SÁBADO – 3ª
SEMANA DA QUARESMA - 10 MARÇO 2018
Primeira leitura: Oseias 6, 1-6
São muitas as desgraças que afectam o povo de Deus.
Israel e Judá estão em guerra. A aliança com a Assíria levou à perda das
regiões setentrionais de Israel, no ano 732 a. C. No contexto de um acto
litúrgico penitencial, o profeta avisa o povo: tudo isto se deve ao afastamento
de Deus, a um culto meramente formal e vazio de amor. E clama: há que estar
alerta, há que converter-se, pois já se divisa no horizonte o dia do castigo
messiânico (Os 5, 9).
Com uma imagem frequente na Sagrada Escritura, o povo
reconhece estar doente (Os 5, 13) e invoca a Deus como único médico capaz de
curar a ferida que Ele mesmo provocou em vista da correcção (v. 1). Deus é o
Senhor da história. Sabe que o arrependimento do povo é interessado (v. 3) e efémero (v.
4). Mas não se cansa de chamar à conversão. A sua palavra é uma espada que fere
para curar. Pede amor e não holocaustos (v. 6), confiança e não simples
actos de culto, ainda por cima praticados com hipocrisia.
Evangelho: Lucas 18, 9-14
No contexto da subida a Jerusalém, Jesus vai
apresentando as exigências para a entrada no Reino. A página que hoje escutamos
apresenta-nos duas personagens em oração. O seu modo de rezar revela o seu modo
de viver e de se relacionar com Deus e com os outros. O fariseu realça os seus
méritos e julga-se credor diante de Deus. No fundo, não precisa d ‘ Ele, ainda
que formalmente lhe agradeça tê-lo feito tão perfeito. Mais ainda: a sua
justiça leva-o a julgar impiedosamente os outros. O excesso de autoestima e de
autoconfiança levam-no a desprezar os outros (v. 11). O publicano, pelo
contrário, consciente dos seus pecados, tudo espera da misericórdia de Deus.
Vergado pelos seus pecados, está lançado para o céu. Batendo com a mão no
peito, bate à porta do Reino, que lhe é aberta.
A parábola que o evangelho hoje nos apresenta é um
verdadeiro dom de Deus, particularmente no tempo da Quaresma que estamos a
viver. Com efeito, pode assaltar-nos a tentação de pensarmos que, com as
práticas penitenciais que nos propusemos, e vamos praticando, somos melhores
que os outros. Ceder a esta tentação, seria arruinar todo o bem que, com a
graça do Senhor (é bom sempre lembrá-lo!), temos praticado.
«Quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento
de Deus mais que os holocaustos», diz-nos o Senhor pela boca de Oseias.
Conhecer a Deus, e conhecer-nos a nós mesmos em Deus, é o caminho da sabedoria
e da vida. Foi o caminho que os santos de todos os tempos percorreram: «Que Te
conheça, que eu me conheça», pedia Santo Agostinho. Quem somos nós, sem Deus?
Somos certamente pecadores, cheios de orgulho e cheios de desprezo pelos outros;
somos prisioneiros do nosso egoísmo e do nosso pecado. Quem somos nós com Deus?
Somos ainda pecadores, mas pecadores que sabem que a experiência de pecado pode
tornar-se o lugar em que Deus, o Misericordioso, nos revela o seu rosto.
Um excelente exercício para a nossa Quaresma
consistirá em unir-nos à misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo, que
aceitou ser contado entre os pecadores, que carregou sobre Si as culpas de
todos, e aceitou morrer para nossa salvação. Por isso, não só não se separou
dos pecadores, mas aceitou conviver com eles, para a todos revelar o amor
misericordioso do Pai. Cada cristão há-de continuar a ser sinal desse amor
misericordioso junto dos irmãos, particularmente daqueles que nos parecem
maiores pecadores. Tudo o mais que fizermos, jejuns, orações, esmolas, ou
outras penitências, deve ser oferecido pelos nossos próprios pecados. Se nos
julgamos mais perto de Deus, devemos prová-lo a nós mesmos com uma proximidade
maior junto dos outros, uma proximidade permeada de misericórdia e de amor
fraterno, de amor oblativo.
Jesus aproxima-Se das pessoas com muita compreensão,
com doçura e humildade. Ama as pessoas, como nos demonstra também na parábola
do pai bom e do filho pródigo. As palavras do pai não são um sermão, não avançam
queixas e muito menos acusações. Não é um debate e, muito menos, uma polémica.
À humilde confissão do filho: "Pai, pequei contra o céu e contra ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho’ (Lc 15, 21), o pai responde beijando-o
e abraçando-o; apenas fala com o seu amor: "Depressa, trazei o vestido
mais belo e vesti-lho, ponde-lhe o anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o
vitelo gordo, matai-o, comamo-lo e façamos festa … " (Lc 15, 22-23).
É este o modo como também havemos de actuar com os
nossos irmãos, mesmo com aqueles de quem tenhamos alguma queixa.
Senhor, ajuda-me a libertar-me das máscaras com que
tento esconder a pobreza do meu ser, a mesquinhez do meu coração, a dureza dos
meus preconceitos. Sinto-me realmente doente, carecido de salvação. Sinto-me,
também eu, fariseu. Mas não consigo esconder-Te a minha verdade: tu sabes que o
meu coração não é puro, que a minha vida não é santa, que, muitas vezes, julgo,
desprezo e condeno os outros, tentando justificar-me com obras que são só
aparência. A tua graça faz-me, hoje, tomar consciência de tudo isso, e faz-me
experimentar um enorme vazio dentro de mim. Como o publicano da parábola,
dobro-me a teus pés e digo: «tem piedade de mim, que sou pecador». Sei que,
também a mim, queres dar a graça de reconhecer a minha humildade, e de
experimentar a tua misericórdia imensamente maior que os meus preconceitos e os
meus pecados. Por isso, Te digo: Senhor, se quiseres, podes curar-me.
Fonte: Resumo e adaptação de um texto de
“dehonianos.org/portal/liturgia”
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