Sábado – I Semana –Tempo Comum – Anos Pares
13 Janeiro 2018
Primeira leitura: 1 Samuel 9, 1-4.17-19;10, 1a
A unção de Saúl por Samuel é o centro do texto que
acabámos de escutar. Com a unção de Saúl, começa a histórica da monarquia em
Israel. Merecem realce dois aspectos: o rito da unção e a intervenção de Samuel
como ministro da mesma.
A unção é um rito religioso pelo qual o ungido passava
a ser uma pessoa consagrada e participava, de algum modo, na santidade de Deus.
Santificado pela unção e adoptado como filho por Deus, o rei podia exercer
funções sagradas. Será David a erguer o primeiro altar a Javé, em Jerusalém (2
Sam 24, 25) e a manifestar o desejo de erguer um templo (2 Sam 7, 2-3), mas
será Salomão a construí-lo e a presidir à liturgia da dedicação (1 Re 5-8).
Jereboão funda os santuários de Betel e de Dan, e recruta sacerdotes que os
sirvam, ordenando o calendário dos mesmos (1 Re 12, 26-33). Todavia, não se
pode certamente dizer que o rei seja sacerdote em sentido estrito. As funções
enumeradas são mais as de um chefe de um estado teocrático.
Mas convém assinalar que o rei é um «ungido» e
«messias», um «salvador», notas que hão-de caracterizar um futuro rei ideal que
se começa a esperar. O episódio da unção de Saúl também revela o modo de agir
de Deus: a vida de Saúl mostra o amor gratuito com que Deus escolhe aqueles que
hão-de servir o seu povo. Saúl personaliza uma realeza que o povo não estava
preparado a receber, apesar de a ter reclamado. Quer mesmo voltar atrás. Mas
Deus quer levar por diante o seu projecto. Pedimos a Deus que actue. Mas quando
essa actuação mexe connosco, nos exige submissão e obediência, tentamos resistir.
Mas é a sua vontade que tem de prevalecer.
Evangelho: Mc 2, 13-17.
A atenção que Jesus dispensa à «gente», isto é,
aqueles que não observavam a Lei segundo a interpretação rigorista, chocava os
mestres de Israel. Estes chamavam «pecadores» a essa «gente» não só devido a
eventuais culpas morais, mas também pelo facto de não observarem rigorosamente
a Lei e os costumes dos fariseus. Nesse sentido, também Jesus era um «pecador»:
não obrigava os discípulos aos rituais de purificação antes das refeições (7,
1-5) e recusava a casuística farisaica sobre o sábado (2, 23-28).
Mateus é considerado pecador porque se contamina no
contacto com os pagãos. A resposta de Jesus aos doutores da Lei não é uma
justificação dos pecadores, mas a verificação dessa realidade. Os cobradores de
impostos, conhecidos como pecadores, não pretendiam ocultar os seus defeitos e
passar por justos. Pelo contrário, os «doutores da Lei», sendo também eles
pecadores, pretendiam passar por justos, e julgavam não precisar do perdão de
Deus.
Mateus é
chamado ao discipulado no momento em que exercia a sua profissão «mundana».
Para os fariseus, havia profissões incompatíveis com a verdadeira religião.
Para Jesus, não há profissão que exclua do discipulado cristão. O único
impedimento ao seguimento de Cristo é considerar-se «justo» e «são»: «Eu não
vim chamar os justos, mas os pecadores» .
Saúl foi o primeiro «ungido» como príncipe de Israel,
o Povo de Deus. A palavra «ungido» Depois de Saúl, David será ungido rei. Esta
unção significava uma transformação do homem eleito por Deus que, todavia,
conservava todos os seus limites e misérias humanas, e não podia comunicar a
ninguém a sua consagração.
Só Jesus, o verdadeiro «ungido do Senhor», poderá
comunicar a sua unção, a dignidade real, que torna o homem capaz de dominar o
mundo segundo a vontade de Deus, para tudo Lhe seja finalmente submetido.
O episódio de Saúl também nos manifesta a eficácia e a
misericórdia do agir de Deus. O projecto gratuito de Deus prece as iniciativas
de Saúl. A acção divina realiza-se em situações normais, quase banais. Saúl não
recebe um cargo honorífico, mas a habilitação para um serviço. E tudo acontece
com naturalidade, sem dar nas vistas. A eficácia da palavra de Deus nada tem a
ver com o barulho do mundo.
. O chamamento de Mateus também acontece num contexto
de naturalidade. Enquanto os fariseus fogem do contacto com aqueles que
consideram pecadores, Jesus, como é seu hábito, vai ao encontro deles e convida
mesmo Levi a entrar no grupo dos discípulos e a levar vida comum com Ele:
«Segue-me» (v. 14). Nós também somos tentados a afastar-nos dos pecadores, pelo
menos considerando-nos fora desse grupo. Os outros são pecadores; nós não. E
esquecemos S. Paulo que nos diz que fomos justificados, mas não pelos nossos
méritos (cf. Rm 3, 24). Somos pecadores justificados gratuitamente, somos pecadores
perdoados. Tudo isto nos deve encher de compaixão, de misericórdia, de gratidão
e do desejo de acolher a todos. Estas são virtudes do Coração de Jesus, que
devemos cultivar, se quisermos ajudar os outros a aproximarem-se d´Ele, a serem
melhores.
Fonte: Resumo e adaptação de: “dehonianos.org.portal/liturgia”