19º Domingo do
Tempo Comum – Ano A
A liturgia deste Domingo tem como tema fundamental a
revelação de Deus. Fala-nos de um Deus apostado em percorrer, de braço dado com
os homens, os caminhos da história.
A primeira leitura (1 Reis 19,9a.11-13ª), convida os
crentes a regressarem às origens da sua fé e do seu compromisso, a fazerem uma
peregrinação ao encontro do Deus da comunhão e da Aliança; e garante que o
crente não encontra esse Deus nas manifestações espectaculares, mas na
humildade, na simplicidade, na interioridade.
Contra desvios à fé tradicional, levanta-se o profeta
Elias. Ele aparece como o representante desses israelitas fiéis.
O encontro com Deus que Se manifesta no silêncio, na
intimidade, na simplicidade, na humildade, na interioridade do coração do homem
leva à acção: o encontro com Deus conduz sempre o homem a um empenho concreto e
a um compromisso com o mundo.
O texto que nos é proposto convida a descobrir a Deus
no silêncio, na simplicidade, na intimidade… É preciso calar o ruído excessivo,
moderar a actividade desenfreada, encontrar tempo e disponibilidade para
consultar o coração, para interrogar a Palavra de Deus, para perceber a sua presença
e as suas indicações nos sinais que Ele deixa na nossa história e na vida do
mundo.
Hoje como ontem, há outros deuses, outras propostas de
felicidade, que nos procuram seduzir e atrair… Há deuses que gritam alto a sua capacidade de nos oferecer uma felicidade
imediata; há deuses que, como um terramoto, fazem tremer as nossas convicções e
lançam por terra os valores que consideramos mais sagrados; há deuses que, com
a força da tempestade, nos arrastam para atitudes de egoísmo, de prepotência,
de injustiça, de comodismo, de ódio… Esta 1ª leitura de hoje leitura convida-nos
ao encontro das nossas raízes, dos nossos compromissos baptismais. Quais
são os falsos deuses que, às vezes, me afastam da comunhão com o verdadeiro
Deus?
A segunda leitura (Rom 9,1-5), Paulo vai referir-se, agora, a um problema particular, mas que o preocupa a ele e a todos os cristãos: que acontecerá a Israel que, apesar de ser o Povo eleito de Deus e o Povo da Promessa, recusou essa salvação que Cristo veio oferecer? Israel ficará, devido a essa recusa, definitivamente à margem da salvação? Na verdade, Deus jurou ao seu Povo, em vários momentos da história, libertá-lo e salvá-lo; ora, se Israel ficar excluído da salvação, podemos dizer que Deus falhou? Podemos continuar a confiar na sua Palavra? É a estas questões que, genericamente, Paulo procura responder nos capítulos 9-11 da Carta aos Romanos.
O texto que nos é proposto como segunda leitura deste
domingo é a introdução a esta questão. Sugere que esse Deus, apostado em vir ao
encontro dos homens e em revelar-lhes o seu rosto de amor e de bondade, tem uma
proposta de salvação que oferece a todos. Convida-nos a estarmos atentos às
manifestações desse Deus e a não perdermos as oportunidades de salvação que Ele
nos oferece.
Uma das coisas que impressiona, neste texto, é a forma
como Paulo sente a infelicidade do seu Povo. A obstinação de Israel em recusar
a salvação fá-lo sentir “uma grande tristeza e uma dor contínua” no coração.
Todos nós conhecemos irmãos – mesmo baptizados – que recusam a salvação que
Deus oferece ou que, pelo menos, vivem numa absoluta indiferença face à vida
plena que Deus lhes quer dar. Como nos sentimos diante deles? Ficamos
indiferentes e achamos que não é nada connosco?
Este texto propõe-nos também uma reflexão sobre as
oportunidades perdidas… Israel, apesar de todas as manifestações da bondade e
do amor de Deus que conheceu ao longo da sua caminhada pela história, acabou
por se instalar numa auto-suficiência que não lhe permitiu acompanhar o ritmo
de Deus, nem descobrir os novos desafios que o projecto da salvação de Deus
faz, em cada fase, aos homens. O exemplo de Israel faz-nos pensar no nosso
compromisso com Deus.
O Evangelho (Mt 14,22-33), apresenta-nos uma reflexão sobre a
caminhada histórica dos discípulos, enviados à “outra margem” a propor aos
homens o banquete do Reino. Nessa “viagem”, a comunidade do Reino não está
sozinha, à mercê das forças da morte: em Jesus, o Deus do amor e da comunhão
vem ao encontro dos discípulos, estende-lhes a mão, dá-lhes a força para vencer
a adversidade, a desilusão, a hostilidade do mundo. Os discípulos são
convidados a reconhecê-lo, a acolhê-lo e a aceitá-lo como “o Senhor”.
Depois de despedir a multidão e de obrigar os
discípulos a embarcar para a outra margem, Jesus “subiu a um monte para orar, a
sós”. Enquanto Jesus está em diálogo com o Pai, os discípulos estão sozinhos,
em viagem pelo lago. Essa viagem, no entanto, não é fácil nem serena… É de
noite; o barco é açoitado pelas ondas e navega dificilmente, com vento contrário.
Os discípulos estão inquietos e preocupados, pois Jesus não está com eles.
Refere-se, certamente, à situação da comunidade a que
Mateus destina o seu Evangelho (e que não será muito diferente da situação de qualquer comunidade cristã,
em qualquer tempo e lugar). A “noite”
representa as trevas, a escuridão, a
confusão, a insegurança em que tantas vezes “navegam” através da história os discípulos de Jesus, sem saberem
exactamente que caminhos percorrer nem para onde ir… As “ondas” que açoitam o barco representam a hostilidade do mundo, que bate continuamente contra o barco em
que viajam os discípulos… Os “ventos
contrários” representam a oposição, a
resistência do mundo ao projecto de Jesus.
Quantas vezes os discípulos de Jesus se sentem
perdidos, sozinhos, abandonados, desanimados, desiludidos, incapazes de
enfrentar as tempestades que as forças da morte e da opressão (o “mar”) lançam
contra eles.
É aí, precisamente, que Jesus manifesta a sua
presença. Ele vai ao encontro dos discípulos “caminhando sobre o mar”. Só Deus
“caminha sobre o mar”; só Ele faz “tremer as águas e agitarem-se os abismos”;
só Ele acalma as ondas e as tempestades. Jesus é, portanto, o Deus que vela
pelo seu Povo e que não deixa que as forças da morte (o “mar”) o destruam. A expressão
“sou Eu” reproduz a fórmula de identificação com que Deus se apresenta aos
homens no Antigo Testamento; e a exortação “tende
confiança, não temais” transmite aos discípulos a certeza de que nada têm a
temer porque Jesus, o Deus que vence as forças da morte e da opressão acompanha
a par e passo a sua caminhada histórica e dá-lhes a força para vencer a
adversidade, a solidão e a hostilidade do mundo.
Pedro sai do barco e vai, de facto, ao encontro de
Jesus; mas, assustando-se com a violência do vento, começa a afundar-se e pede
a Jesus que o salve. Assim acontece, embora Jesus censure a sua pouca fé e as
suas dúvidas.
Pedro é, aqui, o porta-voz e o representante dessa
comunidade dos discípulos que vai no barco (a Igreja). O episódio reflecte a
fragilidade da fé dos discípulos, sempre que têm de enfrentar as forças da
opressão, do egoísmo, da injustiça. Enquanto enfrentam as ondas do mundo hostil
e os ventos soprados pelas forças da morte, os discípulos debatem-se entre a
confiança em Jesus e o medo. Mateus refere-se, desta forma, à experiência de
muitos discípulos que seguem a Jesus de forma decidida, mas que se deixam
abalar quando chegam as perseguições, os sofrimentos, as dificuldades… Então,
começam a afundar-se e a ser submergidos pelo “mar” da morte, da frustração, do
desânimo, da desilusão.
No entanto,
Jesus lá está para lhes estender a mão e para os sustentar.
Finalmente, a desconfiança dos discípulos transforma-se em fé firme: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus”. É para aqui que converge todo o relato. Esta confissão reflecte a fé dos verdadeiros discípulos, que vêem em Jesus o Deus que vence o “mar”, o Senhor da vida e da história que acompanha a caminhada dos seus, que lhes dá a força para vencer as forças da opressão e da morte, que lhes estende a mão quando eles estão desanimados e com medo e que não a deixa afundar.
Finalmente, a desconfiança dos discípulos transforma-se em fé firme: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus”. É para aqui que converge todo o relato. Esta confissão reflecte a fé dos verdadeiros discípulos, que vêem em Jesus o Deus que vence o “mar”, o Senhor da vida e da história que acompanha a caminhada dos seus, que lhes dá a força para vencer as forças da opressão e da morte, que lhes estende a mão quando eles estão desanimados e com medo e que não a deixa afundar.
O Evangelho deste domingo é, antes de mais, uma
catequese sobre a caminhada histórica da comunidade de Jesus, enviada à “outra
margem”, a convidar todos os homens para o banquete do Reino e a oferecer-lhes
o alimento com que Deus mata a fome de vida e de felicidade dos seus filhos.
Fonte: resumo e adaptação local de
um texto de: <dehonianos.org/portal/liturgia>