sábado, 17 de novembro de 2018

33º Domingo do Tempo Comum - Ano B

33º Domingo do Tempo Comum - Ano B 18 Novembro 2018 A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projecto de vida definitiva para os homens. Ele vai - dizem os nossos textos - mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim. A primeira leitura Dan 12,1-3anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna. • A mensagem de esperança que o nosso texto nos deixa destinava-se a animar os crentes que sofriam a perseguição numa época e num contexto particulares. No entanto, é uma mensagem válida para os crentes de todas as épocas e lugares. A "perseguição" por causa da fidelidade aos valores em que acreditamos é uma realidade que todos conhecemos e que faz parte da nossa existência comprometida. Hoje, essa "perseguição" nem sempre é sangrenta; manifesta-se, muitas vezes, em atitudes de marginalização ou de rejeição, em ditos humilhantes, em atitudes provocatórias, na colagem de "rótulos" ("conservadores", "atrasados", "fora de moda"), em julgamentos apressados e injustos, em preconceitos e oposições... Contudo, é sempre uma realidade que faz sofrer o Povo de Deus. Este texto garante-nos que Deus nunca abandona o seu Povo em marcha pela história e que a vitória final será daqueles que se mantiverem fiéis às propostas e aos caminhos de Deus. Esta certeza constitui um "capital de esperança" que deve animar a nossa caminhada diária pelo mundo. • O Livro de Daniel põe, também, a questão da fidelidade aos valores verdadeiramente importantes, que estão para além das conveniências políticas e sociais, ou das imposições e perspectivas de quem dita a moda... Daniel, o personagem central do livro, é uma figura interpelante, que nos convida a não transigirmos com os valores efémeros, sobretudo quando eles põem em causa os valores essenciais. O cristão não é uma "cana agitada pelo vento" que, por interesse ou por cálculo, esquece os valores e as exigências fundamentais da sua fé; mas é "profeta" que, em permanente diálogo com o mundo e sem se alhear do mundo, procura dar testemunho dos valores perenes, dos valores de Deus. • A certeza da presença de Deus a acompanhar a caminhada dos crentes e a convicção de que a vitória final será de Deus e dos seus fiéis, permite-nos olhar a história da humanidade com confiança e esperança. O cristão não pode ser, portanto, um "profeta da desgraça", que tem permanentemente uma perspectiva negra da história e que olha o mundo com azedume e pessimismo; mas tem de ser uma pessoa alegre e confiante, que olha para o futuro com serenidade e esperança, pois sabe que, presidindo à história dos homens, está esse Deus que protege, que cuida e que ama cada um dos seus filhos. • O nosso texto garante a vida eterna àqueles que procuraram viver na fidelidade aos valores de Deus. A certeza de que a vida não acaba na morte liberta-nos do medo e dá-nos a coragem do compromisso. Podemos, serenamente, enfrentar neste mundo as forças da opressão e da morte, porque sabemos que elas não conseguirão derrotar-nos: no final da nossa caminhada por este mundo, está sempre a vida eterna e verdadeira, que Deus reserva para os que estão "inscritos no livro da vida". A segunda leitura Heb 10,11-14.18lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de libertar o homem do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo e da vida definitiva. • O pecado, consequência da nossa finitude, é sempre uma realidade que impede a comunhão plena com Deus e o acesso à vida verdadeira. É, portanto, algo que constitui um obstáculo à nossa realização plena, ao aparecimento do Homem Novo. Estaremos, em consequência, fatalmente condenados a não realizar a nossa vocação de comunhão com Deus e a não concretizar o nosso desejo de vida em plenitude? A segunda leitura deste domingo garante-nos que Deus não abandona o homem que faz, mesmo conscientemente, opções erradas. O nosso egoísmo, o nosso orgulho, a nossa auto-suficiência, o nosso comodismo, o nosso pecado não têm a última palavra e não nos afastam decisivamente da comunhão com Deus e da vida eterna; a última palavra é sempre do amor de Deus e da sua vontade de salvar o homem. • Jesus, o Filho amado de Deus, veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de nos libertar do pecado e de nos inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. No dia do nosso Baptismo, aderimos ao projecto de vida que Jesus nos apresentou e passámos a integrar a comunidade dos filhos de Deus. Resta-nos, agora, seguir os passos de Jesus e percorrer, dia a dia, esse caminho de amor e de serviço que Ele nos deixou em herança. É um compromisso sério e exigente, que necessita de ser continuamente renovado. O nosso compromisso com Jesus e com a sua proposta de vida exige que, como Ele, vivamos no amor, na partilha, no serviço, se necessário até ao dom total da vida; exige que lutemos, sem desanimar, contra tudo aquilo que rouba a vida do homem e o impede de chegar à vida plena; exige que sejamos, no meio do mundo, testemunhas de uma dinâmica nova - a dinâmica do amor. A nossa vida tem sido coerente com esse compromisso? • Cristo gastou toda a sua existência na luta contra tudo aquilo que escraviza o homem e lhe rouba o acesso à vida verdadeira. A sua morte na cruz foi uma consequência de ter enfrentado as forças do egoísmo e do pecado que oprimiam os homens. Contudo, a morte não O venceu e Ele "sentou-Se para sempre à direita de Deus". O seu triunfo garante-nos que uma vida feita dom de amor não é uma vida perdida e fracassada, mas é uma vida destinada à eternidade. Quem, como Ele, luta para vencer o pecado que escraviza os homens, há-de chegar à comunhão plena com Deus, à vida eterna. Esta certeza deve animar a nossa caminhada e dar-nos a coragem do compromisso. Ainda que as forças da morte nos ameacem, o exemplo de Cristo deve animar-nos a prosseguir o nosso combate contra o egoísmo, a injustiça, a opressão, o pecado. No Evangelho, Mc 13,24-32 Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projectos, os apelos e os desafios de Deus. • Ver os telejornais ou escutar os noticiários é, com frequência, uma experiência que nos intranquiliza e que nos deprime. Os dramas dessa aldeia global que é o mundo entram em nossa casa, sentam-se à nossa mesa, apossam-se da nossa existência, perturbam a nossa tranquilidade, escurecem o nosso coração. A guerra, a opressão, a injustiça, a miséria, a escravidão, o egoísmo, a exploração, o desprezo pela dignidade do homem atingem-nos, mesmo quando acontecem a milhares de quilómetros do pequeno mundo onde nos movemos todos os dias. As sombras que marcam a história actual da humanidade tornam-se realidades próximas, tangíveis, que nos inquietam e nos desesperam. Feridos e humilhados, duvidamos de Deus, da sua bondade, do seu amor, da sua vontade de salvar o homem, das suas promessas de vida em plenitude. A Palavra de Deus que hoje nos é servida abre, contudo, a porta à esperança. Reafirma, uma vez mais, que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para o holocausto, para a destruição, para o sem sentido, para o nada; mas caminha ao encontro da vida plena, ao encontro desse mundo novo em que o homem, com a ajuda de Deus, alcançará a plenitude das suas possibilidades. • Os cristãos, convictos de que Deus tem um projecto de vida para o mundo, têm de ser testemunhas da esperança. Eles não lêem a história actual da humanidade como um conjunto de dramas que apontam para um futuro sem saída; mas vêem os momentos de tensão e de luta que hoje marcam a vida dos homens e das sociedades como sinais de que o mundo velho irá ser transformado e renovado, até surgir um mundo novo e melhor. Para o cristão, não faz qualquer sentido deixar-se dominar pelo medo, pelo pessimismo, pelo desespero, por discursos negativos, por angústias a propósito do fim do mundo... Os nossos contemporâneos têm de ver em nós, não gente deprimida e assustada, mas gente a quem a fé dá uma visão optimista da vida e da história e que caminha, alegre e confiante, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu. • É Deus, o Senhor da história, que irá fazer nascer um mundo novo; contudo, Ele conta com a nossa colaboração na concretização desse projecto. A religião não é ópio que adormece os homens e os impede de se comprometerem com a história... Os cristãos não podem ficar de braços cruzados à espera que o mundo novo caia do céu; mas são chamados a anunciar e a construir, com a sua vida, com as suas palavras, com os seus gestos, esse mundo que está nos projectos de Deus. Isso implica, antes de mais, um processo de conversão que nos leve a suprimir aquilo que, em nós e nos outros, é egoísmo, orgulho, prepotência, exploração, injustiça (mundo velho); isso implica, também, testemunhar em gestos concretos, os valores do mundo novo - a partilha, o serviço, o perdão, o amor, a fraternidade, a solidariedade, a paz. • Esse Deus que não abandona os homens na sua caminhada histórica vem continuamente ao nosso encontro para nos apresentar os seus desafios, para nos fazer entender os seus projectos, para nos indicar os caminhos que Ele nos chama a percorrer. Da nossa parte, precisamos de estar atentos à sua proximidade e reconhecê-l'O nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação. O cristão não pode fechar-se no seu canto e ignorar Deus, os seus apelos e os seus projectos; mas tem de estar atento e de notar os sinais através dos quais Deus Se dirige aos homens e lhes aponta o caminho do mundo novo. • É preciso, ainda, ter presente que este mundo novo - que está permanentemente a fazer-se e depende do nosso testemunho - nunca será uma realidade plena nesta terra (a nossa caminhada neste mundo será sempre marcada pela nossa finitude, pelos nossos limites, pela nossa imperfeição). O mundo novo sonhado por Deus é uma realidade escatológica, cuja plenitude só acontecerá depois de Cristo, o Senhor, ter destruído definitivamente o mal que nos torna escravos. Fonte; “dehonianos.org/portal/liturgia”

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SÁBADO - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 17 NOVEMBRO 2018

SÁBADO - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 17 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: 3 Jo 5-8 A verdade de Deus, particularmente a revelada em Jesus Cristo, quer ser difundida não só por palavras, mas, sobretudo, pela caridade. Ao mesmo tempo, a actividade missionária é tarefa de toda a Igreja. Quando um dos seus membros se dedica à missão é toda a comunidade que se dedica com ele. O missionário representa a igreja e a Igreja toma a seu cuidado o missionário. Evangelho: Lucas 18, 1-8 Esta parábola, por um lado, alerta para a necessidade de perseverar na oração; por outro, lembra o ensinamento de Jesus sobre a certeza do seu regresso e sobre a gravidade do juízo que há pronunciar sobre aqueles que não seguem a justiça. Devemos notar a interrogação de Jesus no v. 7: «E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há-de fazê-los esperar?» Pensando em Deus, este «fazer justiça» tem a ver com a sua fidelidade às promessas e, portanto, com a sua vontade de perdão e de salvação. Deus é justo enquanto justiça: é essa a concepção bíblica de justiça. «Há-de fazê-los esperar?» (cf. v. 7b). Esta pergunta também ilumina a nossa busca. Deus, de facto, de acordo com o ensinamento bíblico, não é apenas justo, mas também paciente e bom. Manifesta a sua arte pedagógica não só ao ouvir as nossas orações, mas também ao estabelecer os tempos e os modos em que irá intervir. Este comportamento de Deus causa um certo escândalo, porque Ele espera, talvez demasiado tempo, antes de fazer justiça. Esta paciência de Deus, por vezes, torna impacientes os crentes. «Eu vos digo que lhes vai fazer justiça prontamente» (v. 8ª). Está aqui o fim da parábola; o que segue pode considerar-se um acrescento posterior. É deste modo que Jesus pretende confirmar a nossa fé em Deus-Pai, que contrariamente às nossas incertezas e crises, toma conta de todos aqueles que, na pobreza, O escolhem como único Senhor. O texto evangélico de hoje termina com uma forte provocação de Jesus: «Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?». O tema da fé está no centro do discurso de Jesus. Trata-se de um dom precioso de Deus, que havemos de conservar, custe o que custar. Isso não parece nada fácil. Se olharmos à nossa volta, ficamos com a impressão de que a humanidade está a caminho de um futuro menos rico de fé, e cada vez mais ligado aos bens terrenos e aos próprios interesses. O que vemos à nossa volta leva-nos facilmente a responder de forma negativa à pergunta de Jesus. Mas não basta usar a lupa para ver engrandecido o que acontece à nossa volta. É bom usar também os binóculos para fazermos uma observação panorâmica da realidade. Então veremos que a semente da fé está presente e escondida no coração de não poucas pessoas, e é isso o que mais conta. O que faz a diferença não é tanto a visibilidade externa ou a eficiência das estruturas criadas pelos crentes, mas o dom de Deus que, por sua natureza, tende a criar relações profundas e gosta de se esconder nelas. A pergunta/provocação de Jesus pode ser vista como uma missão para nós, os crentes: pertence ao «resto de Israel» fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que, quando vier o Filho do homem, possa encontrar a fé sobre a terra. Sendo a fé, em primeiro lugar, dom de Deus, há que pedi-lo com perseverança, para nós e para os outros. E há que pedir também a graça da perseverança e do crescimento na fé, com a certeza de que Deus é um juiz piedoso, cheio de graça e de fidelidade e que, junto dele, temos a Virgem Maria, sempre disposta a defender a nossa causa. Fonte: Fernando Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

SEXTA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 16 NOVEMBRO 2018

SEXTA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 16 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Segunda Carta de João 4-9 Nesta breve carta, S. João oferece-nos como que uma síntese do seu evangelho, uma vez que recorda à sua comunidade o essencial para a salvação: "caminhar na verdade" e "acreditar que Jesus é o Filho de Deus". O apóstolo interpreta o mandamento novo que ele mesmo recebeu do Senhor. As duas condições para a salvação podem, por sua vez, resumir-se a uma: acreditar em Jesus Cristo e, assim entrar na verdade de Deus. Mas João também se preocupa com a fidelidade dos seus destinatários, porque há muitos «sedutores» (v. 7), que não reconhecem Jesus e pretendem levar os outros a não o reconhecerem também. É sempre possível perder o fruto do nosso trabalho, isto é, a fé que pode transformar a nossa vida (cf. v. 8). Aquele que crê tem a sorte, não só de conhecer a verdade, mas também ter connosco Deus (cf. V. 9), não só de tender para um futuro incerto, mas de caminhar com Cristo para Deus, não só de praticar uma qualquer filantropia, mas de amar a Deus no próximo, em nome de Cristo. Evangelho: Lucas 17, 26-37 Jesus quer ensinar aos discípulos a verdadeira esperança. Por isso, completa o discurso sobre a sua última vinda. Para que a esperança não se torne utópica e não crie ilusões fáceis, Jesus une-a à fé. A fé, por sua vez, une-nos, desde já, ao Senhor e à sua morte e ressurreição. Unindo a esperança à fé, ficamos a saber quem esperamos, e não nos interessa quando ou como isso acontecerá. Jesus ilustra o ensinamento com dois exemplos: o de Noé (vv. 26s.) e o de Lot (vv. 28s.). Só aparentemente estes dois factos históricos evidenciam o carácter improviso e repentino do dilúvio, no caso de Noé, e da chuva de fogo, no caso de Lot. O que Jesus quer acentuar é a necessidade de estar prontos quando Deus se manifestar no seu poder: prontos a reconhecê-lo, prontos para ser introduzidos na alegria eterna e na comunhão com Ele. O verdadeiro ensinamento de Jesus é, pois, este: não devemos considerar apenas Noé e Lot como figuras de crentes, mas também os seus contemporâneos, representados pela mulher de Lot (v. 32). Viviam esquecidos de Deus e preocupados com os bens terrenos: foi nessa situação que foram surpreendidos pelo castigo de Deus. É a sua indiferença perante a imprevisível intervenção de Deus, e a sua cegueira espiritual, é a sua incapacidade para se darem conta da dramaticidade dos tempos que atrai a atenção de Jesus, do evangelista e a nossa. Jesus convida os seus discípulos a fazer bom uso da memória. É bom revisitarmos a história, para nos darmos conta das visitas de Deus, e adquirirmos sabedoria que nos permita viver adequadamente o presente e preparar o futuro. A história é mestra de vida, diziam os antigos. No caso de hoje, somos convidados a revisitar o Antigo Testamento que, para nós cristãos, é uma fonte de ensinamentos sempre válidos e actuais. A memória do crente leva-o a captar nos eventos históricos as mensagens que Deus nunca deixa faltar àqueles que O reconhecem. Quem recorda os factos históricos do Antigo Testamento, disposto a compreender as motivações e os modos como Deus intervém, aprende a viver no tempo presente e a orientar-se no futuro, rumo à meta final. A memória do passado, e a contemplação das intervenções de Deus, tornam-se, pois, critério de diagnóstico de quanto acontece aqui e agora, e permite-nos prosseguir a nossa caminhada, rumo ao futuro. Ao mesmo tempo, a memória do passado, convida-nos e habilita-nos a ultrapassar perigosas distracções, provocadas pelas coisas e pessoas que nos rodeiam, e a realizar aquele desapego e distanciação que tornam possível uma avaliação serena e correcta de tudo e de todos. A memória ensina-nos a perder o que deve ser perdido e a conservar o que deve ser conservado. É claro o contraste entre uma vida apenas aparente e uma vida nova adquirida por quem está disposto a sacrificar a sua vida terrena. A orientação para o futuro de Deus é clara. A nossa vida pessoal, com todos os seus capítulos mais felizes ou menos felizes, com todo o bem que recebemos e fizemos, com todo o mal de que fomos vítimas ou cometemos, é uma pequena história de salvação, porque nela fomos, muitas vezes, visitados por Deus. Há que dar-nos conta dessas visitas e das mensagens semeadas no nosso coração. Quanta sabedoria podemos adquirir ao revisitar a nossa história pessoal! Quanta oração nos pode inspirar! Quanta serenidade para o presente e para o futuro! A vida da congregação também é história da salvação. O Deus de Abraão, Isaac e Jacob, o Pai de Jesus, não são abstracções filosóficas, mas revelam-se concretamente actuando na história e na vida, em particular na Igreja, por meio do Espírito, fonte de todo o carisma. Jesus convida-nos a entrever a vontade de Deus nos eventos da história, da vida, nos sinais dos tempos: «Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: Vem lá chuva, e assim sucede. E quando sopra o vento sul dizeis: "Vai haver calor", e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis interpretar o tempo presente?» (Lc 12, 54-56). Fonte: Fernando Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

QUINTA-FEIRA- TEMPO COMUM XXXII SEMANA - - ANOS PARES - 15 NOVEMBRO 2018

QUINTA-FEIRA- TEMPO COMUM XXXII SEMANA - - ANOS PARES - 15 NOVEMBRO 2018 - Primeira leitura: Filémon 7-20 Esta carta não é mais do que um pequeno bilhete de recomendação em favor de Onésimo, um escravo, que Paulo defende diante de Filémon, seu senhor. Onésimo tinha fugido ao dono, e estava numa situação delicada. Paulo tenta que Filémon não aplique a justiça, mas actue de acordo com a sua fé cristã, usando a caridade evangélica. O apóstolo realça, neste breve escrito, dois valores: a caridade, que é a fonte do agir moral e a base das suas relações sociais, além de ser a meta suprema a atingir. A isso obriga a caridade de Deus revelada em Jesus Cristo. O outro valor em que o Apóstolo fundamenta a sua argumentação é a liberdade oferecida por Cristo, que ninguém deve negar ou limitar aos outros. Essa liberdade dá a Paulo audácia para fazer o seu pedido, e deve inspirar a Filémon um comportamento consequente em relação a Onésimo. Quem é livre diante de Deus e de si mesmo não pode negar essa mesma liberdade a quem lhe pede. Caridade e liberdade, juntas em vista da verdade, podem transformar as relações sociais, para além de qualquer conveniência pessoal ou interesse colectivo. Evangelho: Lucas 17, 20-25 Escutamos hoje o chamado "Pequeno discurso escatológico" do evangelho de Lucas (cf. Lc 21, onde encontramos o "Grande discurso escatológico"). Trata-se de um breve mas intenso ensinamento de Jesus, provocado por uma pergunta dos fariseus acerca do tempo em que há-de vir o Reino de Deus. Jesus não condescende com a miopia espiritual nem com interesses egoístas. Por isso, não dá uma resposta exacta. Não veio para satisfazer curiosidades. Começa por se exprimir de modo negativo, para que não caiamos em ilusões, mas aprendamos a discernir situações e pessoas que possam hipnotizar a nossa atenção ou desviar a nossa fé. Como verdadeiro mestre, alerta-nos para possíveis desvios, e indica o caminho que devemos seguir. Mas há duas afirmações positivas neste discurso de Jesus, que devemos notar. Primeiro, fala do desejo do crente em «ver um dos dias do Filho do Homem» (v. 22), que todos havemos de sentir e que Ele quer satisfazer; depois, afirma a necessidade de «primeiramente, ter de sofrer muito e ser rejeitado» (v. 25). Antes da escatologia, tem se realizar-se a Páscoa de Jesus. Quem aceitar ir com Ele até Jerusalém e partilhar a sua Páscoa, prepara-se para ir ao encontro final com o Salvador. Os fariseus procuravam manifestações espectaculares do Reino de Deus. Jesus responde-lhes: «o Reino de Deus está entre vós» (v. 21). Podia traduzir-se: «está em vós». Temos aqui elementos preciosos para o discernimento dos espíritos: o Reino de Deus não deve ser procurado em manifestações extraordinárias, mas na correspondência habitual, no dia a dia, à voz do Espírito Santo. Temos em nós vários níveis de vida: os instintos naturais, a razão que ordena e domina os instintos, mas também o Espírito de Jesus que nos permite viver em novidade de vida e ver coisas que a simples razão não consegue enxergar. Deixar-se guiar pela razão, dominando os instintos, e vivendo de modo naturalmente virtuoso, já é coisa boa. Mas ainda não é vida cristã, porque o cristão, em todas as circunstâncias da vida, deixa-se conduzir pelas moções e pelas inspirações do Espírito. Não é fácil fazer um bom discernimento, porque há em nós princípios recebidos do mundo, outros recebidos da razão e outros recebidos do Espírito, que se misturam dentro de nós. É pois necessário, em cada circunstância, perguntar a nós mesmos: que é que me leva a fazer isto ou, a fazer aquilo. Por vezes, um pensamento que à primeira vista parece bom, tem uma raiz má: a busca do interesse pessoal, o instinto da vaidade, a ambição, o desejo de uma vida cómoda. Só escutando o Espírito Santo, na oração, na reflexão, com grande disponibilidade pessoal, podemos conhecer a verdade, a vontade de Deus. Paulo convida muitas vezes os cristãos a deixar-se renovar no Espírito para compreenderem a vontade de Deus. De facto, é muito fácil deixar-nos levar pelas tendências instintivas ou simplesmente racionais. Precisamos do Espírito criador, que nos faz descobrir coisas novas, de que não suspeitávamos, mas nos enchem de alegria. A carta a Filémon dá-nos um exemplo concreto do que acabamos de dizer. Paulo tinha para resolver um caso de consciência bastante complicado. Onésimo tinha fugido de casa do seu dono, Filémon, cristão da igreja de Colossos. Segundo a lei, Onésimo era um delinquente. Paulo acolheu o escravo em fuga. Acolheu-o com tanta bondade que o fugitivo acabou por se converter. Sendo assim, Paulo podia actuar perante Filémon. Podia remeter o escravo ao seu dono, que tinha direito a puni-lo com rigor. Mas Paulo também dispunha de uma solução nova, progressista: pensar que a escravidão não tinha qualquer valor para um cristão, que era contra o Evangelho porque em Cristo somos todos iguais. Portanto, Onésimo podia considerar-se livre e Filémon nada podia dizer. O Apóstolo encontrou uma solução completamente nova: mandou o escravo ao seu dono, com uma carta a pedir que Filémon recebesse Onésimo como um irmão em Cristo. Não lhe faz imposições. Apela para a sua caridade, para a sua fé, para a gratidão que lhe deve a ele, Paulo, que o gerou para a fé. Faz, pois, um apelo, guiado pelo Espírito, ao mesmo Espírito que habita em Filémon, e propõe-lhe uma solução revolucionária para aquele tempo: Filémon, o dono ofendido, receba com honra o escravo fugitivo! O Espírito inspirou a Paulo uma solução equilibrada; Paulo está certo de que também a inspirará a Filémon: «embora tenha toda a autoridade em Cristo para te impor o que mais convém, levado pelo amor, prefiro pedir como aquele que sou: Paulo, um ancião e, agora, até prisioneiro por causa de Cristo Jesus». Fonte: Fernando Fonseca, scj em “dehonianos.org/portal/liturgia”

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

QUARTA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 14 NOVEMBRO 2018

QUARTA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 14 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Tito 3, 1-7 Paulo faz chegar a sua mensagem a toda a comunidade, por meio de Tito. Assim, colabora, com o responsável da comunidade, na construção de uma Igreja que pretende digna de tal nome e capaz de testemunhar o Evangelho. Começa por sublinhar a dimensão pública do ser cristão. A fé em Cristo não pode ser reduzida a uma experiência privada; deve manifestar-se publicamente e penetrar na trama das relações sociais. Depois, descreve a passagem decisiva da maldade e do ódio a um presente iluminado pela graça de Deus: «Também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador» (vv. 3-4). Esta passagem marca a grande novidade de Jesus, incarnação pessoal do amor misericordioso do Pai. Esta «Boa Nova» é destinada a cada um de nós, tal como foi destinada aos crentes confiados aos cuidados pastorais de Tito. Hoje, como ontem, estamos perante um dom gratuito e inesperado de Deus. Sempre que contactamos com a palavra escrita, temos oportunidade de fazer memória do grande evento anunciado por Paulo, evento que nos regenera e renova pelo poder do Espírito Santo. Evangelho: Lucas 17, 11-19 Jesus retoma a viagem para Jerusalém, onde como os profetas, será chamado a dar a vida. Entra numa aldeia de samaritanos e deixa-se interpelar por um grupo de leprosos. Eram samaritanos, estrangeiros para os judeus; eram leprosos e tornavam impuro quem se aproximasse deles (vv. 12s.). Mas Jesus é o salvador de todos, o irmão universal. Veio para todos: não faz acepção de pessoas, não despreza ninguém por pertencer a um determinado povo ou a uma certa raça; muito menos despreza alguém por estar doente. Jesus realiza este milagre com a sua habitual discrição e abertura aos mais pobres entre os pobres, àqueles que mais precisam da sua intervenção salvadora. São curados os 10 leprosos; mas só um deles sente a obrigação de agradecer (v. 15). O gesto de se lançar aos pés de Jesus significa, não só a sua gratidão pelo milagre, mas também a decisão de se tornar discípulo (v. 16). E só ele é plenamente curado, no corpo e na alma. Não basta encontrar Jesus. É preciso escutar a sua palavra, deixar-se atrair pela graça e segui-lo para onde quer que vá. O caminho da salvação vai da graça recebida, à gratidão, ao louvor O evangelho de hoje permite-nos compreender melhor aquilo que dizemos no prefácio da celebração eucarística: «é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação, dar-vos graças». Os leprosos curados foram dez. Mas apenas um sentiu o dever de agradecer. Estamos tão habituados às graças de Deus que já não nos admiramos com elas. Damo-las por pressupostas e, muitas vezes, não as agradecemos. E, todavia, é nosso dever reconhecer os dons de Deus e dar-Lhe graças por eles. Essa gratidão é fonte de salvação para nós. Foi o que aconteceu com o leproso curado, que foi agradecer a Jesus. Impressionam-nos as perguntas que Jesus lhe faz. Impressiona-nos especialmente a exclamação final: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou» (v. 19). Jesus mostra-se admirado por um só dos leprosos curados ter voltado para agradecer. E declara que foi a fé que o curou plenamente. Vejamos o itinerário que este homem percorreu: era um leproso como os outros; como os outros invocou a compaixão de Jesus; como os outros foi mostrar-se aos sacerdotes. Mas só ele voltou atrás para agradecer a Jesus. Jesus reconheceu nesse agradecimento uma manifestação de fé pura. Assim, verificamos que o encontro pessoal com Jesus não só lhe renovou o corpo, mas também lhe transformou profundamente a alma. O leproso curado não ficou satisfeito unicamente por ter resolvido um problema pessoal. Parecia-lhe pouco e, sobretudo, pouco digno de um homem que tinha intuído ter encontrado uma pessoa extraordinária. O seu verdadeiro desejo foi voltar atrás para conhecer... conhecer para reconhecer aquele que o curou... reconhecê-lo para lhe agradecer e segui-lo... Estamos perante um caminho de iniciação cristã, que todo o fiel deveria percorrer e reviver nos momentos decisivos da sua existência. Uma graça material é pouca coisa em comparação com aquilo que Deus tem para nos dar quando reconhecemos o seu amor e damos graças. Fonte: F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia>”

terça-feira, 13 de novembro de 2018

TERÇA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 13 NOVEMBRO 2018

TERÇA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 13 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Tito 2, 1-8. 11-14 Paulo dirige esta carta ao responsável pela comunidade de Creta. Mas os seus ensinamentos interessam a todos e a todas as comunidades. Para que a mensagem de Cristo ressuscitado ultrapasse os limites da comunidade, é preciso que todos se empenhem no testemunho. Sem isso, o Evangelho pode tornar-se ineficaz. Na comunidade vivem diversas categorias de pessoas. Paulo dá, a cada uma delas, um conselho oportuno, uma palavra de conforto. Recomenda aos anciãos e anciãs a sobriedade, um estilo de vida digno, perseverança na fé, generosidade no amor fraterno (vv. 2s.). Assim se podem tornar modelo para os jovens e para as famílias. A palavra de Deus pode espalhar-se, graças à sua colaboração. Aos jovens, o Apóstolo dirige palavras muito exigentes, mas cheias de luz e de graça (vv. 6-8): devem dar o bom exemplo aos da sua idade, por meio «do exemplo das boas obras» e pelo respeito recíproco e pela «palavra sã e irrepreensível». O seu principal inimigo, lembra Paulo, é Satanás. A motivação teológica para todos estes comportamentos, ou programa de vida, também é explicitada: «manifestou-se a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens, para nos ensinar a renúncia à impiedade e aos desejos mundanos, a fim de vivermos no século presente com sobriedade, justiça e piedade» (vv. 11b-12). Trata-se do evento salvífico de Jesus Cristo, isto é, do seu mistério de vida, morte e ressurreição. Evangelho: Lucas 17, 7-10 Jesus, depois de ter falado da fé, dirige-se aos apóstolos e, por meio da parábola do servo (seria mais exacto traduzir «escravo»), recomenda-lhes que se façam servos («escravos») de todos. Mais uma vez, Jesus acentua que, na lógica do Reino, não conta tanto o que se faz quanto a intenção, o estilo, o método com que se faz. Não recomenda uma humildade genérica, ou protocolar: o que Lhe interessa realmente é o que pensam e pretendem fazer os apóstolos, quando se põem ao seu serviço e ao serviço da sua causa. Deus não precisa de nós, nem das nossas ajudas; mas quer colaboradores em total sintonia com o seu projecto de salvação, aqui e agora personificado em Jesus de Nazaré. «Escravos inúteis» (v. 10), isto é, comuns, simples... O que Jesus quer que os apóstolos interiorizem é a atitude que, Ele mesmo, demonstrará na véspera da paixão: depor o manto, servir os irmãos e, no fim, julgar-se e declarar-se «escravos inúteis» (cf. Lc 22, 24-27; Jo 13, 1-17). O Senhor Jesus põe-nos decididamente no nosso lugar: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer». Este ensinamento que, em primeiro lugar se destina aos apóstolos, é para todo o cristão, para todos nós. Somos servos inúteis porque, quando demos tudo o que tínhamos a Deus, não fizemos mais do que restituir-Lhe o que antes nos tinha dado. Somos sempre seus devedores, porque tudo recebemos dele. O Vaticano II lembra a todos o dever de viver como servos na Igreja e no mundo, para bem dos irmãos. É uma tarefa que deriva da graça do Baptismo, que faz nascer em nós o direito e o dever de nos interessarmos pelo bem-estar dos irmãos, em força da graça recebida. O que Jesus diz aos apóstolos, Lucas também o atribui a Maria. Na Anunciação, Maria responde ao Anjo: «Eis a serva (literalmente «a escrava») do Senhor» (Lc 1, 38). Mais adiante, no Magnificat, oração de louvor e de acção de graças, Maria exclama: «Ele olhou para a sua humilde serva («escrava»)» (Lc 1, 48). Também Paulo, na carta aos Filipenses, diz de Cristo: «Assumiu a condição de servo (literalmente, «escravo») e humilhou-Se a Si mesmo» (literalmente: «abaixou-se a si mesmo») (2, 7b.6ª). Estamos sempre perante as mesmas expressões que, não por acaso, ocorrem nos escritos de Paulo e de Lucas, seu discípulo. Não certamente é preciso sublinhar a actualidade desta mensagem. Vemos, hoje, muitas pessoas dispostas a ser úteis aos outros, sem se considerarem «inúteis» diante de Deus. Por vezes encontramos pessoas dispostas a servir os outros, mas sem mostrarem vontade de assumir este comportamento evangélico, cheio de caridade, de absoluta gratuidade e de profunda humildade. Fonte: F. Fonseca em “Dehonianos.org/portal/liturgia”

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

SEGUNDA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 12 NOVEMBRO 201

SEGUNDA-FEIRA - XXXII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 12 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Tito 1, 1-9 A carta a Tito é uma das chamadas «cartas pastorais». Tito é um dos colaboradores do Apóstolo. Ao confiar-lhe uma comunidade, faz-lhe algumas recomendações baseadas no evento de Jesus Morto e Ressuscitado. Fala-lhe «da verdade, que conduz à piedade» (v. 1) e da «esperança da vida eterna» (v. 2). A tarefa de Tito será formar os crentes para que se enamorem da verdade revelada e pregada e, desse modo, fortaleçam o vínculo da fé e do amor que os liga na comunidade e a Cristo. É nisso que consiste a administração que Deus pede aos seus servidores. O serviço da Palavra, a pregação apostólica, é o fundamental serviço à comunidade. Sem esse serviço não nascem novas comunidades cristãs. O responsável pela comunidade deve ter excepcionais qualidades quanto ao estilo de vida e de acção; deve ser fiel à doutrina e generoso no serviço. Pastor e fiéis hão-de estar à escuta, submetidos à doutrina-verdade contida nas Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Evangelho: Lucas 17, 1-6 Lucas apresenta-nos três temas da pregação de Jesus: o escândalo, o perdão, a fé. É preciso considerá-los de modo unitário. O discípulo deve ter a preocupação de não provocar escândalo, que leve alguém a afastar-se do caminho iniciado. Trata-se do caminho evangélico. Por isso, Jesus lança um dos seus «ai». O Mestre não pode aceitar o comportamento de quem põe em risco a sua salvação e compromete a dos outros, sobretudo a dos «pequenos» (v. 2). Se é preciso evitar o escândalo, também é preciso conceder o perdão a todos, a todo o custo (vv. 3-4). O perdão é sinal de verdadeiro amor. É no perdão que se revela o amor de Deus para connosco. Jesus, que é a incarnação histórica do amor de Deus, também oferece o perdão àqueles que dele precisam. Ao terminar o ensinamento, Jesus elogia a fé que, ainda que seja pequena, pode mostrar toda a sua força, mesmo com um milagre. Os discípulos pedem um aumento da sua fé. Jesus responde-lhes falando da eficácia de uma fé genuína (v. 6). A palavra de Deus, hoje, leva-nos a centrar a atenção em três tipos de pessoas: os pequenos, o irmão, os apóstolos. Ao mesmo tempo leva-nos a descobrir uma espiritualidade evangélica capaz de iluminar toda a nossa vida. Os pequenos mereceram uma especial atenção de Jesus. Foram os destinatários privilegiados dos seus ensinamentos e personificam sacramentalmente a sua presença no meio de nós. Não podemos escandalizá-los! Devem também merecer o nosso especial cuidado e o nosso serviço. O irmão, de que nos fala o evangelho, não é uma simples abstracção. É alguém de carne e osso, talvez mesmo um pecador cheio de arrependimento. Como Jesus, também nós devemos oferecer-lhe o perdão e a possibilidade de restabelecer uma relação serena e harmoniosa. Os apóstolos, na singularidade da sua missão, estão conscientes de que ainda carecem de aumentar a sua fé para chegarem a uma plena sintonia com o Mestre. Vistas assim, todas estas pessoas são modelos para nós, sempre carecidos de purificar a fé que nos foi dada. Por pequena ou grande que seja, a fé liberta sempre uma força superior a qualquer capacidade humana. É verdadeiramente miraculosa, não tanto porque possa realizar coisas extraordinárias, mas porque põe em acto o poder divino. «Como o Pai Me enviou - diz Jesus - Também Eu vos envio a vós. Depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo» (Jo 20, 21-22). O Espírito que Ele deu aos apóstolos levou-os ao mais elevado grau de fé e encheu-os de força para a missão. Esse mesmo Espírito nos foi dado para caminharmos na fé e no amor, para ser em nós força de missão e de serviço (e não de domínio) aos irmãos: «como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir» (Mt 20, 28); «Eu estou no meio de vós como quem serve» (Lc 22, 27) e, depois do lava-pés: «Dei-vos o exemplo, para que façais como Eu fiz... Sabendo estas coisas, sereis felizes se as puserdes em prática» (Jo 13, 15.17). Fonte: F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

domingo, 11 de novembro de 2018

COMUNICADO DOS BISPOS DA CONFERENCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE

COMUNICADO DOS BISPOS DA CONFERENCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE Saudação O Povo que jazia nas trevas viu uma grande luz! (Mt 4,16) Às Comunidades Cristãs e a todos os homens de boa vontade, paz e alegria no Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Reunidos, de 6 a 10 de Novembro, deste corrente ano, no Seminário de Santo Agostinho da Matola, queremos, através deste meio, manifestar-vos a nossa comunhão convosco e nossa presença espiritual. Atentos ao caminhar do nosso Povo, às suas alegrias e esperanças, às suas dores e angústias, queremos, em primeiro lugar, endereçar-vos uma palavra de conforto, alegria e paz e, ao mesmo tempo, exortar-vos a acolher o Menino Jesus, nascido da Virgem Maria, pois Ele é o “Emanuel”, Deus connosco, que veio como Rei de justiça e de paz para iluminar as nossas vidas. Em segundo lugar, queremos partilhar convosco o fruto dos nossos trabalhos desta ´última Assembleia. O Sínodo dos bispos sobre os jovens Subordinado ao tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, realizou-se em Roma o Sínodo dos Bispos convocado pelo Papa Francisco, no qual a nossa Igreja fez-se representar por sua Excelência Dom Inácio Saure, Arcebispo de Nampula e Presidente da Comissão Episcopal para os Jovens. Em preparação do Sínodo, realizou-se em Chimoio a primeira Jornada Nacional da Juventude, onde os jovens de todo o País viveram uma experiência de autêntica partilha e de unidade, expressão da alegria de uma Igreja jovem, marcada de sonhos e de esperanças. Encontro com o Presidente da República À margem da quarta edição do Concerto de Natal organizado pela Nunciatura Apostólica, Sua Excelência o Presidente da República, Senhor Filipe Jacinto Nyusi, teve um momento de encontro connosco, os bispos. Partilhou a situação do País, o processo de paz, a sua recente visita à Santa Sé e a audiência com o Papa Francisco. Na nossa mensagem felicitamo-lo pelo convite que endereço ao Papa Francisco para visitar o nosso País –convite que já tinha sido dirigido ao Papa pela CEM em 2016- e pelos nobres passos que tem dado em prol da paz. Manifestamos igualmente a nossa apreensão pelos acontecimentos preocupantes que se deram nas recentes eleições e que podem criar obstáculos ao processo de paz e ao caminho de reconciliação. Enfatizamos, também, que “a paz –como lembra o Concílio Vaticano II – não é ausência de guerra; nem se reduz ao estabelecimento do equilíbrio entre as forças adversas, nem resulta duma dominação despótica. Com toda a exactidão e propriedade ela é chamada “obra da justiça” (GS 78). Reiteramos a importância do diálogo sincero e da transparência, pois, só deste modo é possível encontrar os melhores caminhos para superar divergências, aumentar a confiança mútua e garantir a reconciliação, base e condição para a construção de uma sociedade integrada, estável e pluralista, capaz de assegurar um futuro de prosperidade para todos. Mês Missionário extraordinário O Papa Francisco convida toda a Igreja – bispos, padres, diáconos, consagrados e consagradas, adultos, jovens, adolescentes, crianças – para fazer do próximo Outubro 2019 um mês profundamente missionário extraordinário, isto é, a reencontrar o frescor e o ardor do primeiro amor pelo Senhor crucificado e ressuscitado a fim de evangeliza o mundo com credibilidade e eficácia evangélica. Renovação da Presidência da CEM Foram feitas as eleições da Presidência da CEM, tendo ficado Presidente Dom Lúcio Andrice Muandula, Bispo de Xai-Xai; Vice-Presidente Dom Inácio Saure, Arcebispo de Nampula; e Secretário Geral, Dom Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba. Foram igualmente indicados como vogais: Dom Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo; Dom Cláudio Dalla Zuana, Arcebispo da Beira e Dom Ernesto Maguemgue, Bispo Auxiliar de Nampula. IV Assembleia Nacional de Pastoral Reiteramos a necessidade da realização da IV Assembleia Nacional de Pastoral como um momento importante para rever a caminhada feita e, ao mesmo tempo, discernir os sinais dos tempos e traçar linhas de acção pastoral mais apropriadas para responder aos desafios do momento presente. Enfatizamos o desejo de que a IV Assembleia Nacional de Pastoral se realize de forma gradual para possibilitar a participação de todos, desde as pequenas comunidades cristãs, passando pelas paróquias e dioceses até a fase da celebração a nível nacional. Com este objectivo, será enviado aos secretariados diocesanos de coordenação pastoral uma circular dando orientações gerais. Violência em Cabo Delgado Preocupa-nos a situação de centenas de famílias vítimas de ataques perpetrados por homens armados, tendo como consequências a perda de vidas, casas, machambas e outros bens materiais. Movidos por esta situação, apelamos para a solidariedade de todos os cristãos e pessoas de boa vontade. Para o efeito, façamos, por ocasião deste próximo Natal, um ofertório especial para ir ao encontro destas famílias duramente provadas. Continuemos a rezar para a conversão dos corações de todos os envolvidos nesta violência. Votos de Feliz Natal A terminar, renovamos os votos de um Natal Feliz com vivo desejo de que, sob a protecção da Virgem Mãe do Salvador, o Novo Ano que em breve terá início, seja aurora de alegria, prosperidade e paz para todos. Assin.: Dom Lúcio Andrice Muandula Bispo de Xai-Xai e Presidente da CEM

COMUNICADO DOS BISPOS DA CONFERENCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE

COMUNICADO DOS BISPOS DA CONFERENCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE Saudação O Povo que jazia nas trevas viu uma grande luz! (Mt 4,6s) Comunidades Cristãs e a todos os homens de boa vontade, paz e alegria no Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Reunidos, de 6 a 10 de Novembro, deste corrente ano, no Seminário de Santo Agostinho da Matola, queremos, através deste meio, manifestar-vos a nossa comunhão convosco e nossa presença espiritual. Atentos ao caminhar do nosso Povo, às suas alegrias e esperanças, às suas dores e angústias, queremos, em primeiro lugar, endereçar-vos uma palavra de conforto, alegria e paz e, ao mesmo tempo, exortar-vos a acolher o Menino Jesus, nascido da Virgem Maria, pois Ele é o “Emanuel”, Deus connosco, que veio como Rei de justiça e de paz para iluminar as nossas vidas. Em segundo lugar, queremos partilhar convosco o fruto dos nossos trabalhos desta ´última Assembleia. O Sínodo dos bispos sobre os Subordinado ao tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, realizou-se em Roma o Sínodo dos Bispos convocado pelo Papa Francisco, no qual a nossa Igreja fez-se representar por sua Excelência Dom Inácio Saure, Arcebispo de Nampula e Presidente da Comissão Episcopal para os Jovens. Em preparação do Sínodo, realizou-se em Chimoio a primeira Jornada Nacional da Juventude, onde os jovens de todo o País viveram uma experiência de autêntica partilha e de unidade, expressão da alegria de uma Igreja jovem, marcada de sonhos e de esperanças. Encontro com o Presidente da República À margem da quarta edição do Concerto de Natal organizado pela Nunciatura Apostólica, Sua Excelência o Presidente da República, Senhor Filipe Jacinto Nyusi, teve um momento de encontro connosco, os bispos. Partilhou a situação do País, o processo de paz, a sua recente visita à Santa Sé e a audiência com o Papa Francisco Na nossa mensagem felicitamo-lo pelo convite que endereço ao Papa Francisco para visitar o nosso País –convite que já tinha sido dirigido ao Papa pela CEM em 2016- e pelos nobres passos que tem dado em prol da paz. Manifestamos igualmente a nossa apreensão pelos acontecimentos preocupantes que se deram nas recentes eleições e que podem criar obstáculos ao processo de paz e ao caminho de reconciliação. Enfatizamos, também, que “a paz –como lembra o Concílio Vaticano II – não é ausência de guerra; nem se reduz ao estabelecimento do equilíbrio entre as forças adversas, nem resulta duma dominação despótica. Com toda a exactidão e propriedade ela é chamada “obra da justiça” (GS 78). Reiteramos a importância do diálogo sincero e da transparência, pois, só deste modo é possível encontrar os melhores caminhos para superar divergências, aumentar a confiança mútua e garantir a reconciliação, base e condição para a construção de uma sociedade integrada, estável e pluralista, capaz de assegurar um futuro de prosperidade para todos Mês Missionário extraordinário O Papa Francisco convida toda a Igreja – bispos, padres, diáconos, consagrados e consagradas, adultos, jovens, adolescentes, crianças – para fazer do próximo Outubro 2019 um mês profundamente missionário extraordinário, isto é, a reencontrar o frescor e o ardor do primeiro amor pelo Senhor crucificado e ressuscitado a fim de evangeliza o mundo com credibilidade e eficácia evangélica. Renovação da Presidência da CEM Foram feitas as eleições da Presidência da CEM, tendo ficado Presidente Dom Lúcio Andrice Muandula, Bispo de Xai-Xai; Vice-Presidente Dom Inácio Saure, Arcebispo de Nampula; e Secretário Geral, Dom Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba. Foram igualmente indicados como vogais: Dom Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo; Dom Cláudio Dalla Zuana, Arcebispo da Beira e Dom Ernesto Maguemgue, Bispo Auxiliar de Nampula. IV Assembleia Nacional de Pastoral Reiteramos a necessidade da realização da IV Assembleia Nacional de Pastoral como um momento importante para rever a caminhada feita e, ao mesmo tempo, discernir os sinais dos tempos e traçar linhas de acção pastoral mais apropriadas para responder aos desafios do momento presente. Enfatizamos o desejo de que a IV Assembleia Nacional de Pastoral se realize de forma gradual para possibilitar a participação de todos, desde as pequenas comunidades cristãs, passando pelas paróquias e dioceses até a fase da celebração a nível nacional. Com este objectivo, será enviado aos secretariados diocesanos de coordenação pastoral uma circular dando orientações gerais. Violência em Cabo Delgado Preocupa-nos a situação de centenas de famílias vítimas de ataques perpetrados por homens armados, tendo como consequências a perda de vidas, casas, machambas e outros bens materiais. Movidos por esta situação, apelamos para a solidariedade de todos os cristãos e pessoas de boa vontade. Para o efeito, façamos, por ocasião deste próximo Natal, um ofertório especial para ir ao encontro destas famílias duramente provadas. Continuemos a rezar para a conversão dos corações de todos os envolvidos nesta violência. Votos de Feliz Natal A terminar, renovamos os votos de um Natal Feliz com vivo desejo de que, sob a protecção da Virgem Mãe do Salvador, o Novo Ano que em breve terá início, seja aurora de alegria, prosperidade e paz para todos. Assin.: Dom Lúcio Andrice Muandula Bispo de Xai-Xai e Presidente

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B -11 NOVEMBRO 2018

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B -11 NOVEMBRO 2018 A liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto, do culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessam grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projectos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos. A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de uma mulher pobre de Sarepta, que, apesar da sua pobreza e necessidade, está disponível para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. A história dessa viúva que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância. LEITURA I - 1 Re 17,10-16 A nossa história - como tantas outras histórias bíblicas - fala-nos da predilecção de Deus pelos desfavorecidos, pelos débeis, pelos pobres, pelos explorados, por aqueles que são colocados à margem da vida. Porquê? Porque Deus vê a história humana na perspectiva da luta de classes e escolhe um lado em detrimento do outro? Obviamente, não. No entanto, Deus opta preferencialmente pelos pobres porque, em primeiro lugar, eles vivem numa situação dramática de necessidade e precisam especialmente da bondade, da misericórdia e da ajuda de Deus; e, em segundo lugar, porque os pobres - sem bens materiais que os distraiam do essencial - estão sempre mais atentos e disponíveis para acolher os apelos, os desafios e os dons de Deus. Os "ricos", ao contrário, estão sempre preocupados com os seus bens, com os seus interesses egoístas, com os seus projectos e preconceitos e não têm espaço para acolher as propostas que Deus lhes faz. Isto deve lembrar-nos, permanentemente, a necessidade de sermos "pobres", de nos despirmos de tudo aquilo que pode atravancar o nosso coração e que pode impedir-nos de acolher os desafios e as propostas de Deus. • A mulher de Sarepta tinha, apenas, uma quantidade mínima de alimento, que queria guardar para si e para o seu filho; mas, desafiada a partilhar, viu esse escasso alimento ser multiplicado uma infinidade de vezes... A história convida-nos a não nos fecharmos em esquemas egoístas de acumulação e de lucro, esquecendo os apelos de Deus à partilha e à solidariedade com os nossos irmãos necessitados. Quando repartimos, com generosidade e amor, aquilo que Deus colocou à nossa disposição, não ficamos mais pobres; os bens repartidos tornam-se fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles beneficiam. • A nossa história prova que só Jahwéh dá ao homem vida em abundância. É um aviso que não podemos ignorar... Todos os dias somos confrontados com propostas de felicidade e de vida plena que, quase sempre, nos conduzem por caminhos de escravidão, de dependência, de desilusão. Não é à volta do dinheiro, do carro, da casa, do cargo que temos na empresa, dos títulos académicos que ostentamos, das honras que nos são atribuídas que devemos construir a nossa existência. Só Deus nos dá a vida plena e verdadeira; todos os outros "deuses" são elementos acessórios, que não devem afastar-nos do essencial. . LEITURA II - Heb 9,24-28 A segunda leitura oferece-nos o exemplo de Cristo, o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse • A ideia de que Cristo nos libertou do pecado com o seu sacrifício domina este texto. O que é que o autor da Carta aos Hebreus quer dizer com isto? Cristo veio a este mundo para libertar o homem das cadeias de egoísmo e de pecado que o prendiam. Nesse sentido, Cristo pediu uma "metanoia" (transformação radical) do coração, da mente, dos valores, das atitudes do homem e propôs, com a sua palavra, com o seu exemplo, com a sua vida, que o homem passasse a percorrer o caminho do amor, da partilha, do serviço, do perdão, do dom da vida. A sua entrega na cruz é a lição suprema que Ele quis deixar-nos - a lição do amor que renuncia ao egoísmo e que se faz dom total aos irmãos, até às últimas consequências. Mais, a sua luta contra o pecado levou-O a confrontar-Se com as estruturas políticas, sociais ou religiosas geradoras de injustiça e de opressão; a sua morte, arquitectada pelos detentores do poder (as autoridades políticas e religiosas do país), foi, também, a consequência da sua luta contra as estruturas que oprimiam o homem e que geravam egoísmo e morte. Ele ofereceu, de facto, a sua vida em sacrifício para nos libertar do pecado. A sua ressurreição revelou que Deus aceitou o seu sacrifício e que não deixará mais que o pecado roube ao homem a vida. Aderir a Jesus, ser cristão, é procurar viver, dia a dia, no seguimento de Jesus e fazer da própria vida um dom de amor aos irmãos; é, também, lutar contra todas as estruturas que geram injustiça e pecado. Gastar a vida dessa forma é participar da missão de Jesus, é colaborar com Ele para eliminar o pecado. • As outras leituras deste domingo falam-nos de desapego, de partilha, de capacidade para "dar tudo". Cristo, com a entrega total da sua vida a Deus e aos homens, realizou plenamente esta dimensão. Ele mostrou-nos, com o seu sacrifício, qual é o dom perfeito que Deus quer e que espera de cada um dos seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, ao serviço desse projecto de salvação que Ele tem para os homens e para o mundo. • A certeza de que Jesus Cristo, o sacerdote perfeito, venceu o pecado e está agora junto de Deus, intercedendo por nós e esperando o momento de nos oferecer a vida eterna, deve dar-nos confiança e esperança, ao longo da nossa caminhada diária pela vida. A Palavra de Deus que hoje nos é oferecida garante-nos que as nossas fragilidades e debilidades não podem afastar-nos da comunhão com Deus, da vida eterna; e, no final do nosso caminho, Jesus, o nosso libertador, lá estará à nossa espera para nos oferecer a vida definitiva. . EVANGELHO - Mc 12,38-44 O Evangelho diz, através do exemplo de outra mulher pobre, de outra viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que eles sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde e generosa (que é sempre fecunda), num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera. • Qual é o verdadeiro culto que Deus espera de nós? Qual deve ser a nossa resposta à sua oferta de salvação? A forma como Jesus aprecia o gesto daquela pobre viúva não deixa lugar a qualquer dúvida: Deus não valoriza os gestos espectaculares, cuidadosamente encenados e preparados, mas que não saem do coração; Deus não se deixa impressionar por grandes manifestações cultuais, por grandes e impressionantes manifestações religiosas, cuidadosamente preparadas, mas hipócritas, vazias e estéreis... O que Deus pede é que sejamos capazes de Lhe oferecer tudo, que aceitemos despojar-nos das nossas certezas, das nossas manifestações de orgulho e de vaidade, dos nossos projectos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos confiadamente nas suas mãos, com total confiança, numa completa doação, numa pobreza humilde e fecunda, num amor sem limites e sem condições. Esse é o verdadeiro culto, que nos aproxima de Deus e que nos torna membros da família de Deus. O verdadeiro crente é aquele que não guarda nada para si, mas que, dia a dia, no silêncio e na simplicidade dos gestos mais banais, aceita sair do seu egoísmo e da sua auto-suficiência e colocar a totalidade da sua existência nas mãos de Deus. • Como na primeira leitura, também no Evangelho temos um exemplo de uma mulher pobre (ainda mais, uma viúva, que pertence à classe dos abandonados, dos débeis, dos mais pobres de entre os pobres), que é capaz de partilhar o pouco que tem. Na reflexão bíblica, os pobres, pela sua situação de carência, debilidade e necessidade, são considerados os preferidos de Deus, aqueles que são objecto de uma especial protecção e ternura por parte de Deus. Por isso, eles são olhados com simpatia e até, numa visão simplista e idealizada, são retractados como pessoas pacíficas, humildes, simples, piedosas, cheias de "temor de Deus" (isto é, que se colocam diante de Deus com serena confiança, em total obediência e entrega). Este retrato, naturalmente um pouco estereotipado, não deixa de ter um sólido fundo de verdade: só quem não vive para as riquezas, só quem não tem o coração obcecado com a posse dos bens (falamos, naturalmente, do dinheiro, da conta bancária; mas falamos, igualmente, do orgulho, da auto-suficiência, da vontade de triunfar a todo o custo, do desejo de poder e de autoridade, do desejo de ser aplaudido e admirado) é capaz de estar disponível para acolher os desafios de Deus e para aceitar, com humildade e simplicidade, os valores do Reino. Esses são os preferidos de Deus. O exemplo desta mulher garante-nos que só quem é "pobre" - isto é, quem não tem o coração demasiado cheio de si próprio - é capaz de viver para Deus e de acolher os desafios e os valores do Reino. • A figura dos doutores da Lei está em total contraste com a figura desta mulher pobre. Eles têm o coração completamente cheio de si; estão dominados por sentimentos de egoísmo, de ambição e de vaidade, apostam tudo nos bens materiais, mesmo que isso implique explorar e roubar as viúvas e os pobres... Na verdade, no seu coração não há lugar para Deus e para os outros irmãos; só há lá lugar para os seus interesses mesquinhos e egoístas. Eles são a antítese daquilo que os discípulos de Jesus devem ser; não apreciam os valores do Reino e, dessa forma, não podem integrar a comunidade do Reino. Podem ter atitudes que, na aparência, são religiosamente correctas, ou podem mesmo ser vistos como autênticos pilares da comunidade do Povo de Deus; mas, na verdade, eles não fazem parte da família de Deus. Nunca é demais reflectirmos sobre este ponto: quem vive para si e é incapaz de viver para Deus e para os irmãos, com verdade e generosidade, não pode integrar a família de Jesus, a comunidade do Reino. • Jesus ensina-nos, neste episódio, a não julgarmos as pessoas pelas aparências. Muitas vezes é precisamente aquilo que consideramos insignificante, desprezível, pouco edificante, que é verdadeiramente importante e significativo. Muitas vezes Deus chega até nós na humildade, na simplicidade, na debilidade, nos gestos silenciosos e simples de alguém em quem nem reparamos. Temos de aprender a ir ao fundo das coisas e a olhar para o mundo, para as situações, para a história e, sobretudo, para os homens e mulheres que caminham ao nosso lado, com o olhar de Deus. É precisamente isso que Jesus faz. • Uma das críticas que Jesus faz aos doutores da Lei é que eles se servem da religião, da sua posição de intérpretes oficiais e autorizados da Lei, para obter honras e privilégios. Trata-se de uma tentação sempre presente, ontem como hoje... Em nenhum caso a nossa fé, o nosso lugar na comunidade, a consideração que as pessoas possam ter por nós ou pelas funções que desempenhamos podem ser utilizadas, de forma abusiva, para "levar a água ao nosso moinho" e para conseguir privilégios particulares ou honras que não nos são devidas. Utilizar a religião para fins egoístas é um comércio ilícito e abominável, e constitui um enorme contra-testemunho para os irmãos que nos rodeiam. Fonte: “dehonianos.org/portal/liturgia”