SÁBADO – 2ª SEMANA DA QUARESMA
3 Março 2018
Primeira leitura: Miqueias 7, 14-15.18-20
Regressado do
exílio em Babilónia, o povo de Israel confrontou-se com grandes dificuldades e
teve saudades da fartura das terras da Transjordânia, tal como, ao regressar do
Egipto, perante as dificuldades do deserto, teve saudades do peixe, dos
pepinos, dos melões, dos alhos porros, das cebolas e dos alhos que comia no
Egipto (cf. Nm 11, 6). Nesta situação, Miqueias ergue um lamento, quase que uma
elegia fúnebre (v. 14): «Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos
tiraste do Egipt(J» (v. 15). E entra em cena Aquele que é o protagonista dos
grandes eventos salvíficos: Deus preparou um lugar deserto onde, Ele
mesmo, apascenta o seu rebanho disperso, que só n ‘ Ele encontra
segurança e só n ‘ Ele confia. Então, o profeta entoa um hino cheio de emoção a
Deus
que perdoa (w. 18-20). Deus é como um pai que se comove diante do
sofrimento dos filhos que erraram e sofrem as consequências dos seus erros (v.
19). Como nos tempos do êxodo, levado por um instinto quase materno, Deus usa
de compaixão para com o seu povo, apaga as suas culpas e lança-as ao mar, do
mesmo modo que nele afogou o faraó e os seus exércitos (cf. Ex 15). A sua
fidelidade manifesta-se na gratuidade do perdão, para que o «resto» do seu povo
possa manter-se fiel à Aliança (v. 20).
Evangelho: Lucas 15, 1-3.11-32
As parábolas da misericórdia (Lc 15)
revelam-nos o rosto do Pai bom, disposto a
perdoar, a acolher e a fazer festa com os filhos que reconhecem o seu pecado.
Hoje, escutamos a parábola do filho pródigo. Este decide organizar a sua vida
segundo os seus projectos, rejeitando os do pai. Por isso, exige ao pai a sua
herança. Este termo equivale a vida (v. 12) ou a património. Obtido o que pede,
parte e esbanja «tudo quanto possuía (a sua riqueza).. Este filho perde os
bens, mas perde, sobretudo, a si mesmo. A experiência da miséria (v. 17)
fá-lo cair em si e dar-se conta da desgraça a que o levara a sua vida de
estroina. Decide, então, regressar a casa e recomeçar uma vida nova. O pai
esperava-o (v. 20), porque nunca tinha deixado o seu coração afastar-se daquele
filho. Recebe-o comovido e de braços abertos, restituindo-lhe a dignidade
perdida (w. 22-24).
Com esta
parábola, Jesus revela o modo de agir do Pai, e o seu, em
relação aos pecadores que se aproximam e dão um sinal de arrependimento. Mas os
fariseus e os escribas, recusam-se a participar na festa do perdão, como o
filho mais velho (v. 29), sempre bem comportado e que, por isso, até se julga
credor do pai. O pai não desiste, nem diante deste filho malévolo. Por isso,
sai de casa, revelando a todos o amor que sabe esperar, procurar, exortar,
porque todos quer abraçar e reunir na sua morada.
Esta parábola é
claramente dirigida aos fariseus e escribas que criticavam Jesus pelo modo como
lidava e tratava com os pecadores (cf. w 1-3). A intenção principal de Jesus
vê-se no fim da narração, na reacção do filho mais velho e nas palavras do Pai,
que são a chave de interpretação de toda a parábola. Todos podemos ver-nos num ou
noutro filho, no pecador assumido ou no justo presumido. O pai sai
sempre ao encontro de um e de outro, quer venha da dispersão, como o filho
pródigo, quer venha das regiões de uma falsa justiça ou de uma falsa
fidelidade, como o filho mais velho. O importante, para nós, quer venhamos de
uma ou de outra situação, é que nos deixemos acolher e abraçar pelo Pai bom,
que quer a felicidade de todos os seus filhos.
Talvez seja
relativamente fácil ver-nos no filho pródigo. Pode ser mais difícil dar-nos
conta de que pensamos e reagimos como o filho mais velho, que contabiliza o que
dá ao Pai e o que não recebe d ‘ Ele, tal como contabiliza o que irmão mais
novo recebeu, sem dar nada em troca, e até ofendendo o Pai. E clamamos pela
injustiça. Pode-se
julgar anormal manifestar tanta bondade a quem cometeu o mal. Mas o Senhor quer fazer-nos compreender que, para quem é fiel a Deus, está reservada uma recompensa ainda maior: não a alegria de receber, mas a alegria de dar. «A felicidade está mais em dar do que em receber» (Act 20, 35).
julgar anormal manifestar tanta bondade a quem cometeu o mal. Mas o Senhor quer fazer-nos compreender que, para quem é fiel a Deus, está reservada uma recompensa ainda maior: não a alegria de receber, mas a alegria de dar. «A felicidade está mais em dar do que em receber» (Act 20, 35).
Esta é, por
excelência, a parábola da misericórdia. Mais que «parábola do filho pródigo»,
deve ser chamada «parábola do Pai misericordioso», do Pai pródigo em
misericórdia. Como Ele, havemos de aprender a abrir o coração a todos os
irmãos, a estarmos com Ele para acolher os pródigos ou os pretensos justos, a
vermos a todos do seu ponto de vista, que não é a justiça fria e cega.
Todo o
evangelho de Jesus é uma mensagem de alegria, sobretudo para os pobres, para os
infelizes, para os pecadores. A alegria por causa de um pecador que se
arrepende é alegria de Deus. "As parábolas de Lc 15 são uma trilogia do
perdão e da misericórdia divina e mostram-nos a estreita ligação que há entre o
perdão e a alegria, entre a conversão e a festa. Tal como a ovelha tresmalhada
ou a dracma perdida são causa de alegria para quem as encontra, assim também
exulta de alegria o coração de Deus, quando um dos Seus filhos regressa a Ele.
Mais ainda, todo o céu faz festa por um pecador que se converte, porque se
trata de um irmão que estava morto e volta à vida, estava perdido e foi
encontrado".
Pai
misericordioso, que estás sempre à nossa espera, para nos acolher, nos abraçar,
nos perdoar e nos restituir a dignidade de filhos, acende em nós a saudade de
Ti, do teu amor. Faz-nos voltar à tua intimidade, quer sejamos pródigos
dispersos, quer sejamos justos presumidos. Queremos fazer festa Contigo e com
todos os teus filhos, nossos irmãos. Queremos aprender que há maior alegria em
dar do que em receber. Queremos aprender a ser pródigos em misericórdia para
com todos os nossos irmãos, para não termos inveja dos dons que lhes fazes,
para sabermos desculpar e perdoar as suas faltas, para sabermos alegrar-nos com
eles e Contigo, quando manifestarem algum sinal de arrependimento, alguma vontade
de regressarem à casa que, connosco e com eles, queres partilhar.
Fonte:
Resumo e
adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”