sábado, 26 de agosto de 2017

XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM. SUBSÍDIO LITÚRGICO



21º Domingo do Tempo Comum – Ano A

No centro da reflexão que a liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum nos propõe, estão dois temas à volta dos quais se constrói e se estrutura toda a existência cristã: Cristo e a Igreja.

A primeira leitura (Is 22,19-23) mostra como se deve concretizar o poder “das chaves”. Aquele que detém “as chaves” não pode usar a sua autoridade para concretizar interesses pessoais e para impedir aos seus irmãos o acesso aos bens eternos; mas deve exercer o seu serviço como um pai que procura o bem dos seus filhos, com solicitude, com amor e com justiça.

Uma história para-nos  entendermos melhor o Evangelho que nos é hoje proposto. Define em que consiste o verdadeiro serviço “das chaves”, o serviço da autoridade: ser um pai para aqueles sobre quem se tem responsabilidade e procurar o bem de todos com solicitude, com amor, com justiça.

Uma reflexão sobre a lógica e o sentido do poder. O poder é um serviço à comunidade. Quem exerce o poder, deverá fazê-lo com a solicitude, o cuidado, a bondade, a compreensão, a tolerância, a misericórdia, e também com a firmeza com que um pai conduz e orienta os seus filhos. Nessa perspectiva, o serviço da autoridade não é uma questão de poder, mas é uma questão de amor. É esta mesma lógica que os cristãos devem exigir, seja no exercício do poder civil, seja no exercício do poder no âmbito da comunidade cristã.

O exercício do poder em geral pode aparecer associado à corrupção, à venalidade, ao aproveitamento do serviço da autoridade para a concretização de finalidades egoístas, interesseiras, pessoais. A Palavra de Deus que nos é proposta vai em sentido contrário: o exercício do poder só faz sentido enquanto está ao serviço do bem comunitário… O exercício de um cargo público supõe, precisamente, a secundarização dos interesses próprios em benefício do bem comum.

A segunda leitura (Rom 11,33-36)né um convite a contemplar a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus que, de forma misteriosa e às vezes desconcertante, realiza os seus projectos de salvação do homem. Ao homem resta entregar-se confiadamente nas mãos de Deus e deixar que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de amor e de louvor ao Deus salvador e libertador.

Deus é sempre “mais” do que aquilo que o homem possa imaginar. Ao homem resta reconhecer a sua própria pequenez, os seus próprios limites, a sua própria finitude, a sua própria incapacidade de compreender totalmente esse Deus desconcertante e incompreensível. ao homem resta atirar-se com confiança para os braços de Deus, acolher humildemente a sua Palavra e procurar seguir, com simplicidade e amor os seus caminhos.

O verdadeiro crente é aquele que, mesmo sem entender o alcance total dos projectos de Deus, se entrega confiadamente nas suas mãos e deixa que o seu espanto, reconhecimento e adoração se transformem num hino de louvor: “glória a Deus para sempre”.

Esse Deus omnipotente é um pai, preocupado com a felicidade dos seus filhos e com um projecto de salvação que Ele pretende que os homens acolham. É verdade que muitas vezes não percebemos o alcance desse projecto; mas se virmos em Deus o  pai bom cheio de amor, aprenderemos a não nos fecharmos no orgulho e na auto-suficiência e a acolhermos, com gratidão, os seus dons – como um menino que recebe do pai a vida, o alimento, o afecto, o amor.

O Evangelho (Mt 16,13-20), convida os discípulos a aderirem a Jesus e a acolherem-n’O como “o Messias, Filho de Deus”. Dessa adesão, nasce a Igreja – a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro. A missão da Igreja é dar testemunho da proposta de salvação que Jesus veio trazer. À Igreja e a Pedro é confiado o poder das chaves – isto é, de interpretar as palavras de Jesus, de adaptar os ensinamentos de Jesus aos desafios do mundo e de acolher na comunidade todos aqueles que aderem à proposta de salvação que Jesus oferece.

Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”.

Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Defini-l’O dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é apenas uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

“E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim?

É sobre a fé dos discípulos que se constrói a Igreja de Jesus.
O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas?

A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? 

A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

Fonte: ressumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A PALAVRA HOJE. PALAVRA VIVA: SÁBADO DA XX SEMANA DO TEMPO COMUM



Sábado – XX Semana – Tempo Comum –
Anos Ímpares 

Primeira leitura: Rute 2, 1-3.8-11; 4, 13-17

Escutamos hoje um belíssimo texto bíblico, que revela o amor de Deus, que não faz acepção de pessoas, e quer tornar o seu povo participante do seu amor de Pai para com todos. A inserção de uma estrangeira numa família israelita, mais ainda, na linha davídica, traça um caminho pedagógico nessa direcção.
O encontro com Booz, sugerido, não só pela necessidade, mas também pela intuição feminina (2, 1-11), está envolto pela força moral da moabita que encontra graça diante de Booz por causa do amor profundo demonstrado para com Noemi (v. 11). A narração do capítulo 3, onde transparece a responsabilidade de Noemi em relação a Rute, é o horizonte do que a liturgia nos propõe logo a seguir (4, 13-17). Esse capítulo ajuda também a compreender o desenrolar dos acontecimentos, guiados pela confiança no Senhor, que ilumina e inspira as opções. Estas levam ao casamento de Booz com a moabita, comparada a Raquel e a Lia, progenitoras da casa de Israel (4, 11). 

O texto, além de realçar as figuras de Booz e de Rute, cuja descendência continua no filho que «o Senhor lhe concedeu conceber», mas também realça Noemi, bendita pelo seu povo. A sua vida, e a da nora, são prova do amor fiel e da presença actuante de Deus no meio do seu povo.
Rute reconhece a sua indigência de viúva e de imigrante numa terra que não era a dela. Essa situação não a deprime. Com muita dignidade, procura ganhar o alimento para ela e para a sogra, Noemi. Para isso, pede-lhe que a autorize a ir respigar no campo de alguém que lho permita: «Deixa-me ir respigar nos campos de alguém que queira acolher-me com bondade» (v. 2). É humilhante ter que ir respigar, por não ter o necessário para viver. É humilhante estar em situação de dependência da compaixão dos outros. Rute aceita tudo com humildade, com simplicidade. Quando Booz se interessa por ela, não se mostra orgulhosa, mas prostra-se e diz: «Porque encontrei tal bondade da tua parte, tratando-me como natural, a mim que sou uma estrangeira?» (v. 10). Reconhece que não tem qualquer direito, que nada merece. Mas, por causa dessa atitude humilde, dá consigo no verdadeiro caminho para a glória divina. Tendo-se humilhado, será exaltada, terá a honra de ser mãe, e de ter como descendente David e, finalmente, Jesus Cristo.

É assim que o Antigo Testamento nos coloca no caminho da humildade, que nos permite receber os dons de Deus, com pureza de coração, e de caminhar para a plenitude da vida..

Evangelho: Mateus, 23, 1-12

No texto, que hoje escutamos, atinge o auge a polémica entre Jesus e os escribas e fariseus, que vem crescendo desde o c. 21. Dirigindo-se directamente à multidão e aos discípulos, Jesus previne-os contra o perigo que o Evangelho sempre corre na história: a discrepância entre o dizer e o fazer, entre o ensinamento e o testemunho. Jesus não pretende esmagar pessoas, ou confundir doutrinas. Pretende apenas denunciar a hipocrisia, isto é, a interpretação e a prática aberrantes de uma doutrina, em si, correcta. Os fariseus e escribas apoderaram-se da autoridade de ensinar, legislaram para os outros, mas não cumprem o que dizem. Pelo contrário, «tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens» (v. 5). Nos versículos 8-12, Jesus passa a usar o «vós» para interpelar directamente os seus discípulos, de ontem e de hoje. A verdadeira grandeza dos cristãos está em ser pequeno, e a verdadeira glória, em ser humilde. Os títulos e as honras são relativos, porque «só é o vosso Mestre» e «um só é o vosso ‘Pai».

«Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado», diz Jesus no evangelho (v. 12). A humildade atrai a misericórdia de Deus. A soberba afasta-a. Jesus, tão misericordioso para com os pecadores que reconhecem a sua situação, mostra-se severo para com os orgulhosos, para com aqueles que se julgam justos. Os que reconhecem o seu pecado, abrem-se ao perdão e ao amor benevolente de Deus. Para aqueles que não o reconhecem, Deus nada pode fazer. A graça não consegue penetrar na auto-suficiência dos orgulhosos, dos convencidos dos seus próprios méritos.

É por isso que Jesus critica os que fazem tudo para «se tornarem notados pelos homens» (v. 5), os que gostam dos lugares de honra, dos primeiros lugares, de serem cumprimentados… «Deus resiste aos soberbos», diz o livro dos Provérbios..

A Virgem Maria é a humilde serva do Senhor. Peçamos por sua intercessão a graça da humildade. Tenhamos consciência da nossa fraqueza e do nosso pecado. Sejamos coerentes, aceitando as humilhações que caírem sobre nós. Desse modo, serei semelhantes a Jesus Cristo, manso e humilde de coração.

Onde é que estamos a respeito desta bela virtude da humildade que triunfa nos corações de Jesus e de Maria? Não se encontra muitas vezes ferida no meu? Em vez de procurar a humildade, não é que procuramos todas as satisfações da vaidade e do amor-próprio?

Fonte: resumo e adaptação local de um texto ded "dehonianos.org/portal/liturgia"

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A PALAVRA HOJE, PALAVRA VIVA. SUBSÍDIO LITÚRGICO PARA A VI FEIRA DA XX SEMANA DO TEMPO COMUM



Sexta-feira– XX Semana –
Tempo Comum – Anos Ímpares 

Primeira leitura: Rute 1, 1-2a.3-6.14b-16.22

O livro de Rute é, não só um cântico à providência divina, mas também uma resposta a possíveis dúvidas e escrúpulos sobre a origem de David. É certo que na sua ascendência há uma mulher moabita, mas o livro insinua que esse facto foi querido e disposto por Deus.

A narrativa leva delicadamente o leitor a seguir os passos interiores de Rute, as opções que a levam a partilhar a fé de Noemi e do seu povo. Rute dará uma descendência à família de Elimélec. Esta “estrangeira” será antepassada de David, porque o seu filho, Obed será pai de Jessé, pai de David. Mateus insere Rute na geneologia que leva a José: «o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo» (Mt 1, 5.16). Tudo nasce do respeito e do amor de duas criaturas, Rute e Noemi, quase sinal do resto de Israel fiel ao seu Senhor, e da decisão de Rute de abandonar o seu povo para ir para onde o Senhor a conduz: «o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus» (v. 16).

Rute causa-nos admiração pela sua dignidade como pessoa, mas também pelo seu amor para com Noemi. É também sinal do amor universal de Deus, que todos envolve na realização do seu projecto de salvação.

A vida de Rute foi construída nos eventos normais do quotidiano: constituiu uma família, sofreu a perda de pessoas queridas, e tornou-se emigrante em terra estrangeira, como acontecera com Noemi. Deus está presente na sua história, e actua nela como na do povo de Israel e na dos outros povos. Noemi, pelo seu testemunho, torna-se para Rute mediação de um apelo de Deus, para que deixasse as suas tradições, a sua cultura, o seu povo, os seus deuses, para viver uma nova vida, ainda desconhecida, mas que faz parte dos desígnios insondáveis de Deus. Na sua caminhada, Rute irá conhecer novas alegrias e novos sofrimentos, a incompreensão, os conflitos, as incertezas e o sofrimento íntimo de um povo que se tornou seu. Rute acredita, responde e parte, isto é, segue o Deus da aliança a que agora pertence por dom. O Senhor escolheu-a como escolheu outras mulheres de Israel, e de outros povos, para preparar a geração de que havia de nascer o Messias. Rute terá um filho, que será testemunha de que Deus provê o seu povo, porque o ama.

A história de Rute preparou a lição do evangelho, porque demonstra como uma estrangeira, que não fazia parte do povo de Deus, e até pertencia a povo desprezado pelos Israelitas, os Moabitas, movida pelo afecto fiel e generoso pela sogra viúva e desolada, se encontrou, por isso mesmo, em relação privilegiada com Deus, tornando-se antepassada de David e, portanto, de Cristo.

Evangelho: Mateus, 22, 34-40

Depois da questão sobre o tributo a César (22, 15-22), da questão sobre a ressurreição dos mortos (22, 23-33), postas pelos saduceus, ricos e poderosos, entram em cena os fariseus, doutos e observantes. Estes perguntam qual é o maior mandamento da Lei. Perdidos na floresta das leis, aparentemente, queriam saber qual o princípio supremo que tudo justifica e unifica. Mas eram movidos por uma intenção que não era recta: interrogaram Jesus «para o embaraçar» (v. 35). Tinham resumido as muitas leis da Tora em 613 preceitos, 365 proibições e 248 mandamentos positivos. Mas, ainda assim, fazia sentido procurar saber «qual é o maior mandamento da Lei» (v. 36). 

Na sua resposta, Jesus não se coloca na lógica da hierarquia dos mandamentos. Prefere ir à essência da Lei, orientando para o princípio que a inspira e para a disposição interior com que deve ser observada: o amor, na sua dupla vertente, isto é, para com Deus e para com o próximo (vv. 37ss.). Jesus refere-se a Dt 6, 5, onde são sublinhadas a totalidade, a intensidade e a autenticidade do amor a Deus: «com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente» (v. 37). Ao lado do amor a Deus, e ao mesmo nível, Jesus coloca o amor ao próximo. Não se podem separar as duas dimensões do mandamento que sintetiza «toda a Lei e os Profetas» (v. 40).

O amor do próximo e o amor de Deus encontraram-se estreitamente ligados. A fidelidade generosa de Rute aos afectos humanos pô-la em profunda relação com a fidelidade de Deus. O amor do próximo e o amor de Deus estão indissoluvelmente unidos.

Contemplando o  mistério manifestado na vida e na experiência de Rute, brota do coração o Pai nosso, a oração que revela a beleza que salvará o mundo, o rosto do Pai, e a beleza da humanidade, onde se descobre o próprio rosto de Deus e os de tantos irmãos, filhos do mesmo Pai. Dá-nos a graça de viver tudo isto na oração. 

Fonte: resumo e adaptação local de "dehonianos.org/postal/liturgia"

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

24 AGOSTO: S. BARTOLOMEU. Subsídio litúrgico



24 Agosto 2017 : S. Bartolomeu, Apóstolo.
Subsídio litúrgico

S. Bartolomeu é um dos Doze escolhidos por Jesus (cf. Mt 1, 11ss.; Lc 6, 12) para andarem com Ele e serem enviados em missão. Identificado com Natanael, amigo de Filipe (cf. Jo 1, 43-51; 22, 2), era natural de Canaã. Pouco sabemos sobre Bartolomeu e sobre a sua missão. De acordo com Jo 1, 43ss., era um homem simples e recto, aberto à esperança de Israel. Diversas tradições colocam-no em diferentes regiões do mundo, o que pode indicar um raio de acção muito vasto. Segundo uma dessas tradições, foi esfolado vivo na Pérsia, coroando a sua laboriosa vida missionária com a glória do martírio.

Primeira leitura: Apocalipse 21, 9b-14

A Igreja, no Apocalipse, é a cidade santa, que recolhe as doze tribos de Israel, isto é, o novo Israel de Deus. Os seus muros apoiam-se sobre doze colunas, que são os doze apóstolos. No nosso texto, a Igreja é também chamada “noiva”, “a noiva, a esposa do Cordeiro” (v. 9), para evidenciar o vínculo de amor com que Deus Se ligou à humanidade, e Cristo se uniu à Igreja. Cada um dos apóstolos participa e testemunha este amor no seu ministério e, finalmente, no martírio. Por isso, os Doze são também chamados “Apóstolos do Cordeiro” (v. 14). De fato, não só exercem o ministério que Jesus lhes confiou, mas também, e principalmente, participam no seu mistério pascal, bebendo com Ele o cálice (cf. Mt 20, 22).
Evangelho: João 1, 45-51

Jesus dirige a Natanael um elogio que o deixa surpreendido: “Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.” (v. 47). Com efeito, as palavras de Jesus incluíam a verificação que nos deixa entrever um pouco mais o espírito de Natanael: o seu amor pela verdade. O apóstolo era um homem que procurava a verdade. A sua inteligência abre-se ao mistério que se revela. É o que também se verificará quando da primeira aparição de Jesus ressuscitado. Da procura passa à fé. Por isso, este apóstolo é um ícone do verdadeiro crente que, iluminado pela Palavra, agudiza a sua capacidade visiva interior e que, pela fé, reconhece em Jesus o Salvador esperado.

Jesus conhece o coração do homem. Por isso, pode chamar, com autoridade, aqueles que quer mais perto de si. O Senhor chama para pôr os homens em relação com o céu, para revelar o seu ser, que está em completa relação com o Pai e connosco, ponto de convergência do movimento de Deus rumo aos homens e do anseio dos homens por Deus: Filho do homem e Filho de Deus. Na verdade, quem se aproxima de Jesus vê o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do homem.

Os Doze estão com Jesus porque devem ver o Pai agir e permanecer no Filho do homem, numa união que se manifestará plenamente na paixão de Jesus, quando for erguido na cruz e novamente introduzido na glória do Pai. Então se realizará p sonho de Jacob.

Todos somos chamados a esta profunda revelação. Na Eucaristia revivemos o mistério da morte e da glorificação de Jesus, sacerdote e vítima da nova aliança entre o Pai e os homens. E, com Ele, queremos ser também sacerdotes e vítimas fazendo a oblação de nós mesmos, para glória e alegria de Deus e para salvação da humanidade. O Senhor revela-se a nós como aos Apóstolos, os doze alicerces, sobre os quais se apoia a muralha da cidade, “a noiva, a esposa do Cordeiro” (v. 9).

Senhor, reacende a nossa fé na contemplação dos mistérios que nos revelas, na festa do apóstolo Bartolomeu. Nós te agradecemos por nos teres reunido na Igreja. Nós te agradecemos por todos aqueles e aquelas que, de coração sincero, continuam a difundir no mundo inteiro, apoiados pelo teu Espírito Santo, a fé e o amor dos Apóstolos. 

Deus compraz-se naqueles que caminham diante dele na simplicidade do seu coração (Prov. 11). Deus detesta os corações duplos e hipócritas. Aqueles que usam a dissimulação e a astúcia provocam a sua cólera (Job 36). O Espírito Santo retira-se daqueles que são duplos e dissimulados (Sab 1, 5). Natanael ganhou o coração de Nosso Senhor pela simplicidade e rectidão do seu coração (Jo 1, 47). Deus não desprezará nunca a simplicidade, diz Job. Não rejeitará aqueles que se aproximam dele com simplicidade (Job 8,10). O Espírito Santo assegura-nos que os cumulará com os seus dons e as suas bênçãos (Prov. 28,10). O simples é bem sucedido nos seus desígnios e Deus abençoa-O. Segue os caminhos de Deus; pode caminhar com confiança (Prov. 10,9 e 29). Deus frustrará os que são dúplices e dará as suas graças aos humildes (Prov. 3,34). Os simples são acarinhados, estimados por Jesus, como aquelas crianças do Evangelho que Jesus atraía apesar dos seus apóstolos. «É imitando esta inocência e esta candura de crianças, dizia Jesus, que vos haveis de tornar agradáveis ao meu coração» (Mt 18). Como é que havemos de hesitar em amar e em praticar a simplicidade?(Leão Dehon, OSP 3, p. 48s.).

Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de: <dehonianos.org/portal/liturgia>