XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO A
A liturgia do
32º Domingo do Tempo Comum convida-nos à vigilância.
Recorda-nos que a segunda vinda do Senhor Jesus está no horizonte final da
história humana; devemos, portanto, caminhar pela vida sempre atentos ao Senhor
que vem e com o coração preparado para o acolher.
A primeira leitura (Sab 6,12-1) apresenta-nos a “sabedoria”, dom gratuito e
incondicional de Deus para o homem. É um caso paradigmático da forma como Deus
se preocupa com a felicidade do homem e põe à disposição dos seus filhos a
fonte de onde jorra a vida definitiva. Ao homem resta estar atento, vigilante e
disponível para acolher, em cada instante, a vida e a salvação que Deus lhe
oferece.
A “sabedoria”
não é, na perspectiva do autor do texto, algo de misterioso, e de oculto, que o
homem tem dificuldade em encontrar… Ela brilha com brilho inalterável e
atraente, que prende o olhar de quem a procura. Não é preciso correr atrás
dela, com cuidado e fadiga, trilhando caminhos difíceis ou procurando em
lugares recônditos e sombrios… Basta sentir interesse por ela, amá-la,
desejá-la, que ela imediatamente se fará presente, oferecendo a vida e a
felicidade a todos os que anseiam por ela. Quem ama a “sabedoria” facilmente
“tropeça” nela, nas circunstâncias mais comuns da vida do dia a dia: à porta da
casa, nos caminhos e até na intimidade dos próprios pensamentos… Para que a
“sabedoria” ilumine a vida do homem, só é preciso disponibilidade para a acolher.
A “sabedoria”
de que o autor da primeira leitura fala é um dom de Deus para que o homem saiba
conduzir a sua vida ao encontro da verdadeira vida e da verdadeira felicidade.
Deus não é um adversário do homem, com ciúmes do homem, preocupado em impedir a
felicidade e a realização do homem; mas é um Deus cheio de amor, preocupado em
proporcionar ao homem todas as possibilidades de ser feliz e de se realizar
plenamente. A nossa leitura convida-nos a ver em Deus esse Pai cheio de amor,
preocupado com a felicidade dos seus filhos, sempre disposto a oferecer-lhes os
seus dons e a conduzi-los para a vida e para a salvação; e convida-nos a uma
atenção contínua, a fim de detectarmos e acolhermos esses dons que, a cada
instante, Deus nos oferece.
O que é
decisivo para que o homem tenha acesso pleno aos dons de Deus é a sua
disponibilidade para acolher e para aceitar esses dons… Deus coloca os seus
dons à disposição do homem, de forma gratuita e incondicional; ao homem é
pedido apenas que não se feche no seu egoísmo e na sua auto-suficiência, mas
abra o seu coração à graça que Deus lhe oferece.
Na segunda leitura (1 Tes 4,13-18) Paulo garante
aos cristãos de Tessalónica que Cristo virá de novo para concluir a história
humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo; todo aquele que tiver
aderido a Jesus e se tiver identificado com Ele irá ao encontro do Senhor e
permanecerá com Ele para sempre.
A certeza da
ressurreição garante-nos que Deus tem um projecto de salvação e de vida para
cada homem; e que esse projecto está a realizar-se continuamente em nós, até à
sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus.
A nossa vida
presente não é, pois, um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma
caminhada tranquila, confiante – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em
direcção a esse desabrochar pleno, a essa vida total em que se revelará o Homem
Novo.
Isso não quer
dizer que devamos ignorar as coisas boas deste mundo, vivendo apenas à espera
da recompensa futura, no céu; quer dizer que a nossa existência deve ser – já
neste mundo – uma busca da vida e da felicidade; isso implicará uma não
conformação com tudo aquilo que nos rouba a vida e que nos impede de alcançar a
felicidade plena, a perfeição última (a nós e a todos os homens nossos irmãos).
Não é possível
viver com medo, depois desta descoberta: podemos comprometer-nos na luta pela
justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr
fim à vida que nos anima; e é na medida em que nos comprometemos com esse mundo
novo e o construímos com gestos concretos, que estamos a anunciar a
ressurreição plena do mundo, dos homens e das coisas.
O Evangelho Mt 25,1-13 lembra-nos que “estar preparado” para acolher
o Senhor que vem significa viver dia a dia na fidelidade aos ensinamentos de
Jesus e comprometidos com os valores do Reino. Com o exemplo das cinco jovens
“insensatas” que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas
acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, avisa-nos que só os valores do
Evangelho nos asseguram a participação no banquete do Reino.
Nós, os
cristãos do séc. XXI, não somos significativamente diferentes dos cristãos que
integravam a comunidade de Mateus… Também percorremos um caminho de altos e
baixos, em que os momentos de entusiasmo e de compromisso alternam com os
momentos de instalação, de comodismo, de adormecimento, de pouco empenho. As
dificuldades da caminhada, os apelos do mundo, a monotonia, a nossa fragilidade
levam-nos, frequentemente, a esquecer os valores do Reino e a correr atrás de
valores efémeros, que parecem garantir-nos a felicidade e só nos arrastam para
caminhos de escravidão e de frustração. O Evangelho deste domingo lembra-nos
que a segunda vinda do Senhor deve estar sempre no horizonte final da nossa
existência e que não podemos alienar os valores do Evangelho, pois só eles nos
mantêm identificados com esse Senhor Jesus que há-de voltar para nos oferecer a
vida plena e definitiva. Enquanto caminhamos nesta terra devemos, pois,
manter-nos atentos e vigilantes, fiéis aos ensinamentos de Jesus e
comprometidos com esse Reino que Ele nos mandou construir.
“Estar
preparado” não significa, contudo, ter a “alminha” limpa e sem mancha, para
que, quando nos encontrarmos com o Senhor, Ele não tenha nenhuma falta não
confessada a apontar-nos e nos leve para o céu… Mas significa, sobretudo,
vivermos dia a dia, de forma comprometida e entusiasta, o nosso compromisso
baptismal. “Estar preparado” passa por descobrirmos dia a dia os projectos de
Deus para nós e para o mundo e procurar concretizá-los, com alegria e
entusiasmo; “estar preparado” passa por fazermos da nossa vida, em cada
instante, um dom aos irmãos, no serviço, na partilha, no amor, ao jeito de
Jesus.
Embora o nosso
texto se refira, primordialmente, ao nosso encontro final com Jesus, todos nós
temos consciência de que esse momento não será o nosso único encontro com o
Senhor… Jesus vem ao nosso encontro todos os dias e reclama o nosso empenho e o
nosso compromisso na construção de um mundo novo – o mundo do Reino. Ele faz ecoar
o seu apelo na Palavra de Deus que nos questiona, na miséria de um pobre que
nos interpela, no pedido de socorro de um homem escravizado, na solidão de um
velho carente de amor e de afecto, no sofrimento de um doente terminal
abandonado por todos, no grito aflito de quem sofre a injustiça e a violência,
no olhar dolorido de um imigrante, no corpo esquelético de uma criança com
fome, nas lágrimas do oprimido… O Evangelho deste domingo avisa-nos que não
podemos instalar-nos no nosso egoísmo e na nossa auto-suficiência e recusar-nos
a escutar os apelos do Senhor.
A história das
jovens “insensatas” que se esqueceram do essencial faz-nos pensar na questão
das prioridades… É fácil irmos “na onda”, preocuparmo-nos com o imediato, o
visível, o efémero (o dinheiro, o poder, a influência, a imagem, o êxito, a
beleza, os triunfos humanos…) e negligenciarmos os valores autênticos. Mateus,
com algum dramatismo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a
participação no banquete do Reino. O objectivo da catequese de Mateus não é
dizer-nos que, se não nos portarmos bem, Deus nos castiga com o inferno; mas é
alertar-nos para a seriedade com que devemos avaliar as nossas opções, de forma
a não perdermos oportunidades para nos realizarmos e para chegarmos à felicidade
plena e definitiva.
Fonte: resumo e
adaptação de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”