17º Domingo do Tempo Comum – Ano A
17º DOMINGO DO TEMPO COMUM
A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir nas nossas prioridades, nos
valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere,
especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores
propostos por Jesus.
A primeira leitura 81 Reis 3,5.7-129, apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele
é o protótipo do homem “sábio”, que
consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e
alienar por valores efémeros.
A Leitura sublinha a “qualidade” da resposta de
Salomão: ele não pede riqueza nem glória, mas pede as aptidões necessárias e a
capacidade para cumprir bem a missão que Deus lhe confiou. Salomão aparece aqui
como o modelo do homem que sabe escolher as coisas importantes e que não se
deixa distrair por valores efémeros.
Dizer que a súplica de Salomão “agradou ao Senhor” (vers. 10) é propor aos israelitas que optem pelos valores eternos, duradouros e essenciais.
Algumas pessoas e grupos procuram vender a ideia de
que a realização plena do indivíduo está num conjunto de valores que decidem
quem pertence à elite dos vencedores, dos que estão na moda, dos que têm êxito…
Em muitos casos, esses valores propostos são realidades, materiais,
secundárias, relativas. Quase sempre, por detrás da proposição de certos
valores, estão interesses particulares e egoístas…
O “sábio”, contudo, é aquele que está consciente
destes mecanismos, que sabe ver com olhar crítico os valores que a moda propõe,
que sabe discernir o verdadeiro do falso. O “sábio” é aquele que consegue
perceber o que efectivamente o realiza e lhe permite levar a cabo a missão que
lhe foi confiada:
Como é que eu me situo face a isto?
O que me seduz e que eu abraço é o imediato, o
brilhante, o sedutor, na família ou na minha comunidade cristã?
A figura de Salomão interpela também todos aqueles que detêm
responsabilidades na comunidade (seja em termos civis, seja em termos
religiosos). Convida-os a uma verdadeira atitude de serviço: o seu
objectivo não deve nunca ser a realização dos próprios esquemas pessoais, mas
sim o benefício de toda a comunidade, a concretização do bem comum.
A segunda leitura (Rom 8,28-30), convida-nos a seguir
o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se
a todos os outros valores e propostas. O texto que nos é proposto como segunda
leitura continua a reflexão de Paulo
sobre o projecto de salvação que Deus tem para oferecer aos homens. Esse
projecto não é um acontecimento casual, mas algo que, desde sempre, está previsto nos planos de Deus.
Aos que aderem a esse projecto, Deus chama-os a
identificarem-se com o seu filho Jesus, liberta-os do egoísmo e do pecado e
fá-los, com Jesus, chegar à vida nova e plena.
Paulo fala “daqueles” que Deus “conheceu” de antemão, que “predestinou” para
viverem à imagem de Jesus, que “chamou”, que “justificou” e que “glorificou”. O
projecto salvador de Deus está aberto a todos aqueles que querem acolhê-l’O. O
que Paulo sublinha aqui é que se trata de um dom gratuito de Deus e que esse
dom está previsto desde toda a eternidade.
Este texto convida-nos a tomar consciência de que Deus
nos ama, vem continuamente ao nosso encontro, aponta-nos o caminho da vida
plena e verdadeira, desafia-nos à identificação com Jesus, convida-nos a
integrar a sua família.
Nós, os crentes, somos convidados a conduzir a nossa
vida à luz desta realidade; e somos convocados a testemunhar, com palavras, com
acções, com a vida, no meio dos irmãos que dia a dia percorrem connosco o
caminho da vida, o amor e o projecto de salvação que Deus tem.
A vida plena está no acolhimento desse “valor mais
alto” que é o seguimento de Jesus e a identificação com Ele. É esse o “valor
mais alto”, o “tesouro” pelo qual eu optei de forma decidida no dia do meu
baptismo? Tenho sido, na caminhada da vida, coerente com essa escolha?
No Evangelho (Mt 13,44-52),
recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que
façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e
interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é
o Reino.
O texto pode ser dividido em três partes:
a).Na primeira parte: a questão principal é a da descoberta do valor e da importância do
Reino. Os cristãos são, antes de mais, aqueles que encontraram algo de
único, de fundamental, de decisivo: o Reino. Ora, quando alguém encontra um
“tesouro” como esse, deve elegê-lo como a riqueza mais preciosa, o fim último
da própria existência, o valor fundamental pelo qual se renuncia a tudo o resto
e pelo qual se está disposto a pagar qualquer preço. O cristão é confrontado, a
par e passo, com muitos valores e opções; mas deve aperceber-se de que o Reino
é o valor mais importante.
b).Na segunda parte: a parábola de uma rede que,
lançada ao mar, apanha diversos tipos de peixes (vers. 47-50).O Reino não é uma
realidade fechadoa onde só há gente escolhida e santa, mas é uma realidade onde
o mal e o bem crescem simultaneamente. Deus não tem pressa de condenar e
destruir. Ele não quer a morte do pecador; por isso, dá ao homem o tempo
necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e para fazer as suas
escolhas.
c).A terceira parte apresenta um breve diálogo entre
Jesus e os discípulos (vers. 51-52). Ora, “compreender” significa “prestar
atenção” e comprometer-se com o ensinamento proposto.
Os cristãos são, pois, convidados a descobrir a realidade do Reino, a
entender as suas exigências, a comprometerem-se com os seus valores.
O cristão está permanentemente mergulhado num ambiente
em que a força e o poder aparecem como o
grande ideal; mas ele não pode deixar que o poder seja o seu objectivo
fundamental, porque o Reino é serviço.
O cristão faz a sua caminhada num mundo que exalta o orgulho, a
auto-suficiência, a independência; mas ele já aprendeu, com Jesus, que o Reino
é perdão, tolerância, encontro, fraternidade… O que é que comanda a minha vida?
Quais são os valores pelos quais eu sou capaz de deixar tudo?
Que significado
têm as propostas de Jesus na minha escala de valores?
A decisão pelo Reino, uma vez tomada, não admite meias
tintas, tibiezas, hesitações, jogos duplos. Escolher o Reino não é agradar a
Deus e ao diabo, pactuar com realidades que mutuamente se excluem; mas é optar
radicalmente por Deus e pelos valores do Evangelho. A minha opção pelo Reino é uma
opção radical, sincera, que não pactua com desvios, com compromissos, com
hipocrisias e incoerências?
Mais uma vez o Evangelho convida-nos a admirar os métodos de Deus, que não
tem pressa nenhuma em condenar e destruir, mas dá tempo ao homem – todo o tempo
do mundo – para amadurecer as suas opções e fazer as suas opções.
Sabemos
respeitar, com esta tolerância e liberdade, o ritmo de crescimento e de
amadurecimento dos irmãos que nos rodeiam?
Fonte: resumo e
adaptação de um texto de: <dehonianos.org/postal/liturgia>