sábado, 22 de setembro de 2018

SÁBADO – XXIV SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES

SÁBADO – XXIV SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES Primeira leitura: 1 Coríntios 15, 35-37.42-49 Ao concluir o ensinamento sobre a ressurreição de Jesus e sobre a nossa ressurreição, Paulo faz uma pergunta: «como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam?» (v.35). Nota-se a tristeza do Apóstolo, motivada pela mentalidade materialista em que se tinham deixado envolver alguns cristãos de Corinto, e que os levava a dissociar o corpo do espírito. Não tinham em conta a ressurreição de Cristo, nem dela tiravam as devidas consequências. Isto era insuportável para Paulo, para quem o mistério pascal era uma verdade irrenunciável A ressurreição inaugura uma novidade absoluta na vida de Cristo e dos cristãos: a passagem de um corpo animal a um corpo espiritual estava prevista no desígnio salvífico de Deus. Não podemos, pois, reflectir sobre o corpo espiritual à maneira como, a partir das nossas experiências, pensamos o nosso corpo animal. A relação entre o primeiro homem, Adão e Cristo, último Adão, ilumina-nos: a novidade de Cristo não consiste em ter a vida, mas em dar a vida nova a todos. Será um dom integral, que envolverá todo o homem – corpo, alma e espírito – numa experiência d vida nova e eterna. Depois de termos sido irmãos do primeiro homem, Adão, tendo levado connosco a imagem do homem terreno, também seremos irmãos do último Adão, Cristo, levando connosco a imagem do homem celeste. Evangelho: Lucas 8, 4-15 Lucas transmite-nos abundantes ensinamentos de Jesus em parábolas. Aqui, apresenta-nos a primeira e, para ele, a mais importante: a parábola do bom semeador. Com maior rigor, diríamos: a “parábola da semente”. De facto, a atenção do narrador parece concentrar-se, não tanto nos gestos do semeador, mas no destino das sementes lançadas. O começo da parábola leva-nos também nessa linha: «A semente é a palavra de Deus» (v. 11). Porque terá Jesus querido marcar o começo do seu ministério público com esta parábola? Já se teria dado conta da dificuldade dos seus contemporâneos em escutar a sua pregação? Parece que sim… Mas a parábola talvez tenha um alcance mais vasto: nos diferentes destinos da semente lançada, podemos entrever, não só os diferentes modos de reacção dos seus ouvintes à sua Palavra, mas também as diferentes atitudes com que, ao longo da história da salvação, a humanidade reagiu e reage à presença das testemunhas de Deus e à sua pregação. Lida assim, a parábola da semente prolonga a sua mensagem ao longo de todos os séculos, antes e depois de Cristo, e chega até nós. Neste dia de sábado, para renovarmos o nosso interesse por esta parábola, podemos invocar Maria. Ela foi «terra boa», em que a semente da Palavra produziu precioso fruto. Maria é, na verdade, modelo «daqueles que, tendo escutado a Palavra com um coração bom e perfeito, produzem fruto na perseverança» Um fruto que se multiplica, porque Maria é mãe de todos os discípulos de Cristo, e forma em cada um de nós atitudes de vida cristã, levando-nos a produzir fruto na adesão à vontade de Deus. Depois de uma referência, sempre útil a Maria, voltamo-nos para a mensagem de Paulo sobre a ressurreição de Cristo. A ressurreição do Senhor envolve todo o homem e o homem todo. Por isso, pode levar-nos a meditar sobre o valor do corpo na vida cristã e na história da salvação. É uma meditação oportuna, pois vivemos numa sociedade que, se, por um lado, exalta o corpo humano até idolatrá-lo, por outro, o instrumentaliza e explora até destruí-lo. Por isso, é bom e oportuno recordar a mensagem bíblica sobre o corpo humano. O corpo é, em primeiro lugar, um bem da criação: Deus deu-o a nós como sinal da sua bondade paterna, capaz de falar d´Ele, além de ser capaz de falar de nós. Segundo a mente do Criador, nós somos o nosso corpo: somos um corpo animado, ou também um espírito encarnado. Já sob este ponto de vista o corpo humano é um bem precioso e digno do máximo respeito. O corpo humano também está no centro da nossa fé, desde que Deus, para remir a humanidade, quis encarnar, isto é, assumir, de uma mulher (cf. Gal 4, 4), um corpo em tudo semelhante ao nosso. A encarnação de Deus é a mais clara prova de que, também depois do pecado original, e depois de todos os pecados da humanidade, o corpo humano constitui para Ele um instrumento sempre válido para alcançar os mais elevados objectivos da sua providência. O corpo humano, em força da ressurreição de Cristo, também está no vértice da nossa fé. Enquanto corpo ressuscitado, o corpo de Cristo é primícias de todos os nossos corpos destinados à novidade de vida pela ressurreição final. O corpo humano leva em si os germes da esperança de vida sem fim. É uma realidade sacrossanta por causa das bênçãos recebidas, e por causa do destino que o espera. Senhor, a tua palavra cai no meu caminho para me mostrar o rumo a dar à minha vida. Mas os meus pontos de vista não me permitem escutá-la e acolhê-la no íntimo do coração, no centro da minha existência. A tua palavra quer germinar na minha vida, mas os meus medos, muitas vezes, sufocam-na e matam-na. A tua palavra bate à porta do meu coração, mas uma densa rede de negatividade não a deixa respirar. Senhor, torna fértil este meu terreno, para que a tua palavra possa viver em mim e, por meio de mim, nos outros, no ambiente em que vivo e procuro servir a causa do Reino. Alimenta esta minha existência, para que a tua palavra cresça em mim e à minha volta, para bem do meu próximo e para glória do teu nome. Reforça a minha vontade e a minha perseverança, para que a tua palavra produza frutos abundantes e duradouros neste segmento da minha existência e no horizonte amplo da história presente e futura. O reino dos céus é semelhante a um campo onde o mestre lança uma semente fecunda. Toda a vida terrestre de Jesus foi um tempo de sementeira, como Ele mesmo nos disse na sua parábola. Ele semeava os seus méritos, semeava as suas orações, os seus labores, as suas lágrimas, os seus suores e o seu sangue, semeava todas as graças; e o campo da Igreja tem diante dele todos os séculos da cristandade, até ao fim dos tempos, para ver desabrochar e crescer as searas. Jesus semeava a graça do martírio todos os dias da sua vida, em todos os seus labores e em todas as suas provações, mas Ele quis colher logo um ramo de flores destes mártires, e este ramo, é o grupo destas crianças que são a alegria do Cordeiro divino no céu atirando-se aos pés do seu altar glorioso. A liturgia, inspirando-se no Apocalipse e no profeta Jeremias, colocou a bela festa dos santos Inocentes logo muito próxima da do Natal. Fonte: Resumo/Adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

21 SETEMBRO 2018 - S. MATEUS, APÓSTOLO

21 SETEMBRO 2018 - S. MATEUS, APÓSTOLO S. Mateus era um cobrador de impostos, profissão pouco bem conceituada. Jesus chamou-o a segui-lo. É o próprio Mateus que, de modo muito simples, nos conta a sua conversão (cf. Mt 9, 1-9). Lucas evidencia o banquete oferecido por Mateus, em que Jesus está presente e revela o seu amor misericordioso pelos pecadores. Dotado de certa cultura, Mateus foi o primeiro a recolher por escrito os acontecimentos da vida de Jesus, que testemunhara, agrupando-lhe nesse quadro os ensinamentos do Mestre. O seu evangelho, escrito entre os anos 62 e 70, é especialmente destinado aos seus compatriotas judeus. Apresenta Jesus como o novo Moisés, aquele que dá ao novo Povo de Deus a nova lei do amor. Mateus dá também grande atenção à Igreja que Jesus convoca, salva e institui. Primeira leitura: Efésios 4, 1-7.11-13 Paulo exorta os cristãos a uma vida digna da sua vocação, formando “um só corpo” em Cristo Jesus. A condição de prisioneiro dava-lhe maior autoridade para fazer uma tal exigência. A harmonia, a paz, são indispensáveis para viver em unidade. Esta unidade espiritual entre os cristãos é motivada pela sociabilidade e comunitariedade próprias da vida cristã: a Igreja é “um só corpo” animado por “um só Espírito” e por “uma só esperança” na salvação eterna a que a fé em Cristo nos convida. “Um só” é o Senhor, Jesus, que derrubou o muro da separação e da inimizade, e deu a todos a fé e o batismo, como meios de salvação. Acima de tudo, está a única paternidade divina: há “um só Deus e Pai de todos” (v. 6). Evangelho: Mateus 9, 9-13 Ao narrar o seu chamamento por Jesus, o primeiro evangelista, conforme observa S. Jerónimo, usa o seu próprio nome, Mateus. Os outros três evangelistas, ao narrarem o mesmo episódio, chamam-no Levi, o seu segundo nome, provavelmente menos conhecido, talvez para esconder o seu nome de publicano. Mateus, pelo contrário, reconhece-se como publicano, um grupo de pessoas pouco honestas e desprezadas, porque colaboradores dos ocupantes romanos. Mas, Jesus chamou-o, com escândalo de muitos “bem-pensantes”. Mateus apresenta-se como um publicano perdoado e chamado por Jesus. A vocação de apóstolo não se baseia em méritos pessoais, mas unicamente na misericórdia do Senhor. Só quem se dá conta da sua pobreza, da sua pequenez, aceitando-a como o “lugar” onde Deus derrama a sua misericórdia infinita, está em condições de se tornar apóstolo, de tocar as almas em profundidade, porque comunica o amor de Deus, o seu amor misericordioso: “Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.” (v. 13). Como diz Paulo, o verdadeiro apóstolo está cheio de humildade, de mansidão, de paciência, uma vez que experimentou em si mesmo a paciência, a mansidão e a humildade divina, que se inclina sobre os pecadores e os ergue com paciência da sua situação. O Deus revelado pela palavra e pela acção de Jesus é um Deus misericordioso, que acolhe os que andam perdidos, oferecendo-lhes uma nova ocasião para se reconstruírem, por meio da graça, até atingirem a perfeita unidade da fé, que na primeira leitura é a “medida completa da plenitude de Cristo”. Fonte: Resumo/adaptação de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

QUINTA-FEIRA – SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 20 SETEMBRO 2018

QUINTA-FEIRA – SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 20 SETEMBRO 2018 1ª leitura: 1 Coríntios 15, 1-11 Irmãos: 1Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. 9É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Portanto, tanto eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes. Parece que circulavam, entre os cristãos de Corinto, dúvidas acerca da verdade da ressurreição de Cristo, o que punha em causa a integridade da fé e a unidade da Igreja. Paulo intervém decididamente O evento da ressurreição é objecto do testemunho apostólico: são muitos, e dignos de fé, aqueles que viram o sepulcro vazio e o Senhor Ressuscitado. O próprio Paulo fez experiência do Ressuscitado e, por isso afirma: «pela graça de Deus sou o que sou» (v. 10). O evento da ressurreição de Jesus entrou na pregação apostólica. A partir dele os Apóstolos, não só aderiram à novidade de Cristo com todas as forças, mas fizeram dele sua tarefa missionária. Se Cristo não tivesse ressuscitado, seria vã a sua pregação e o seu trabalho, como afirma o Apóstolo. O mesmo evento da ressurreição de Cristo é objecto directo e imediato da fé dos primeiros cristãos: se Cristo não tivesse ressuscitado, seria vã a nossa fé – afirma Paulo – e nós seríamos os mais infelizes do mundo: infelizes porque enganados e iludidos. É, pois, claro que, ao serviço desta verdade fundante do cristianismo, não está só a tradição apostólica, mas também o testemunho da comunidade crente e de todo o verdadeiro discípulo de Jesus. Evangelho: Lucas 7, 36-50 No evangelho de hoje, cruzam-se dois temas de fundo: em tom polémico, a oposição de Jesus a um fariseu; em tom de proposta, a relação entre Jesus e a pecadora. Mas, observando melhor, vemos que os dois temas se cruzam e se iluminam mutuamente. Ao fariseu, Jesus quer ensinar que uma pessoa não se considera só a partir do exterior, ou das suas experiências passadas. Uma mulher, notoriamente pecadora, é sempre capaz de tomar um novo rumo. Precisa apenas de encontrar irmãos, não hipercríticos e invejosos, mas alguém que a compreenda e redima. Jesus veio para isso! À mulher, Jesus quer ajudar a compreender que a vida vale, não pela soma das experiências passadas, ainda por cima negativas e deletérias, mas pelo encontro central e decisivo com a Sua pessoa, que não é só capaz de compreender e de perdoar, mas também de resgatar e de renovar. Foi para isso que Ele veio! A nós, destinatários do Evangelho, Jesus quer fazer-nos compreender que é a fé que nos salva: a fé n´Ele, verdadeiro homem, amigos dos homens, sobretudo dos pecadores, e verdadeiro Deus, feito homem, feito amigo dos publicanos, dos pecadores e das meretrizes, Deus capaz de remeter todos os nossos pecados, um Deus com uma palavra consoladora e eficaz para cada um de nós: «A tua fé salvou te. Vai em paz.» (v. 50). Vamos hoje dar particular atenção à primeira leitura. Mas não podemos deixar de sublinhar a fé da mulher de que nos fala o evangelho. É uma fé viva na misericórdia de Deus. O próprio Jesus a sublinha: «A tua fé te salvou. Vai em paz» (v. 50). São muitos os obstáculos entre esta pobre mulher e Deus. Mas, graças à sua fé, Jesus pode destruí-los e devolver-lhe a paz! Paulo recorda o núcleo central da fé da Igreja, a Ressurreição de Jesus, que alguns pareciam estar a pôr em causa, em Corinto. Se a Eucaristia é o centro da fé cristã, a Ressurreição de Jesus é o culminar da vida de Jesus e de toda a história da salvação e, portanto, também do nosso caminho de fé. Na verdade, para usar as palavras do próprio Apóstolo, se tal evento fosse irreal, cairiam por terra o testemunho apostólico e a nossa fé. Para aprofundar esta verdade, podemos realçar algumas expressões da página paulina. A ressurreição é, antes de mais, um evangelho, uma alegre notícia, porque nela se manifesta, de modo estrondoso, o poder de Deus para salvação da humanidade. Esta boa notícia destina-se a tornar bela a nossa história pessoal e comunitária, e a difundir beleza e harmonia no próprio universo. A ressurreição é o ponto de chegada da vida de Jesus, e o ponto de partida da história da Igreja: é cume e fonte! Nela se enxerta a história de Cristo e a história da Igreja, criando entre elas uma unidade indissolúvel. Não acreditamos, pois, numa verdade abstracta, mas num evento histórico que nos envolve pessoalmente, comunitariamente. O evento da ressurreição de Jesus é também uma promessa, porque abre permanentemente, para todo o homem e para toda a mulher de boa vontade, uma perspectiva de novidade de vida e de renovação da história. Sob este aspecto, a ressurreição de Jesus pode ser considerada também como um evento incompleto enquanto nós próprios não ressuscitarmos. Fonte: Fernando Fonseca, scj em “dehonianos.org/portal/liturgia” |

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

QUARTA-FEIRA – XXIV SEMANA – QUARTA-FEIRA – TEMPO COMUM – ANOS PARES - 19 SETEMBRO 2018

QUARTA-FEIRA – XXIV SEMANA – QUARTA-FEIRA – TEMPO COMUM – ANOS PARES - 19 SETEMBRO 2018 Primeira leitura: 1 Coríntios 12, 31-13,13 Paulo insere o chamado “Hino do amor” no centro dos capítulos dedicados à relação entre carismas e ministérios. Este hino é, sem dúvida, uma das mais belas páginas das suas cartas e, talvez, de todo o Novo Testamento. O Apóstolo apresenta, em primeiro lugar, o amor como o maior carisma, como o melhor caminho. Mas o “Hino do amor” não é uma saída espiritual evasiva. Paulo insere-o no concreto de uma vida cristã pessoal e comunitária, que, além de um fundamento, precisa de um centro. É preciso aprender a amar como Deus ama: pelos mesmos motivos, com a mesma intensidade, de modo linear e incondicionado, com uma carga afectiva inesgotável. Em segundo lugar, os cristãos devem amar como Cristo ama: em total disponibilidade pessoal, em total abertura aos outros, no desejo de caminhar juntos. O amor cristão, ou caridade, por sua natureza, está indissoluvelmente ligado à fé e à esperança. Mas, em relação às outras duas virtudes teologais, o amor é claramente superior, devido à sua origem divina, pela sua carga cristológica e por estar destinado à comunidade. Evangelho: Lucas 7, 31-35 Depois de estabelecer uma relação entre Jesus e o profeta Elias, Lucas compara-O a João Baptista. As diferenças entre os dois são evidentes e significativas. O objectivo de Lucas e sublinhar a simpatia com que o povo simples acolhe Jesus, em contraste com a atitude dos fariseus e doutores da lei. Por isso, é bom ler os vv. 29 ss. Que precedem esta página evangélica. Jesus usa uma comparação que deixa transparecer o seu duro juízo acerca dos seus contemporâneos. A pergunta inicial é certamente retórica. Não se refere a todos os contemporâneos de Jesus, mas apenas àqueles que, não tendo prestado atenção ao Precursor, também agora O não querem ouvir. Essas pessoas são como as crianças que se recusam a participar tanto na alegria dos casamentos como na tristeza dos funerais. Parece tratar-se da obstinação com que alguns Judeus recusaram a Palavra de Deus, personificada em Jesus. Revelam um coração impermeável a todo e qualquer convite à penitência e à conversão. Sob o ponto de vista histórico, demos atenção a duas expressões, uma dirigida a João: «Está possesso do demónio!» (v. 33) e outra dirigida a Jesus: «Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!» (v. 34). Duas desculpas fáceis, que revelam uma mentalidade fechada e unicamente capaz de condenar sem piedade. A expressão final relativa à sabedoria que foi justificada «por todos os seus filhos» leva-nos a pensar noutra categoria de pessoas diametralmente oposta: aqueles que buscam a verdade e que se deixam interpelar por toda a verdadeira pregação, abrindo-se ao de espírito de Deus que actua nas palavras e nas obras de Jesus. O «Hino do amor» suscita a nossa admiração e entusiasmo. Que belo ideal de vida cristã nos apresenta o Apóstolo! Sentimos de certo movidos a agradecer-lhe. Mas também tomamos consciência do amor que existe entre nós, e queremos dar graças ao Senhor por esse precioso carisma. Que significa a exortação de Paulo: «Aspirai aos melhores dons. Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros»? Porque é que o Apóstolo apresenta o amor como «um caminho que ultrapassa todos os outros»? Em primeiro lugar porque, contempla, em pano de fundo, a caridade com que Cristo nos amou até à morte e à ressurreição. Estamos novamente diante do mistério pascal. É a “via crucis” que se torna “via lucis” para quem se mantém fiel às regras do discipulado e, portanto, a lei fundamental do amor. Também Lucas, nos Actos (cf 9, 2; 22, 4; 24, 22) apresenta o cristianismo, não como uma doutrina, mas como um caminho, «o caminho». A comunidade dos discípulos é formada por aqueles que escolheram avançar pelos caminhos do mundo para lembrar a todos que só Cristo Jesus é o caminho a percorrer para chegar à salvação. Fonte: Resumo/adaptação de um texto de| Fernando Fonseca, scj, em “dehonianos.org/portal/liturgia”. |

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Terça-feira – XXIV Semana –Tempo Comum – Anos Pares

Terça-feira – XXIV Semana –Tempo Comum – Anos Pares Primeira leitura: 1 Coríntios 12, 12-14.27-31a O Apóstolo tratou dos sacramentos do baptismo e da eucaristia, como eventos centrais na vida dos cristãos. Agora, dedica três capítulos da sua carta à problemática das relações entre carismas e ministérios na comunidade, questão muito viva na comunidade de Corinto, mas sempre mais ou menos presente na vida da Igreja. Logo no começo do capítulo 12, Paulo afirma que a autenticidade dos carismas depende da pureza da profissão de fé: «Ninguém, falando sob a acção do Espírito Santo, pode dizer: «Jesus seja anátema», e ninguém pode dizer: «Jesus é Senhor», senão pelo Espírito Santo» (vv. 1-3). Há pluralidade de carismas, mas uma só fonte: a Trindade (vv. 4-6). Logo depois, o Apóstolo afirma que a manifestação do Espírito, por meio dos vários carismas, é dada a cada um para o bem de toda a comunidade. E começa o discurso mais genuinamente teológico. Paulo quer fazer compreender que os dons que recebemos e os serviços que somos chamados a prestar têm o seu fundamento na graça que recebemos por meio dos sacramentos, em força dos quais formamos um só corpo, o corpo de Cristo que é a Igreja. Todos, de facto, «fomos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito» para formar um só corpo (v. 139. A unidade não exclui a diversidade dos membros, dos dons, dos ministérios, mas garante-a e exalta-a reconduzindo-a à sua fonte divina, à Trindade, e orientando-a para o bem da comunidade eclesial. Evangelho: Lucas 7, 11-17 Lucas gosta de estabelecer relações entre Jesus e o profeta Elias (cf. 1 Re 17, 10-24), entre Jesus e o profeta Eliseu (2 Re 4, 18-37). O terceiro evangelista narra a ressurreição do filho único de uma certa mãe viúva, natural de Naim. Prodígios idênticos foram também realizados por Elias e Eliseu. Sabemos que Lucas também dá particular atenção às mulheres, no terceiro evangelho e nos Actos. Também a figura da mãe viúva que perdeu o seu filho único sensibiliza Jesus que, «Vendo a, se compadeceu¬ dela e lhe disse: «Não chores» (v. 13). Este episódio não nos revela só um aspecto da psicologia de Jesus, a sua sensibilidade, mas também, a sua opção em favor dos fracos e dos marginalizados. Aquela mulher, na sociedade a que pertencia, estava incluída nessas categorias de pessoas. Finalmente, Jesus é aclamado como «um grande profeta» (v. 16). Para Lucas, este título tem especial significado: Jesus é profeta, não só pelo que “diz”, mas também pelo que “faz” (acções, gestos, milagres) e, sobretudo, pelo modo como se comporta: sente compaixão, comove-se interiormente e partilha a dor daquela mãe. Assim se manifesta Jesus como profeta no sentido mais integral do termo: não só traz a Palavra de Deus, mas também se coloca ao lado dos homens. Uma leitura atenta de 1 Cor 12, revela-nos a genialidade do pensamento de Paulo. Como já dissemos, o primeiro pensamento de Paulo refere-se à relação entre carismas e ministérios, por um lado, e à ortodoxia da fé, por outro lado. Deve ser este o ponto de referência da ortopraxe. Em segundo lugar, Paulo evidencia a relação entre os carismas recebidos e a sua origem trinitária. Estamos sempre no âmbito da fé, mas é evidente que Paulo fala, não de uma Trindade abstracta, que está acima dos céus, mas da Trindade “económica”, isto, considerada na relação com a nossa vida e com a vida da comunidade. Depois tratará da relação entre a dimensão pessoal e a dimensão comunitária dos carismas: isto para deitar por terra qualquer tentativa de privatizar o dom divino ou de cada um os pôr ao serviço de si mesmo ou da sua categoria social. Depois da relação entre carismas, ministérios e vida sacramental, Paulo ilustra o seu pensamento com dois apólogos: no primeiro, fazendo falar os membros do corpo humano, leva-nos a compreender que a beleza e a harmonia de uma comunidade se fundamenta na variedade dos seus membros, tão solícitos em contribuir para o bem-estar da própria comunidade. Fica assim expresso o princípio da complementaridade em ordem à unidade. No segundo apólogo, o Apóstolo ilustra outra lei, típica do corpo humano e de toda a comunidade, também da cristã. É o princípio da subsidiariedade, pelo qual, todos os membros, também os mais nobres, precisam dos outros, mesmo dos mais humildes. Por isso, não pode haver divisões na comunidade, tal como não pode haver divisões no corpo humano (12, 15-26). Fonte: Resumo/adaptação de um texto de F. Fonseca em “Dehonianos.org/porta/liturgia”

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

ENCONTRO DIOCESANO DE FORMAÇÃO DE NOVIÇOS/AS E JUNIORES/AS

ENCONTRO DIOCESANO DE FORMAÇÃO DE NOVIÇOS/AS E JUNIORES No fim de semana último (15 – 16. 09. 2018), na Casa Diocesana de Gurúè, reuniram-se os formando e formandas à Vida Consagrada das Congregações existentes na Diocese para mais um Encontro de Formação. Participaram , em número de 30,membros das seguintes congregações: S. João Baptista, Claretianas, Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Imaculada Conceição, Missionárias Capuchinhas, Filhas de N. S. da Visitação, Irmãs Apostólicas de Cristo Crucificado, Religiosas do Amor de Deus, Dehonianos e Associação de Maria Mãe do Redentor. Orientou o encontro a Irmã Maria Imaculada de Oliveira, Missionária Claretiana, Psicóloga Clínica, da Comunidade de Muiane, sob o tema nuclear “A sexualidade e maturidade afectiva na Vida Consagrada”. E “Relações humanas”. O tema foi apresentado de várias formas: palestras, filmes (“Sem Reserva: afectividade e não afectividade”; conversa sobre o filme projectado, memória; formas musicais Sub-tema: Alguns indicadores que podem contribuir no processo de amadurecimento da sexualidade e afectividade”. Este tema foi apresentado usando várias dinâmicas:, sob a forma de “feedback”, dinâmica da almofada, trabalho em grupo, plenários, dramatização e teatro. No Domingo, 16.09.18, ao meio – dia, D. Francisco lerma Martínez, Bispo da Diocese, presidiu à Eucaristia, com a qual deu-se ao Encerramento deste Encontro de Formação dos noviços e juniores/as da Diocese de Gurúè, organizado pela CIRMO (Conferência dos Institutos Religiosos de Moçambique) da Diocese de Gurúè.

SEGUNDA-FEIRA – XXIV SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES 17 SETEMBRO 2018

SEGUNDA-FEIRA – XXIV SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES 17 SETEMBRO 2018 Primeira leitura: 1 Coríntios 11, 17-26 Paulo recebeu da tradição apostólica o ensinamento sobre a instituição da Eucaristia por Jesus (v. 23) e deve transmiti-lo às várias comunidades, pois a celebração eucarística tem grande importância para a vida delas. A eucaristia é, em primeiro lugar um chamamento, uma vocação divina: não pode reduzir-se a um simples encontro de indivíduos, ainda que motivado por razões louváveis. Pelo contrário, todas as vezes que a comunidade se reúne, obedece a um convite-mandamento do Senhor Jesus. Mais ainda: celebrar a eucaristia é fazer memória do Senhor morto e ressuscitado, para entrarmos em comunhão pessoal com Ele. A fórmula: «fazei isto em memória de mim» (v. 24 s.), também usada por Lucas, não deixa margem para dúvidas. Jesus não deixa aos discípulos um simples testamento, mas um verdadeiro memorial. A eucaristia é também comer a ceia do Senhor: não pode nem deve ser alterada esta dimensão convivial da eucaristia. Foi esse o sinal escolhido por Jesus, sinal escrupulosamente respeitado pela tradição apostólica; faltando este sinal, não temos o fruto da presença sacramental de Jesus, nem a eficácia salvífica da sua morte e ressurreição. Evangelho: Lucas 7, 1-10 Naquele Nesta narrativa, Lucas centra mais a sua atenção na fé, que alcança o milagre, do que no próprio milagre. A figura do centurião pagão assume um papel emblemático. A fé do centurião compõe-se de humildade e confiança. Essas duas atitudes tornam-no aberto ao dom que está para receber e tornam aberta a comunidade dos discípulos de Jesus, que pode receber e incluir pessoas das mais diversas origens étnicas e sociais. Há um pormenor que suscita a nossa atenção, até pela sua actualidade. Enquanto os anciãos recomendam o centurião a Jesus por alguns méritos que, a seus olhos, tinha adquirido («Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga» (v. 4), o próprio centurião manda dizer a Jesus: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto» (v. 6). Naturalmente, para Jesus são mais importantes estas palavras, que indicam uma grande e sincera humildade, do que as dos anciãos interesseiros. Lucas, como Mateus, considera este acontecimento um prelúdio da chegada dos pagãos à Igreja. Isso interessa-lhe ainda mais porque ele, e só ele, há-de sentir a necessidade de dedicar a segunda parte da sua obra, os Actos dos Apóstolos, a este grande evento. Vislumbra-se a dimensão universal da salvação trazida por Jesus. Ambas as leituras de hoje nos nos levam a pensar na Eucaristia, no lugar central que ela tem na vida da Igreja, e nas disposições de fé de e amor que exige. Na primeira leitura, Paulo entrega às suas comunidades um precioso bem testamentário por meio de dois verbos técnico-teológicos (“receber” – “transmitir”: cf. também 1 Cor 15, 3). Que podemos aprender, para sermos comunidade eucarística, com estes dois verbos? Em primeiro lugar, verificamos a auto-consciência apostólica de Paulo: um aspecto auto-biográfico, digamos, mas no mais elevado sentido do termo. O que interessa ao Apóstolo não é dar-se a conhecer pelas suas características pessoais, mas sim pela sua missão, de que não pode eximir-se. A transmissão da memória daquilo que o Senhor disse e fez na vigília da sua paixão é elemento essencial e irrenunciável dessa missão apostólica.~ Em segundo lugar, verificamos a centralidade da Eucaristia no tesouro de verdades que os apóstolos sentem obrigação de transmitir. É como que afirmar que as comunidades cristãs, e cada um dos discípulos, não podem viver nem testemunhar a fé, se não tiverem no centro da sua vida a Eucaristia, memória actualizante do mistério pascal, capaz de produzir a graça que significa. Em terceiro lugar percebe-se concretamente a verdade da expressão: “A Eucaristia faz a Igreja”. Seria pouco pensar que a Igreja “faz”, isto é, celebra, a Eucaristia. Há que ir mais longe, até ao evento da Páscoa de Cris to, de que a Eucaristia é “memória” fiel e actualizante. A celebração eucarística, memorial da Páscoa do Senhor, é o princípio da nossa comunhão fraterna e a fonte do nosso serviço apostólico, como escreve o Pe. Dehon no seu Testamento Espiritual (cf. DSP nn. 276-284). «A celebração do Memorial da morte e ressurreição do Senhor constitui para nós o momento privilegiado da nossa fé e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus», dizem as Constituições (n. 80). «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22, 19; cf. 1 Cor 11, 24-25). É o mandamento de Jesus para trazermos ao presente o Seu mistério pascal, para actualizarmos a última Ceia e a morte de Cristo na Cruz, para nos tornarmos participantes da Ressurreição. Tudo isto acontece por obra do Espírito Santo: «O Espírito Santo recordar-vos-á tudo aquilo que vos disse» (Jo 14, 26). «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22, 19) é um forte convite de Jesus para vivermos o mistério da Sua oblação: “constitui para nós o momento privilegiado da nossa fé e da nossa vocação de Sacerdotes do Coração de Jesus” (Cst. 80); a eucaristia é um convite a participarmos no sacerdócio de Cristo e no Seu estado de vítima: «Com um só sacrifício, – afirma o autor da Carta aos Hebreus – tornou perfeitos para sempre os que foram santificados» (10, 14; cf. Heb 5, 7-10). No evangelho, escutamos a oração do centurião, que a Igreja nos faz repetir antes da sagrada comunhão: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto» (v. 6). Jesus ficou admirado com a fé do centurião (v. 9), que de tal modo acreditava no poder da sua Palavra, que julgava desnecessária a sua presença para que o servo ficasse curado. Nós acreditamos que o poder da Palavra de Jesus O torna presente sob as espécies eucarísticas. Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de Fernando Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”

domingo, 16 de setembro de 2018

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B 16 Setembro 2018

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B 16 Setembro 2018 A liturgia deste Domingo diz-nos que o caminho da realização plena do homem passa pela obediência aos projectos de Deus e pelo dom total da vida aos irmãos. Ao contrário do que o mundo pensa, esse caminho não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira, à realização plena do homem. A primeira leitura – Is - apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar a Palavra da salvação e que, para cumprir essa missão, enfrenta a perseguição, a tortura, a morte. Contudo, o profeta está consciente de que a sua vida não foi um fracasso: quem confia no Senhor e procura viver na fidelidade ao seu projecto, triunfará sobre a perseguição e a morte. Os primeiros cristãos viram neste “servo de Jahwéh” a figura de Jesus. Uma das coisas que sobressai nesta “partilha de vida” que o “Servo de Jahwéh” faz connosco é a forma absoluta como ele se entrega aos projectos de Deus. Diante do chamamento de Deus, ele não resiste, não discute, “não recua um passo”; mas assume, com total obediência e fidelidade, os desafios que Deus lhe faz, mesmo quando tem de percorrer um caminho de sofrimento e de morte. Para nós que vivemos envolvidos pela cultura da facilidade e do comodismo, para nós que temos medo de arriscar, para nós que preferimos fechar-nos no nosso “cantinho” protegido, arrumado e seguro, o “Servo de Jahwéh” constitui uma poderosa interpelação… É preciso abraçar, com coragem e coerência o projecto que Deus nos confia, mesmo quando esse projecto se cumpre no meio da oposição do mundo; é preciso deixarmo-nos desafiar por Deus e acolher, com generosidade, as propostas que Ele nos faz; é preciso assumirmos o papel que Deus nos chama a desempenhar e empenharmo-nos na transformação do mundo. A segunda leitura – Tiago 2,14-18 - lembra aos crentes que o seguimento de Jesus não se concretiza com belas palavras ou com teorias muito bem elaboradas, mas com gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, de solidariedade para com os irmãos. O que é ser cristão? Ora, aderir a Cristo, significa conformar, a cada instante, a própria vida com os valores de Cristo, seguir Cristo a par e passo no caminho do amor a Deus e da entrega total aos irmãos. Não se pode fugir a isto: a nossa caminhada cristã não é um processo teórico e abstracto concretizado num reino de belas palavras; mas é um compromisso efectivo com Cristo que tem de se traduzir, a cada instante, em gestos concretos em favor dos irmãos. Quem segue a Cristo tem de lutar, objectivamente, contra as estruturas que geram injustiça e opressão; tem de acolher e amar aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita; tem de denunciar uma sociedade construída sobre esquemas de egoísmo e de mostrar, com o seu testemunho, que só a partilha e o amor tornam o homem feliz; tem de quebrar a espiral da violência e do ódio e propor a tolerância e o amor… Por vezes, há uma profunda dicotomia, nas nossas vidas pessoais, entre a fé e a vida. O nosso compromisso cristão traduz-se na participação certa nas eucaristias dominicais, na participação destacada em manifestações públicas de religiosidade, na pertença a movimentos eclesiais… e mais nada. Depois, na vida do dia a dia, praticamos injustiças, pactuamos com esquemas de corrupção, tratamos com pouca caridade aqueles que vivem ao nosso lado, passamos indiferentes diante das necessidades e dores dos irmãos, marginalizamos aqueles de quem não gostamos, demitimo-nos das nossas responsabilidades na construção de um mundo novo e melhor… De acordo com os ensinamentos da Carta de Tiago, a nossa religião será verdadeira se não se traduzir em gestos concretos de amor e de fraternidade? No Evangelho - Mc 8,27-35 - Jesus é apresentado como o Messias libertador, enviado ao mundo pelo Pai para oferecer aos homens o caminho da salvação e da vida plena. Cumprindo o plano do Pai, Jesus mostra aos discípulos que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos e êxitos humanos, mas pelo amor e pelo dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo, tem de aceitar percorrer um caminho semelhante. Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenómeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingénuo e inconsequente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “status quo”. Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi apenas um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu? “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim? Ele é o Messias libertador, que o Pai enviou ao meu encontro com uma proposta de salvação e de vida plena? O Evangelho deste domingo coloca a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade. Na minha vida de cada dia, estas duas perspectivas confrontam-se, a par e passo… Qual é a minha escolha? Na minha perspectiva, qual destas duas propostas apresenta um caminho de felicidade seguro e duradouro? Quem são os verdadeiros discípulos de Jesus? Muitos de nós receberam uma catequese que insistia em ritos, em fórmulas, em práticas de piedade, em determinadas obrigações legais, mas que deixou para segundo plano o essencial: o seguimento de Jesus. A identidade cristã constrói-se à volta de Jesus e da sua proposta de vida. Que nenhum de nós tenha dúvidas: ser cristão é bem mais do que ser baptizado, ter casado na igreja, organizar a festa do santo padroeiro da paróquia, ou dar-se bem com o padre… Ser cristão é, essencialmente, seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. O cristão é aquele que faz de Jesus a referência fundamental à volta da qual constrói toda a sua existência; e é aquele que renuncia a si mesmo e que toma a mesma cruz de Jesus. O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a auto-suficiência dominem a vida. O seguidor de Jesus não vive fechado no seu cantinho, a olhar para si mesmo, indiferente aos dramas que se passam à sua volta, insensível às necessidades dos irmãos, alheado das lutas e reivindicações dos outros homens; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos. O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos. Fonte: Resumo/adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”.