Quarta-feira – XXIII Semana –
Tempo Comum – Anos Ímpares
Primeira leitura: Colossenses 3, 1-11.
Depois da tese do morrer e ressuscitar com Cristo,
Paulo passa para o campo da moral cristã, que daí decorre. É curioso notar que
o Apóstolo não apresenta um código moral muito diferente do que havia de melhor
na cultura helenista. A lista dos vícios e das virtudes é semelhante.
Mas há uma diferença fundamental: a dimensão
cristológica. O crente forma uma realidade nova em Cristo, participa das
vicissitudes de Cristo e, portanto, reveste-se do homem novo, «que não cessa de
ser renovado à imagem do seu Criador» (cf. v. 10). A transformação interior
exige uma transformação exterior.
A novidade de vida indica o «homem novo», em
construção.
A renovação pessoal de cada homem leva à renovação da realidade social. Por
isso é que, em Cristo, não existem as habituais discriminações de sexo, de
raça, de família, «mas Cristo, que é tudo e está em todos» (v. 11). A
transformação interior de cada homem leva à transformação das relações sociais.
Evangelho: Lucas 6, 20-26.
Lucas reduz as bem-aventuranças a quatro,
acrescentando os quatro «ai de vós». Tanto as oito bem-aventuranças de Mateus,
como as quatro de Lucas, podem reduzir-se a uma só: a bem-aventurança de quem
acolhe a palavra de Deus na pregação de Jesus e procura adequar a vida a essa
palavra. O verdadeiro discípulo de Jesus é, ao mesmo tempo, pobre, manso,
misericordioso, fazedor de paz, puro de coração, etc. Pelo contrário, quem não
acolhe a novidade do Evangelho merece todas as ameaças que, na boca de Jesus,
correspondem a profecias de tristeza e de infelicidade. O texto de Lucas
caracteriza-se pela contraposição ente o «já» e o «ainda não», entre o presente
histórico e o futuro escatológico. Obviamente a comunidade para a qual Lucas
escrevia precisava de ser alertada para a necessidade de traduzir a sua fé em
gestos de caridade evangélica, mas também para a de manter viva a esperança,
pela total adesão à doutrina, ainda que radical, das bem-aventuranças
evangélicas.
Depois de nos ter convidado a dar abundantes graças a
Deus pelos seus dons, – «transbordem em acção de graças» (Cl 6, 7) -, Paulo
retira algumas conclusões para a nossa vida de cristãos: «Já que fostes
ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto… Aspirai às coisas do
alto» (cf. vv. 1-2). Há, pois, que pensar na felicidade que Deus nos promete no
céu. Essa esperança enche-nos de ânimo para vivermos a nossa fé no meio de
tantas tribulações. Mas não nos pode fazer esquecer os compromissos terrenos.
«As coisas do alto» não são apenas a felicidade futura no paraíso. São,
sobretudo, as coisas espirituais de agora, aquilo a que Paulo chama «o fruto do
Espírito»: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, auto-domínio» (Gl 5, 22s.).
Para o cristão, a vida eterna já começou. A vida com
Cristo ressuscitado começa na terra, quando recebemos o baptismo. É por isso
que Paulo exorta os Colossenses: «Já que fostes ressuscitados com Cristo,
procurai as coisas do alto», procurai, na vida concreta, os verdadeiros
valores. Não o dinheiro, o poder, o prazer… Buscai o progresso na comunhão
entre todos, o progresso no amor. Procurai a paz. A mansidão vence a violência.
Cada dia havemos de morrer e ressuscitar, viver o mistério pascal com Cristo.
Uma parte de nós tem de permanecer na morte, enquanto outra deve
desenvolver-se: «Crucificai os vossos membros no que toca à prática de coisas
da terra» (v. 5). Entre estas coisas, Paulo refere, em primeiro lugar, a
imoralidade na vida sexual. Depois aponta os vícios relacionados com a busca do
dinheiro. Finalmente refere tudo o que atenta contra a comunhão fraterna:
«contendas, ciúmes, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas» (Gl
5, 20s.). «Não mintais uns aos outros», recomenda (v. 9), porque sois membros
do Corpo de Cristo e «vos despistes do homem velho, com as suas acções, e vos
revestistes do homem novo, aquele que… não cessa de ser renovado à imagem do
seu Criador» (v. 9s.).
O cristão não foge do mundo, mas procura transformá-lo positivamente, inserindo
nele os valores verdadeiros.
Paulo não encontra expressões suficientemente fortes
para dizer esta força, esta potência divina de que dispomos. Cristo põe-na à
nossa disposição, para que possamos vencer o mal e a morte, para que possamos
renovar o mundo no amor. O Senhor só nos pede aquilo que Ele próprio nos
capacita a fazer. Estejamos sempre abertos para acolher esta força
transformadora, recreadora.
Fonte: resumo e adaptação de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia"