Carta
de Dom Francisco
Caríssimos Diocesanos.
1.Continuamos as nossas reflexões sobre o Jubileu
Diocesano com motivo dos 25 anos da criação da Diocese. Hoje fixamos a nossa
atenção sobre a palavra “conversão”, um
dos quatro temas fundamental do jubileu: “louvor
a Deus, agradecimento pelos bens recebidos, conversão do coração e missão evangelizadora”.
2.Os “Jubileus” têm a sua origem nas tradições do
Antigo Testamento. Se consideravam anos de júbilo, de alegria, de acção de
graças, anos para restabelecer a justiça social, a distribuição universal das
terras, a ordem social e religiosa das origens quebrantada nos anos precedentes.
A nível social, se restabelecia a igualdade na posse
da terra, a liberdade aos oprimidos, e o perdão das dívidas. Estas obrigações
tinham uma sólida base religiosa, fidelidade à Aliança e aos planos de Deus para
com todo o seu povo. Isto significava: a terra é um dom de Deus para todos os
homens, pertence a Ele (Gen 1,1); os escravos e oprimidos são fundamentalmente
filhos de Deus (Lev 25,55) e, o próprio
Deus, os libertou da escravidão, (Ex 3, 7-8), pelo que, como filhos de Deus,
todos hão-de ser considerados pessoas
livres. O perdão tem o seu fundamento na próprio Deus, rico em misericórdia, e
em seu nome há-de ser anunciado o perdão (Lc 24, 74), pois o próprio Deus dá
sempre a oportunidade ao povo de se arrepender e receber o perdão (Act 5,31).
3. A usança dos jubileus foi acompanhando a história
da Igreja até aos nossos dias, promulgando sempre um ano de misericórdia em
referência ao Profeta Isaías (Cf Is 61 1-2) e às palavras de Jesus: “Enviou-me
para proclamar um ano de graça do Senhor” (Cf. Lc 4,18- 19). Esta passagem,
colocada ao início da vida pública de Jesus, constituiu o programa de toda a
sua actividade. No ano de graça eram perdoadas todas as dívidas e distribuíam-se
todas as terras e propriedades: Jesus leva-nos para uma situação de
reconciliação e partilha que tornam possíveis a igualdade, a fraternidade a
comunhão entre nós. Pelo que o sentido profundo dos jubileus é sempre um tempo
forte na vida da Igreja para vivermos com maior intensidade o arrependimento de
todo o mal que fizemos, mudando a nossa maneira de pensar e de viver, isto é a
conversão do coração.
4. Olhando para o anúncio do evangelho na nossa
terra, faz com que hoje, como ontem, as pessoas tomemos consciência dos nossos
próprios pecados, já que devemos perceber que estamos envolvidos e até comprometidos
com um mundo que gera injustiças de toda a sorte e morte. Respiramos por toda a
parte intolerância, aversão, desprezo, ódio, vingança, violência em palavras e acções
que até levam à morte. Tudo isto tem como consequências a má convivência, o
medo, a insegurança social, a imposição forçosa de ideologias pela cobiça do
poder económico e político.
5. O panorama que se nos apesenta hoje e,
paralelamente, a escuta da Palavra de Deus, exigem, em primeiro lugar, a
conversão do coração: “Irmãos que devemos fazer?”, perguntaram os que ouviram a
Pedro, logo a seguir ao anúncio da ressurreição de Jesus. Pedro respondeu-lhes:
“Arrependei-vos” (Act 2, 37-38). É preciso morrer, abandonar esse mundo de
morte e renascer para a vida nova de Jesus ressuscitado: Deixemos ódios e violências,
e convertamo-nos a uma vida nova, uma vida de reconciliação, de respeito, de
aceitação dos outros, de colaboração e ajuda mútua, de conversão do coração e
de obras.
6. É preciso abandonar esse tipo de sociedade que
abandonou os valores tradicionais da própria cultura (respeito, boa
convivência, interajuda, respeito pelos mais velhos e necessitados, diálogo e
compreensão pelos mais fracos) e os
valores evangélicos (a fé em Deus, Pai Bom e misericordioso de todos, e os seus
Mandamentos, os compromissos com a justiça, a paz, a verdade e liberdade e o
amor fraterno.
Esta é a conversão que Deus espera de cada um de nós
que celebramos este Jubileu Diocesano: convertamo-nos à Vida respeitando-a
desde a sua concepção até à velhice, à Verdade sincera e ao Amor fraterno.
Vosso Bispo
+ Francisco