4º Domingo do Tempo
Comum
As leituras deste
domingo propõem-nos uma reflexão sobre o
“Reino” e a sua lógica. Mostram que o projecto de Deus – o projecto do
“Reino” – roda em sentido contrário à lógica do mundo… Nos
esquemas de Deus são os pobres, os humildes,
os que aceitaram despir-se do egoísmo, do orgulho, dos próprios interesses que
são verdadeiramente felizes. O “Reino” é para eles.
Na primeira leitura, (Sof 2, 3; 3, 12-13), o profeta
Sofonias denuncia o orgulho e a
auto-suficiência dos ricos e dos poderosos e
convida o Povo de Deus a converter-se à pobreza. Os “pobres” são aqueles
que se entregam nas mãos de Deus com humildade e confiança, que acolhem com
amor as suas propostas e que são justos e solidários com os irmãos.
• Deus não pactua com os orgulhosos e prepotentes que
dominam o mundo e que pretendem moldar a história com a sua lógica. Deus não está onde se cultiva a violência e a
lei da força, nem apoia a política dos dominadores do mundo. Os valores de Deus
não se defendem com uma lógica de imposição, de violência, de apelo à força. Deus
nunca esteve desse lado e esses nunca foram os métodos de Deus.
• A lógica da nossa
sociedade exalta os que têm poder, os que triunfam por todos os meios, os
poderosos, os que vergam a história e os homens a golpes de poder, de esperteza
e de força… Hoje, como ontem, a sociedade exalta os que triunfam e marginaliza
e rejeita os pobres, os débeis, os simples, os pacíficos, os que não se fazem
ouvir nos areópagos do poder. Que podemos fazer para que o nosso mundo se
construa de acordo com os valores de Deus?
• O apelo à conversão
significa objectivamente a renúncia ao orgulho, à prepotência, ao egoísmo e um
regresso à comunhão com Deus e com os irmãos. Estamos dispostos, pessoalmente,
a este caminho de conversão?
Na
segunda leitura, (1 Cor 1, 26-31), Paulo denuncia a atitude daqueles que
colocam a sua esperança e a sua segurança em pessoas ou em esquemas humanos e que assumem atitudes de orgulho e de
auto-suficiência; e convida os
crentes a encontrar em Cristo crucificado
a verdadeira sabedoria que conduz à salvação e à vida plena.
• Os homens do nosso tempo (muitos) estão convencidos de que o
segredo da realização plena do homem está em factores humanos (preparação
intelectual, êxito profissional, reconhecimento social, bem-estar económico,
poder político, etc.); mas Paulo avisa que apostar tudo nesses elementos é
jogar no caminho errado”: o homem só encontra a realização plena, quando
descobre Cristo crucificado e aprende com Ele o amor total e o dom da vida.
• Paulo diz-nos que o
Deus em quem acreditamos não é o Deus que só escolhe os ricos, os poderosos, os
influentes para realizar a sua obra no mundo; mas que Deus que não faz acepção
de pessoas e que se serve da fraqueza, da fragilidade, da finitude para levar
avante o seu projecto de salvação e libertação.
• Trata-se de revelar
o verdadeiro rosto de Deus que Se solidariza com os pobres, com os humilhados,
com os ofendidos, com os explorados de todos os tempos e a todos oferece, sem
distinção, a salvação.
O
Evangelho (Mt 5,1-12), apresenta a magna carta do
“Reino”. Proclama “bem-aventurados” os pobres, os mansos, os que choram, os que
procuram cumprir fielmente a vontade de Deus, porque já vivem na lógica do
“Reino”; e recomenda aos crentes a misericórdia, a sinceridade de coração, a
luta pela paz, a perseverança diante das perseguições: essas são as atitudes
que correspondem ao compromisso pelo “Reino”.
.• Jesus diz: “felizes
os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes dinheiro –
muito dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder,
segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais
poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?
• Jesus diz: “felizes
os mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando
vos provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só
a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça”.
• Jesus diz: “felizes
os que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos para
chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas
esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes.
• Jesus diz: “felizes os que têm ânsia de
cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que não dependeis de
preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos diz o que deveis e
não deveis fazer, porque assim sois mais livres”.
• Jesus diz: “felizes
os que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz: “felizes vós quando
desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo
sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca
ser eficaz neste mundo tão competitivo”.
• Jesus diz: “felizes
os sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis mentir e
fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade
destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”.
• Jesus diz: “felizes os que procuram
construir a paz entre os homens”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes
medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não tendes
medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só assim
podereis ser homens e mulheres de sucesso”.
• Jesus diz: “felizes
os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes
vós os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos
poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida
e ter êxito.
FONTE: Adaptação da Liturgia dominical: www.dehonianos.org