sábado, 13 de janeiro de 2018

13 Janeiro: Sábado – I Semana –Tempo Comum – Anos Pares



Sábado – I Semana –Tempo Comum – Anos Pares
13 Janeiro 2018 

Primeira leitura: 1 Samuel 9, 1-4.17-19;10, 1a

A unção de Saúl por Samuel é o centro do texto que acabámos de escutar. Com a unção de Saúl, começa a histórica da monarquia em Israel. Merecem realce dois aspectos: o rito da unção e a intervenção de Samuel como ministro da mesma. 

A unção é um rito religioso pelo qual o ungido passava a ser uma pessoa consagrada e participava, de algum modo, na santidade de Deus. Santificado pela unção e adoptado como filho por Deus, o rei podia exercer funções sagradas. Será David a erguer o primeiro altar a Javé, em Jerusalém (2 Sam 24, 25) e a manifestar o desejo de erguer um templo (2 Sam 7, 2-3), mas será Salomão a construí-lo e a presidir à liturgia da dedicação (1 Re 5-8). Jereboão funda os santuários de Betel e de Dan, e recruta sacerdotes que os sirvam, ordenando o calendário dos mesmos (1 Re 12, 26-33). Todavia, não se pode certamente dizer que o rei seja sacerdote em sentido estrito. As funções enumeradas são mais as de um chefe de um estado teocrático. 

Mas convém assinalar que o rei é um «ungido» e «messias», um «salvador», notas que hão-de caracterizar um futuro rei ideal que se começa a esperar. O episódio da unção de Saúl também revela o modo de agir de Deus: a vida de Saúl mostra o amor gratuito com que Deus escolhe aqueles que hão-de servir o seu povo. Saúl personaliza uma realeza que o povo não estava preparado a receber, apesar de a ter reclamado. Quer mesmo voltar atrás. Mas Deus quer levar por diante o seu projecto. Pedimos a Deus que actue. Mas quando essa actuação mexe connosco, nos exige submissão e obediência, tentamos resistir. Mas é a sua vontade que tem de prevalecer.

Evangelho: Mc 2, 13-17.

A atenção que Jesus dispensa à «gente», isto é, aqueles que não observavam a Lei segundo a interpretação rigorista, chocava os mestres de Israel. Estes chamavam «pecadores» a essa «gente» não só devido a eventuais culpas morais, mas também pelo facto de não observarem rigorosamente a Lei e os costumes dos fariseus. Nesse sentido, também Jesus era um «pecador»: não obrigava os discípulos aos rituais de purificação antes das refeições (7, 1-5) e recusava a casuística farisaica sobre o sábado (2, 23-28). 

Mateus é considerado pecador porque se contamina no contacto com os pagãos. A resposta de Jesus aos doutores da Lei não é uma justificação dos pecadores, mas a verificação dessa realidade. Os cobradores de impostos, conhecidos como pecadores, não pretendiam ocultar os seus defeitos e passar por justos. Pelo contrário, os «doutores da Lei», sendo também eles pecadores, pretendiam passar por justos, e julgavam não precisar do perdão de Deus.

 Mateus é chamado ao discipulado no momento em que exercia a sua profissão «mundana». Para os fariseus, havia profissões incompatíveis com a verdadeira religião. Para Jesus, não há profissão que exclua do discipulado cristão. O único impedimento ao seguimento de Cristo é considerar-se «justo» e «são»: «Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» .

Saúl foi o primeiro «ungido» como príncipe de Israel, o Povo de Deus. A palavra «ungido» Depois de Saúl, David será ungido rei. Esta unção significava uma transformação do homem eleito por Deus que, todavia, conservava todos os seus limites e misérias humanas, e não podia comunicar a ninguém a sua consagração. 

Só Jesus, o verdadeiro «ungido do Senhor», poderá comunicar a sua unção, a dignidade real, que torna o homem capaz de dominar o mundo segundo a vontade de Deus, para tudo Lhe seja finalmente submetido. 

O episódio de Saúl também nos manifesta a eficácia e a misericórdia do agir de Deus. O projecto gratuito de Deus prece as iniciativas de Saúl. A acção divina realiza-se em situações normais, quase banais. Saúl não recebe um cargo honorífico, mas a habilitação para um serviço. E tudo acontece com naturalidade, sem dar nas vistas. A eficácia da palavra de Deus nada tem a ver com o barulho do mundo.

. O chamamento de Mateus também acontece num contexto de naturalidade. Enquanto os fariseus fogem do contacto com aqueles que consideram pecadores, Jesus, como é seu hábito, vai ao encontro deles e convida mesmo Levi a entrar no grupo dos discípulos e a levar vida comum com Ele: «Segue-me» (v. 14). Nós também somos tentados a afastar-nos dos pecadores, pelo menos considerando-nos fora desse grupo. Os outros são pecadores; nós não. E esquecemos S. Paulo que nos diz que fomos justificados, mas não pelos nossos méritos (cf. Rm 3, 24). Somos pecadores justificados gratuitamente, somos pecadores perdoados. Tudo isto nos deve encher de compaixão, de misericórdia, de gratidão e do desejo de acolher a todos. Estas são virtudes do Coração de Jesus, que devemos cultivar, se quisermos ajudar os outros a aproximarem-se d´Ele, a serem melhores.
Fonte: Resumo e adaptação de: “dehonianos.org.portal/liturgia”

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A ARQUIDIOCESE DE NAMPULA PROTESTA À FRELIMO PELA COLACAÇÃO DE PLANFLETOS

 A ARQUIDIOCESE DE NAMPULA PROTESTA  À FRELIMO PELA COLACAÇÃO DE PLANFLETOS  DE PROPAGANDA DA CAMPANHA ELEITORAL NO MURO DE VEDAÇÃO E NO PORTÃO DA RESIDÊNCIA EPISCOPAL

 A Arquidiocese  de Nampula, onde se realizará, a 24 de Janeiro, a eleição intercalar para a escolha do presidente do Conselho Municipal daquela cidade, escreveu uma carta de protesto ao partido Frelimo, na sequência dos membros deste partido terem colado panfletos de propaganda da campanha eleitoral nas instalações da Arquidiocese.

Numa carta assinada por Dom Inácio Saure, Arcebispo Metropolitano de Nampula, e, dirigida ao primeiro-secretário do partido Frelimo na cidade de Nampula, a Igreja Católica diz: “Vimos pela presente manifestar a nossa profunda indignação ao senhor primeiro secretário do partido Frelimo na cidade de Nampula, pelo facto de membros desse partido se terem permitido, sem o nosso consentiemnto nem conhecimento, a colocar panfletos de propaganda do seu candidato à presidência do Município de Nampula no muro de vedação e no portão da Residência Episcopal do Arcebispo de Nampula, na rua Dom Manuel Vieira Pinto, bairro de Namicopo”.

“Sendo a Igreja Católica uma instituição religiosa sem nenhuma filiação partidária, os seus espaços não podem, de modo algum, serem utilizados para fins propagandísticos político-partidários de nenhum partido”, lê-se na carta de protesto da Igreja Católica. E acrescenta: “Por isso pedimos que sejam imediatamente sejam retirados todos os cartazes do partido Frelimo colados no muro da vedação e no portão em causa, e repintados os espaços sujos pela colagem e descolagem dos panfletos, para lhes devolver o seu aspecto inicial”.

A Arquidiocese de Nampula diz também que este protesto é válido para todas as instituições da Igreja Católica em Nampula, pelo que, se o fizeram em qualquer uma delas (paróquias, casas religiosas, etc,), exigem que se proceda como pediram para a Residência Episcopal.

“Na esperança de que o nosso pedido seja imediatamente respondido, como o mínimo de respeito por esta instituição da Igreja Católica, signatária do Acordo sobre Princípios e Disposições Jurídicas para o Relacionamento entre a República de Moçambique e a Santa Sé, subscrevo-me com a mais alta consideração” lê-se na carta assinada por Dom Inácio Saure, Arcebispo de Nampula.

Fonte:  SITO, página WEB, Canal de Moçambique, Bernardo Álvaro, 11.01.2018

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Quinta-feira 11 Janeiro 2018. I Semana – Tempo Comum – Anos Pares.



Quinta-feira 11 Janeiro 2018. I Semana – Tempo Comum – Anos Pares. 

1ª leitura: 1 Samuel 4, 1-11

Os filisteus chegaram a Canaã quase ao mesmo tempo que os filhos de Israel. Dispunham de uma técnica superior à deles: conheciam a forja para trabalhar metais e eram os únicos que tinham armas desse tipo. Por isso, apesar de serem menores em número, os filisteus foram um problema sério para Israel. 

Mas o centro de interesse do nosso texto não é de ordem militar, mas teológico. O centro das atenções é a Arca e, em última análise, Deus, de quem a Arca é expressão sensível. No primeiro recontro os filisteus bateram Israel. Os anciãos deram a culpa ao Deus da Aliança: «Porque é que o Senhor nos derrotou hoje diante dos filisteus?» (v. 39). 

O povo não se resigna e põe Deus à prova: «Vamos a Silo e tomemos a Arca da aliança do Senhor, para que Ele esteja no meio de nós e nos livre da mão dos nossos inimigos» (v. 39). Mas, ao desencadear-se uma nova batalha, Israel sofre uma nova e terrível derrota. A própria Arca é roubada pelos filisteus. Os filhos de Eli são mortos em combate e o próprio sacerdote cai morto ao receber a notícia da completa derrota. Parece o fim.
Mas Deus, fiel às suas promessas, estava atento e tinha uma reserva de esperança: Samuel. Dali para a frente, o filho de Elcaná e de Ana torna-se o representante do povo santo e leva consigo o destino da nação. Este episódio encerra várias lições. Sublinhemos apenas duas: a Aliança inclui privilégios, mas também exigências; a Arca, o Templo, os «sacramentos», não são meios mágicos para pôr Deus a nosso serviço.

A primeira leitura mostra-nos que é possível iludir-nos com uma falsa confiança em Deus. Isso pode acontecer se mantivermos com Ele uma relação religiosa simplesmente aparente, expressa por um aparato cultual mais ou menos sofisticado, ou pela simples declaração de boas intenções. A verdadeira relação com Deus exige honestidade, ausência de fingimento. Os hebreus, vencidos pelos filisteus, vão buscar a Arca da Aliança, 
esperando que a sua presença lhes alcance a vitória. Mas acontece o pior: além de perderam a batalha, perdem também a Arca, que é roubada pelos filisteus. A sua confiança foi completamente frustrada. Toda estas desgraças já tinham sido anunciadas a Samuel: Deus tinha dito ao jovem que não estava contente com o culto que Lhe era prestado. Os próprios filhos do sacerdote Eli desonravam o Senhor, com o seu mau comportamento. Teria de haver um castigo. E houve. Diante da infidelidade do povo de Deus, de nada serviu a própria Arca da Aliança. Não se pode viver na infidelidade e esperar uma intervenção milagrosa de Deus, quando surge um problema. É preciso viver em comunhão permanente com Ele, buscando e realizando a sua vontade, servindo-o generosamente. Dizendo isto, será bom lembrar que, apesar de tudo, a nossa confiança em Deus nunca é frustrada, mesmo quando sofremos as consequências dos nossos pecados. 

Mas não havemos de esperar intervenções miraculosas de Deus quando merecemos a provação. Deus não deixará de escutar as nossas preces, e de actuar, mas não necessariamente para nos livrar das tribulações justamente merecidas. 

No caso de que nos fala a leitura, os filisteus levam a Arca da Aliança, coisa ainda mais dramática para os hebreus do que a própria derrota militar. Perdendo a Arca, que mantinha unido o povo, parecia ter chegado o fim do mesmo povo. Mas não é o que acontece. Os filisteus são atingidos por várias desgraças e vêem-se obrigados a devolver a Arca. E assim começa a história do Templo de Jerusalém. A Arca é primeiramente colocada em Silo. Mas quando David conquista Jerusalém é levada para lá. Assim, com uma derrota, começa a história do triunfo do Templo de Jerusalém, de David, da prosperidade de Israel, das maiores promessas de Deus ao seu povo. É bom manter sempre a confiança em Deus, mesmo quando nos abandona às consequências do nosso pecado. Quando menos esperamos, pode abrir-nos horizontes que jamais teríamos sonhado. 

Evangelho: Mc 1, 40-45
 No texto que escutámos, o leproso atreve-se a aproximar-se de Jesus. E Jesus acolhe-o e toca-o, contra as normas vigentes. As leis só obrigam na medida em que concorrem para o bem do homem. É um tema que irá repetir-se ao longo do segundo evangelho e em Paulo. 

Operada a cura, Jesus manda ao leproso que não faça publicidade dela, mas se apresente aos sacerdotes para que o reintegrem na comunidade. O objectivo da cura não era fazer publicidade apologética, mas reintegrar o marginalizado. A salvação já não se encontra na separação e na marginalização, mas na reintegração porque, com Jesus, entrou no mundo o próprio poder salvífico de Deus, que se põe do lado dos pobres e dos últimos da sociedade dos homens.
A nova sociedade inaugurada por Jesus não marginaliza ninguém, não separa, não exclui, porque Jesus aboliu o sistema que separava o puro do impuro tal como o entendia o mundo judaico. O cristão é um homem livre para Deus e para os outros. A Igreja deve estar na linha da frente para que a liberdade se torne real para todos os homens.

Nosso Senhor, ao apresentar-se aos doentes ou ao atraí-los a si pela sua incomparável bondade, exigia apenas uma condição para os curar: uma confiança absoluta n’Ele. S. João Baptista, não operando milagres, contentava-se em pregar a penitência com o zelo de Elias. Mas aquele que tinha vindo para salvar o que estava perdido exigia antes de tudo a confiança. Ao leproso que se prostra cheio de confiança diante d’Ele, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes curar-me», apressa-se a responder: «Quero, fica curado». A outros, que lhe pedem socorro para si ou para os seus filhos, diz: «Credes? Tendes confiança? Tudo é possível a quem crê». E o pobre pai da criança endemoninhada exclama então: «Eu creio, Senhor, ajuda a minha incredulidade». Se estes judeus carnais tinham confiança bastante para obter a sua cura, que diremos nós dos cristãos dos nossos dias, dos cristãos piedosos que não têm nenhuma ou que a têm tão fraca que não persevera?

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

IV FEIRA - 1ª Semana – Tempo Comum – Anos Pares



10 Janeiro 2018
I Semana – Quarta-feira – Tempo Comum – Anos Pares
SUBSÍDIO PARA A MEDITAÇÃO 

Primeira leitura: 1 Samuel 3, 1-10.19-20

Samuel é uma das figuras mais significativas do Antigo Testamento, uma figura plurifacetada: sacerdote, profeta e juiz. É protagonista da transição da fase das tribos para o regime monárquico. A vocação de Samuel está enquadrada num contexto de simplicidade e sublimidade, serenidade e dramatismo, silêncio e eloquência, quietude e dinamismo. A mãe tinha-o oferecido a Deus para o serviço do templo. Aí permaneceu silencioso e escondido durante alguns anos. 

Agora o Senhor chama-o, durante a noite, – «A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e» v. 3, – tempo propício para a revelação, pois não havia o ruído das coisas, descansavam os sentidos do corpo e estavam mais sensíveis os da alma. O Senhor chama três, quatro vezes: «Samuel! Samuel!». 
Um chamamento divino nunca é anónimo. Dirige-se sempre a uma pessoa concreta, a uma pessoa que Deus ama. Samuel ainda não é capaz de reconhecer imediatamente a voz de Deus. Por isso, o Senhor usa uma pedagogia adaptada: chama gradualmente, dá tempo ao homem, repete o chamamento… 

À terceira vez, entra em cena um intermediário, Eli, que ajuda Samuel a reconhecer a voz de Deus. As mediações humanas são importantes para sairmos da dúvida, da incerteza. Samuel escuta Eli e faz-se totalmente disponível para Deus: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» (v. 9).
Samuel evoca, em várias situações, a figura de João Baptista. Lucas sublinha esses paralelismos: em ambos os casos estamos em ambiente sacerdotal, e ambas as anunciações acontecem no santuário; nos dois casos, as mães são estéreis e os filhos são consagrados nazireus Lc 1, 7. 15-17.25. 
Mas o mais forte paralelismo talvez esteja no facto de ambos anunciarem uma nova fase da história da salvação. João Baptista é o último dos profetas e anuncia a plenitude dos tempos. Samuel é o primeiro dos profetas e consagra os inícios da monarquia, onde ocupa papel de destaque a dinastia de David, da qual havia de nascer o Messias.
Evangelho: Mc 1, 29-39
Jesus rompe com o estilo nos rabinos, na sua relação com as mulheres. Aproxima-se da sogra de Pedro, toma-a pela mão, cura-a e, maior novidade ainda, deixa-se servir por ela. Assim inverte todos os parâmetros das relações sociais, dando ao «serviço» um novo estilo e um novo conteúdo. «Servir» é a essência do programa messiânico de Jesus, que está no meio de nós como «quem serve» (Lc 22, 27). 

É também a característica fundamental que Jesus deixa aos discípulos, antes de morrer. Neste sentido, a sogra de Pedro, torna-se protótipo do crente libertado e que pode oferecer o seu serviço aos irmãos. Depois de um dia cheio de trabalho e de êxitos apostólicos, Jesus não se deixa levar pelo entusiasmo do povo, mas refugiou-se no deserto para se encontrar a sós com o Pai e orar. Aí encontra a força necessária para dizer a Pedro: «Vamos para outra parte». Jesus não se detém a saborear os êxitos apostólicos. Parte para que a Boa Nova chegue a todo o lado, também às pequenas aldeias perdidas na acidentada geografia da Galileia.

A Liturgia de hoje leva-nos a reflectir sobre a importância da busca da vontade de Deus, e da sua realização, na vida dos crentes. Discernir a vontade de Deus, saber claramente o que devemos fazer na nossa vida, e em cada um dos seus momentos, é um desafio nem sempre fácil de realizar. O próprio Jesus nos faz ver essa dificuldade: deve tomar a decisão de partir para um tempo de oração no deserto, quando todos O procuravam (cf. v. 37) e exigiam a sua atenção e cuidados. Mas Jesus compreendeu que não devia ficar em Cafarnaúm, mas partir a pregar a Boa Nova noutras aldeias e cidades. 

O Evangelho mostra-nos que a decisão clara e serena de Jesus se baseia na oração: «De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração» (v. 35). Não se diz que rezava para conhecer a vontade do Pai, mas simplesmente que rezava, de madrugada, apesar do cansaço do dia anterior. 

Assim compreendemos quanto é importante rezar para fazer um bom discernimento da vontade de Deus a nosso respeito. Esta oração deve ser assídua, independentemente dos problemas que vão surgindo na nossa vida. O clima de união com Deus e de oração, propício ao bom discernimento, preciso tomar decisões. Podemos certamente, para uma decisão concreta, pedir a luz de Deus que, na sua misericórdia nos pode escutar.

 Mas se não vivermos em clima de permanente união com Deus, corremos o risco de não sabermos discernir a sua vontade, porque não estamos no mesmo cumprimento de onda que Ele. Além disso, as nossas más inclinações podem levar-nos por caminhos que não são os de Deus. Pode haver momentos em que devemos procurar a vontade de Deus na oração durante um tempo mais prolongado. 

Mas, se vivermos em união habitual com Ele, rezaremos com a absoluta certeza de que nos vai escutar e dar a sua luz, porque habitualmente procuramos conhecer e cumprir a sua vontade. Samuel ainda não conhecia o Senhor, nem recebera a revelação da sua palavra. Por isso, Deus tem de chamá-lo repetidamente, até que o menino ponha de parte a interpretação espontânea da voz que escutava e reconheça a voz do Senhor na oração. Isto também nos interessa. 

Havemos de aprender a rezar, a escutar a Deus na oração, em cada uma das fases da nossa vida. A história desta criança que não reconhece a voz de Deus, e se julga chamado pelo sacerdote Eli, repete-se muitas vezes na vida de cada um de nós. Temos que aprender a escutar, a conhecer e a reconhecer a voz do Senhor desde pequeninos.
 Mas, ao longo da vida, devemos reaprendê-lo várias vezes, porque Deus não fala sempre do mesmo modo, nas diversas fases da nossa vida. Como Samuel, também nós precisaremos da orientação de alguém mais experimentado nas coisas de Deus, de um director espiritual, para não corrermos o risco de fazermos falsas interpretações da sua voz e da sua vontade. 

O cristão deve estar decidido a procurar a vontade de Deus e a pô-la em prática com a ajuda do Espírito. E tudo isto com a santa liberdade dos filhos de Deus. Devemos ter a humilde convicção de que não é sempre fácil conhecer essa vontade, e realizá-la perfeitamente. Daqui nasce a exigência de ter um irmão mais velho que nos ajude. 

Se Deus nos chamou, certamente nos deu os meios para a vivermos. Nem sempre os conteúdos de uma obediência são, com absoluta certeza, vontade de Deus. Mas, se não estiverem em contradição com a Sua lei, é certamente vontade de Deus que obedeçamos, convencidos de que "Deus faz com que tudo concorra para o bem daqueles que O amam" (Rm 8, 28).
As palavras, as inspirações divinas não merecem esta docilidade do nosso coração? Os mistérios da sua vida, as suas acções, os seus sofrimentos são dignos da consideração respeitosa que nos pede e do nosso respeito humilde e religioso. Se soubéssemos a paz, a alegria, as luzes de espírito, que encontraríamos nesta união, nesta intimidade respeitosa com Nosso Senhor! Se conhecesses o dom de Deus! Recordemos os exemplos dos Santos. Job encontrava a sua consolação na sua humilde submissão à vontade de Deus e na sua docilidade às palavras divinas. A minha consolação consiste, dizia, em aceitar os castigos divinos e não contradizer a palavra divina. Samuel ainda criança agradava a Deus pela sua docilidade: «Falai, Senhor, dizia, o vosso servo escuta» (1Sam 3). 

David dizia: «Por muito que me custe e mesmo que as ordens divinas sejam severas, escutarei a palavra divina» (Sl 16, 4). Santo Agostinho dizia: «Aquele que escuta a palavra de Deus com negligência é tão culpável como aquele que deixasse cair por terra o corpo de Jesus Cristo por sua culpa» (Hom 26).
Fonte: resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/liturgia/portal”

domingo, 7 de janeiro de 2018

Festa do Baptismo do Senhor – Ano B. Subsídio litúrgico para a reflexão e para a Homilia.



Festa do Baptismo do Senhor – Ano B

No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.

A primeira leitura  (Is 42,1-4.6-7) anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.

A figura misteriosa e enigmática do “Servo” apresenta evidentes pontos de contacto com a figura de Jesus:

- Ele é esse “eleito de Deus”, que recebeu a plenitude do Espírito, que veio ao encontro dos homens com a missão de trazer a justiça e a paz definitivas, que sofreu e morreu para ser fiel a essa missão que o Pai lhe confiou.

-Deus actua através de instrumentos a quem Ele confia a transformação do mundo e a libertação dos homens. Tenho consciência de que cada baptizado é um instrumento de Deus na renovação e transformação do mundo? Estou disposto a corresponder ao chamamento de Deus e a assumir os meus compromissos quanto a esta questão? Os pobres, os oprimidos, todos os que “jazem nas trevas e nas sobras da morte” podem contar com o meu apoio e empenho?

Convém não esquecer que tudo parte da iniciativa de Deus: é Ele que escolhe, que chama, que envia e que capacita para a missão… Aquilo que eu faço, por mais válido que seja, não é obra minha, mas sim de Deus; o meu êxito na missão não resulta das minhas qualidades, mas da iniciativa de Deus que age em mim e através de mim.
- Ele não se impõe pela força, pela violência, pelo dinheiro, ou pelos amigos poderosos; mas actua com suavidade, com mansidão, no respeito pela liberdade dos outros… É esta lógica  que eu utilizo no desempenho da missão profética que Deus me confiou?

A segunda leitura (Actos 10,34-38) reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. 

Nos seus gestos de bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade, de amor, os homens encontraram o projecto libertador de Deus em acção…
Nós, cristãos, comprometidos com Cristo e com a sua missão desde o nosso baptismo, testemunhamos, em gestos concretos, a bondade, a misericórdia, o perdão e o amor de Deus pelos homens? Empenhamo-nos em libertar todos os que são oprimidos pelo demónio do egoísmo, da injustiça, da exploração, da solidão, da doença, do analfabetismo, do sofrimento?

“Reconheço que Deus não faz acepção de pessoas” : reconhecendo a igualdade fundamental de todos os homens em direitos e dignidade? Que sentido fazem então as discriminações por causa da cor da pele, da raça, do sexo, da orientação sexual ou do estatuto social?

No Evangelho (Mc 1,7-11) , aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude. 

No episódio do baptismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos homens para os libertar e para os inserir numa dinâmica de comunhão e de vida nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que Ele nos dedica…
Aquilo que nos é pedido é que correspondamos ao amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso baptismo, comprometemo-nos com esse projecto… Temos, depois disso, renovado diariamente o nosso compromisso e percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus veio propor-nos?

Jesus  assume plenamente a sua condição de “Filho” e se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projecto do Pai de dar vida ao homem: É esta mesma atitude de obediência radical, de entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha relação com Deus?
Deus aceitou identificar-Se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena? Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso contribuir para os promover e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?

Fonte: 
resumo e adaptação local de um texto em; "dehonianos.org/liturgia/portal"