XV SEMANA – SÁBADO – TEMPO COMUM – ANOS PARES –
21 JULHO 2018
Primeira leitura: Miqueias 2, 1-5
No contexto social e religioso da segunda metade do
século VIII a. C., tal como Isaías, o profeta Miqueias denuncia os pecados
sociais, cometidos pelos chefes, nomeadamente a casa real, os
sacerdotes e os profetas, que acabam por arrastar para os mesmos crimes todo o
povo. O profeta não faz uma lista exaustiva desses pecados, mas aponta alguns,
que ilustram bem a malícia imperdoável da opressão dos fracos.
O justo juízo de Deus é inevitável e não tardará.
Infelizmente, as situações denunciadas por Ezequias, continuam actuais no mundo em que
vivemos.
O profeta usa expressões muito duras contra aqueles que
praticam tais actos, ameaçando inclusivamente com o exílio, simbolizado pelo
jugo ignominioso anunciado ao seu povo: «Tenho planeado um mal contra esta
raça, do qual não livrareis o pescoço». «Nesse dia», o dia concreto que não
tardará a tornar-se escatológico, a desgraça converter-se-á em motivo de
sátiras e lamentações. Será a completa humilhação. Os grandes e poderosos
roubaram terras e haveres aos pobres, e perderão a Terra Prometida, com todos
os bens.
O castigo será feito da mesma matéria que o pecado do homem. Mas, um
pequeno «resto» conservou íntegra a fé. Por causa deles, Deus voltará a ter
compaixão do seu povo, dar-lhe-á uma nova fecundidade, que lhe garantirá a
subsistência.
Evangelho: Mateus 12, 14-21
Jesus atreveu-se a pôr em causa o absoluto da lei
sobre o repouso sabático. Isso só não Lhe custou a vida, porque, ao saber que
os seus adversários tinham decidido matá-lo, saiu dali, continuando noutros
lugares a sua actividade taumatúrgica e missionária.
Os milagres narrados por Mateus, logo depois da cura,
ao sábado, do homem que tinha a mão paralisada (Mt 12, 10ss.), provam a
autenticidade do amor misericordioso de Deus, que Jesus veio anunciar, e que é
o centro e o sentido do seu ministério. Mateus vê realizada em Jesus a profecia
de Is 42, 1-4, onde é apresentada a figura do Servo de Javé. Escolhido e
enviado por Deus, que o encheu do seu Espírito, o Servo realizará a missão de
dar a conhecer a todos os povos a verdadeira relação entre Deus e os homens. O
estilo do Servo, manso e humilde, alheio a conflitos e a barulhos, atento a
valorizar toda a possibilidade de vida, realiza-se totalmente em Jesus «manso e
humilde de coração» (Mt 11, 29), e que pede silêncio sobre as suas obras (cf.
Mt 12, 16).
Mateus, mais uma vez, acentua que, em Jesus se
realizam as esperanças judaicas, ajuda a interpretar o evento-Jesus, a
compreender-lhe o significado, e apresenta-O como modelo de obediência à
palavra do Pai.
Os profetas do Antigo Testamento com muita frequência
se atiram contra as prepotências dos ricos em relação aos pobres, por
sensibilidade social, com certeza, mas, sobretudo, por sensibilidade teológica:
as injustiças entre os homens quebram a relação com Deus. O mal que se faz ao
homem é mal feito a Deus.
O império da lei da prepotência, dos que são
economicamente mais poderosos, continua tragicamente actual. As tragédias que a
ganância de poucos provocam, com indizíveis sofrimentos para muitos, repetem-se
diariamente, por toda a face da terra. O dinheiro revela-se uma arma mais letal
do que as ogivas nucleares, quando usado unicamente em vista dos interesses de
alguns. Quando o dinheiro se torna o objectivo da vida, não admite rivais. Quem
se entrega ao dinheiro, não consegue ver mais ninguém senão a si mesmo. É por isso
que Jesus disse que, ou se serve a Deus, ou se serve ao dinheiro. Não há
compromisso possível.
Mas, um dos sinais do nosso tempo, é também um
crescente movimento contra as injustiças. Como cristãos, não podemos deixar de
participar nele, com todos os homens de boa vontade. Mas o nosso verdadeiro
modelo é Jesus. Ora o Senhor sabe juntar a força e a mansidão, que não levanta
contendas e não grita, que não faz gestos espectaculares, mas também não volta
atrás e que, se se afasta dos adversários, é para ajudar quem precisa: «Muitos
seguiram-no e Ele curou-os a todos» (v. 15).
É esta a luta que Jesus leva por diante com mansidão e
amor para com todos, sabendo que isso O levará à morte.
Como cristãos devemos ser contrários a toda a forma de
luta violenta, mas também agir energicamente com todas as iniciativas não
violentas, para afirmar a justiça, o respeito pelos direitos humanos e a
caridade no mundo, como sugere o Segundo Sínodo dos Bispos sobre a Justiça no
mundo, tendo presente os ensinamentos da História acerca da conquista não
violenta da liberdade e da independência política.
Senhor, livra-me de cometer a injustiça, de aceitá-la
contra os outros, mas também de a querer combater por meios violentos. Tu,
manso e humilde de coração, ensina-me a não-violência, porque a violência é já
injustiça, mãe de outras violências e injustiças piores. Tu, que quiseste ser
pobre por meu amor, faz-me compreender que não posso enriquecer de qualquer
modo e a qualquer custo, mesmo à custa do respeito e dos direitos dos meus
irmãos. Tu, que estás atento a todos, ajuda-me a esquecer-me de mim, e a cuidar
carinhosamente de todos os irmãos, particularmente dos mais frágeis e
carenciados.
Fonte: adaptação
local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”