12º DOMINGO DO TEMPO COMUM. ANO "A"
As leituras deste domingo põem em relevo
a dificuldade em viver como discípulo,
dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está
sempre no horizonte do discípulo… Mas garantem também que a solicitude e o amor
de Deus não abandonam o discípulo
que dá testemunho da salvação.
A primeira leitura (Jer 20,10-13) apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento – Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e fidelidade – as propostas de Deus para os homens.
• Ser profeta não é um caminho fácil: o
exemplo de Jeremias é elucidativo (como também o é o testemunho de tantos profetas do nosso tempo). O “mundo” não gosta
de ver ser posta em causa a sua “paz podre”, não está disposto a aceitar que se
questionem os esquemas de exploração e injustiça instituídos em favor dos
poderosos, nem que se critiquem os “valores” de alguns “iluminados” fazedores
da opinião pública. O “caminho do profeta” é, portanto, um caminho onde se lida
permanentemente com a incompreensão, com a solidão, com o risco… É, no entanto,
um caminho que Deus nos chama a percorrer, na fidelidade à sua Palavra. Temos a coragem de seguir esse caminho?
As “bocas” dos outros, as críticas injustas, a solidão que dói mais do que
tudo, alguma vez nos impediram de cumprir a missão que o nosso Deus nos
confiou?
• No
baptismo, fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Estamos
conscientes dessa vocação a que Deus, a todos, nos convocou? Temos a noção de
que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e Se
dirige aos homens?
• A experiência profética é um caminho
de luta, de sofrimento, muitas vezes de solidão e de abandono; mas é também um
caminho onde Deus está. O testemunho de Jeremias confirma que Deus nunca
abandona aqueles que procuram testemunhar no mundo, com coragem e verdade, as
suas propostas. Esta certeza deve trazer ânimo e dar esperança a todos aqueles
que assumem, com coerência, a sua missão profética.
. Na segunda leitura, (Rom
5,12-15) Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos
de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de
auto-suficiência gera morte.
• A história do nosso tempo está cheia
de exemplos de homens e mulheres que entregaram a vida para realizar o projecto
libertador de Deus no mundo e que foram considerados pela cultura dominante
gente vencida e fracassada (embora, com alguma frequência, depois de mortos
sejam “recuperados” e apresentados como heróis). Jesus Cristo mostra, contudo,
que fazer da vida um dom a Deus aos homens não é um caminho de fracasso e de
morte, mas é um caminho libertador, que introduz no mundo dinamismos de vida
nova, de vida autêntica, de vida definitiva. Eu estou disposto a arriscar, a fazer da minha vida um dom, para
que a vida plena atinja e liberte os meus irmãos?
• Alguns acontecimentos que marcam o
nosso tempo confirmam que uma história construída à margem de Deus e das suas
propostas é uma história marcada pelo egoísmo, pela injustiça e, portanto, é
uma história de sofrimento e de morte. Quando
o homem deixa de dar ouvidos a Deus, dá ouvidos ao lucro fácil, destrói a
natureza, explora os outros homens, torna-se injusto e prepotente,
sacrifica em proveito próprio a vida dos seus irmãos. Qual o nosso papel de
crentes neste processo? O que podemos fazer para que Deus volte a estar no
centro da história e as suas propostas sejam acolhidas?
• A modernidade ensinou-nos que a fonte
da salvação não é Deus, mas o homem e as suas conquistas. Exaltou o
individualismo e a auto-suficiência e ensinou-nos que só nos realizaremos
totalmente se formos nós – orgulhosamente sós – a definir o nosso caminho e o
nosso destino. No entanto, onde nos leva esta cultura que prescinde de Deus e
das suas sugestões? A cultura moderna tem feito surgir um homem mais feliz, ou
tem potenciado o aparecimento de homens perdidos e sem referências, que muitas
vezes apostam tudo em propostas falsas de salvação e que saem dessa experiência
de busca mais fragilizados, mais dependentes, mais alienados?
.No Evangelho, (Mt 10,26-339 é o próprio Jesus que, ao enviar os
discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das
incompreensões; mas acrescenta: “não
temais”. Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor
de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
• O projecto de Jesus, vivido com
radicalidade e coerência, não é um projecto “simpático”, aclamado e aplaudido
por aqueles que mandam no mundo ou que “fazem” a opinião pública; mas é um
projecto radical que exige a vitória sobre o egoísmo, o comodismo, a
instalação, a opressão, a injustiça.
. A nossa época inventou formas de reduzir ao silêncio os discípulos:
ridiculariza-os, desautoriza-os, calunia-os, corrompe-os, massacra-os com
publicidade enganosa de valores efémeros… Como a comunidade de Mateus, também
nós andamos assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a
pena continuar a remar contra a maré… A todos nós, Jesus diz: “não temais”.
• O
medo não pode impedir-nos de dar
testemunho. A Palavra libertadora de Jesus não pode ser calada, escondida;
mas tem de ser vivamente afirmada com palavras, com gestos, com atitudes provocatórias.
Viver uma fé cómoda, que não muda nada,
que aceita passivamente valores, esquemas, dinâmicas e estruturas desumanizantes),
não chega para nos integrar plenamente na comunidade de Jesus.
• De resto, o valor supremo da nossa
vida não está no reconhecimento público, mas está nessa vida definitiva que nos
espera no final de um caminho gasto na entrega ao Pai e no serviço aos homens;
e Jesus demonstrou-nos que só esse caminho produz essa vida de felicidade sem
fim que os donos do mundo não conseguem roubar.
• A Palavra de Deus que nos foi hoje
proposta convida-nos também a fazer a descoberta desse Deus que tem um coração
cheio de ternura, de bondade, de solicitude. Se nos entregarmos confiadamente
nas mãos desse Deus, que é um pai que nos dá confiança e protecção e é uma mãe
que nos dá amor e que nos pega ao colo quando temos dificuldade em caminhar,
não teremos qualquer receio de enfrentar os homens.
Fonte: resumo e adaptação local de um texto de <dehonianos.org.liturgia>