3º Domingo
da Páscoa Ano A
A liturgia
deste domingo convida-nos a descobrir esse
Cristo vivo que acompanha os homens pelos caminhos do mundo, que com a sua
Palavra anima os corações magoados e desolados, que se revela sempre que a
comunidade dos discípulos se reúne para “partir o pão”; apela, ainda, a que os
discípulos sejam as testemunhas da ressurreição diante dos homens.
A primeira
leitura (Actos 2,14.22-33), mostra (através da história de Jesus) como do amor que se faz dom a Deus
e aos irmãos, brota sempre ressurreição e vida nova; e convida a comunidade de
Jesus a testemunhar essa realidade diante dos homens.
: Deus
ressuscitou Jesus e não permitiu que a morte O derrotasse… A ressurreição de
Cristo prova que uma vida gasta ao serviço do plano do Pai, na entrega aos
homens, Uma vida que se faz dom nunca é um fracasso; uma vida vivida de forma
egoísta e auto-suficiente, à margem de Deus e dos outros, é que é fracassada,
pois não conduz à vida em plenitude.
A Igreja é
hoje, no mundo, a testemunha da proposta de salvação que Cristo fez; ela deve
dizer a todos os homens o que aconteceu com Cristo e como Ele mostrou que a
vida plena resulta do amor e do dom da vida. Sentimo-nos investidos dessa
missão? Os homens desiludidos e desorientados encontram em nós – testemunhas de
Cristo ressuscitado – uma proposta de vida definitiva e de realização plena?
Somos nós que contaminamos o mundo e lhe oferecemos uma alternativa à
desilusão, ou é o mundo que nos convence a viver de acordo com valores
diferentes dos de Jesus?
A segunda
leitura (1 Pedro 1,17-21), convida a contemplar com olhos de ver o projecto salvador de Deus, o amor
de Deus pelos homens (expresso na cruz de Jesus e na sua ressurreição).
Constatando a grandeza do amor de Deus, aceitamos o seu apelo a uma vida nova.
O nosso texto convida-nos, antes de mais, a
contemplar o imenso amor de Deus pelos homens. Esse amor traduziu-se no envio
do próprio Filho (Jesus Cristo), com uma proposta de salvação. Da fidelidade do
Filho ao projecto do Pai resultou o seu confronto com o egoísmo e o pecado e a
morte na cruz. Não há maior expressão de amor do que entregar a vida em favor
de alguém; e é dessa forma que Deus nos ama. Temos consciência disso?
Da contemplação do amor de Deus tem de
resultar uma resposta nossa. Segundo o autor da Primeira Carta de Pedro, essa
resposta deve traduzir-se numa conduta nova de obediência a Deus, de entrega
incondicional nas mãos de Deus, de adesão completa aos seus planos, valores e
projectos. O amor de Deus inspira-me e motiva-me para viver – com coerência e
fidelidade – os seus valores?
O mundo em
que vivemos potencia mais o egoísmo e a auto-suficiência do que o amor e a
doação… Os homens do nosso tempo vivem, de forma geral, voltados para si
mesmos, para os seus pequenos interesses pessoais e para a realização imediata
dos seus sonhos, desejos e prioridades. Nós, os crentes, no entanto, somos
convidados a viver e a anunciar a lógica de Deus, que é a lógica do amor e da
entrega da vida até às últimas consequências. Qual é a lógica que domina a
minha vida e que eu transmito nas minhas palavras e nos meus gestos: a lógica
do amor, da entrega, da doação até às últimas consequências, ou a lógica do
egoísmo, do orgulho, do amor-próprio?
É no
Evangelho (Lc 24,13-359, sobretudo, que esta mensagem aparece de forma nítida. O texto que nos é
proposto põe Cristo, vivo e ressuscitado, a caminhar ao lado dos discípulos, a
explicar-lhes as Escrituras, a encher-lhes o coração de esperança e a sentar-Se
com eles à mesa para “partir o pão”. É aí que os discípulos O reconhecem.
• Na nossa
caminhada pela vida, fazemos, frequentemente, a experiência do desencanto, do
desalento, do desânimo. As crises, os fracassos, o desmoronamento daquilo que
julgávamos seguro e em que apostámos tudo, a falência dos nossos sonhos
deixam-nos frustrados, perdidos, sem perspectivas. Então, parece que nada faz
sentido e que Deus desapareceu do nosso horizonte… Jesus, vivo e ressuscitado,
caminha ao nosso lado. Ele é esse companheiro de viagem que encontra formas de
vir ao nosso encontro – mesmo se nem sempre somos capazes de O reconhecer – e
de encher o nosso coração de esperança.
• Como é que
Ele nos fala? Como é que Ele faz renascer em nós a esperança? Como é que Ele
nos passa esse suplemento de entusiasmo que nos permite continuar? Lucas
responde: é através da Palavra de Deus, escutada, meditada, partilhada,
acolhida no coração, que Jesus nos indica caminhos, nos aponta perspectivas
novas, nos dá a coragem de continuar, depois de cada fracasso, a construir uma
cidade ainda mais bonita. Que lugar é que a Palavra de Deus desempenha na minha
vida? Tenho consciência de que Jesus me fala e me aponta caminhos de esperança
através da sua Palavra?
• Quando é
que os olhos do nosso coração se abrem para descobrir Jesus, vivo e actuante?
Lucas responde: é na partilha do Pão eucarístico. Sempre que nos sentamos à
mesa com a comunidade e partilhamos o pão que Jesus nos oferece, damo-nos conta
de que o Ressuscitado continua vivo, caminhando ao nosso lado, alimentando-nos
ao longo da caminhada, ensinando-nos que a felicidade está no dom, na partilha,
no amor. Sempre que nos juntamos com os irmãos à volta da mesa de Deus,
celebrando na alegria e na festa o amor, a partilha e o serviço, encontramos o
Ressuscitado a encher a nossa vida de sentido, de plenitude, de vida autêntica.
• E quando O
encontramos? Que fazer com Ele? Lucas responde: Temos de levá-l’O para os
caminhos do mundo, temos de partilhá-l’O com os nossos irmãos, temos de dizer a
todos que Ele está vivo e que oferece aos homens (através dos nossos gestos de
amor, de partilha, de serviço) a vida nova e definitiva.