terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CONFIGURADOS COM CRISTO PARA A PROPAGAÇÃO HOJE DO REINO DE DEUS

Texto preparado pelo  Padre Tonito Muananoua para o Retiro Anual dos Padres Diocesanos de Gurúè, Milevane 12 -17.12.2011

INTRODUÇÃO: Mt 6,5-6 (12.12.11’)
“ 5 Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6 Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á”.
Sentido espiritual do Retiro:
·         Tempo de graça e renovação interior;
·         Tempo de diálogo intímo, franco e frontal com Deus na profundidade do nosso ser;
·         Tempo em que ajudados pela Palavra de Deus nos encontramos connosco mesmos, falamos de nós mesmos, apresentamos tudo o que somos, fomos, deveriamos ser, fizemos e deveriamos fazer, aquilo que projectamos realizar no futuro, para que, interpelados pela voz de Deus, examinemos se tudo coincide com a vontade de Deus.
·         Tempo em que para além do encontro connosco mesmos, proporcionamos o encontro com Deus ao nível da consciência, que a Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo contemporanêo, Gaudium et Spes nº 16, a define como “ o núcleo mais secreto e o sacrário do  Homem, onde ele se encontra consigo mesmo e com Deus...”; quer dizer, iluminados pela Palavra de Deus, examinar se aquilo que hoje somos e realizamos, coincide com o Projecto de Deus.

·         É um tempo de inter-acção com Deus: devo falar com Deus e deixar que Deus fale, que me interpele e devo criar condições para acolher na minha vida as propostas que Ele me fizer. Dar tempo e espaço para falar com Deus, a fim de poder falar de Deus e comuniacá-Lo como fruto de uma experiência vivida.

·         Momento para dar-se conta do meu passado, dos meus fracassos, das minhas derrotas, minhas lutas, victórias e procurar descobrir a intervenção de Deus na minha vida pessoal e a correspondência que faço no meu quotidiano;

·         Ocasião priviligiada para reconhecermos as nossas misérias, infidelidades, dicotomias, incoerências, resistências, duplicidades e renovar-se com o seu Perdão;

·         Ocasião para examinarmo-nos profundamente se as nossas acções são consequência  daquilo que somos: Sinais da presença de Deus no meio dos Homens e colaboradores do Seu Reino. O imperativo, consequência do indicativo “ Conheça-te e valorize aquilo que és, para poderes descobrir o que tens a fazer,e fazê-lo bem como o Senhor te recomenda.


Condições para que tudo isto acontença:
Ø  Temos de aceitar de entrar dentro de nós mesmos tal como somos (no quarto do nosso coração);
Ø  Devemos fechar todas as portas que podem-nos atrapalhar, impedir, desviar, absorver, perturbar de entrar no nosso sacrário íntimo (coração) e propor-se um verdadeiro e profícuo silêncio;
Ø  Criar o ambiente para o diálogo pessoal com Deus e preparar-se para acolher as suas propostas.
Ø  Abrir o nosso coração à moção do Espírito Santo para que nos guie, anime e nos oriente nos caminhos de Deus.
Quem não vive como pensa, acaba gastando tempo e energias pensando como vive
Textos de apoio: 1Re 19, 11-16; 2 Re 4,33; Is 26,20; Dn 6,11; Sl 139 (138).


1.   Ser Presbítero: um dom de Deus na e para a Igreja
(uma existência profundamente agradecida)
Texto base: Jo 15,16.
“ Não fostes vós que me escolhestes, mas Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda”.
Na origem do nosso projecto vocacional, está a realidade e a lógica da gratuidade. Gratuitamente o Senhor nos chamou à vida, gratuitamente o Senhor nos chamou à fé pelo baptismo, à comunhão com os outros e de modo muito especial, sem mérito algum da nossa parte, o Senhor nos chamou a sermos seus dilectos colaboradores, embaixadores do Seu Reino, Seus amigos mais próximos que dia a dia, actualizam o memorial da Sua Paixão, morte e Ressurreição.
Pelo que, é na lógica da gratuidade e dádiva divina em favor de muitos, que tem de ser acolhido o dom da nossa vocação, o dom do nosso presbiterado. O Senhor chamou nos na sua livre e soberana Vontade, consituiu-nos seus legítimos representantes, seus sinais, instrumentos para a santificação do Seu povo.
É com este Dom que o Senhor nos envia e quer que não permaneçamos estéreis, mas produzamos frutos e que tais frutos sejam eficazes, isto é, os frutos que somos convidados a produzir, através do dom do Chamamento devem deixar rastos indeléveis da magna bondande de Deus.
Pelo que não basta tomar cosciência de que fomos chamados pelo puro dom da liberalidade divina, sem mérito algum da nossa parte, mas é preciso lutar para produzir frutos que permaneçam, frutos que não entrem em contradição com Aquele que nos chamou.
Esta realidade, exige uma intimidade, união, dependência absoluta, confiança e abandono nas mãos de Deus. Sem esta ligação forte com a fonte do nosso Dom, nunca tomaremos consciência de que toda a nossa existência presbiteral, é uma existência agradecida que promana de um dom divino imerecido. Pelo que, no meio da vida concreta e do dia a dia no exercício do nosso ministério, não percamos de vista o Hino do Magnificat:  O Senhor olhou para a humildade do seu servo... De hoje em diante me chamarão, o Ungido do Senhor...
Só agradece quem reconhece a grandeza do Dom que recebeu. Só é capaz de erguer os olhos ao Céu, quem sabe que a chuva e o sol vêem do alto. Seremos agradecidos como presbíteros, se reconhecermos a grandeza do Dom do ministério e confiança que o Senhor depositou em cada um de nós, para estarmos ao serviço do Seu Reino hoje e sempre. Pelo que a gratidão, torna-se uma resposta ética e uma condição para agir segundo o Dom que está em nós.
Do Testamento do Beato João Paulo II, sobre o Sacerdócio:
“... Em cada Missa, recordamos e vivemos o sentimento expresso por Jesus quando partiu o Pão. O agradecimento é a atitude que está na base do próprio termo ‘Eucaristia’. Deus ama-nos, precede-nos com a sua providência, acompanha-nos com intervenções contínuas de Salvação. Na Eucaristia, Jesus agradece ao Pai connosco e por nós. Como poderia esta acção de graças de Jesus deixar de plasmar a vida do Sacerdote?” Carta aos Sacerdotes, Quinta feira Santa de 2005.
Perguntas para reflexão
1.      Olhando para a minha história pessoal, consigo descobrir as várias e significativas intervenções de Deus na minha vida? De que formas procuro corresponder esta gratuidade divina no exercício do meu ministério?
2.      Ao celebrar a Eucaristia quotidiana em comunhão com a Igreja, reconheço e manifesto a minha gratidão a Deus? Se não, o que me impede ou bloqueia de exprimir o sentimento de Acção de Graças?
O que foi chamado na gratuidade, deve viver constantemente na e para a gratuidade



2.     Ser Presbítero: uma entrega incondicional a Deus em favor dos irmãos
(uma existência entregue)
Texto base: 1 Cor 11,23-25
  23 Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24 e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu Corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim.
25 Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”. (1Cor 11,23-25).

Isto é o Meu Corpo ... Isto é o Meu Sangue!

O relato da Instituição da Eucaristia testemunhado na 1ª Carta aos Corintios, sublinha esta dimensão da entrega. Jesus oferece-se a Si mesmo, entrega-se Ele próprio para a vida da humanidade.
Sabemos por outro lado, o simbolismo do Sangue nas nossas culturas. O Sangue é sinónimo de vida na sua essência e totalidade. Entregar o Corpo e Sangue, significa entregar-se na totalidade, sem reservas, incondiconalmente com a finalidade de ser causa de salvação para maioria.
Mais ainda, entregar-se na totalidade é tranformar-se num puro dom do sacrificio. É ser oblação, é ser vítima, altar e o próprio coordeiro.
Com estes dois gestos, Jesus manifesta plenamente a sua auto - doação nas mãos do Pai, para que seja causa de resgate para muitos irmãos. E todos nós, cada um na sua situação existencial e concreta somos prodto da entrega de Jesus. Somos sim, os beneficiários da doação e entrega de Jesus.
No movimento espiritual da entrega de Jesus está a gênese e as motivações ontológicas da nossa própria entrega como cristãos ( no sacerdócio comum), acima de tudo, como cooperadores na ordem da graça com Cristo Jesus enquanto presbíteros.

Todos nós, alguns há mais de 30 anos, outros 15 anos e outros ainda menos de um ano, pronunciamos todos os dias, estas expressões no sacrifício da Eucaristia. Mas pronunciar estas palavras no Sacrifício eucarístico, significa colaborar e sentir-se implicado neste movimento de doação, de entrega na totalidade de Cristo, para que muitos irmãos possam descobrir os caminhos da Verdade.

Seria uma absurda contradição, pronunciarmos todos os dias estas solemente palavras, no momento mais alto do sacrifício eucarístico, conscientes do que estamos a celebrar e mantermo-nos fechados, duros, insensíveis, indiferentes com a nossa vida, uma vida que bem como sabemos, é puro dom de Deus.

“ Não é possível repertirmos as palavras da consgaração sem nos sentirmos implicados neste movimento espiritual. Em certo sentido, o sacerdote deve aprender a dizer também de sí próprio, com verdade e generosidade ‘tomai e comei, tomai e bebei’.  De facto, a sua vida tem sentido se ele souber fazer-se dom, colocando-se à disposição da comunidade e ao serviço de qualquer pessoa que passe necessidade”. Beato João Paulo II, Testamento sacerdotal, 2005.

Para reflectir
Examinar-se como vivo esta dimensão da entrega no meu ministério, a partir da realidade onde me encontro actualmente a testemunhar o meu sacerdócio.







3.      Ser Presbítero: Tomada de consciência de ser “Perdoado” para pedoar
Uma existência “salva” para salvar.
“ 22Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo.
23 Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam.
24 E disse-lhes: Isto é o meu Sangue, o Sangue da aliança, que é derramado por muitos”. (Mc 14, 22-23).
No Sacrifício eucarístico de Jesus, duas realidades são bem expressas: Cristo Sacerdote e Cristo Coordeiro para o sacrifício. Mas a finalidade destas realidades é de abrir as portas de salvação para todo o género humano.
O Sangue derramado na Cruz por Jesus, tem a finalidade de redimir toda a humanidade. Neste Sangue, toda a criatura tem a possibilidade de chamar Deus por Pai e de se reconhecer amada por Deus. É o Seu Sangue que cria uma nova e definitiva aliança de Deus com a humanidade uma vez por todas.
Na origem da nossa vocação está o amor de Deus. Mas este amor tem as suas bases na fé Cristã. O nosso sacerdócio assenta-se na base da nossa fé cristã: foi pela fé baptismal que fomos salvos, que nos foi aberta a porta da salvação que nos insere na comunidade dos amados de Deus. Tudo o que recebemos e somos, radica nesta base cristã do baptismo.
Não sem razão, Santo Agostinho, Bispo de Hipona, repetia muitas vezes aos seus fiéis: Convosco sinto-me cristão, mas para vós pesa-me a responsabilidade de ser pastor.
... É a partir desta cosnciência mais viva do nosso ser salvos pela graça baptismal e outras graças, que deve emergir o ardor de querer salvar os outros. Aliás, uma fé baptismal robusta, amadurecida, vivida com toda intensidade, é a condição para a entrega apaixonada à causa de salvação dos irmãos.
Mas quando esta realidade está adormecida na nossa vida, tudo serve, mas o projecto de colaborar para a salvação do Homem na sua integridade, fica um projecto relegado para o segundo plano. Não consta nas nossas prioridades pastorais. Esquecemos que recebemos este dom para salvar os outros a todo custo (1 Cor 9,22).
A solução para sairmos desta letargia, que pode eclipsar o nosso ministério é reacender a nossa fé baptismal, não nos esquecermos nunca que somos cristãos e procurar viver bem a nossa fé de baptizados. Só assim estarenos em altura de reconhecer as insondáveis riquezas que Cristo nos confiou de sermos hoje e sempre, continuadores da obra de salvação por Si inaugurada com o advento do Reino.
“ Gostaria de vos recordar que, para levar a cabo de forma adequada e gozosa o ministério da Confissão e da direcção espiritual, é imprescendível a vossa própria vivência pessoal do sacramento da Reconciliação, mediante a vossa Confissão frequente” Beato João Paulo II, Discurso sos sacerdotes em Bogotá- Colombia, 1/07/1986.
“ Estariamos longe de ser fiéis à essência da nossa vocação sacerdotal, se não aproveitássemos todas as oportunidades possíveis para proporcionar ao nosso povo o poder medicinal e reconciliador da misericórdia de Cristo no sacramento da Penitência” Discurso aos sacerdotes nos EUA, 06/05/1983.
Dedicar-se inteiramente à salvação das almas
59. Exortamo-vos, portanto, com todo o empenho, a que, estreitamente unidos ao Redentor, "com cujo auxílio tudo podemos" (Fl 4,13), vos esforceis com toda solicitude pela salvação daqueles que a divina Providência contou aos vossos cuidados, como ardentemente desejamos, diletos filhos, que imiteis os santos, que, nos tempos passados, demonstraram com suas obras grandiosas quanto pode o poder da graça divina. Que todos e cada um, com humildade e sinceridade, possais sempre atribuir-vos - testemunhem-no os vossos fiéis - a expressão do apóstolo: "E de boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas" (2Cor 12,15). Iluminai os espíritos, dirigi as consciências, confortai e sustentai as almas que se debatem na dúvida e gemem na dor. A essa forma de apostolado ligai também todas as demais que as necessidades do tempo exigem. Mas em tudo fique sempre patente que o sacerdote, em todas as suas atividades, nada mais procura senão o bem das almas, e a nada mais visa senão a Cristo, a quem consagra todas as suas forças e a si mesmo inteiramente.
Qual é o lugar que ocupa o Sacramento da Reconciliação na minha vida pessoal e nas prioridades na minha acção pastoral? E qual é a minha disponibilidade  para com outros relativamente a este Sacramento?



4.     Ser sacerdote: Propriedade de Cristo para a Humanidade
Uma existência cristocêntrica
Texto base: Jo 15, 1-5
1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, Ele o cortará;
2 e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto.
3 Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado.
4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim.
5 Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. (Jo 15, 1-5).
A alegoria da videira e dos ramos nos mostra a importância e exigência de união que se requer entre o tronco e o ramo, no nosso caso, entre o enviado e Mestre.
Desta catequese de Jesus, vemos que os ramos são propriedade do tronco e tudo o que acontece nos ramos, depende absoluta e exclusivamente da ligação que o ramo mantêm ao tronco.
Ainda na alegoria, vemos as consequências que advêm quando o o ramo ignora a sua gênese, quando pretende afirmar-se numa independência orgulhosa de não pertencer o tronco: seca e é cortada e lançada ao fogo.
Pelo contrário, quando o ramo reconhece e sabe que toda a sua exitência depende do tronco, quando o ramo vive como ramo, unido ao tronco, então será podado, para que produza mais fruto e tal fruto permaneça. Assim, o ramo começa a realizar-se como ramo, pois a sua finalidade é de criar frutos que deiam vida e vida em abundância.
O nosso ser sacerdotal não foge desta lógica em relação a Cristo. Ele terá a sua razão de ser, produzirá os frutos esperados, será como tal no seio da Igreja e da humanidade, se estiver radicado em Jesus, se se referir constantemente a Ele e se tiver Cristo, como a única referência obrigatória.
Mas como filhos de Deus, criados na liberdade, estamos livres de nos referir ou não a Jesus. Mas as consequências de um sacedócio que não se alimenta em Cristo, não se fazem esperar: superficialidade, mesquinhez, insensibilidade, indiferença, letargia, improvisações constantes, medo de assumir responsabilidades, etc...
O segredo para fugir destes perigos que o Senhor deixou bem claro na alegoria acima: é necessário deixar-se plasmar por Ele, reforçar os laços de amizade com Jesus e procurar ser e agir em conformidade com Ele. É necessário sim, que entre Cristo e a vida do presbítero haja uma osmose, circule o mesmo oxigénio, para que verdadeiramente possamos ser ramos convidados a dar frutos abundantes, frutos que permaneçam para sempre.
Mentis nostrae15. “Porque deriva de Cristo, deve por isso a vida sacerdotal dirigir-se toda e sempre para ele. Cristo é o Verbo de Deus, que não desdenhou assumir a natureza humana; que viveu a sua vida terrena para cumprir a vontade do Pai Eterno; que em torno de si difundiu o perfume do lírio; que viveu na pobreza e "passou fazendo o bem e curando a todos" (At 10,38); que, enfim, se imolou como hóstia pela salvação de seus irmãos. Eis, diletos filhos, a síntese daquela admirável vida; esforçai-vos por reproduzi-la em vós, recordando a exortação: "Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais também vós" (Jo 13,15).
Para reflectir:
Quem é Cristo para mim? Qual é o lugar que ocupa na minha vida? O que é que significa para mim, ter a minha existência toda ela voltada para Ele?




5.     Presbitero:  Homem que fala com Deus antes de  falar de Deus
Uma existência orante
Texto base: Lc 6,12-16
“ 12 Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.
13 Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:
14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,
15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;
16 Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor”. (Lc 6, 12-16).
Uma das atitudes que sempre caracterizou a vida de Jesus na sua vida terrena, foi o íntimo diálogo entre Ele e o Pai. Antes de qualquer acção, jesus punha-se em contacto com o Pai para escutar a Sua Vontade e agir segundo os caminhos do Espírito.
No trecho acima, Jesus antes de escolher os seus amigos, aqueles que seriam os continuadores da sua obra de salvação, colocou-se numa atitude de oração, passou uma noite limpa em oração.
Dá para reflectir o quanto custou o Senhor para a nossa escolha. Uma noite de insónia, uma noite de vigilia, uma noite de profundo e íntimo contacto para poder chamar o nome de cada um de nós hoje aqui presentes e continuadores da obra de Jesus.
Diante disto, vemos que aquele que foi chamado pela oração e com a oração, deve ser um Homem de oração. Somos produto da oração de Jesus e, como consequência, devemos ser Homens de profunda oração. Oração que não significa muitas palavras, mas uma atitude de constante referência ao Senhor em qualquer situação em que nos encontramos.
Como presbíteros, a oração com a Igreja através da consagração das horas do dia e, sobretudo, a oração do memorial da última ceia do Senhor, não poderiam ser descuradas sem razões graves. A Santa Missa, para nós presbíteros, deve ser o centro da nossa vida, o momento mais alto da nossa vida em que espelhamos a nossa vida com o mistério que celebramos. Um mistério que no dia da Ordenação, nos foi advertido de tomar consciência no que estamos a fazer, imitar o que fazemos e conformar a nossa vida ao mistério de Cristo.
É na Eucaristia onde a nossa existência finita, entra em contacto com o infinito, onde o nosso ser se coloca diante do Ser Supremo para sermos pontes: levar as preocpuações e alegrias da humanidade para Deus e distribuir as graças de Deus para a Humanidade... quanta graça!!! Quanta responsabilidade...
Fidelidade à Oração do Ofício e da Celebração quotidiana da Eucaristia S.C. 99

“ Quero por isso sublinhar o seguinte: por mais compromissos que possamos ter, é uma prioridade encontrar todos os dias uma hora para estar em silêncio para o Senhor e com o Senhor, tal como a Igreja nos propõe que façamos com o Breviário, com as orações diárias, de modo a podermos assim enriquecer-nos cada vez mais interiormente e podermos também recuperar o comprimento da onda do sopro do Espírito...” Bento XVI
“ Rezar é caminhar numa comunhão pessoal com Cristo, expondo diante d’Ele a nossa vida diária, os nosos êxitos e os nossos fracassos, as nossas dificluldades e as nossas alegrias: é simplesmente apresentarmo-nos a nós mesmos diante d’Ele. Mas para que isso não se converta numa autocontemplação, é importante aprednermos continuamente a orar rezando com a Igreja”  Bento XVI, Homilia da Missa Crismal, Quinta feira Santa, 09 de Abril de 2009.
Para reflectir:
Qual é o lugar que ocupa a oração na minha vida? Como vai a minha fidelidade quanto à reza do ofício e da Santa Eucaristia?




6.     Presbítero: Mestre de Comunhão e de amor
Uma existência penetrada e penetrante de amor
Texto base: Jo 15,9-12
9 Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os Mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.
11 Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa.
12 Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. (Jo15, 9-12) // Jo 13
O trecho que nos propomos para a nossa reflexão nesta tarde, tirado do Quarto Evangelho, mostra-nos como o Amor, faz parte do testamento de Jesus, um distintivo que nos identifica como irmãos e filhos do mesmo Pai.
Ainda no trecho acima, Jesus nos apresenta o amor como uma herança: uma herança de Jesus a partir do Pai e que Ele quer deixar aos seus amigos, para que eles sejam propagadores desta realidade que caracteriza os filhos de Deus e que os identifica como tais.
O amor apresentado e recomendado por Jesus, pressupõe a vivência dos mandamentos como condição para ser constantes, persistentes no amor, isto é, para fazer do amor um dinamismo interior na nossa vida.
Mais ainda, do trecho acima vemos que a realidade do amor entra na lógica da Revelação e do Magistério do Senhor, pois do Decálogo, recebemos o resumo dos mandamentos: Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Amar alguém não é sinónimo de posse. O Senhor exclui o amor possessivo, mas nos recomenda o amor oblativo, um amor inclusivo e que abre as portas para a liberdade de espírito.
Deus é amor, assim nos diz a Carta de São João e no Magistério actual Bento XVI, na sua primeira Carta Encíclica Deus Caritas est faz-nos reflectir os vários níveis desta realidade ( eros, filia e ágape). É nesta última onde somos chamamdos a ser testemunhas.
O presbítero, qual chamado de Deus por Amor e para o Amor, tem de ser um Mestre de amor. Ser mestre de Amor, significa viver do amor e orientar a vida no amor aos irmãos. O presbítero é convidado a amar a sua Igreja tal como ela é, a aceitar e acolher os irmãos no ministério com quem dia a dia partilha a vida e o dom do sacerdócio, a ter um coração livre para acolher quem quer que seja mas sem se prender a ninguém, a edificar uma fraternidade humana sobre a terra no amor como nos ensina o Papa Bento XVI na Caritas in Veritatis.
Tal amor, deve ter a sua epifania na dedicação e serviço à Igreja, no gosto pelas coisas de Deus, na caridade generosa, na sensibilidade de coração à luz de Jesus, que sempre procurou contemplar com amor as realidades que afligiam os Homens para depois elevar os olhos ao Céu para pedir a força do Pai em fazer algo.
Ainda no caso do Presbítero, qual Homem de relações e de comunhão, é necessário que tenha um coração desprendido, humilde para poder estabelecer relações de amizade com os outros colegas, relações de dependência filial e espiritual com o Seu Bispo e agudizar a sensibilidade humano-social e pastoral para com aqueles a quem fôr confiado.
Nº110 Vivei, com simplicidade, humildade e amor filial, a obediência ao bispo da vossa diocese. « Por respeito Àquele que nos amou, convém obedecer sem qualquer hipocrisia; porque não é deste bispo visível que se abusa, mas é do Bispo invisível que se procura burlar. Porque, neste caso, não é de um ser de carne que se trata, mas de Deus que conhece as realidades ocultas ».[164] No quadro da formação permanente dos sacerdotes, parece-me oportuno que sejam relidos e meditados determinados documentos, como o Decreto conciliar sobre o ministério e a vida dos sacerdotes Presbyterorum ordinis, a Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, de 1992, o Directório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, de 1994, e ainda a Instrução O Presbítero, Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, de 2002.
Ser Mestre de Amor significa ser um Homem de relações, aberto à novidade e prudente em dar passos, dono de sí mesmo, educado, equilibrado humano e afectivamente. É sim com estas qualidades, que o presbítero pode viver na obediência, pobreza e castidade sem constragimentos e muito menos sem recorrer a repressões, porque tem de criar condições de ter um coração livre para amar com amor de amar por amar somente, sem intenções tortas e escondidas.




7.      Presbítero:  Um enviado de Deus com Cristo entre os Homens
Uma existência “teofórica”prevalentemente missionária
Palestra conclusiva
18 Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.
19 Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20 Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.  (Mt 28,18-20)
Carissimos Irmãos no Sacerdócio,
Com esta palestra conclusiva, terminamos os exercícios espirituais  em que guiados pelo Espírito Santo, primeiro motor da Evangelização, procuramos reflectir sobre a nossa “Configuração com Cristo  como ponto de partida para a tomada de consciência da urgência da propagação do Reino de Deus Hoje”de uma maneira eficaz. Com este tema, procuramos descobrir as riquezas da nossa configuração e as implicações que estas têm no testemunho e anúncio do Evagelho.
Somos o que somos. Cada um é o que é pela graça de Deus. Mas aquilo que o Senhor nos pede é que sejamos fiéis até ao fim que Ele está connosco todos os dias da nossa vida.
Coragem carissimos irmãos no Sacerdócio... O Senhor nos ama e nos quer bem.
Unidos na oferta quotidiana permaneçamos unidos nos mesmos sentimentos.