sábado, 10 de novembro de 2018

SÁBADO - XXXI SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 10 NOVEMBRO 2018

SÁBADO - XXXI SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 10 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Filipenses 4, 10-19. Paulo teve sempre uma excelente relação com a comunidade de Filipos: até aceitou ser ajudado por ela com bens materiais. Aqui manifesta a sua alegria, não só pelos dons recebidos, mas também pela caridade que eles pressupõem. E Paulo encontra-se num momento particularmente difícil da sua missão. Sublinhemos, em primeiro lugar, a liberdade apostólica de que Paulo se honra: poderia dispensar tudo, porque aprende a ser pobre com quem é pobre (vv. 11s.). Trata-se de uma liberdade radical que todavia não se subtrai aos vínculos da comunhão, gerada na caridade. Mas é sobretudo a caridade dos filipenses, como sinal da caridade de Cristo, que inspira esta página. Paulo pôs todo o seu empenho apostólico para alcançar este ideal. O que mais buscou foi aquele dom que, por meio da escuta da Palavra e da fé, os liga a Cristo, seu Salvador. A passagem é do dom oferecido ao Apóstolo, para o dom recebido de Deus: resulta uma relação tripla que liga o doado ao doador por meio daquele que se fez servidor de ambos. E é bom notar que a alegria do Apóstolo vem, em primeiro lugar, da verificação de que, agindo assim, os crentes vivem em plenitude aquele humanismo cristão que foi descrito nos vv. 8s. deste mesmo capítulo. Evangelho: Lucas 16, 9-15 Depois de contar a parábola do administrador desonesto, Jesus toma a palavra para explicitar a doutrina. Primeiro, refere-se à morte, momento no qual o dinheiro perderá todo o seu interesse, pois nos será tirada a administração de qualquer bem (v. 9). Depois, vem o convite à fidelidade, frente ao perigo da infidelidade (vv. 10s.). Trata-se de um discurso sapiencial, com que Jesus procura a nossa adesão livre e alegre ao ideal da pobreza evangélica. Se a caridade não se ligar à pobreza, dificilmente terá as características de um ideal evangélico. Jesus também enuncia uma verdade apodíctica: «Servo algum pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (v. 13). O discípulo de Cristo não tem alternativa. O amor por um implica o ódio pelo outro. O amor por um implica o serviço, porque o amor que não se torna serviço não é verdadeiro. Foi o que Jesus mostrou com a sua vida, antes de o dizer com palavras. Por fim, Jesus convida à humildade, diante dos fariseus que se têm por «por justos aos olhos dos homens» (v. 15). Caridade, serviço e humildade não pode separar-se, sob pena de perderem todo o valor diante de Deus. As leituras de hoje apresentam-nos um exemplo de fidelidade e de generosidade que contém um ensinamento importante: para ser fiéis ao chamamento de Deus é preciso ser desapegados e generosos. Só então Deus nos poderá «confiar o verdadeiro bem» (v. 11). Os filipenses foram generosos com Paulo que estava na prisão. Poderiam não tê-lo sido. Mas foram e enviaram Epafrodito para lhe levar as ofertas recolhidas. Paulo agradece cordialmente, não tanto por causa dos dons, mas por causa da caridade que eles significam: «É grande a alegria que sinto no Senhor por, finalmente, terdes feito com que desabrochasse o vosso amor por mim» (Fl 4, 10). Delicadamente, o Apóstolo acrescenta que, o que mais o conforta, é que esses dons redundem em vantagem para eles e que o seu amor fraterno seja «um odor perfumado, um sacrifício que Deus aceita e lhe é agradável» (Fl 4, 18). Os sentimentos de Paulo são próprios de quem está desapegado dos seus interesses pessoais e preocupado com o bem dos outros. É assim o amor cristão: amar e servir. Servir com humildade. Traduzir o amor em gestos concretos de atenção para com os outros. Se amamos o dinheiro, tornamo-nos escravos dele. Se nos servirmos dele para nós e para os outros, pomo-lo ao serviço da caridade. Este serviço há-de ser universal, isto é, prestado a todo aquele que precisar, tendo sempre diante dos olhos Aquele por amor de quem o fazemos. Vivendo o amor, e traduzindo-o em obras, preparamo-nos para a morte, para o encontro com o Senhor junto do Qual viveremos para sempre. Quem aprende a servir por amor prepara-se para bem morrer. Senhor, que eu não tema a pobreza, nem anseie pela riqueza; que não tema a morte, nem deseje a vida, a não ser para tua glória. Que eu não caia na ilusão de me apoiar nas minhas forças, mas unicamente me apegue à tua palavra, meu cajado, minha segurança, meu porto seguro. Ainda que o mundo se torne um caos maior do que é, tenho na Escritura a bússola segura. Aí encontro a verdadeira sabedoria que me há-de conduzir ao êxito; aí encontro a verdadeira luz, que me há guiar, com todos os meus irmãos e irmãs para o Dia sem ocaso. Fonte: F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

SEXTA-FEIRA XXXI SEMANA - - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 9 NOVEMBRO 2018

SEXTA-FEIRA XXXI SEMANA - - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 9 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Filipenses 3, 17 - 4,1 Paulo apresenta aos filipenses, que querem tornar-se discípulos do Crucificado, dois caminhos possíveis: a dos «inimigos da cruz de Cristo» (3, 18), isto é, aqueles cujo «Deus é o ventre, e põem a glória na sua vergonha» (v. 19) e estão absorvidos pelos seus interesses terrenos. Para estes «o seu fim é a perdição» (v. 19ª). Entrevemos um grupo de cristãos que, apesar da experiência feita, se esqueceram do baptismo recebido e enveredaram por uma experiência de vida contrária ao Evangelho. O outro caminho é o daqueles que se mantiveram fiéis à «regra de vida» que aprenderam de Paulo. O Apóstolo não hesita em apresentar-se como «exemplo» (v. 17), não tanto por causa dos seus dons naturais, mas por causa do dom de graça que recebeu no caminho de Damasco e que revolucionou completamente a sua vida, dando-lhe um novo rumo: novo da novidade de Cristo morto e ressuscitado. Os fiéis de Filipos são convidados a fazer uma opção livre e consciente não só em virtude do seu exemplo, mas, sobretudo, em virtude da esperança na cidade que «está nos céus» e da qual «esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo» (v. 20). É tal o bem que espero (a pátria celeste, a alegria indefectível e a comunhão amorosa) que toda a pena me dá gozo (a batalha dura que cada um é chamado a travar nesta terra). Estamos perante a dinâmica do «já» e do «ainda não». Evangelho: Lucas 16, 1-8 Só tendo presente o contexto de todo o capítulo, que tem o seu centro no v. 14 («Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele»), podemos compreender o pensamento de Jesus nesta parábola. A primeira parábola (vv. 1-8) ensina o modo correcto de usar os bens; a segunda parábola (vv. 19-31) ensina como não devem ser usados. Em ambas, a lição recai sobre o amor ao dinheiro. Na primeira parábola, o louvor do administrador infiel pode causar espanto ou mesmo escândalo; mais adiante Lucas compara Deus a um juiz injusto (Lc 18, 1-8); em Mt 10, 16, os discípulos são convidados a ser espertos como as serpentes. Mas não havemos de nos escandalizar: Jesus não nos dá por modelo um qualquer vigarista ou fulano astuto. Pelo contrário, lembra-nos que somos responsáveis pelos bens que não são exclusivamente nossos, mas que devemos considerar dons de Deus e, portanto, tratar com prudência e com audácia dignas de filhos de Deus. Ao fim e ao cabo, Jesus quer que os filhos da luz, na sua caminhada terrena, sejam mais sagazes do que os filhos deste mundo (v. 8b). A sagacidade de que fala Jesus é directamente funcional ao desejo e à consecução do verdadeiro bem. As parábolas que Jesus nos conta, hoje, pretendem fazer pensar e tomar decisões arrojadas. Se queremos ser discípulos do Senhor, não podemos esquivar-nos a responder, ou tentar fugir ao cumprimento dos nossos deveres. É preciso, em primeiro lugar, aceitar confrontar-se com os filhos deste mundo. Muitas vezes somos convidados a ter coragem, não só diante das propostas divinas, mas também diante daqueles que nada querem com Jesus Cristo e o seu Evangelho. É precisa a audácia de quem sabe ser depositário de uma mensagem superior a qualquer outra e de uma promessa que não será retirada. O capítulo 16 de Lucas, na sua globalidade, sugere-nos outro convite, que torna concreta a nossa coragem evangélica: considerar como nossos primeiros e mais caros amigos os pobres. Se chegarmos a isso, seremos realmente «espertos», à maneira de Jesus. Foi por essa esperteza que o administrador desonesto foi louvado por Jesus. A decisão por Jesus, e pelo amor para com o próximo, é urgente, porque a hora da morte está perto. É preciso esperá-la com serenidade, tal como Paulo. Aliás, não esperamos a morte, mas o Salvador, o Senhor Jesus. Esperamo-lo como Ressuscitado, como vencedor da morte, como aquele que transfigurará o nosso corpo à imagem do seu corpo glorioso. A nossa espera está cheia de confiança, desde que vivamos como cidadãos do céu: «a cidade a que pertencemos está nos céus» (Fl 3, 20). Viver como cidadãos dos céus não quer dizer viver nas nuvens, mas viver na caridade, na esperança, na fé. Viver como cidadãos dos céus significa encontrar o Senhor em cada momento, em cada acto da nossa vida. Então, Ele assume-os e transforma-os. Vivendo assim, aguardamos serenamente a morte, sabendo que Jesus já foi transfigurado pela sua morte de cruz e que esse evento já venceu o último obstáculo, tornando-o ocasião de triunfo para Deus e de salvação para nós. Escreve Paulo aos romanos: «Se Deus é por nós, quem será contra nós? Ele, que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também, com Ele, todas as coisas?... Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?... Em tudo isto, somos nós mais que vencedores por Aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida..., nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor» (Rm 8, 31.32.35.37-39). Fonte. F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia/”

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

QUINTA-FEIRA - XXXI SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES

QUINTA-FEIRA - XXXI SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS PARES 8 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Filipenses 3, 3-8ª Paulo inicia a parte exortativa da carta aos filipenses com um resumo autobiográfico para tentar mover aqueles que se fecham ao apelo evangélico e procuram denegrir a sua pessoa e a sua missão. Assim se compreende o carácter polémico desta página. O Apóstolo aproveita a ocasião para apresentar a todos, e não só aos filipenses, a sua origem hebraica, a sua vocação apostólica e a sua fidelidade à mesma. Paulo faz-nos compreender que, para compreendermos as suas cartas, é preciso ter em conta o evento do caminho de Damasco, que marca a sua conversão e o começo da sua missão. O encontro com Cristo revolucionou completamente o seu modo de ver as coisas e os seus critérios de avaliação dos acontecimentos e das pessoas. Acima de tudo e de todos, para ele, está Cristo Senhor em quem havemos de acreditar, que envia em missão e que, sobretudo, temos de amar. Paulo di-lo com uma frase muito significativa: «considero mesmo que tudo isso foi uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor» (v. 8). Este é o único lugar, nas cartas paulinas, onde aparece o pronome possessivo «meu» junto ao título cristológico «Senhor». O pronome indica, não só que Paulo se encontrou com Cristo ressuscitado, mas também a grande intimidade que alcançou com Ele. Evangelho: Lucas 15, 1-10 Estamos no coração do evangelho de Lucas. É no capítulo 15 que o segundo evangelista concentra a mensagem principal da sua obra: o evangelho da misericórdia. Ao mesmo tempo, Lucas aproxima-se o mais possível do Jesus histórico, que veio anunciar e incarnar, no meio de nós, o amor misericordioso do Pai. Lucas começa por apresentar o contexto histórico (vv. 1-3) em que Jesus contou as três parábolas. Os publicanos e pecadores vinham «para o ouvirem» (v. 1). Os fariseus e os escribas «murmuravam» contra ele. As parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida - com a do pai misericordioso, que Jesus apresenta como ícone de Deus-Pai - devem ser interpretadas à luz desse contexto histórico, pois iluminam a situação daquilo ou de quem estava perdido e a alegria de quem pôde encontrar o que estava perdido. A alegria do homem serve para falar da alegria de Deus. Lucas sublinha três vezes essa alegria do Pai, que tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho, tirando desse dom a máxima alegria para Si. A primeira leitura dá-nos matéria para uma reflexão sofre a pobreza espiritual como atitude diante das nossas qualidades e dos bens materiais. Esta pobreza aproxima-nos de Deus. Pelo contrário, a riqueza espiritual separa-nos de Deus e dos outros, porque nos faz sentir auto-suficientes. Confiamos nas coisas que temos, confiamos nas nossas qualidades, e pensamos que não precisamos de Deus nem dos outros. Por vezes até somos levados a julgar-nos superiores aos demais. Todos estes bens, espirituais ou materiais, que nos levam à auto-suficiência e ao orgulho, são chamados «carne» por Paulo. O Apóstolo tinha motivos para se julgar auto-suficiente e ser orgulhoso. Mas preferiu tornar-se mendigo da salvação para a receber de Cristo, como quem depende da sua misericórdia e não se julga melhor que os outros. Cristo é o dom gratuito de Deus, dom que ninguém merece, dom gratuito, que nos foi dado unicamente pela misericórdia divina. Esta pobreza espiritual é fonte de alegria, porque nos permite conhecer a Cristo e fazer dele o valor supremo da nossa vida, tal como Paulo. O conhecimento de Cristo dá-nos alegria, não uma alegria exterior e efémera, mas uma alegria profunda e duradoira, que cresce na medida em que é partilhada com os outros. Paulo partilha a sua alegria com os filipenses. Trata-se de uma alegria semelhante àquela que sente o Pai do céu, quando um pecador se converte; trata-se da alegria do Bom Pastor, pronto a dar a vida pela salvação de um só pecador; mas também se trata da alegria que nos vem de sabermos que temos no céu um Pai misericordioso, de termos em Cristo um mediador compassivo e amoroso, e de sabermos que temos na terra alguém que dele recebeu o ministério de perdoar os nossos pecados, para que aprendamos a ser compreensivos e misericordiosos com os nossos irmãos. Cada um de nós, na vida comunitária ou no ministério, há-de ter sempre diante dos olhos Cristo pobre, manso e humilde de coração, para não sucumbir aos desejos de riqueza, de auto-suficiência, de domínio, para estar livre de preconceitos, de simpatias e antipatias e de tantas paixões que tão facilmente se desenvolvem no coração humano, se não estiver cheio do Espírito de Deus. Fonte: F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

terça-feira, 6 de novembro de 2018

QUARTA-FEIRA - XXXI SEMANA - QUARTA-FEIRA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 7 NOVEMBRO 2018

QUARTA-FEIRA - XXXI SEMANA - QUARTA-FEIRA - TEMPO COMUM - ANOS PARES - 7 NOVEMBRO 2018 Primeira leitura: Filipenses 2, 12-18 Paulo dirige algumas recomendações aos cristãos de Filipos. Cada uma tem a sua motivação e explicação. Em primeiro lugar, os cristãos devem dedicar-se com temor e tremor à sua salvação (v. 12); ao mesmo tempo, devem lembrar-se de que só Deus pode suscitar neles a capacidade de viver de acordo com a sua vontade (v. 13). Em segundo lugar, os cristãos devem resplandecer como astros no mundo (v. 15); não para se exibirem, mas para conservarem «a palavra da vida» (v. 16ª). Em terceiro lugar, os cristãos hão-de contribuir para o crescimento da alegria do Apóstolo, na medida em que se dispuserem a oferecer a vida em sacrifício agradável a Deus, em oblação; isto, não por simples satisfação pessoal, mas para se assemelharem a Cristo Jesus e se disporem para a comunhão com o Pai (v. 16b-17). Evangelho: Lucas 14, 25-33 Depois de deixar a casa do fariseu, Jesus encontra-se com a multidão. E o seu discurso torna-se mais íntimo e radical. No texto de hoje, temos duas parábolas (vv. 28-32), precedidas (vv. 25-27) e seguidas por dois convites à renúncia (v. 33). Ambas as parábolas convidam à reflexão antes de empreender qualquer iniciativa, para nos darmos conta se temos capacidade para as terminar. Há que evitar a ligeireza e a temeridade. Uma vez que se decidiu, também é preciso avançar com fidelidade: um fracasso devido à indecisão ou à saudade seria imperdoável. Também o seguimento de Jesus, no caminho que o leva decididamente para Jerusalém e para o Calvário, é uma empresa muito exigente pela qual é preciso jogar toda a vida. É sobre esta realidade que se fundamenta o convite inicial e final desta página evangélica, onde lemos uma das mais radicais exigências de Jesus. "Odiar" o pai e a mãe, carregar a cruz e seguir Jesus, renunciar a todos os bens (vv. 26s., e 33), são algumas das exigências que não deixam margem para dúvidas. Pelo contrário, o seu carácter paradoxal fere a nossa sensibilidade e leva-nos a gritar de escândalo. Mas isso seria um modo, mais ou menos elegante, de nos subtrairmos ao convite de Jesus, para continuarmos a fazer o que nos é mais fácil. A acção e as palavras de Jesus nada a ver com uma campanha eleitoral, como as que nós conhecemos, onde o candidato promete mundos e fundos: tudo será melhor, não haverá problemas, a vida será mais fácil e feliz para todos... Jesus, pelo contrário, sendo seguido por «uma grande multidão» - e, portanto, tendo sucesso - não lhe alimenta ilusões, mas dirige-lhe algumas das palavras mais duras que Lhe saíram da boca. Apresenta claramente a exigência da radicalidade evangélica de que falámos na lectio. Essa radicalidade não é genérica nem irracional. O seu convite implica opções que deixam transparecer as grandes motivações da radicalidade que Jesus exige aos discípulos. A primeira das opções recai sobre a própria pessoa de Jesus: «Se alguém vem ter comigo... Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo» (vv. 26-27). A renúncia aos bens e às pessoas não é fim em si mesma, mas tem em Jesus, mestre e salvador, a sua primeira e última motivação. Não se deixa a família e os bens só por deixar. Deixa-se para alcançar Aquele que nos alcançou. Poder tornar-se discípulo de Jesus é um ganho tão grande que vale a pena deixar tudo e todos por causa d´Ele. O amor a Jesus Cristo é a grande motivação de todas as nossas renúncias, incluindo, se tal for preciso, a renúncia à própria vida. A opção por Cristo implica renúncias que não apresentam uma racionalidade simplesmente humana, mas uma razão que acabará por trazer a definitiva satisfação à mente e ao coração do discípulo. É especialmente Lucas que recolhe estes ensinamentos de Jesus. Escrevia para uma comunidade que precisava de ser incentivada a crescer na sua adesão ao essencial do Evangelho. Precisa de evitar distracções com coisas secundárias como preocupações terrenas e desculpas fúteis. Algo de muito actual também para nós. Fonte: F. Fonseca em: “dehonianos.org/portal/liturgia”

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

XXXI Semana – Terça-feira – Tempo Comum – Anos Pares 6 Novembro 2018 Primeira leitura: Filipenses 2, 5-11 Escutamos, hoje, um dos mais belos e intensos textos de Novo Testamento. Trata-se de um hino cristológico de fundamental importância, provavelmente recolhido por Paulo de uma tradição anterior e que ele nos transmite. O Apóstolo introduz o texto com uma exortação: «Tende entre vós estes sentimentos, que estão em Cristo Jesus» (v. 5). Não estamos perante uma vaga recomendação, mas perante uma autorizada indicação a caminhar, vivendo como Jesus viveu. A exemplaridade de Jesus é fundamentada no «seu mistério» que, por sua vez, ilumina a vida dos cristãos. O hino subdivide-se em duas partes: Os vv. 6-8 descrevem a katábasis, o esvaziamento de Jesus que, sendo Deus, se fez homem, «tomando a condição de servo» e humilhando-se «até à morte e morte de cruz». Os vv. 9-11 descrevem a anábasis, isto é, a exaltação de Jesus pelo Pai, ao ressuscitá-lo dos mortos e ao conceder-lhe «o nome que está acima de todo o nome», adorável no céu e na terra, e que deve ser proclamado a todo o mundo: «Jesus Cristo é o Senhor!» (v. 11). O mistério de Cristo é sintetizado de modo linear e completo: a fé do cristão encontra aqui o seu centro e a sua síntese, graças a Paulo que, não só se fez evangelizador dele, mas também – em primeiro lugar – foi discípulo e testemunha. Evangelho: Lucas 14, 15-24 Naquele tempo, disse a Jesus um dos que estavam com ele à mesa: 15«Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» 16Ele respondeu-lhe:«Certo homem ia dar um grande banquete e fez muitos convites. 17À hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Vinde, já está tudo pronto.’ 18Mas todos, unanimemente, começaram a esquivar-se. O primeiro disse: ‘Comprei um terreno e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses.’ 19Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois e tenho de ir experimentá-las; peço-te que me dispenses.’ 20E outro disse: ‘Casei-me e, por isso, não posso ir.’ 21O servo regressou e comunicou isto ao seu senhor. Então, o dono da casa, irritado, disse ao servo: ‘Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.’ 22O servo voltou e disse-lhe: ‘Senhor, está feito o que determinaste, e ainda há lugar.’ 23E o senhor disse ao servo: ‘Sai pelos caminhos e azinhagas e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia.’ 24Pois digo-vos que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete.» Lucas passa espontaneamente de um banquete humano ao banquete escatológico. Por isso, liga a parábola ouvida ontem à de hoje, introduzindo a expressão: «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» (v. 15). Trata-se da participação na comunhão com Deus, quando da «ressurreição dos justos»: a dimensão escatológica da nossa fé e da nossa experiência é mais do que evidente. A parábola refere vários convites e várias recusas daqueles que não compreenderam a novidade da presença de Jesus, nem sentiram necessidade da salvação. É interessante sublinhar como nesta parábola está delineada a história da salvação: a cada convite e a cada recusa pode-se quase pensar que correspondam outras tantas fases de uma história visitada por Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O momento culminante da parábola parece ser a palavra do dono da casa: «Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos» (v. 21). Equivale a dizer que, no banquete messiânico, irão tomar parte os excluídos e serão excluídos os que a ele teriam direito. Confirma-se mais uma vez a lei da Nova Aliança, a bondade de Deus, o objectivo central da mensagem e da presença de Jesus no meio de nós. O texto evangélico apresenta-nos, hoje, uma das chamadas “parábolas do convite divino”. Esta parábola, assim entendida, ajuda-nos a compreender toda a liturgia deste dia. Notamos, por um lado, a figura daquele que convida: o Pai que, em todo o tempo e lugar, por meio do Filho, manifesta a sua vontade de salvação universal. Aparece-nos também a figura daquele que, em nome de Deus-Pai, se fez por nós “evangelho”, no sentido em que não se contentou em falar em nome de Deus, mas se fez Palavra incarnada, viva no meio de nós. E, ao lado do Pai e do Filho, aparecem-nos os convidados, que somos nós e todos aqueles que, nos vários tempos e lugares, entram em contacto com a Boa Nova. E é aqui que nos damos conta da dramaticidade da narrativa, que já não é uma simples parábola, mas uma história viva, coerente e sempre actual. Nessa história, cada um de nós é chamado a “jogar” a si mesmo em total liberdade de decisão, mas também na responsabilidade das suas opções. É óptimo que a parábola torne claro para nós aquilo que é do agrado de Deus, aquilo que Jesus veio fazer ao mundo, o objecto da pregação apostólica: Deus ama, tem predilecção e tem como filhos muito amados aqueles que a sociedade marginaliza e considera insignificantes e inúteis. O convite que, portanto, nos é dirigido é que sejamos pobres em sentido evangélico, isto é, tenhamos consciência do nosso pecado, nos enchamos de dor e desejemos encontrar o Médico divino. Esse Médico é Jesus, que se humilhou a si mesmo para assumir a nossa pobreza, o nosso pecado, e morrer para nossa redenção. Nós somos chamados a esvaziar-nos do nosso pecado para nos enchermos da sua riqueza e participarmos da sua glória. Na parábola (cf. Lc 14, 17-24), os convidados recusam-se a participar porque estão impedidos pelos bens terrenos: os campos, as cinco juntas de bois, a mulher… A profissão dos Conselhos Evangélicos, liberta-nos dos impedimentos que nos afastam do acolhimento do convite do Senhor para o banquete da salvação. Fazem-nos livres para acolher o dom de Deus. O esforço para alcançar essa liberdade em Jesus Cristo é, para o mundo, um testemunho e, para nós, uma tarefa permanente (Cst n. 40) que realizamos pela profissão dos conselhos evangélicos, com os votos de celibato consagrado, de pobreza e de obediência (cf. LG 44; PC 1), que nos libertam para o amor autêntico, segundo o espírito das Bem-aventuranças (cf. LG 31) (Cst. 40). Lembra a Lumen Gentium: «os religiosos, pelo seu estado, dão alto e exímio testemunho de que o mundo não pode transfigurar-se e oferecer-se a Deus sem o espírito das bem-aventuranças (LG 31b)». Mas todos os cristãos são chamados a praticar as bem-aventuranças em virtude da sua "profissão" baptismal: «Os cristãos, que tomam parte activa no desenvolvimento… mantenham, no meio das actividades terrestres, a justa hierarquia dos valores, fidelidade a Cristo e ao Seu Evangelho, de tal modo que toda a sua vida, individual e social, fique embebida do espírito das bem-aventuranças, particularmente do espírito de pobreza» (GS n. 72). O espírito de pobreza torna-nos disponíveis para acolher o dom de Deus. Nós, dehonianos, pela profissão religiosa e pela prática dos conselhos evangélicos, devemos ser as testemunhas por excelência, no meio do povo de Deus, desta exigência das bem-aventuranças na prática de uma autêntica vida cristã. | Fernando Fonseca, scj |

domingo, 4 de novembro de 2018

SEGUNDA-FEIRA – XXXI SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES

SEGUNDA-FEIRA – XXXI SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES Primeira leitura: Filipenses 2, 1-4 Depois de exortar os Filipenses a comportar-se de modo digno do Evangelho, e de se oferecer a si mesmo como exemplo de luta contra os adversários da Boa Nova, Paulo continua o discurso de modo mais claro: primeiro aponta o fundamento que é Cristo (v. 1), depois, ao terminar, uma consequência de carácter antropológico (v. 4). Pelo meio (v. 2) o Apóstolo afirma o seu direito a receber uma gratificação pessoal pelo seu ministério: «fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento» (v. 2). O “se” com que começa o versículo 1 não exprime uma hipótese, mas uma certeza. Este recurso literário é importante para compreendermos o pensamento de Paulo porque, na sua concepção, tudo o que existe de bom, de belo e de santo, deriva de Cristo e do seu mistério pascal, que se dilata na mente, no coração e nas relações entre os crentes. A segunda parte da leitura (v. 3s.) contém uma formulação negativa em vista da positiva. Paulo exorta a extirpar da comunidade todo o espírito de rivalidade, de vaidade ou de vanglória, recomendando a humildade, a estima uns pelos outros, o desinteresse pessoal e a generosidade a toda a prova (cf. v. 3s.). Evangelho: Lucas 14, 12-14 Mais uma vez, no ambiente de uma refeição, depois de ter curado um hidrópico em dia de sábado, e depois de ter proposto uma parábola, Jesus adverte o chefe dos fariseus que O tinha convidado. As palavras de Jesus brotam da sua experiência, da observação atenta das realidades e comportamentos dos que O rodeiam. O Mestre interpreta tudo de modo simbólico e transfere-o para o domínio religioso. As duas partes deste pequeno texto correspondem-se perfeitamente: o paralelismo antitético facilita a sua compreensão: «Quando deres um almoço ou um jantar… pelo contrário, quando deres um banquete…». O ensinamento claro de Jesus vai direito à sensibilidade dos seus destinatários. Jesus alerta para um comportamento de aparente generosidade, que, na realidade, é egoísta. Este tipo de comportamento, não só é mesquinho, mas também compromete as relações interpessoais. A situação oposta, sugerida por Jesus, traduz, pelo contrário, um convite genuinamente evangélico, que leva ao centro da doutrina de Jesus: privilegiar os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos, que são aqueles que o Senhor ama. É a mensagem das bem-aventuranças (Lc 6, 20-26). A bem-aventurança, e a promessa do v. 14, completam admiravelmente o ensinamento de Jesus. Por vezes, atrás de um gesto aparentemente magnânimo, como convidar alguém para uma refeição, pode esconder-se um sentimento egoísta. É o que sucede quando o convite é feito apenas por obrigação, por conveniência social, por mera simpatia ou porque se espera retribuição. Obviamente, o tema do evangelho, que tem ressonância já no final da primeira leitura, é o da gratuidade, acompanhado e valorizado pela «opção preferencial pelos pobres», que não é uma descoberta dos cristãos de hoje, mas a quinta-essência do Evangelho. Todavia, este termo precisa de ser libertado do significado simplesmente material, que hoje somos tentados a dar-lhe, uma vez que valorizamos excessivamente o aspecto económico das nossas acções e gestos: tudo o que fazemos, tudo o que produzimos, há-de ter um valor económico. Jesus, pelo contrário, quer educar-nos a uma avaliação também espiritual, isto é, integral e mais completa das nossas acções e opções. Gratuidade significa e implica, por conseguinte: mais atenção aos outros do que a nós mesmos, reconhecer nos outros um valor objectivo, porque todos levam em si a imagem e a semelhança de Deus, sendo, por isso mesmo, dignos de atenção, de estima e de amor. Compreendemos, então, o sentido da bem-aventurança proclamada por Jesus no v. 14 desta página do evangelho e, sobretudo, a promessa de uma recompensa que, segundo a lógica de Deus, temos assegurada quando da «ressurreição dos justos». Lemos nas Constituições: a «pobreza segundo o Evangelho convida-nos a libertar-nos da sede de posse e de prazer que sufoca o coração do homem. Estimula-nos a viver na confiança e na gratuidade do amor» (n. 46). Por outras palavras, a pobreza evangélica torna-se exercício de verdadeira caridade, a exemplo dos primeiros cristãos de Jerusalém: «Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, conforme a necessidade que tivesse» (Act 4, 34-35). Quem partilha desinteressadamente os bens, convida as realidades humanas a serem sacramento da presença amorosa de Deus entre os homens e instrumentos de comunhão entre os irmãos. O verdadeiro pobre, segundo o Evangelho é aquele que, trabalhando, multiplica os bens (os talentos) e contribui para melhorar a vida de todos (cf. parábola dos talentos, Mt 25, 14-30). Na multiplicação dos bens, e na relação com os outros, há um perigo: é-se tentados a possuir, a assegurar bens e a entrar em concorrência, em luta com os outros e, se formos mais fortes, mais hábeis, podemos chegar a instrumentalizá-los a explorá-los. Desse modo, em vez de sermos bons companheiros de viagem e irmãos que se ajudam mutuamente, podemos tornar-nos senhores dos outros, possui-los como coisas. É assim que o homem, com violência, satisfaz a sua ânsia de domínio, priva os outros da sua liberdade, e os instrumentaliza para se auto-afirmar. Assim, isola-se no seu egoísmo e, não reconhecendo a dignidade humana dos outros, nega a si mesmo realizar-se como pessoa. Torna-se um tirano, um explorador, um bruto, e não uma pessoa. A gratuidade realiza o homem, torna-o feliz. Senhor, dá-me uma vontade sincera de partilhar, generosa e gratuitamente, o que sou e o que tenho, com todos os meus irmãos, para que me torne sacramento do teu amor e instrumento de comunhão na Igreja e no mundo. Ajuda-me a ser pobre, segundo o teu Evangelho, não só contentando-me com o que recebi, mas sentindo-me responsável pela multiplicação e distribuição dos bens, contribuindo assim para melhorar a vida de todos. Então, a minha pobreza será caridade. Que eu jamais me deixe prender pela ânsia em possuir e pelo desejo do prazer. Animado pelo teu Espírito, ajuda-me a viver na confiança em Ti e na gratuidade do amor pelos meus irmãos. S. Paulo prega-nos a caridade, a sua necessidade, os seus deveres, a sua perpetuidade, a sua excelência (1 Cor 13). «Ainda que tivesse o dom das línguas, diz S. Paulo, com o dom da ciência e da profecia e uma fé capaz de transportar as montanhas, se não tenho caridade não sou nada. Ainda que desse todos os meus bens aos pobres e passasse no fogo pelo meu próximo, se faço isso por vaidade e não por caridade, não é nada». Ó Deus de caridade, dai-me a caridade, a participação na vossa bondade, sem a qual nada vos pode agradar. Que eu me torne vosso filho verdadeiramente bom e amante, amante por vós sobretudo que mereceis tanto amor, amante também para com o meu próximo, para com os vossos filhos que são meus irmãos. A caridade é paciente, é benevolente. Não é invejosa, agitada, orgulhosa. Não é egoísta, mas dedicada. Não é irascível. Não suspeita facilmente o mal. Não se alegra com as fraquezas do próximo. Suporta todas as contradições. Sinto que ela me falta muito, humilho-me por isso e Peço-vos perdão, ó meu Deus. Quero caminhar na caridade, crescer na caridade, praticar as suas obras e começar hoje com algum acto prático. Fonte: f. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”