13º Domingo do Tempo
Comum – Ano A.
Nas leituras deste 13º Domingo do Tempo Comum,
cruzam-se vários temas. No geral, os três textos que nos são propostos
apresentam uma reflexão sobre alguns
aspectos do discipulado. Fundamentalmente, diz-se quem é o discípulo (é todo aquele que, pelo baptismo, se
identifica com Jesus, faz de Jesus a sua referência e O segue) e define-se a missão do discípulo
(tornar presente na história e no tempo o projecto de salvação que Deus tem
para os homens).
Na primeira leitura – 2 Re 4,8-11.14-16a ,
mostra-se como todos podem colaborar na realização do projecto salvador de
Deus. De uma forma directa (Eliseu) ou de uma forma indirecta (a mulher
sunamita), todos têm um papel a
desempenhar para que Deus se torne presente no mundo e interpele os homens.
O projecto de salvação que Deus tem para os homens e
para o mundo envolve toda a gente e é
uma responsabilidade que a todos compromete. Uns são chamados a estar mais
na “linha da frente” e a desenvolver uma acção mais exclusiva e mais exposta;
outros são chamados a desenvolver uma acção menos exclusiva e mais discreta,
mas nem por isso menos importante.. Estou consciente disso? Empenho-me
verdadeiramente em descobrir o papel que Deus me confia no seu projecto e em
cumpri-lo com generosidade?
Há pessoas que
são chamadas por Deus a deixar a terra, a família, os pontos de referência
culturais e sociais, a fim de dedicar a sua vida ao anúncio da Palavra. Não são
super-homens ou super-mulheres, mas são homens e mulheres como quaisquer
outros, com as mesmas necessidades de afecto, de apoio, de solidariedade, de
compreensão. É nossa responsabilidade ajudá-los, não apenas com meios
materiais, mas também com compreensão, com solidariedade, com amor.
A segunda leitura (Rom 6,3-4. 8-11), recorda que o cristão é alguém que, pelo Baptismo, se identificou com Jesus. A partir daí, o cristão deve seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida e renunciar definitivamente ao pecado.
O cristão é aquele que se identifica com Cristo.
Enxertado em Cristo pelo Baptismo, o cristão faz de Cristo a sua referência e
segue-O incondicionalmente, renunciando ao pecado e escolhendo o amor e o dom
da vida.
Qual é o modelo e a referência fundamental à volta da
qual a minha vida se ordena e se constrói?
O que é que implica a nossa adesão a Cristo? Paulo
responde: significa morrer para o pecado e viver para Deus. O que é que
significa “pecar”? Significa fechar-se no próprio egoísmo e recusar Deus e os
outros. “Pecar” é recusar a comunhão com Deus e ignorar conscientemente as suas
propostas; é recusar fazer da vida um dom, um serviço, uma partilha de amor com
os irmãos…
Os homens do nosso tempo acham que falar de “pecado”
não faz sentido e que o discurso sobre o pecado é um discurso antiquado,
repressivo, alienante. No entanto, o “pecado” existe: é o egoísmo que gera
injustiça e exploração; é o orgulho que gera conflito e divisão; é a vingança
que gera violência e morte. O que se pede ao discípulo de Jesus é que renuncie
a esta realidade e oriente a sua vida de acordo com outros critérios – os
critérios e os valores de Jesus.
O Evangelho (Mt 10,37-42), é uma catequese
sobre o discipulado, com vários passos. Num primeiro passo, define o caminho do discípulo:
- o discípulo tem de ser capaz de fazer de Jesus a sua
opção fundamental e seguir o seu mestre
no caminho do amor e da entrega da
vida.
- Num segundo passo, sugere que toda a comunidade é chamada a dar testemunho da Boa Nova de Jesus.
- No terceiro passo, promete uma recompensa àqueles que acolherem, com generosidade e amor, os
missionários do “Reino”.
Jesus veio ao
nosso encontro com uma proposta de salvação e de vida plena; no entanto, essa
proposta implica uma adesão séria, exigente, radical, sem “paninhos quentes” ou
“meias tintas”.
O caminho que Jesus propõe é um caminho de
“discípulos”: implica uma adesão incondicional ao “Reino”, à sua dinâmica, à
sua lógica; e isso não é para todos, mas apenas para os discípulos que fazem,
séria e conscientemente, essa opção.
Como é que eu me situo face a isto? O projecto de
Jesus é, para mim, uma opção radical, que eu abracei com convicção?
Dentro do
quadro de exigências que Jesus apresenta aos discípulos, sobressai a exigência
de preferir Jesus à própria família.
Isso não significa, evidentemente, que devamos rejeitar os laços que nos unem
àqueles que amamos… No entanto, significa que os laços afectivos, por mais sagrados que sejam, não devem afastar-nos
dos valores do “Reino”. As pessoas têm mais importância, para mim, do que o
“Reino”? Já me aconteceu renunciar aos valores de Jesus por causa de alguém?
Outra exigência que Jesus faz aos discípulos é a renúncia à própria vida e o tomar a cruz do amor, do serviço, do
dom da vida. O que é mais importante para mim: os meus interesses, os meus
valores egoístas, ou o serviço dos irmãos e o dom da vida?
A forma exigente como Jesus põe a questão da adesão ao
“Reino” e à sua dinâmica, faz-nos pensar na nossa pastoral – vocacionada para
ser uma pastoral de “massas” – e na tentação que sentem os agentes da pastoral
no sentido de facilitar as coisas, de não ser exigentes… Às vezes, interessa mais que as estatísticas da
paróquia apresentem um grande número de baptizados, de casamentos, de crismas,
de comunhões, do que propor, com exigência, a radicalidade do Evangelho e dos
valores de Jesus… O caminho cristão é um caminho de facilidade, onde cabe
tudo, ou é um caminho verdadeiramente exigente, onde só cabem aqueles que
aceitam a radicalidade de Jesus? A nossa pastoral deve facilitar tudo, ou ir
pelo caminho da exigência?