V-FEIRA – 3ª SEMANA DA QUARESMA - 8 Março 2018
Primeira leitura: Jeremias 7,23-28
Ao condenar o
formalismo do culto, o profeta condena, sobretudo, a surdez de Israel à voz de
Deus (v. 23), escutada no momento da Aliança, no monte Sinai (cf. Ex 20, 1-21).
Só na escuta o povo de Israel pode conhecer o seu Deus, diferente de todas as
outras divindades. Por isso, o primeiro mandamento é: «escuta, Israel. Os
verdadeiros profetas apelam continuamente a essa escuta. Os falsos profetas fazem
outros apelos. A opção por ouvir uns ou ouvir outros determina, para cada um, a
vida ou a morte.
Não há sinal de
arrependimento, de conversão. Na terceira parte, enquanto o povo recai na
idolatria e volta a ser espiritualmente escravo no Egipto, o profeta permanece
fiel à sua vocação. Enquanto denuncia esta situação, partilha com Deus o
sofrimento de ser recusado, de ser ele mesmo acusado de impostor pelos
mentirosos.
Evangelho: Lucas 11,14-23
Jesus tinha
acabado de ensinar aos seus discípulos o «Pai nosso», a oração modelo de toda a
oração crista, a oração que abre o coração ao Espírito Santo (v. 13). O Reino é
já uma realidade presente na terra. E acontece uma cura. O povo simples
enche-se de admiração. Mas há quem pense de modo diferente (v. 14s.).
Temos assim,
como na primeira leitura, duas atitudes contrastantes: uns ficam admirados
porque intuem uma extraordinária presença de Deus no mundo; outros acusam Jesus
de blasfémia e de aliado do diabo. Jesus responde de modo incisivo, deixando os
ouvintes concluírem que Satanás não combate contra si mesmo. Sendo assim, a
conclusão só pode ser a dos simples: está aí o dedo de Deus. Esta expressão
lembra os prodígios realizados pela mão de Moisés, no tempo do êxodo. Para que
não restem dúvidas, o próprio Jesus conclui: «o Reino de Deus já chegou até
vós» (v. 20). A expulsão dos demónios prova essa presença do Reino, prova o
começo de uma nova época de liberdade para quem acolher a alegre notícia
trazida por Jesus (v. 23).
«Ouvi a minha
voz», diz-nos o Senhor. A Palavra do Senhor é caminho de intimidade com Ele:
«Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo». A Palavra do Senhor é caminho
de felicidade: «Segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais
felizes». Mas, desde sempre, os homens procuraram pretextos para não escutarem
a Palavra de Deus: «Eles não me ouviram, não prestaram atenção, seguiram os
maus conselhos dos seus corações empedernidos». Mesmo quando a Palavra se fez
carne e habitou entre nós. Para não ouvirem Jesus, alguns deformaram a
realidade e acusaram-no de expulsar demónios com o poder do demónio. O «pai da
mentira» sugere pensamentos errados, insinua dúvidas e suspeitas. Sem acolher a
Palavra de Deus, o homem não dispõe da luz necessária para não se perder e
seguir com segurança a senda da felicidade. Sem a Palavra de Deus, o homem não
dispõe da força necessária para vencer o homem armado que guarda a porta da sua
casa, seguro de o ter vencido e encaminhado definitivamente para a perdição, o
demónio. A Palavra de Deus, em última análise, é Jesus, o vencedor do demónio.
Por isso, pode afirmar: «Quem não está comigo está contra mim, e quem não junta
comigo, dispersa» (v. 23).
Escutemos,
pois, a Palavra do Senhor, e ponhamos nela a nossa esperança, nos combates da
nossa vida. Se escutarmos o Senhor, recolheremos com Ele.
Conforta-nos
saber que Jesus é mais forte que o demónio, mais forte que o mundo, mais forte
do que qualquer tentação. Com Ele, a vitória é certa, apesar da dureza das
batalhas. Afinal: só Ele é o Senhor!
Como homens,
somos criaturas frágeis, cansadas, fatigadas. Cansadas pela luta contra o mal
ou porque somos vítimas do mal. Fatigadas por causa do peso da nossa carne
débil, das culpas. Cristo, que vem a nós na sua Palavra e na Eucaristia, é o
homem forte, com quem podemos vencer. Na sua misericordiosa bondade, convida-nos,
por fracos e pecadores que sejamos, convida todos os homens, também os que O
não conhecem, os que são indiferentes, e mesmo os que O odeiam: "Vinde a
Mim, todos vós que vos estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei… Aprendei
de Mim que sou manso e humilde de coração e achareis alívio para as vossas
almas, pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve’ (Mt 11, 28-30). Vamos,
pois, ao Senhor, acolhamos a sua Palavra, acolhamo-lo a Ele, que é o mais
forte!
Quando não há
nada num coração, que não pertença totalmente a Nosso Senhor, porque este
coração mesmo se deu com os seus afectos e os seus desejos, Nosso Senhor mesmo
é o Forte armado, que guarda o seu bem com um cuidado ciumento.
Em resumo, é
preciso ver neste Evangelho um convite a velar pelos interesses da nossa alma.
É preciso fazê-lo com solicitude, armando-nos com armas tão poderosas que
nenhuma outra possa sobre ela triunfar. Não é preciso, portanto, colocar a
própria confiança na própria virtude passada, na própria energia. A
concupiscência e o demónio têm facilmente razão sobre estas armas que derivam
da confiança em si mesmo e do orgulho. A graça é a muralha inexpugnável entre
todas e não se entra na praça-forte senão pelas intenções sobrenaturais e a
vida em Nosso Senhor, na submissão aos nossos superiores, às nossas regras, a
toda a vontade divina. A união a Nosso Senhor é acrescida pelo laço da afeição.
Quando uma alma se deu sem reservas ao Coração de Jesus, a sua causa torna-se a
de Nosso Senhor. Quanto mais o dom de si mesmo for completo e generoso, mais
assegura este socorro poderoso contra o qual vêm quebrar-se as paixões e os
embustes do inimigo.
Fonte: resumo e
adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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