Terça-feira – 3ª Semana da
Quaresma
Primeira
leitura: Daniel 3, 25.34-43
A oração de
Azarias começa com um pedido que nos faz lembrar o «Pai nosso»: «Cobre de
glória o teu nome, Senhor (v. 43; cf. Mt 6, 9). Azarias apenas teme que o nome
de Deus não seja glorificado. Ainda que o sofrimento seja enorme, que o povo
esteja reduzido a um «resto», e seja humilhado, Deus deve continuar a ser
glorificado. Nem a profanação do templo, nem a helenização com a destituição
dos chefes religiosos e do culto oficial hão-de impedir a fidelidade a Deus e a
consequente glorificação do seu nome. O profeta lê todos esses acontecimentos
como purificação providencial. Na
provação, o povo reencontra o coração contrito e humilhado que agrada ao Senhor
como um verdadeiro sacrifício (vv. 40s.) que dá glória a Deus. E, então,
renasce a esperança (vv. 42s.). Deus é fiel às promessas feitas aos patriarcas
(vv. 35s.). A grandeza da sua misericórdia pode ainda transbordar em benevolência
e bênçãos para o povo da Aliança (v. 42). Por isso, de salmo penitencial, a
súplica de Azarias transforma-se em hino de louvor cantado em coro pelos três
jovens da fornalha ardente (vv. 52-90). E Deus é glorificado pelos seus fiéis e
por aqueles que se dão conta do seu poder (v. 95).
Evangelho:
Mateus 18, 21-35
A segunda parte
do discurso eclesial (Mt 18), é particularmente dedicada ao perdão das ofensas
pessoais. Pedro, sempre impulsivo, julga escapar à rede da vingança ilimitada
dizendo-se disposto a perdoar «até sete vezes» (v. 21). Mas Jesus aponta para
um horizonte mais amplo, ilimitado, afirmando que é preciso perdoar «até
setenta vezes sete» (v. 22), sempre. O cristão é chamado a assumir uma
mentalidade completamente nova.
Jesus ilustra o
seu ensinamento com uma parábola em três actos contrastantes mas
complementares: encontro do servo devedor com o senhor, encontro do servo
libertado com outro servo que lhe é devedor, e novo encontro entre o servo e o
senhor. Desta parábola, os discípulos hão aprender o que significa ser
imitadores do Pai celeste (v. 35). A dívida do servo é enorme, mas o senhor tem
compaixão por ele e perdoa-o de modo completamente gratuito. O servo
insolvente, mas perdoado, encontra outro que lhe deve uma quantia irrisória, e não
lhe perdoa (vv. 28-30). A graça recebida não lhe transformou o coração. Por
isso, atraiu sobre si o inevitável juízo e o castigo divino. O perdão ao irmão
condiciona o perdão do Pai que está no céu: «Perdoai-nos as nossas ofensas,
como nós perdoamos … ).
Azarias dá-nos
exemplo de como se reza na desolação. Tudo fora perdido, e Deus parecia
distante e inacessível. O risco do desespero, da perda da fé, ou da queda na
blasfémia, espreita. Mas Azarias resiste, pede perdão para o seu povo e pede
que o nome de Deus continue a ser glorificado, usando mais uma vez de doçura e
misericórdia para com o seu povo: «Cobre de glória o teu nome, Senhor». E Deus
escuta a oração do seu servo.
A misericórdia
de Deus para connosco há-de modelar o nosso de agir em relação aos outros, deve
fazer de nós portadores da misericórdia divina. O nosso Deus tem um coração de
Pai cheio de bondade e de misericórdia, lento para a ira e grande no amor.
Santo Ambrósio escreveu que Deus criou o homem para ter alguém a quem perdoar.
Por vezes, somos muito rudes e mesquinhos diante de tanta magnanimidade.
É o que nos
revela a parábola que hoje escutamos. Deus ama-nos e está sempre disponível
para nos perdoar, ainda que sejam grandes os nossos pecados. Nós, muitas vezes,
não sabemos perdoar coisas quase insignificantes. Assim somos causa de
escândalo para os nossos irmãos. Experimentámos a misericórdia de Deus, mas não
a deixamos transparecer na relação com os outros. Mas, desse modo, não
reconhecemos a grandeza do nosso pecado, nem mostramos gratidão para com Deus,
que nos perdoou. Assim, impedimos que cresça em nós a imagem e
semelhança com Deus, «lento para a ira e cheio de bondade. (Nm 14, 18).
semelhança com Deus, «lento para a ira e cheio de bondade. (Nm 14, 18).
Diante de Deus,
somos todos devedores insolventes. Ele perdoa-nos gratuitamente. E é também
assim que havemos de comportar-nos com todos quanto tem alguma dívida para
connosco, perdoando para além de qualquer limite: «setenta vezes sete». Mais
uma vez, Deus quer dar-nos, para além de tudo, a felicidade de darmos sem nada
querermos receber, a felicidade de participarmos na festa da reconciliação, na
glória dos filhos de Deus comprados com o sangue do Filho, derramado para
remissão dos pecados.
Pedro permanece
o canal único e sagrado, por onde desce do céu e se multiplica na Igreja, o
poder de ligar e desligar.
Prometendo
assim o perdão aos pecadores, Nosso Senhor está todo emocionado de
misericórdia, ratifica já no seu Coração os milhões e milhões de absolvições
que os seus ministros pronunciarão ao longo dos séculos. Sobre que é que
poderia conversar com os seus discípulos neste momento, senão acerca do perdão
das injúrias? O seu Coração transborda deste espírito de perdão, e está cheio
dele como de um abismo. Fala sobre este tema, escutemo-lo.
«Senhor, diz
Pedro aproximando-se de Jesus, se o meu irmão pecar contra mim, quantas vezes
lhe perdoarei? Será até sete vezes! (S. Pedro julgava ser muito generoso). –
Não digo até sete vezes, respondeu-lhe Jesus, mas até setenta vezes sete (Isto
é ao infinito). – Depois o bom Mestre expõe a parábola do perdão das dívidas:
«Um rei quis regular as contas com os seus servos. Apresentaram-lhe um que lhe
devia dez mil talentos (vários milhões de francos). Este homem não tendo com
que lhe pagar, o rei ordenou que fosse vendido, ele, a sua mulher, os seus
filhos e tudo o que tinha para pagar as suas dívidas. O infeliz pediu graça, o
rei teve piedade dele, mandou-o embora livre e perdoou-lhe a dívida.
«Mas eis que
este se mostra intratável a seguir para com um amigo que lhe devia uma pequena
soma de cem dinheiros. O rei manda-o chamar e diz-lhe: «Servo mau, a teu
pedido, perdoei-te toda a tua dívida, não deverias tu ser indulgente também
para com o teu companheiro?». E condenou-o.
Fonte:
Resumo e adaptação de um texto de
“dehonianos.org/portal/liturgia”
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