4º DOMINGO
DA QUARESMA ANO A
As leituras
deste Domingo propõem-nos o tema da
“luz”. Definem a experiência cristã como “viver na luz”.
A primeira leitura (1 Sam
16,1b.6-7.10-13ª), não se refere directamente ao tema
da “luz” (o tema central na liturgia deste domingo). No entanto, conta a escolha de David para rei de Israel e a
sua unção: é um óptimo pretexto para reflectirmos sobre a unção que
recebemos no dia do nosso Baptismo e que nos constituiu testemunhas da “luz” de
Deus no mundo.
• A nossa
leitura mostra, mais uma vez, que Deus tem critérios diferentes dos
critérios humanos e que a sua lógica nem sempre coincide com a nossa. “Deus não
vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração” –
diz o texto. É preciso entrar na lógica de Deus e aprender a ver, para além da
aparência, da roupa que a pessoa veste, do “curriculum” profissional ou
académico; é preciso aprender a ver com o coração e a descobrir a riqueza que
se esconde por detrás daqueles que parecem insignificantes e sem pretensões… É
preciso, sobretudo, aprender a respeitar a dignidade de cada homem e de cada
mulher, mesmo quando não parecem pessoas importantes ou influentes. É isso que
acontece nos nossos serviços públicos? É
isso que acontece nas nossas igrejas? É
isso que acontece nas nossas casas religiosas?
Na segunda leitura (Ef 5,8-14), Paulo propõe aos cristãos de Éfeso que recusem
viver
à margem de Deus (“trevas”) e que escolham a “luz”. Em concreto, Paulo explica
que viver na “luz” é praticar as obras de Deus.
• Se
olharmos para o mundo com olhos de esperança, vemos muitas pessoas que realizam
coisas bonitas, que lutam contra a miséria, o sofrimento, a injustiça, a
doença, o analfabetismo, a violência… No entanto, nós os crentes somos
convidados a olhar mais além e a ver Deus por detrás de cada gesto de amor, de
bondade, de coragem, de compromisso com a construção de um mundo melhor. Deus
continua a construir, dia a dia, a história da salvação; e chama homens e
mulheres para colaborarem com Ele na salvação do mundo.
• “Luz” e
“trevas”: O cristão é aquele que optou por “viver na luz”. Para mim, o que
significa, em concreto, “viver na luz”? O que é que isso implica? Quais são comportamentos e contra-valores que devem ser
definitivamente saneados da minha vida, a fim de que eu seja um testemunho da
“luz”?
• É preciso, também, denunciar os
comportamentos e atitudes que
contribuem para apagar a “luz” de Deus e para manter este mundo nas “trevas: o que é que eu devo denunciar?
contribuem para apagar a “luz” de Deus e para manter este mundo nas “trevas: o que é que eu devo denunciar?
• A
expressão “desperta tu que dormes”, convida-nos à vigilância. O cristão não pode
ficar de braços cruzados diante da maldade, do egoísmo, da injustiça, da
exploração, dos contra-valores que oscurecem a vida dos homens e do mundo. O
cristão tem de manter uma atitude de vigilância atenta. Diante dos
contra-valores, qual a minha atitude: é a atitude comodista de quem deixa
correr as coisas porque não está para se chatear?
No Evangelho (Jo 9,1-41), Jesus apresenta-se como “a luz
do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do orgulho
e da auto-suficiência. Aderir à proposta de Jesus é enveredar por um
caminho de liberdade e de realização que conduz à vida plena.
• Nós, os
crentes, não podemos fechar-nos num pessimismo, decidir que o mundo “está
perdido” e que à nossa volta só há escuridão…
Também não
podemos esconder a cabeça na areia e dizer que tudo está bem. Há situações que
mantêm o homem encerrado no seu egoísmo, fechado a Deus e aos outros, incapaz
de se realizar plenamente. O que é que
impede o homem de ser livre e de se realizar plenamente, conforme o projecto de Deus?
• O
Evangelho deste domingo descreve várias formas de responder negativamente à
“luz” libertadora que Jesus oferece. Há aqueles que se opõem decididamente à
proposta de Jesus porque estão instalados na mentira e a “luz” de Jesus só os
incomoda; há aqueles que têm medo de enfrentar as críticas, que se deixam
manipular pela opinião dominante, e que, por medo, preferem continuar escravos
do que arriscar ser livres.
• O cego que
escolhe a “luz” e que adere incondicionalmente a Jesus e à sua proposta
libertadora é o modelo que nos é proposto. A Palavra de Deus convida-nos, neste
tempo de Quaresma, a um processo de renovação que nos leve a deixar tudo o que
nos escraviza, nos aliena, nos oprime – no fundo, tudo o que impede que brilhe
em nós a “luz” de Deus e que impede a nossa plena realização.
• Receber a
“luz” que Cristo oferece é, também, acender a “luz” da esperança no mundo. A “luz” de Cristo que os padrinhos me passaram
no dia em que fui baptizado brilha em mim e ilumina o mundo?