DOMINGO DE RAMOS
Iniciamos, neste domingo, a semana mais importante do ano litúrgico,
rememorando a entrada de Jesus em Jerusalém antes da sua morte redentora para
concluí-la celebrando o triunfo absoluto do Senhor na sua Ressurreição. São
dias muito especiais. Neles poderemos reviver e manifestar nossa fé e devoção
participando activamente das celebrações junto com a comunidade cristã.
O triunfo de Jesus passa pela humilhação
da cruz (1ª leitura).
A sua atitude de profunda humildade perpassa, como pano de fundo,
todas as celebrações da Semana Santa (2ª leitura).
A leitura completa da Paixão
(evangelho) nos permite contemplar em
profundidade o amor de Jesus por nós e o mistério da nossa Redenção.
Evangelho: Marcos 11,1-10
Jesus é o Rei-Messias que vai confrontar-se com o
centro de poder da sociedade judaica, simbolizado pela cidade de
Jerusalém e pelo Templo, sede do poder econômico, político, ideológico e
religioso. Ele não entra na cidade de forma triunfal, como rei, montado num
vistoso cavalo de guerra. Entra como simples homem, humilde e
pacífico, montado num jumento, animal de trabalho, e identificando-se
com os pobres.
À diferença do Messias que esperavam, Ele traz consigo a inversão de um
sistema social apoiado na força, no poder e na violência, defendendo os
privilegiados e desprezando os humildes. Montado num jumento, está claro que
Ele não vem para dominar, mas para servir!
1ª leitura: Isaías 50,4-7
A missão do “Servo de Deus” é aqui apresentada como forma de “ajudar os
desanimados com uma palavra de coragem”. Ele mesmo se torna discípulo obediente e
não se opõe à vontade do Pai nem se protege do sofrimento que envolve
sua missão num mundo dominado pela injustiça e o egoísmo. Em meio ao sofrimento
na realização do seu ministério, sente a presença do Senhor que o defende e o
renova (“o Senhor Javé me ajuda”). Por isso, não recua diante das dificuldades
e ataques dos adversários e oferece uma resistência passiva. Essa foi a
atitude de Jesus e essa é a característica fundamental de seus seguidores
diante da violência injusta por causa da fé.
Salmo responsorial
21(22),8-9.17-18a.19-20.23-24
O Salmo é uma súplica a Deus numa hora de sofrimento e abandono. Salmo de
grande intensidade, expressa em imagens vigorosas, em pedidos insistentes, e
também numa esperança triunfante.
O limite do sofrimento é sentir o abandono de Deus, que parece não ouvir a
oração.
2ª leitura: Filipenses 2,6-11
Cristo como modelo da humildade.
Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus se apresentou entre os humanos como simples homem tornando-se apenas um ser humano obediente a Deus, submeteu-se à experiência mais difícil, que é a morte. Jesus se entregou até o fim, aceitando a desonra da morte numa cruz, como se fosse um malfeitor.
Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus se apresentou entre os humanos como simples homem tornando-se apenas um ser humano obediente a Deus, submeteu-se à experiência mais difícil, que é a morte. Jesus se entregou até o fim, aceitando a desonra da morte numa cruz, como se fosse um malfeitor.
Marcos 14,32-52
Ao assumir sobre si o pecado de toda a humanidade,
sentia-se angustiado, frágil e com verdadeiro medo de morrer :”Pai! Tudo é possível
para ti! Afasta de mim este cálice!”). Por outro lado, estava ali, como Filho de
Deus, para cumprir a sua missão (”Contudo, não seja o que eu quero, e sim o que
tu queres”).
O que se passava no íntimo de Jesus? Uma confrontação
dramática, entre a necessidade de apoio e a solidão “Simão, você está
dormindo?... eles não sabiam o que dizer a Jesus”). Naquele momento, Jesus
estava, realmente, só!
É nessa solidão que Jesus bebe o cálice amargo, antes
de sua morte física. Mas é também, na oração e na vigilância, que se
reanima. No momento em que aceita a vontade do Pai, recupera a sua força e
determinação. Agora vai enfrente, sem temor, até o fim (”Basta! Chegou
a hora! Eis que o Filho do Homem vai ser entregue ao poder dos pecadores.
Levantem-se! Vamos! Aquele que vai me trair já está chegando”).
A oração de Jesus no Getsémani é a quinta-essência da
oração. Por um lado, em quanto homem, reconhece diante do Pai que está apavorado;
por outro, como Filho de Deus, aceita a vontade do Pai.
Olhando este seu exemplo podemos sentir, na prática, a profundidade da
oração.
A vontade de Deus é que deve
prevalecer sempre; não a nossa. Mas, como evitar ficarmos com medo diante do
sofrimento, da provação e da morte?: “Contudo, não seja o que eu quero,
e sim o que tu queres”.
Quem teve de passar por momentos difíceis na vida e
fez suas as palavras de Jesus, na oração, sabe o que é isso. É sentir o medo e
a repulsa de beber o cálice amargo, mas sem ficar desesperado diante da
provação e aceitando de antemão, com fé e confiança, a vontade do Pai. É reconhecer que nós
não temos o controle de nossa vida.
Mais do que as chicotadas, mais do que os
pregos, mais do que a cruz, o que deve ter doído em Jesus é a solidão
diante do Pai, a traição de Judas e a covardia dos seus adversários, mandando
prendê-lo escondido, à noite. Mais ainda, porém, deve ter sido carregar os
pecados do mundo.
Descobrimos, desta forma, até onde
vai o amor de Deus por nós. A dor, o sofrimento e a cruz tem sentido quando se
aceitam por amor, quando se vivem como forma de entrega pelas pessoas amadas.
Cumpre-se o que disse o Senhor: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a
vida por seus amigos” (João 15,13).
Fonte: adaptação de um texto de: padre Ciriaco Madrigal