Segunda-feira – 3ª Semana da
Quaresma
Primeira leitura: 2 Reis, 5, 1-15
Naaman, homem
valente e conceituado, general dos exércitos do rei da Síria, tinha ficado
leproso. A lepra, vista como castigo divino, implicava separação, impureza,
solidão. Era uma situação humanamente insolúvel, sem esperança. Mas Naaman
acolhe a proposta de uma jovem prisioneira israelita, e vai ao encontro do
profeta que está na Samaria. O rei da Síria apoia benevolentemente a ideia, que
todavia provoca suspeitas no rei de Israel. A tensão entre os dois países é
atenuada pela intervenção do profeta Eliseu. Seguindo as suas orientações, tão
simples que parecem banais, Naaman recupera a saúde e dispõe-se a uma profissão
de fé no Deus de Israel. Ao lado dos protagonistas do episódio, Naaman, Eliseu
e os dois reis, vemos a jovem escrava, o mensageiro e os servos, mediações de
que Deus se serve para orientar o curso dos acontecimentos.
O texto
apresenta referências à simbologia baptismal, tais como a imersão nas águas, a
eficácia da palavra do Deus de Israel, o carácter universal da salvação.
Evangelho: Lucas 4, 24-30
Ainda no começo
da sua missão, Jesus regressa à sua terra, vai à sinagoga e lê um texto de
Isaías. Conclui afirmando que esse texto se realiza na sua pessoa.
A recusa dos
habitantes de Nazaré em recebê-lo tem o seu melhor comentário na frase de João:
«Veio ao que era seu, mas os seus não O receberem- (Jo 1, 11). A revelação do
«Verbo feito cerne», o filho de José, vai-se transformando, de admiração e
espanto, em incredulidade hostil e mesmo em ódio homicida: «levaram-no ao cimo
do monte a fim de o precipitarem dali abaixo. ». É o destino de todos os
profetas: «Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria», afirma Jesus. Os preconceitos,
religiosos, culturais, nacionalistas, impedem ou dificultam o acolhimento
humilde da revelação de Deus, tal como ela é feita, muitas vezes de modo que
não esperamos. Mas a viúva de Sarepta e Naaman, estrangeiros e pagãos, acolhem
a salvação, que os seus primeiros destinatários recusam. Estão abertos às
iniciativas surpreendentes de Deus.
As leituras de
hoje mostram-nos que havemos de estar dispostos a acolher o modo escolhido por
Deus para Se revelar, para realizar as suas intervenções salvíficas. Não faz
sentido pôr condições e, menos ainda, arrogar-se direitos. A única atitude
correcta é a disponibilidade para acolher as iniciativas tantas vezes
surpreendentes de Deus. Foi o que sucedeu em Nazaré. O filho de Maria e de José
era certamente admirado por todos. Mas quando se revela como profeta, como
instrumento de Deus, as opiniões mudam. Afinal, que tinha feito de
extraordinário para justificar as suas pretensões? Mas é esta atitude dos seus
conterrâneos que os impede de receber os dons de Deus, porque a graça divina é
gratuita, é livre no modo de corresponder às expectativas humanas.
Naaman, pelo contrário, aceita pôr de parte os seus
preconceitos. Como pagão, não pretende ter direitos sobre o Deus de Israel.
Apenas aceita os bons serviços diplomáticos do rei e se preocupa em captar a
boa vontade do rei de Israel, com ricos presentes. O rei de Israel não
corresponde às suas expectativas. Intervém o profeta Eliseu, sem qualquer
espécie de diplomacia: não sai ao seu encontro para o saudar, acolher
convenientemente e proceder aos devidos rituais de cura. Pelo contrário, manda
um criado para lhe dizer que vá lavar-se sete vezes no rio Jordão. Uma
verdadeira decepção! O poderoso homem da Síria mostra a sua indignação, tal
como os nazarenos a mostraram em relação a Jesus! O rei de Israel tinha dito:
«Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida?». Naaman teve
realmente que morrer aos seus preconceitos, às suas certezas e seguranças, para
aceitar a iniciativa divina, marcada pela simplicidade. E foi curado: «a sua
carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.
É com esta
simplicidade, de palavras e gestos, que, no baptismo, somos purificados do
nosso pecado e revestidos de graça, revestidos de Cristo, tornando-nos homens
novos, filhos de Deus.
Também os
gestos simples da nossa vida se podem tornar instrumentos da graça de Deus,
quando realizados por amor. Pensemos em tantos santos e santas que se dedicaram
à realização das obras de misericórdia, gestos simples do dia a dia como dar de
comer, dar de beber, visitar doentes e presos, agasalhar quem precisava, etc.,
tornando-se instrumentos da graça para aqueles que beneficiavam e para tantos
que testemunhavam esses actos de amor.
A
disponibilidade para acolher as iniciativas de Deus, leva à disponibilidade
para com os irmãos. Esta disponibilidade não pode limitar-se a nobres e belos
sentimentos, à compaixão. Devem levar ao compromisso pessoal, à acção, à
"disponibilidade" para com os irmãos em necessidade, com simplicidade
e amor. Só assim poderemos reviver a experiência do Pe. Dehon "sensível ao
pecado que enfraquece a Igreja", aos "males da sociedade", de
que "descobre a causa mais profunda … na recusa do amor de Cristo". É
essa a verdadeira lepra da humanidade. "Possuído por este amor que não é
acolhido" corresponde-lhe "com uma união íntima ao Coração de Cristo
e com a instauração do seu Reino nas almas e nas sociedades" (Cst. 4).
Trata-se de uma "solidariedade" afectiva e efectiva com Cristo. Daí o
seu apostolado, caracterizado por uma extrema atenção aos homens, especialmente
aos mais desprotegidos e pela solicitude em remediar activamente as
insuficiências pastorais da Igreja do seu tempo" (n. 5).
Senhor, eis-me
aqui! Tu és a minha esperança. Tu conheces-me. Coloco diante de Ti a minha
miséria e o meu profundo desejo de cura. Tu podes curar-me. Tu tens palavras de
vida eterna. Espero em Ti, espero na tua palavra, porque é grande a tua
misericórdia. Não Te peço acções espectaculares. Peço um coração simples,
humilde, dócil para acolher as tuas iniciativas sempre cheias de originalidade,
sempre surpreendentes. Dá-me a simplicidade de uma criança, para me espantar
diante da grandeza do teu amor escondido na fragilidade dos sinais sacramentais
e na voz e no rosto de cada irmão. Dá-me a simplicidade de Naaman, da viúva de
Sarepta. Dá-me a simplicidade de Maria de Nazaré. Dá-me a tua simplicidade de
Filho muito amado do Pai, feito homem entre os homens.
Fonte:
Resumo e adaptação de um texto de “dehonianos.org.portal/liturgia”
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