III DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B
15 ABRIL 2018
Como é que
podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como é que podemos mostrar ao mundo que
Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a salvação?
A primeira
leitura (Act
3,13-15.17 -19), apresenta-nos, precisamente, o testemunho dos discípulos sobre Jesus. Depois de terem mostrado,
em gestos concretos, que Jesus está vivo e continua a oferecer aos homens a
salvação, Pedro e João convidam os seus interlocutores a acolherem a proposta
de vida que Jesus lhes faz.
Para os
cristãos, Jesus não é uma figura do
passado, que a morte venceu e que ficou sepultado no museu da história; mas
é alguém que continua vivo, sempre
presente nos caminhos do mundo, oferecendo aos homens uma proposta de vida
verdadeira, plena, eterna.
O factor
decisivo para que os homens descubram que Cristo está vivo é o testemunho dos discípulos.
Jesus está
vivo e apresenta-se aos homens do nosso tempo nos gestos de amor, de partilha, de solidariedade, de perdão, de
acolhimento que os cristãos são capazes de fazer;
Jesus está
vivo e actua hoje no mundo, quando os
cristãos se comprometem na luta pela paz, pela justiça, pela liberdade, pelo
nascimento de um mundo mais humano, mais fraterno, mais solidário;
Jesus está
vivo e continua a realizar aqui e agora o projecto de salvação de Deus, quando os seus cristãos oferecem aos coxos
a possibilidade de avançar em direcção a um futuro de esperança, oferecem
aos que vivem nas trevas a capacidade de encontrar a luz e a verdade, oferecem
aos prisioneiros a possibilidade de ter voz e de decidir livremente o seu
futuro.
Lucas
garante-nos, neste texto, que a proposta
que Jesus veio apresentar é uma proposta geradora de vida, apesar de passar
pelo aparente fracasso da cruz.
É de vida vivida na doação, na entrega, no amor total a Deus e
aos irmãos, a exemplo de Jesus, que brota a vida eterna e verdadeira para nós e
para aqueles que caminham ao nosso lado.
O apelo ao arrependimento e à
conversão que aparece
no discurso de Pedro lembra-nos essa necessidade
contínua de reequacionarmos as nossas opções, de deixarmos os caminhos de
egoísmo, de orgulho, de comodismo, de auto¬suficiência em que, por vezes, se
desenrola a nossa existência.
A segunda leitura (1 Jo 2,1-5a 9), lembra que o cristão, depois de encontrar Jesus e de aceitar a vida que Ele
oferece, tem de viver de forma coerente com
o compromisso que assumiu.
Essa coerência deve manifestar-se no
reconhecimento da debilidade e da fragilidade que fazem parte da realidade
humana e num esforço de fidelidade aos mandamentos de Deus.
A questão
fundamental que o nosso texto põe é a da coerência de vida.
O cristão é
uma pessoa que aceitou o convite de Deus para escolher a luz e que tem de
viver, dia a dia, de forma coerente com o compromisso que assumiu.
Não pode
comprometer-se com Deus e conduzir a sua vida por caminhos de orgulho, de
auto-suficiência, de indiferença face a Deus e às suas propostas.
A vida do
crente não pode ser uma vida de “meias-tintas”, de comodismo, de opções
volúveis, de oportunismos, mas tem de ser uma vida consequente, comprometida,
exigente.
Essa
coerência de vida deve manifestar-se no reconhecimento da debilidade e da fragilidade
que fazem parte da realidade humana.
O pecado não
é algo “normal”, para o crente (o pecado é sempre um “não” a Deus e às suas
propostas e isso deve ser visto pelos crentes como uma “anormalidade”);
mas é uma realidade que o crente reconhece e que sabe que está sempre presente
ao longo da sua caminhada pelo mundo.
O autor da
Carta de João convida-nos a tomar consciência da nossa realidade de
pecadores, a acolher a salvação que Deus nos oferece, a confiar em Jesus, o
“advogado” que nos entende (porque veio ao nosso encontro, partilhou a
nossa natureza, experimentou a nossa fragilidade) e que nos defende.
Reconhecer a
nossa realidade pecadora não pode levar-nos ao desespero; tem de levar-nos a abrir o
coração aos dons de Deus, a acolher humildemente a sua salvação e a
caminhar com esperança ao encontro do Deus da bondade e da misericórdia que nos
ama e que nos oferece, sem condições, a vida eterna.
É uma
mentira dizer que se ama Deus e, na vida concreta, desprezar as suas propostas
e conduzir a vida de acordo com valores que contradizem de forma absoluta a
lógica de Deus.
Um crente
que diz amar Deus e, no dia a dia, cria à sua volta injustiça, conflito,
opressão, sofrimento, vive na mentira; um crente que diz “conhecer Deus” e
fomenta uma lógica de guerra, de ódio, de intransigência, de intolerância, está
bem distante de Deus; um crente que diz ter “a sua fé” e recusa o amor, a
partilha, o serviço, a comunidade, está muito longe dos caminhos onde se revela
a vida e a salvação de Deus.
O Evangelho (Lc 24,35-48), O Evangelho assegura-nos que Jesus
está vivo e continua a ser o centro à volta do qual se constrói a comunidade
dos discípulos.
É
precisamente nesse contexto eclesial – no encontro comunitário, no diálogo com
os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta comunitária da Palavra de Deus,
no amor partilhado em gestos de fraternidade e de serviço – que os discípulos
podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado.
Depois desse
“encontro”, os discípulos são convidados a dar testemunho de Jesus diante dos
outros homens e mulheres.
Assegura-nos
que Jesus está vivo e continua a ser o centro à volta do qual se constrói a
comunidade dos discípulos.
Os dicípulos
começaram a percorrer o caminho com dúvidas e incertezas; mas fizeram a
experiência de encontro com Cristo vivo e chegaram à certeza da ressurreição.
Nós, como os
primeiros discípulos, temos de percorrer o nem sempre claro caminho da fé, até
chegarmos à certeza da ressurreição.
Não se chega lá através de deduções lógicas ou
através de construções de carácter intelectual; mas chega-se ao encontro com o
Senhor ressuscitado inserindo-nos nesse contexto em que Jesus Se revela no amor
partilhado em gestos de fraternidade e de serviço. É nesse “caminho” que vamos
encontrando Cristo vivo, actuante, presente na nossa vida e na vida do mundo.
Através da
imagem do “comer em conjunto” (que, para o Povo bíblico, significa estabelecer
laços estreitos, laços de comunhão, de familiaridade, de fraternidade), Lucas
garante-nos que o Ressuscitado continua a “sentar-se à mesa” com os seus
discípulos, a estabelecer laços com eles, a partilhar as suas inquietações, anseios,
dificuldades e esperanças, sempre solidário com a sua comunidade.
Podemos
descobrir este Jesus ressuscitado que se senta à mesa com os homens sempre que
a comunidade se reúne à mesa da Eucaristia, para partilhar esse pão que Jesus
deixou e que nos faz tomar consciência da nossa comunhão com Ele e com os
irmãos.
Jesus lembra
aos discípulos: “vós sois as testemunhas de todas estas coisas”. Isto
significa, apenas, que os cristãos devem ir contar a todos os homens, com
lindas palavras, com raciocínios lógicos e inatacáveis que Jesus ressuscitou e
está vivo?
O testemunho
que Cristo nos pede passa, mais do que pelas palavras, pelos nossos gestos.
Jesus vem, hoje, ao encontro dos homens e oferece-lhes a salvação através dos
nossos gestos de acolhimento, de partilha, de serviço, de amor sem limites.
Jesus
ressuscitado confia aos discípulos a missão de anunciar “em seu nome o
arrependimento e o perdão dos pecados a todos os povos, começando por
Jerusalém”.
Continuando
a obra de Jesus, a missão dos discípulos é eliminar da vida dos homens tudo
aquilo que é “o pecado” (o egoísmo, o orgulho, o ódio, a violência e propor aos
homens uma dinâmica de vida nova.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de dehonianos.org/portal/liturgia/”