4º Domingo da Páscoa. Ano A.
Domingo do Bom Pastor, Dia Mundial de Oração pelas
Vocações… A introdução à celebração deve ter em conta essa intenção. Jesus é
apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra
de Deus põe hoje à nossa reflexão.
A primeira leitura (Actos 2,14a.36-41) traça o
percurso que Cristo, “o Pastor”, desafia os homens a percorrer: é preciso
converter-se, ser baptizado, e receber o Espírito Santo (acolher no coração a
vida de Deus e deixar-se recriar, vivificar e transformar por ela).
• Esta leitura apresenta-nos
a lógica de Deus que não se conforma com
o facto de as pessoas rejeitarem a sua oferta de salvação e que insiste em
desafiá-los, em acordá-los, em questioná-los, até que eles percebam onde está a
verdadeira vida e a verdadeira felicidade. Este Deus é, verdadeiramente, o
Pastor que nos conduz para as nascentes de água viva.
• Perante as palavras de Pedro, os membros da
comunidade judaica perguntam: “que havemos de fazer, irmãos?” É a atitude de
quem toma consciência dos caminhos errados, percebe o sem sentido de certos
comportamentos e valores, aceita questionar as suas certezas e seguranças, para
aceitar os desafios de Deus.
Trata-se de uma atitude corajosa: é mais fácil
continuar comodamente instalado na sua auto-suficiência, do que “dar o braço a
torcer” e reconhecer, com humildade, a necessidade de eliminar os preconceitos,
de admitir as falhas, os limites, as
incoerências.
Aceito
questionar-me, estou disposto a admitir os meus limites, procuro humildemente o
caminho certo, ou sou daqueles que nunca me engano e raramente tenho dúvidas?
• “Convertei-vos” – pede Pedro aos seus ouvintes.
Converter-se é deixar os velhos esquemas de egoísmo, de prepotência, de
orgulho, de auto-suficiência que tantas vezes constituem a nossa a vida, para
ir atrás de Jesus e aprender com Ele a amar, a servir, a dar a vida.
Estou disponível para encarar a minha conversão? O que é que, na minha vida, mais
necessita de ser transformado, em termos de ideias, valores, comportamentos?
A segunda leitura (1 Pedro 2,20b-25), apresenta-nos também
Cristo como “o Pastor” que guarda e conduz as suas ovelhas. Este texto insiste,
sobretudo, em que os crentes devem seguir esse “Pastor”. Seguir “o Pastor” é
responder à injustiça com o amor, ao mal com o bem.
• Como devemos lidar com a injustiça e com a
violência? Haverá uma violência justa e aceitável? Os fins justificam os meios?
É a este tipo de questões que a nossa leitura responde. O autor não está
interessado em grandes argumentações: propõe apenas o exemplo de Cristo, que
passou pelo mundo fazendo o bem e foi preso, torturado, assassinado sem
resistir, sem Se revoltar, sem responder “na mesma moeda” aos seus assassinos.
É uma lógica incompreensível aos olhos do mundo… Mas é a lógica de Deus; e
Jesus demonstrou que só este caminho conduz à ressurreição, à vida nova, O
cristão é chamado a ser testemunha desta novidade: só o amor gera vida nova e
transforma o mundo.
• Esta leitura apresenta Cristo como “o Pastor” que
guarda e conduz as suas ovelhas. Seguir o Pastor é responder à injustiça com o
amor, ao mal com o bem.
Cristo é, de
facto, o meu “Pastor”, o modelo de vida que eu tenho sempre diante dos olhos?
Quem é que eu ouço, quem é que eu sigo, quem é o meu modelo?
O Evangelho (Jo 10,1-10), apresenta
Cristo como “o Pastor”, cuja missão é libertar o rebanho de Deus do domínio da
escravidão e levá-lo ao encontro das pastagens verdejantes onde há vida em
plenitude (ao contrário dos falsos pastores, cujo objectivo é só aproveitar-se
do rebanho em benefício próprio). Jesus vai cumprir com amor essa missão, no
respeito absoluto pela identidade, individualidade e liberdade das ovelhas.
O Evangelho convida-nos a reflectir sobre o serviço da
autoridade… Propõe como modelo o “Bom Pastor”, uma figura que oferece a vida,
que serve, que respeita a liberdade das pessoas, que se dedica totalmente.
• Para os cristãos, “o Pastor” por excelência é
Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o “rebanho” de Deus das trevas
para a luz, da escravidão para a liberdade, da morte para a vida.
O nosso
“Pastor” é, de facto, Cristo, ou temos outros “pastores” que nos arrastam e que
à volta das quais construímos a nossa existência?
O que é que e quem nos conduz ? Cristo? A voz da
opinião pública? A voz dos partidos e
dos grupos? A voz do comodismo e da instalação? A voz do egoísmo e dos privilégios? A voz do êxito e do triunfo a
qualquer custo? A voz das telenovelas? A voz dos programas televisião?
• Atentos na forma como Cristo desempenha a sua missão
de “Pastor”: Ele conhece as “ovelhas” e chama-as pelo nome, mantendo com cada
uma delas uma relação pessoal. Dirige-lhes um convite a deixarem a escuridão,
mas não força ninguém a segui-l’O: respeita absolutamente a liberdade de cada
pessoa. É dessa forma que nos relacionamos com os outros? Aqueles que receberam
de Deus a missão na família, de presidir a um grupo, de animar uma comunidade,
exercem a sua missão no respeito absoluto pela pessoa, pela sua dignidade?
• As “ovelhas” do rebanho de Jesus têm de “escutar a
voz” do “Pastor” e segui-l’O… Isso significa, concretamente, tornar-se
discípulo, aderir a Jesus, percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, na
entrega total aos projectos de Deus e na doação total aos irmãos. Atrevemo-nos
a seguir o nosso “Pastor” (Cristo) no caminho exigente do dom da vida?
• Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que
presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que elas receberam essa
missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas
convém igualmente ter presente que o nosso único “Pastor”, Aquele que somos
convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo. Os outros “pastores”
têm uma missão válida, se a receberam de Cristo; e a sua actuação nunca pode
ser diferente do jeito de actuar de Cristo.
• Para que distingamos a “voz” de Jesus de outros
apelos, de propostas enganadoras,” que não conduzem à vida plena, é preciso a
oração diária, um permanente diálogo íntimo com Deus na oração, um confronto
permanente com a sua Palavra e a participação activa nos sacramentos onde se
nos comunica essa vida que “o Pastor” nos oferece.
Fonte: adaptação local de um texto de: <dehonianos.org/liturgia dominical>