eterna. Mas nada deve ser absolutizado. Só Deus é absoluto.

A libertação do pecado e das riquezas é fundamental para acedermos a valores superiores. Sem essa libertação não alcançamos à «vida eterna».


Mas não é fácil libertar-nos do pecado, dada a nossa grande fragilidade. Há que estar conscientes dela, para, cada dia, pedir perdão ao Senhor, implorar a sua misericórdia, e estar sempre dispostos a recomeçar. "Hoje começo!", dizia um santo, cada manhã.

O homem moderno tem dificuldade em pedir perdão, porque, devido aos seus grandes progressos científicos e tecnológicos, se julga auto-suficiente. Fecha-se em si, faz-se medida de si mesmo, tem por bem o que lhe parece bem, se procurar qualquer referência fora de si mesmo. Desse modo, bloqueia o caminho espiritual, ficando impedido de regressar ao Pai.
O evangelho propõe a libertação das riquezas.

O homem de que nos fala Marcos quer encontrar o caminho para a «vida eterna». Mas está enredado nas suas riquezas. Jesus convida-o a desfazer-se delas, não destruindo-as, mas dando-as aos pobres, prometendo-lhe «um tesouro no céu». Mas o homem não consegue dar esse passo. Pensa no que deixa e não na riqueza que é seguir Jesus: deixa tudo o que tens; «depois, vem e segue-me» (v. 21).

Mais importante do que o que deixamos, é Aquele que seguimos, com quem partilhamos a vida e a missão. A proposta de Jesus consiste em entrar, desde já, no Reino e de ter, desde já, um tesouro nos céus. Mais que tudo, é a proposta de uma vida de intimidade com o Senhor: «vem e segue-me».

As riquezas deste mundo podem tornar-se um obstáculo para escutar Jesus e segui-lo. O Senhor reconhece que, deixar essas riquezas, não é fácil: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» (v. 23).

Mas, Ele mesmo, nos aponta o remédio para as nossas dificuldades em desapegar-nos dos bens: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (v. 27).

Com a graça do Senhor, tantos cristãos sacrificaram tudo, incluindo a própria vida, para seguir Jesus e Lhe ser fiel nas perseguições. Tantos outros deixaram tudo para se consagrarem na vida religiosa e sacerdotal:

«a Deus tudo é possível!».

Com a graça de Deus, podemos libertar-nos do pecado e das riquezas, e seguir Jesus pelo caminho por onde nos quiser chamar.

Cristo, lembram-nos as Constituições (n. 44), «convida-nos à bem-aventurança dos pobres no abandono filial ao Pai» (cf. Mt 5, 3). Viver esta bem-aventurança é permitir a Cristo viver a Sua pobreza em nós, com a sua mansidão, aflição, paz, misericórdia. É deixar «viver... Cristo» em nós (cf. Fl 1, 21), é garantir a posse do «tesouro escondido», e da «pérola de grande valor», que é o próprio Cristo das bem-aventuranças, vividas na nossa vida.

Por isso, de acordo com as Constituições (n. 44), «recordaremos o seu insistente convite: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres; depois vem e segue-Me» (Mt 19,21)" (n. 44).

Fonte:
Adaptação local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia