4 MARÇO 2018 : 3º DOMINGO DA QUARESMA. ANO B.
A liturgia do
3º Domingo da Quaresma dá-nos conta da eterna preocupação de Deus em conduzir
os homens ao encontro da vida nova. Nesse sentido, a Palavra de Deus que nos é
proposta apresenta sugestões diversas de conversão e de renovação.
Na primeira leitura (Ex 20,1-17), Deus oferece-nos um conjunto de indicações (“mandamentos”) que devem
balizar a nossa caminhada pela vida. São indicações que dizem respeito às duas
dimensões fundamentais da nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa
relação com os irmãos.
Os mandamentos
que dizem respeito à relação do homem com Deus sublinham a centralidade que Deus deve
assumir no coração e na vida do seu Povo. Na vida de todos os dias
somos, com frequência, seduzidos por outros “deuses” – o
dinheiro, o poder, os afectos humanos, a realização profissional, o
reconhecimento social, os interesses egoístas, as ideologias, os valores da
moda – que se tornam o objectivo supremo, no valor último que condiciona os nossos
comportamentos, as nossas atitudes e as nossas opções. Com frequência,
prescindimos de Deus e instalamo-nos num esquema de orgulho e de
auto-suficiência que coloca Deus e as suas propostas fora da nossa vida.
A Palavra de
Deus garante-nos: esse não é um caminho que nos conduza em direcção à vida
definitiva e à liberdade plena. Neste tempo de Quaresma, somos convidados
a voltarmo-nos para Deus e a redescobrirmos o seu papel fundamental na nossa
existência… Quais são os “deuses” que nos seduzem mais e que
condicionam a nossa vida, as nossas tomadas de posição, as nossas opções? Que
espaço é que reservamos, na nossa vida, para o verdadeiro Deus?
Os mandamentos
que dizem respeito à nossa relação com os irmãos convidam-nos a despir esses
comportamentos que geram violência, egoísmo, agressividade, cobiça,
intolerância, escravidão, indiferença face às necessidades dos outros. Tudo
aquilo que atenta contra a vida, a dignidade, os direitos dos nossos irmãos, é
algo que gera morte, sofrimento, escravidão, para nós e para todos os que nos
rodeiam e é algo que contribui para subverter os projectos de vida e de
felicidade que Deus tem para nós e para o mundo. O que é que, nos meus gestos,
nas minhas atitudes, nos meus valores, é gerador de injustiça, de sofrimento,
de exploração, de escravidão, de morte, para mim e para todos aqueles que me
rodeiam?
É preciso ver
os “mandamentos” como “sinais de trânsito” com os quais Deus, no seu amor e na
sua preocupação com a nossa realização plena, nos ajuda a percorrer os caminhos
da liberdade e da vida verdadeira.
Na 2ª Segunda Leitura (1 Cor 1,
22-25), o apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de
Deus… É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a
felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de
importância, mas está na lógica da cruz – isto é, no amor total, no dom da vida
até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
O nosso texto
convida-nos a descobrir e a interiorizar a lógica de Deus, que é bem diferente
da lógica dos homens. Os homens sentem-se mais seguros e confortáveis diante de
líderes vencedores, que se impõem pela força e que exibem o seu poder através
de gestos espectaculares; e Deus aparece-lhes na figura de um obscuro
carpinteiro galileu, condenado pelas autoridades constituídas, abandonado por
amigos e discípulos, escarnecido pelas multidões, e morto numa cruz fora dos
muros da cidade.
Os homens
gostam de ser convencidos por projectos intelectualmente brilhantes, que
apresentem argumentos fortes e uma lógica inquestionável; e Deus oferece-lhes um projecto
de salvação que passa pela morte na cruz, em plena e radical contradição com
todos os esquemas mentais e toda a lógica humana. O apóstolo Paulo
sugere-nos uma conversão à lógica de Deus… É preciso que descubramos que a
salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de
autoridade, de riqueza, de importância, mas está no amor total, no dom da vida
até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
A força e a “sabedoria de Deus”
manifestam-se na fragilidade, na pequenez, na obscuridade, na pobreza, na
humildade. Sendo assim, não nos parecem ridículas, descabidas e
pretensiosas as nossas poses de importância, de autoridade, de protagonismo, de
êxito humano?
“Nós pregamos
Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios”.
Aqueles que têm responsabilidade no anúncio do Evangelho devem anunciar a
mensagem com verdade e radicalidade, renunciando à tentação de a suavizar, de a
tornar mais “politicamente correcta”, de a tornar menos radical e
interpelativa.
No Evangelho,( Jo 2, 13-25) Jesus
apresenta-Se como o “Novo Templo” onde Deus Se revela aos homens e lhes oferece
o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações,
no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer
apresentar.–
Como é que podemos encontrar Deus e chegar até
Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? O
Evangelho deste domingo responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos
gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece
aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e
aponta-lhes caminhos de salvação. Neste tempo de Quaresma – tempo de caminhada
para a vida nova do Homem Novo – somos convidados a olhar para Jesus e a
descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta
de vida nova que Deus nos quer apresentar.
Os cristãos são
aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que
comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele.
Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde
Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a
vida e a salvação. Esta realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma
grande responsabilidade…
Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto
dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos
de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova
de Deus; têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a
paz, o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens.
Talvez o facto de Deus parecer tão ausente da vida, das preocupações e dos
valores dos homens do nosso tempo tenha a ver com o facto de os discípulos de
Jesus se demitirem da sua missão e da sua responsabilidade… O nosso testemunho
pessoal é um sinal de Deus para os irmãos que caminham ao nosso lado? A vida
das nossas comunidades dá testemunho da vida de Deus? A Igreja é essa “casa de
Deus” onde qualquer homem ou qualquer mulher pode encontrar essa proposta de
libertação e de salvação que Deus oferece a todos?
Qual é o
verdadeiro culto que Deus espera? O culto que Deus aprecia é uma vida vivida
na escuta das suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de
entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos. Quando somos capazes
de sair do nosso comodismo e da nossa auto-suficiência para ir ao encontro do
pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta
adequada ao amor e à generosidade de Deus para connosco.
Ao gesto
profético de Jesus, os líderes judaicos respondem com incompreensão e
arrogância. Consideram-se os donos da verdade e os únicos intérpretes
autênticos da vontade divina. Instalados nas suas certezas e preconceitos, nem
sequer admitem que a denúncia que Jesus faz esteja correcta. A sua
auto-suficiência impede-os de ver para além dos seus projectos pessoais e de
descobrir os projectos de Deus. Trata-se de uma atitude que, mais uma vez, nos
questiona… Quando nos barricamos atrás de certezas absolutas e de atitudes
intransigentes, podemos estar a fechar o nosso coração aos desafios e à
novidade de Deus.
Fonte:
Resumo e
adaptação local de um texto de “dehonianos.org.portal/liturgia”
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