sábado, 19 de abril de 2014

NÃO TEMAIS. NÃO ESTÁ AQUI. RESSUSCITOU COMO TINHA DITO. Homilia de D. Francisco Lerma na Noite Santa da Vigília Pascal

NÃO TEMAIS. NÃO ESTÁ AQUI. RESSUSCITOU COMO TINHA DITO. IDE.
 
1.-Esta celebração é coroação de toda a liturgia cristã, centro do ano litúrgico, a mais antiga, a mais sagrada, a mais rica de todas as celebrações, a mãe de todas as celebrações (S. Agostinho).

2.- Nesta noite, os cristãos reunimo-nos para celebrarmos na esperança e na alegria, o grande acontecimento da salvação, pelo qual Jesus Cristo, depois da sua paixão e morte na Cruz, ressuscitou. Ele está vivo, não ficou no sepulcro, Ele venceu a morte, Ele é o Salvador de todos nós. O Poder do mal foi destruído para sempre. No meio de tanta tristeza e sofrimento do tempo presente, temos a certeza da feliz vitória final. Por isso nós, os cristãos, esperamos contra toda prova, na vitória final em Cristo. Ele é o Senhor da Glória que com o seu poder nos salva de todo o mal. Essa é alegria que nos enche esta noite e que proclamamos a todo o mundo.

3.- Mas a nossa espera na vitória final, não é uma espera estática, passiva, de braços cruzados como se estivéssemos a ver o que é que vai acontecer. Não. Trata-se de uma esperança dinâmica, activa, que nos compromete dia a dia. Trata-se de um movimento contínuo. A Páscoa significa isso mesmo “PASSAGEM”. Como a primeira Pascoa do Povo Israelita, “passagem da escravidão” do Egipto a caminho da terra da promessa. Nós somos esse novo povo de Israel que caminhamos rumo ao futuro, caminhando dia a dia, trabalhando dia a dia, comprometendo-nos dia a dia com a construção de uma sociedade nova, do homem novo, deixando atrás a vida antiga do mal e do pecado, alimentando-nos do fermento novo que nos renova interiormente e nas nossa relações familiares e sociais. Deixemos o fermento do mal, do egoísmo, da soberba, do poder, da violência, da morte, do abuso dos outros para os interesses privados.

4.- A nossa espera é a espera vigilante d’Alguém que vem ao nosso encontro. Como um sentinela, como o servo que espera atento á vinda do seu senhor, a espera do noivo que está para chegar, a espera vigilantes das virgens que esperam com as luzes acesas o esposo que está para chegar. Vigilantes na fé, construindo no amor, esperando no compromisso diário.

5.- Esta PASSAGEM realiza-se em primeiro lugar no Baptismo. Por isso esta noite celebramos especialmente este Sacramento. Ser baptizado é, na verdade, morrer com Cristo, para ressuscitar com Ele. A Água do baptismo é como a água do mar vermelho que traga as forças do mal e liberta o Povo da escravidão; é o sepulcro que onde é deposto o homem velho do pecado e sai o homem novo da graça.

Por isso, desde os tempos mais antigos do cristianismo a Igreja celebra nesta NOITE O Baptismo dos seus novos filhos, os catecúmenos; e leva todos nós, os já baptizados a reviver o próprio baptismo tomando consciência dos nossos compromissos e promessas baptismais.

6.- NAS LEITURAS ENCONTRAMOS ESTES ENSINAMENTOS ESSENCIAIS:

1.       Génesis: nesta leitura descobrimos a dignidade de toda a pessoa, criada a imagem e semelhança de Deus, a igualdade fundamental de todas as pessoas, como filhos e filhas de Deus, o fim de toda discriminação seja qual for o seu fundamento (racial, de género, de condição social ou religiosa.

2.       Nos profetas descobrimos a grandiosa vocação que a todos nos envolve na solidariedade universal graças ao Espírito santo que concede a todos os que o aceitam. E, ao mesmo tempo, lembram-nos estas leituras a força da Palavra de Deus como fonte de vida como uma via para reencontrar a paz, a sabedoria e a vida, que tantas vezes ignoramos ou combatemos com o nosso proceder.

3.       E no fim, os Profetas lembra-nos a diferença entre o agir de Deus e o nosso próprio agir. Deus promete e concede sempre o seu perdão, a sua consolação, a fidelidade à sua Aliança, apesar das nossas infidelidades.

4.       No Novo Testamento (Romanos), o Apóstolo lembra-nos a vida nova do Baptismo. A semente de vida que é semeada na pessoa baptizada, devemos cultiva-la dia a dia, até fazê-las crescer plenamente, até ao encontro definitivo com Deus depois da nossa morte. Neste sentido, os cristãos somos chamados a lutar a batalha, o bom combate da fé, dano testemunho no meio do nosso mundo.

5.       Já no Evangelho, descobrimos a grande alegria das mulheres ao ouvir o anúncio do Anjo: NÃO TEMAIS. NÃO ESTÁ AQUI. RESSUSCITOU COMO TINHA DITO. IDE.

Estas piedosas mulheres são as primeiras missionárias do Evangelho. Desde então todos nos, com a nossa vida e com as nossa palavras, devemos ir ao mundo e anunciar a ressurreição do Senhor. Ele está vido. Ele é o nosso salvador e libertador.

Gurúè, 20.04,2014

Vosso Bispo

Francisco

quarta-feira, 16 de abril de 2014

"O SACERDOTE: A SUA IDENTIDADE". Homilia de D. Francisco Lerma na Missa Crismal na Catedral de Gurúè


O SACERDOTE: A SUA IDENTIDADE

D. Francisco com os seminaristas do Seminário Propedêutico S. José de Gurúè

Missa Crismal. IV Feira Santa na Catedral de Gurúè


1.-Modelado por Cristo Pastor

Para sabermos o que é o Padre devemos conhecer primeiro Cristo e Cristo Pastor. Só a partir de Cristo é poderemos ter uma imagem do que os sacerdotes  devemos ser, da nossa própria identidade.

O Pastor cuida, responsabiliza-se, lidera e guia, cura e liga as feridas, está sempre à disposição das suas ovelhas, sempre disposto a ajuda-las, dá-se a elas, conhece-as e elas conhecem-no, elas podem confiar totalmente nele, ele ama-as.

Isto quer dizer que o Padre não é mais uma pessoa para si próprio, com o seu próprio tempo, os seus interesses pessoais, o seu espaço onde mais ninguém pode entrar.

Ele pertence ao povo, à Igreja, sempre disponível à chamada das ovelhas.

Ele poderá ser um pai cuidadoso mas não um patrão: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos (Mc 10,45).

Se o Padre age em nome de Cristo deverá entender a liderança como Cristo a entendeu, a saber “liderança como serviço”.

O Sacerdote não deve ser  o homem de poder com o qual oprime os outros membros da Igreja.

O Sacerdote torna presente Cristo na Palavra, nos Sacramentos e no governo das ovelhas.

Mas ele não proclama as suas opiniões pessoais, mas a palavra de Deus; Ele deve amar o povo que lhe é confiado.

2.-Solicitude pastoral que precisa de maturidade humana.

O sentido de responsabilidade precisa de ser desenvolvido. Isto implica ser confiável, honesto, íntegro.

 Deve ter capacidade de ouvir respeitosamente pessoas de todas as condições. Enquanto Padre ele poderá esperar ser respeitado, mas será ele também capaz de mostrar respeito pelo povo com quem trabalha.

3.- O sacerdócio é essencialmente uma realidade relacional. (PDV 12)

No seu relacionamento com os cristãos e com os demais sacerdotes e com o Bispo não pode comportar-se como se fosse “uma pessoa sem familiares”, um indivíduo isolado da comunidade, da paróquia e do presbitério. Um padre não é para si próprio, mas para os outros. Um é uma pessoa que se libertou do isolamento, saiu fora de si para se doar aos outros. Um Padre autêntico nunca está só!. Para o Padre significa uma tripla relação relação espiritual com Cristo, relação fraternal com os demais sacerdotes e o Bispo, e relação paternal com os cristãos.

Nenhum presbítero pode realizar suficientemente a sua missão isoladamente, mas só um esforço comum com os outros presbíteros e com os cristãos e com o Bispo (PO 7).

A solicitude pastoral do padre diocesano não é um assunto individual, mas coloca o Padre numa relação de fraternidade com os outros padres e o bispo, isto é o Presbitério Diocesano, fraternidade sacerdotal.

Cristo não entregou a sua missão a uma só pessoa, mas a um grupo colectivo, os doze apóstolo que Ele chamou e enviou juntos. Pelo que esta fraternidade apostólica e sacerdotal  não é algo exclusivo dos religiosos. Pertence à essência do sacerdócio católico. As formas é que podem varia, mas os conteúdos são evangélicos.

A fraternidade sacerdotal nã é baseada em amizade, nacionalidade ou região de origem ou interesses comuns . O Nº 8 da Presbyterorum Ordinis ensina que “os Padres em virtude da ordenação sacerdotal estão unidos entre eles numa íntima irmandade sacramental.

 A este respeito, o Bispo Sithembele Sipuka, de Umthatha, numa palestra aos seus sacerdotes disse: “Uma vez ordenado, eu não posso decidir viver, trabalhar e associar só com aqueles cuja personalidade se coaduna com a minha”.

Os Padres que se excluam pessoalmente desta realidade fraternal e se retira para um “isolamento confortável “ colocam-se a eles próprios e ao povo que lhes é confiado em grande risco. Precisamente porque p trabalho é duro, as distância geográficos são grandes, o padre precisa da ajuda dos outros irmãos sacerdotes, precisam partilhar as alegrias e as tristezas com os seus irmãos para tornarem a sua carga mais leve.

Gurúè 16.04.2014. IV Feira Santa. Missa Crismal

Vosso Bispo

Francisco

terça-feira, 15 de abril de 2014

CARTA PASTORAL DE DOM FRANCISCO SOBRE A FORMAÇÃO DOS ANIMADORES


IV Carta Pastoral de D. Francisco

ESTAVA  A  ENSINAR  OS  SEUS  DISCÍPULOS” (Mc 9,31)
INTRODUÇÃO

A formação dos animadores da pastoral na Igreja foi sempre um assunto de capital importância na Igreja. Desde os tempos apostólicos até aos nossos dias de hoje a Igreja sempre dedicou particular cuidado na preparação dos agentes de Pastoral a todos os níveis; Bispos, Sacerdotes, Religiosas e Religiosos e Leigos empenhados directamente no apostolado.

Foi sempre um dos deveres constantes da Igreja que, através dos tempos, foi assumindo modos diferentes consoante os lugares, as culturas e as circunstâncias históricas do momento.

Deste modo, surgiram as mais diversas instituições e modos de responder a tão importante assunto na vida da Igreja. Nasceram os Seminários para a formação dos Padres, as Casas de Formação para as Religiosas e Religiosos, os Centros de Formação e os Catequistados para os leigos comprometidos na actividades pastorais.

Na nossa história particular, constamos que a Igreja na Zambézia desde a sua organização como Diocese de Quelimane (1940) e, posteriormente como Diocese de Gurúè (1963), desenvolveu a aprofundou uma série de iniciativas para responder a este desafio fundamental da FORMAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS DAS COMUNIDADES. Sã prova disso os Catequistados de Coalane e de Nauela, as Equipas de Formação que constantemente realizaram Cursos nas Regiões Pastorais e nas Paróquias. A este esforço extraordinário se deve a criação das pequenas comunidades, da restauração do Catecumenado, dos ministérios, a formação dos ministros a todos os níveis, elaboração dos novos Catecismos e demais subsídios para a Catequese e para a formação dos ministérios, a tradução da Bíblia, do Missal (Nsu na Apwiya) e do livro de Orações (Mavekelo).

Perante tão desafiante panorama, a VI Assembleia Diocesana escolheu a FORMAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS DAS COMUNIDADES A TODOS OS NÍVEIS como o objectivo principal para o Ano de 2014, terceiro ano do Triénio Pastoral (2012 – 2014).

Reafirmamos o interesse e o compromisso da nossa Diocese no campo da formação das comunidades e dos seus animadores, fiéis â tradição dos nossos antecessores na evangelização nesta parcela da Igreja.

 1.- Jesus formador de apóstolos

Desde os primeiros momentos da sua vida pública, Jesus preocupou-se pela preparação dos discípulos que, mais tarde enviaria a evangelizar, continuando assim a sua obra no mundo.

Em primeiro lugar constatamos que Ele teve a iniciativa de os chamar e escolher. O chamamento é de Jesus, vem de Deus e não da própria pessoa. Deus é quem chama:

“Jesus subiu ao monte e chamou os que desejava escolher. E foram ter com Ele”(Mc 3,13).

 “Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi. Eu destinei-vos para irdes e dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16).

Jesus começa por reuni os chamados, formar um grupo à parte para conviver com Ele, partilhar da sua vida, para eles virem de perto e conhecerem o Mestre, isto é, estabelecerem com Ele laços de amizade e de comunhão, pois não se trata de uma profissão ou de um emprego:

“Então Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com Ele e os enviar a pregar! (Mc3,14).

“Jesus vendo que O seguiam, perguntou: “Que procurais?”. Eles disseram: “Mestre, onde moras?”. Jesus respondeu: “Vinde e vede”. Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com Ele naquele mesmo dia.(Jo 1,38-39).

“O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossa mãos apalparam… é o que vos anunciamos”( 1Jo 1,1).

Criadas as mínimas condições de um grupo permanente, motivado e disponível para seguí-Lo e escutar a sua palavra, Jesus começa a instruir os seus discípulos com ensinamentos apropriados para a missão que iriam receber:

“Quando estava sozinho com os discípulos, Ele explicava-lhes tudo” (Mc 4,34).

“Jesus não queria que ninguém soubesse onde Ele estava porque estava a ensinar os seus discípulos” (Mc 9, 30-31).

Ao mesmo tempo ensinou-lhes a orar com o exemplo e com a palavra:

“Logo depois de se despedir da multidão, subiu ao monte para rezar” (Mc 6,46).

“De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-Se e foi rezar num lugar deserto (Mc 1,35).

Jesus, quando os considerou minimamente preparados, enviou-os a evangelizar embora não fosse ainda o envio definitivo, o que aconteceria depois da sua morte e ressurreição. Os discípulos são enviados para continuarem a missão de Jesus: pedir a mudança de vida, libertar as pessoas de todo mal e restaurar a vida humana. Os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes das dificuldades que vão encontrar no seu serviço:

  “Jesus começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados. Chamou os Doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois” (Mc 6, 6-7).

“Eu, que sou o mestre e o Senhor, lavei-vos os pés; por isso vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo: Deveis fazer a mesma coisa que Eu fiz.” (Jo 13, 14-15).

Depois da Sua ressurreição, enviou-os por todo o mundo a continuar a Sua obra. Trata-se do mandato final e universal:

“Ide e fazei com que todos os povos se torne Meus discípulos, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho e do espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 19-20).

2.- A formação dos responsáveis na Igreja primitiva

Os Apóstolos, fiéis ao que ouviram e viram no próprio Jesus, saíram de Jerusalém a cumprir o mandato que receberam de ir por todo o mundo e anunciar o Evangelho. Nesta grande tarefa era necessário preparar bem as pessoas que iriam colaborar para o desempenho da mesma. Por isso, desde o primeiro, consideraram prioritário a formação dos responsáveis que foram colocando em cada uma das primeiras comunidades que surgiram como fruto da evangelização.

São Paulo, no meio das suas viagens apostólicas e para consolidar as comunidades que fundou, dedicou especial cuidado na formação dos que iriam assumir o cuidado e a direcção das mesmas. Deixou-nos um grande testemunho deste trabalho de formador com o exemplo e com os seus escritos. Lembremos apenas o que ele escreve a Timóteo e a Tito, ensinamentos que devem orientar a formação dos nossos animadores hoje::

“Toma como modelo as palavras quer ouvistes de mim, com a fé e o amor que estão em Jesus Cristo. Guarda o bom depósito da fé com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós” (2 Tim 1, 13-14). 

“ O que ouvistes de mim na presença de muitas testemunhas, transmite-o a homens de confiança que, por sua vez, estejam em grau de o ensinar aos outros” (2 Tim 2,2).

“Eu deixei-te em Creta para que cuidasses de organizar o que ainda restava pra fazer, e para que nomeasses m cada cidade os presbíteros das Igrejas, conforme as instruções eu te deixei: o candidato deve ser irrepreensível, esposo de uma só mulher,,,, não arrogante, nem beberrão ou violento, nem ávido de lucro desonesto…; deve ser hospitaleiro, bondoso, ponderado, justo, piedoso, disciplinado, e de tal modo fiel à fé verdadeira, conforme ao ensinamento transmitido” (Tito 1,5-9).

“Quanto a ti, ensina o que é conforme à sã doutrina” (Tito 2,1).

3. A Igreja forma na fidelidade aos ensinamentos da Tradição: Os conteúdos fundamentais da formação.

Ao longo dos tempos, a Igreja formou os seus responsáveis segundo o exemplo e os ensinamentos recebidos da Tradição apostólica, enriquecidos pelo Magistério dos Papas e dos Bispos através dos Concílios, dos Sínodos, da reflexão teológica, dos acontecimentos históricos e dos contextos culturais.

Além da formação de todos os cristãos, a formação dos responsáveis pelos vários serviços e trabalhos das comunidades exige uma formação específica, que tenha em conta os fundamentos do trabalhador do Evangelho e os ministérios que ele vai assumir na própria comunidade.

·        A formação do apóstolo implica, em primeiro lugar, uma formação humana integral e adaptada às capacidades da pessoa e às condições do tempo presente e das nossas comunidades.

·        A formação deve ter o seu fundamento e, por isso, cultivar nos animadores, a fé em Cristo, a sua vivência cristã através dos conhecimentos das verdades da fé e do próprio testemunho de vida. Este conhecimento de Cristo adquire-se na prática da leitura, da reflexão e da oração pessoal e litúrgica. O Papa Francisco lembra-nos que “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais” (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, nº 264).

·        Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que rezam e trabalham, escreve o Papa Francisco, E acrescenta: “É preciso cultivar sempre um espaço interior que dé sentido cristão ao compromisso e à actividade. Sem este compromisso de vida as tarefas se esvaziam de significado” (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, nº 262).

·        Na formação dos animadores deve-se pôr na devida evidência o sentido de pertença à Igreja e o testemunho da fé com os outros irmãos, o o espírito de serviço a exemplo do Mestre que veio para servir e não para ser servido;

·        É necessária que a instrução seja doutrinal que compreenda a Sagrada Escritura, a teologia, a moral cristã, a liturgia, a Doutrina Social da Igreja, a pedagogia catequética, os elementos essências da psicologia e  própria cultura, a política e as ciências sociais.

·        A formação deve cuidar e desenvolver no animador as relações humanas, a convivência, colaboração e o diálogo, virtudes necessários a um líder comunitário, que deve estar atento a despertar e animar a colaboração dos membros da comunidade, Deve aprender a não trabalhar sozinho.

4. Caminhada na Igreja em Moçambique

Na caminhada iniciada com a I Assembleia Nacional de Pastoral (Beira 1977) deu-se especial relevo a Formação dos Responsáveis das comunidades como fundamental para ávida, organização e actividades das comunidades, paróquias e Diocese (I ANP nº 12).

Esta prioridade foi reafirmada nas duas Assembleias seguintes e considerada necessária, urgente e que deve continuar uma prioridade que merece um aprofundamento e desenvolvimento permanente e contextualizado. Deve ser uma exigência para todos e todos devemos colaborar (Bispos, Padres, religiosas e Religiosos, Leigos), ninguém pode sentir-se excluído ou à margem desta caminhada (II ANP, Nº 26; e III ANP, III, 8-24).

5. Na nossa Diocese: VI Assembleia Diocesana.

A nossa VI Assembleia Diocesana (Gurúè 2011) constatou-se que apesar de todo o esforço e dedicação e sacrifício dos anos passados e ainda recentes desde a I Assembleia Nacional de Pastoral (1977) até aos nossos dias, “não poucas são as realidades que mancham a caminhada na Igreja ministerial, tais como: prestígio e poder, o provisório visto como definitivo, a diminuição da confiança e da responsabilidade, inveja, medo e grupismo” (VI Assembleia Diocesana, 2011, Conclusões III,4).

A Assembleia considerou três pilares fundamentais para a Formação, a saber: a Oração, a Palavra e o Serviço. Sem eles é impossível preparar adequadamente os responsáveis das comunidades. Sem o contacto e diálogo pessoal com o Senhor através da oração, individual e comunitária; sem conhecermos a sua Palavra através da leitura, do estudo e da reflexão; e sem espírito de serviço na realização dos ministérios que nos são confiados não conseguiremos superar as “realidades que mancham os nossos ministérios” a que nos referimos no parágrafo anterior, citando as Conclusões da Assembleia.

Para alcançarmos o objectivo que a Assembleia se propôs de Formar adequadamente os Animadores das Comunidades, é imprescindível insistir no sentido de pertença à Igreja (VI AD, Conclusões III, 5). Se não nos convencermos e sentirmos que a Igreja somos nós; que a Igreja é a nossa família como crentes e baptizados; que todos somos em pé de igualdade membros da Igreja com os mesmos direitos e deveres; que na Igreja (como nas nossas famílias) nenhum membro é empregado, todos igualmente somos irmãos; que na Igreja cada um tem o seu lugar de tal maneira ninguém é tão pequeno que se possa sentir excluído; que os trabalhos da comunidade pertencem-nos a todos; que todos somos responsáveis por tudo o que se faz e acontece na comunidade; então se não nos convencermos quem é assim que deve viver a comunidade cristã, então será muito difícil e até impossível acabar com as realidades que mancham a nossa caminhada ministerial.

É mais. A nossa VI Assembleia fala também que na nossa caminhada na formação dos animadores e em ordem superarmos os males apontados anteriormente, se deve ter em conta que o caminho passa necessariamente pelo testemunho da fé com os outros irmãos e no amor à Igreja que se fundamenta no amor a Cristo (VI AD, III, nº5). São verdades que todos conhecemos mas é necessário repeti-las mais uma vez e tê-las na devida consideração pois são fundamentais nesta grande tarefa de formar os responsáveis das comunidades, pois não se trata apenas de uma formação técnica como se de uma profissão se tratasse ou de um ensinamento teórico para fazer melhor uma determinada tarefa nas comunidades. Trata-se de formar de tal maneira os animadores das comunidades que eles se sintam colaboradores íntimos de Cristo Pastor na condução do seu rebanho. E, ao mesmo tempo, que a sua tarefa não é um trabalho para ser feito de maneira isolada ou à margem dos outros animadores e, pior ainda, à margem dos outros cristãos. Os ministérios são feitos em colaboração e união com os outros e tem como objectivo o bem da comunidade e o testemunho cristão no meio da sociedade. Sem testemunho da fé  unidos aos outros irmãos e sem amor à Igreja à qual pertencemos é impossível termos e formarmos os responsáveis que as nossas comunidade necessitam.

6. Programação das Actividades para o Ano da Formação

Nesta altura em que vos escrevo, o Programa de Actividades para o Ano da Formação está já em andamento e mui avançado.

Nesta primeira fase, no mês de Março e princípios deste mês de Abril realizaram-se encontros de Formação organizados pelo Secretariado Diocesano de Pastoral, e com a colaboração de alguns Padres, Irmãs e Leigos, em cada uma das Quatro Regiões Pastorais: Em Invinha, Muliquela, Malua e Mualama. As notícias são encorajantes pelo número de participantes, pela colaboração de tantas pessoas e pelos temas desenvolvidos. Houve também algumas falhas, como acontece sempre em qualquer obra humana. Algumas das nossas Paróquias e Capelanias não conseguiram enviar os seus animadores aos encontros programados. Espero que esta e outras falhas se possam superar nos próximos encontros até ao fim do ano.

CONCLUSÃO

Os frutos que esperamos não serão imediatos. Como todo processo formativo precisa de tempo suficiente para assimilar e, depois, por em prática os ensinamentos recebidos. Confiamos no Secretariado Diocesano a seguir pelo caminho apenas traçado. É necessário inverter mais na formação dos responsáveis pelos vários ministérios e serviços se queremos consolidar a Igreja local em vistas de um renovado esforço na evangelização. Temos que “sair” das nossas comunidades e irmos ao encontro dos nossos irmãos que anseiam por verdade e vida, por uma verdadeira libertação. Toda a nossa Diocese sente-se em estado de Missão.

Com Maria, Mãe da Igreja evangelizadora, poderemos compreender o espírito deste novo impulso missionário na nossa Diocese. À Mãe do Evangelho, como a chama o Papa Francisco, pedimos a sua intercessão para que esta nova etapa pastoral na Diocese seja acolhida por todas as comunidades, padres, religiosas e religiosos e leigos comprometidos na evangelização. A todos a minha bênção e conforto de pastor.

 Gurúè, 21 de Abril de 2014, Solenidade da Páscoa do Senhor. Aleluia!

O Vosso Bispo
FRANCISCO

segunda-feira, 14 de abril de 2014

ABERTURA OFICIAL DA EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE CATÓLICA NO GURÚÈ



Homilia de D. Francisco na Abertura da Extensão de Gurúè da Universidade Católica de Moçambique
O Presidium da Cerimónia de Abertura: Autoridades civis e académicas com D. Francisco

O POR QUE DA PRESENÇA DA UCM NA DIOCESE DE GURÚÈ?
 
Os parrticipantes na Cerimónia de Abertura
A igreja Católica em Moçambique e em e todo o mundo, desde a primeira hora tem estado empenhada não somente na proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, mas também na proclamação do desenvolvimento integral e da reconciliação de todos os homens, incluindo as novas gerações e das culturas de ada um dos Países onde ela está presente e actua. (CEM).

A Igreja mostrou sempre grande interesse pelas escolas, tanto de grau inferior como superior, porque nelas se vai abrindo a mente das pessoas e se educa eficazmente o seu espírito. Nelas o aluno tem a possibilidade de adquirir não só a cultura e a formação humana, mas também o espírito do Evangelho. (Gravissimum Educationis)

Uma das preocupações principais da Igreja tem sido a formação, a todos os níveis, de profissionais competentes e comprometidos com o bem comum.
Na educação está a chave do futuro das sociedades humanas.
A Igreja reconhece a necessidade imperiosa de se servir da educação para orientar os homens de hoje na construção do Reino de Deus.

É nobilíssima a tarefa de educar as novas gerações, exige mesmo uma simbiose com a largueza de vistas e o espírito de criatividade de cada educador.
O Concílio recomenda vivamente que sejam instituídas Universidades e faculdades Católicas convenientemente distribuídas pelas diversas partes do mundo. Importa que elas se imponham não tanto pelo número, mas sobretudo pelo seu valor científico.
Importa igualmente que  o acesso às mesmas se torne mais fácil para os alunos que  ofereçam  maiores  esperanças, embora de menos recursos económicos.
A  Igreja e o ensino superior
Em cada disciplina se cultive de acordo com os princípios que lhe são peculiares, com os seus próprio método e com a liberdade própria da investigação científica, de forma que se vá adquirindo uma compreensão cada vez mais profunda dessas disciplinas e, dando maior atenção a problemática e à investigação modernas, se consiga uma visão mais clara de como a fé e a razão convergem para a verdade única.

Os alunos poderão formar-se como homens verdadeiramente notáveis pela doutrina, preparados para desempenharem as funções mais importantes na sociedade e dando testemunho da sua fé no mundo.
A nossa presença no mundo universitário proporcionaria aos próprios intelectuais a oportunidade de se tornarem, por sua vez, evangelizadores do seu próprio ambiente.
As Universidades aõ laboratórios das elites de amanhã, que hão-de governar o Pais. Se os Governantes forem de convicções sadias, certamente que a vida da Nação será também qualitativamente mais sã.

Uma instituição o género se justifica pela necessidade de Moçambique se dotar de quadros qualificados, cada vez mais numerosos, formados no seu próprio meio ambiente (III Assembleia Nacional de Pastoral, Matola 205, Conclusões, nº 16).

 Neste momento de reconstrução nacional e luta contra todo tipo de miséria rumo ao desenvolvimento global das pessoas e da sociedade, a Igreja quer contribuir de maneira construtiva para a realização de serviços de Ensino Superior em todo o Pais, sobretudo nas Regiões onde esses serviços de Ensino Superior são notavelmente escassos ou inexistentes, como é o caso da Alta Zambézia e dos dez Distritos abrangidos pela Diocese de Gurúè.

A Igreja quer oferecer uma oportunidade adicional de formação superior è população juvenil em contínuo crescimento que não pode receber atendimento adequado pelas instituições existentes no País.

Movida por essas necessidades e pelo sentido de profunda responsabilidade em contribuir para uma reconstrução e desenvolvimento mais equilibrados e simétricos  da sociedade moçambicana, inspirada nos ideias cristãos do desenvolvimento integral do homem (Cfr. Paulo VI: Populorum Progressio), e de serviço ao bem comum, a Diocese de Gurúè, após ter estudado o problema em diversas reuniões e encontros dos seus responsáveis (Colégio dos Consultores Diocesanos, Conselho Presbiteral e Assembleias Gerais e do Secretariado de Pastoral), tem trabalhado intensamente durante os três últimos anos para que se tornasse uma realidade o Ensino Superior nesta Região.
Esta celebração, com a qual inauguramos a Extensão da Universidade Católica de Moçambique na Diocese de Gurúè, tem em vista os docentes, o discentes e ainda todos os que de algum modo estão ao serviço da universidade, assim como a comunidade em cujo proveito ela é erigida

Gurúè, aos 14 de Abril de 2014.
+ Francisco Lerma Martínez
   Bispo de Gurúè

domingo, 13 de abril de 2014

CERIMÓNIA DE ABERTURA DA EXTENSÃO de GURÚÈ DA UNIVESIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

A Direcção da Extensão de Gurúè Universidade Católica de Moçambique vem por este maio convidar todos os amigos e demais interessados para participar na Cerimónia de Abertura da Universidade Católica de Moçambique no Gurúè e do Ano Académico 2014, que vai se realizar no dia 14 de Abril do presente ano, elas 09h30, no Auditório da Escola de Artes e Ofícios Leon Dehon de Gurúè. A mesma será anetcedida pela Celebração Eucarística na Catedral de Gurúè, presidida por D. Francisco Lerma Martínez, Bispo da Diocese.