15º Domingo. Tempo Comum - Ano A
A liturgia
deste Domingo convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve
assumir na vida dos crentes.
Na 1ª leitura (Is 55,10-11), o Profeta Isaias garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda
e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que
devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e
produz sempre efeito, embora não actue sempre de acordo com os nossos
interesses e critérios.
Estamos na fase final do Exílio (à volta de
550/540 a.C.). A comunidade exilada está
farta de belas palavras e de promessas de libertação que tardam a
concretizar-se… A impaciência, a dúvida, o cepticismo vão minando lentamente a
resistência e a fé dos exilados… Será que as promessas de Deus se
concretizarão? Deus não está a ser demasiado lento, em relação a algo que
exige uma intervenção imediata? Deus ter-se-á esquecido da situação do seu
Povo?
Não – diz o profeta – Deus não se esqueceu do seu Povo.
Quando escutamos a Palavra de Deus,
sentimo-nos confiantes, optimistas, com o coração a transbordar de esperança;
sentimos que o caminho que Deus nos indica é, efectivamente, um caminho de
felicidade e de vida plena…
Depois,
voltamos à nossa vida do dia a dia e reencontramos a monotonia, os problemas, o
desencanto; constatamos que os maus, os corruptos, os violentos, parecem
triunfar sempre e nunca são castigados pelo seu egoísmo e prepotência, enquanto
que os bons, os justos, os humildes, os pacíficos são continuamente vencidos,
magoados, humilhados… Então perguntamos: podemos confiar nas promessas de Deus?
Não estaremos a ser enganados? A Palavra de Deus que hoje nos é proposta
responde a estas dúvidas. Ela garante-nos: a Palavra de Deus não falha; ela
indica sempre caminhos de vida plena, de vida verdadeira, de liberdade, de
felicidade, de paz sem fim.
A Palavra de
Deus não poderá ser uma espécie de ópio do Povo, no sentido de que projecta em
Deus as esperanças e os sonhos que nos competem a nós concretizar?
É preciso
estarmos bem conscientes de que Deus não
prescinde de nós para actuar na história humana… A sua Palavra dá-nos
esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para
intervirmos no mundo. A Palavra de Deus não só não adormece a nossa vontade de
agir, mas revela-nos os projectos de Deus para o mundo e para os homens e convida-nos ao compromisso com a
transformação e a renovação do mundo.
Passamos a vida
numa correria louca, contando os minutos, sem tempo para as pessoas, sem tempo
para Deus, sem tempo para nós. Tornamo-nos impacientes e exigentes; achamos que
ser eficiente é ter feito ontem aquilo que é pedido para hoje… E achamos que
Deus também deve seguir os nossos ritmos. Queremos que Ele aja imediatamente,
que nos resolva logo os problemas, que actue de imediato, ao sabor dos nossos
desejos e projectos. É preciso, no entanto, aprender a respeitar o ritmo de
Deus, o tempo de Deus. Não nos basta saber que a Palavra de Deus é sempre
eficaz (embora não tenha os nossos prazos) e que não volta sem ter produzido o
seu efeito, sem ter cumprido a vontade de Deus, sem ter realizado a sua missão?
Na 2ª leitura (Rom 8,18-23), Paulo continua a oferecer-nos a sua catequese sobre o caminho que é
preciso seguir para se poder acolher a salvação que Deus oferece.
Apresenta o
tema da solidariedade entre o homem e o resto da criação. A Palavra de Deus é
que fornece os critérios para que o homem possa viver “segundo o Espírito” e
para que ele possa construir o “novo céu e a nova terra” com que sonhamos.
Na perspectiva
de Paulo, o homem não é o único interessado na opção por uma vida “segundo o
Espírito”: toda a criação está dependente das escolhas que o homem faz. O que é
que isto significa?
Toda a criação
aguarda ansiosamente que o homem escolha a vida “segundo o Espírito”. Até lá,
vai nascendo – no meio da dificuldade e da dor – esse Homem Novo, bem como esse
Novo Céu e Nova Terra com que todos sonhamos. Porquê na dificuldade e na dor?
Porque a vida “segundo o Espírito” supõe a renúncia ao egoísmo, aos interesses
mesquinhos, ao comodismo, ao orgulho e a opção por um caminho de entrega e de
dom da própria vida a Deus e aos outros
Paulo utiliza
até o exemplo das dores do parto, para iluminar a mensagem que pretende
transmitir… O nascimento de uma criança dá-se sempre através da dor; no
entanto, essa dor é o caminho obrigatório para o nascimento de uma nova vida.
De resto, vale a pena viver “segundo o Espírito”. Os “padecimentos”, as renúncias, as dificuldades, não são nada, em comparação com a felicidade sem fim que espera os crentes no final do caminho.
De resto, vale a pena viver “segundo o Espírito”. Os “padecimentos”, as renúncias, as dificuldades, não são nada, em comparação com a felicidade sem fim que espera os crentes no final do caminho.
O Evangelho (Mt 13,1-23) propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a
forma como acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma “boa terra”, disponível
para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas dêem
abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o “Reino”
proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o
seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.
O acolhimento do Evangelho não depende, nem da semente, nem de quem semeia; mas depende da qualidade da terra. Diante da Palavra de Jesus, há várias atitudes…
- Há aqueles que têm um coração duro como o chão de
terra batida dos caminhos: a Palavra de Jesus não poderá penetrar nessa terra e
dar fruto. Faz-nos pensar em corações
insensíveis, egoístas, orgulhosos, onde não há lugar para a Palavra de Jesus e
para os valores do “Reino”. Este caminho de orgulho e de auto-suficiência
alguma vez foi “o meu caminho”?
- Há aqueles que têm um coração inconstante,
capaz de se entusiasmar instantaneamente, mas também de desanimar perante as
primeiras dificuldades: a Palavra de Jesus não pode aí criar raízes. Faz-nos
pensar em corações inconstantes, capazes de se entusiasmarem com o “Reino”, mas
incapazes de suportarem as contrariedades, as dificuldades, as perseguições. A
Palavra de Deus é, para mim, uma realidade que eu levo a sério, ou algo que eu
deixo cair quando me dá jeito?
- Há aqueles que têm um coração materialista,
que dá sempre prioridade à riqueza e aos bens deste mundo: a Palavra de Jesus é
aí facilmente sufocada por esses outros interesses dominantes. Faz-nos pensar
em corações materialistas, comodistas, instalados, para quem a proposta do
“Reino” não é a prioridade fundamental.
- Há também aqueles que têm um coração
disponível e bom, aberto aos desafios de Deus: a Palavra de Jesus é aí
acolhida e dá muito fruto. Os verdadeiros discípulos (a “boa terra”)
identificam-se com aqueles que escutam as parábolas, as entendem e acolhem a
proposta do “Reino”. Faz-nos pensar em corações sensíveis e bons, capazes de
aderirem às propostas de Jesus e de embarcarem na aventura do “Reino”.
Temos aqui, portanto, uma exortação aos cristãos no sentido de acolherem a Palavra de Jesus, sem deixarem que as dificuldades, os acidentes da vida, os outros valores a afoguem e a tornem uma semente estéril, sem vida.
A parábola do
semeador e da semente é, sobretudo, um convite a reflectir sobre a importância
e o significado da Palavra de Jesus. Temos consciência de que é a Palavra
anunciada, proclamada, meditada, partilhada, celebrada, que cria a comunidade e
que a alimenta no dia a dia?
O Evangelho de
hoje responde: “coragem! Não desanimeis pois, apesar do aparente fracasso, o
‘Reino’ é uma realidade imparável; e o resultado final será algo de
surpreendente, de maravilhoso, de inimaginável”.
Fonte: Resumo e
adaptação local de um texto de: <dehonianos@org.portal/liturgia>