sábado, 26 de maio de 2018

Sábado – 7ª Semana –Tempo Comum – Anos Pares


Sábado – 7ª Semana –Tempo Comum – Anos Pares
Primeira leitura: Tiago 5, 13-20
Tiago termina com um pensamento final, que não se apresenta como conclusivo. Se não se deve invocar o nome de Deus em vão (cf. Tg 5, 9-12), Deus deve estar sempre presente na vida dos cristãos, que O hão invocar na oração. Toda a nossa existência, nas mais diversas situações, tristes ou alegres, pode e deve ser acompanhada pela oração. Tiago aponta concretamente a situação de doença (v. 14). O fiel doente deve dirigir-se a Deus e aos irmãos para receber a força necessária a essa situação.
O chefes da comunidade, chamados a intervir com orações e gestos precisos pela autoridade que lhes vem do Senhor, revelam uma praxe usada na primitiva igreja. A Tradição fundamenta nessa praxe o sacramento da unção dos enfermos. A intervenção de Deus, invocado na oração comum, toca o homem na sua totalidade, corpo e espírito, «ergue-o» da doença, mas também do pecado (v. 15). Tiago usa o verbo com que é indicada a ressurreição do Senhor, para sublinhar que o Senhor torna participante da sua própria vida aqueles que a Ele se confiam.
Evangelho: Marcos 10, 13-16
A renúncia ao orgulho é outra característica da comunidade messiânica. O episódio da apresentação de alguns meninos a Jesus é significativo e claro a este respeito. Os discípulos pretendiam afastar as crianças, não porque incomodavam Jesus, mas porque, como as mulheres, representavam pouco ou mesmo nada. Segundo a mentalidade comum, de que os discípulos naturalmente também partilhavam, o Reino não era para crianças, mas para adultos, capazes de opções conscientes, de obras correspondentes e de adquirir méritos. Para Jesus, era tudo ao contrário: o Reino é um dom de Deus, que é preciso receber com disponibilidade. As crianças são as pessoas mais disponíveis para acolher dons, porque são pequenos e pobres, sem seguranças a defender ou privilégios a reclamar. Assim devem ser os discípulos de Cristo (v. 15), porque o Reino não é uma conquista pessoal, mas dom gratuito de Deus a esperar e a acolher com simplicidade e confiança. Ao abraçar as crianças, Jesus elimina toda a distância entre Ele e as crianças, e torna-se modelo daquela vida a que se chama «infância espiritual». De facto, dirige-se ao Pai com a palavra «abba», submete-se à sua vontade, abandona-se nas suas mãos.
A primeira leitura faz-nos lembrar o episódio da cura do paralítico que apresentaram a Jesus: Antes de lhe dar a saúde física, Jesus perdoa-lhe os pecados: «Filho, os teus pecados estão perdoados» (Mc 2, 5). De facto, Tiago escreve: «Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados» (vv. 14-15). Esta ligação doença-oração, perdão-cura, é significativa para nós: a doença, lida de modo cristão, é tempo de purificação. Não porque seja necessariamente causada por pecados! Quando os discípulos perguntaram a Jesus, no caso da cura do cego de nascença, se fora ele os pais a pecar, respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus» (Jo 9, 3).
Mas não há dúvida de que a doença seja tempo de dolorosa purificação do egoísmo, e de real solidariedade com quem sofre.
O abraço de Jesus às crianças (v. 16) é simbolo do reino de Deus: é Cristo quem nos torna filhos do Pai e irmãos entre nós. Aquele abraço mostra-nos tudo quanto o nosso coração precisa e deseja. O reino de Deus é uma realidade já presente no meio de nós. Há que acolhê-lo na fé, como crianças, sem a presunção de o construirmos nós próprios. O Reino está aqui. Mas, onde estão as crianças? Onde estão os pequeninos dispostos a deixar-se amar?
Talvez nos tenhamos tornado adultos autosuficientes! Talvez tenhamos construído um «reino» à nossa medida!
Deixemos que a Palavra ecoe dentro de nós: «o Reino de Deus pertence aos que são como eles» (v. 14); «o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1, 15); «quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus» (Jo 3, 3).
A Palavra revela os nossos sentimentos mais secretos, desmascara o nosso orgulho, os nossos cálculos egoístas. Mas não nos deixa desorientados. Cristo dá-se a nós, adultos renascidos, para nos fazer sentir a sua presença, que é vida verdadeira, nos nos acolhe e anima, que nos cura o coração. Cristo presente no meio de nós, aponta-nos o caminho e abre os seus braços para nos acolher, juntamente com tantos irmãos, pecadores como nós, mas que se abandonam confiadamente ao seu amplexo.
O princípio de toda a conversão é o humilde reconhecimento de que somos pequenos, de que somos pecadores: «Os meus olhares pousam sobre os humildes, e sobre os de coração contrito», diz o Senhor em Isaías (66, 2). Com muita sinceridade, no meio dos irmãos, devemos fazer nossa a atitude de Paulo, quando afirma: «Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores dos quais eu sou o primeiro» (1 Tm 1, 15).
Dos muitos convites &agrave
; conversão, que ecoam no NT, prestamos, hoje, particular atenção ao nos traz o evangelho escutado: «Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele» (v. 15; cf. Mt 18, 2-3). Ao pensar nesta conversão, realizada em cada um de nós, Jesus exultou no Espírito Santo dizendo: «Eu Te dou graças, ó Pai… porque escondeste estas coisas (os mistérios do Reino) aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque tudo isso foi do Teu agrado» (Lc 10, 21; TOB). Como é grande a misericórdia, a ternura do Coração de Jesus!
Senhor, pelo baptismo libertaste-me do pecado, deste-me o teu Espírito e entregaste-me nos braços da tua Igreja. Como é grande o teu amor, a tua misericórdia para comigo! Ajuda-me a conservar e a fazer crescer os teus dons.
Que em cada momento, em cada situação, possa dirigir-me a Ti, para saborear a tua presença. Tu és o meu refúgio, também na doença. Que eu saiba aceitá-la com fé e amor, para ser purificado do meu egoísmo.
. Guarda-me nos teus braços e saborearei a tua paz. Se acontecer esquecer-te, e tentar apoiar-me só nas minhas seguranças, ajuda-me a renascer, reconhecendo-me carecido da tua misericórdia, da comunhão contigo e com os meus irmãos.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”

sexta-feira, 25 de maio de 2018


VI -feira – 7ª Semana –Tempo Comum – Anos Pares
Primeira leitura: Tiago 5, 9-12
Tiago volta-se finalmente para toda a comunidade exortando-os a viver o tempo presente de modo positivo e confiante. No meio das injustiças e atropelos, devem erguer os olhos para o Senhor que há-de melhorar a sua situação, quando vier como juiz.
O apóstolo recorda dois exemplos do Antigo Testamento: os profetas e Job. Deus não os desiludiu, nem nos desiludirá a nós, porque «é cheio de misericórdia e compassivo» (v. 11). Há pois que permanecer fiéis à Palavra que devemos anunciar, e perseverar na fé.
Finalmente, para que a esperança da parusia seja um tempo de serenidade e de edificação mútua, Tiago convida, não só a evitar a murmuração, mas também os juramentos (cf Mt 5, 33-37). A nossa palavra há-de ser garantida, não invocando o nome de Deus, mas vivendo com seriedade, autenticidade e transparência.
Evangelho: Marcos 10, 1-12
A comunidade messiânica deve ultrapassar a moral exclusivamente legalista, característica dos fariseus. Eles, com a pergunta sobre o divórcio, querem «experimentá-lo», pô-lo em apuros. O divórcio hebraico era regulado por Dt 24, 1-4, cujo propósito inicial era tutelar a mulher e garantir-lhe uma certa liberdade.
Mas as escolas rabínicas discutiam os motivos de divórcio. As mais liberais achavam que bastava a mulher deixar queimar a comida, ou o marido encontrar outra mais bonita, para haver divórcio. Outras achavam que só o adultério justificava o divórcio. De qualquer modo, o divórcio era concedido pela legislação em vigor com muita facilidade, o que naturalmente acabava por prejudicar a mulher.

Como é seu costume, Jesus responde à questão com outra questão, obrigando os seus interlocutores a aprofundar o sentido da sua objecção. No juízo moral, há que distinguir o que é regra humana, por muito aceitável que ela seja, e a perspectiva de Deus.
As prescrições mosaicas sobre o divórcio reflectem a mediocridade humana e não o projecto primordial de Deus sobre a união do homem e da mulher. A moral farisaica fundamentava-se na não confessada inferioridade da mulher, que era considerada propriedade do homem.
Para Jesus, à luz do Génesis, a união do homem e da mulher é a meta de uma plenitude humana. Não é o homem que toma posse da mulher, nem o contrário, mas, ao casarem, ambos se enriquecem mutuamente. A união matrimonial procede de Deus e é um verdadeiro «sacrilégio» contrapor-lhe um projecto de separação e divergência.

O homem e a mulher levam em si a imagem de Deus-Amor e, ainda que na diferença, são chamados a ser uma só coisa no matrimónio (v. 8). A ninguém é permitido quebrar essa união (v. 9).
O apóstolo Tiago convida-nos a viver com transparência, sem duplicidade nem ambiguidade, de tal modo que as nossas acções sejam credíveis por si mesmas. E lembra-nos que há um passado de que podemos tirar lições úteis para o presente, e que o futuro não é uma realidade nebulosa, longínqua, mas algo que já se constrói hoje e que, de algum modo, já se pode saborear.
A história humana desenrola-se entre dois grandes momentos: o da criação e o da vinda gloriosa de Cristo. No princípio e no fim dos tempos, encontramos o sentido profundo da nossa vida: Deus, que nos chama e nos quer em comunhão com Ele. O tempo presente, por influência das sugestões mediáticas dominantes, pode parecer-nos o hoje absoluto, e fazer-nos cair na tentação de cortar com o passado, como se não fosse nosso, e de não nos projectarmos para um futuro possível, fechando-nos em nós mesmos.
Mas a Palavra de Deus diz-nos que o momento em que vivemos é tempo de paciência, é tempo de espera activa e confiante do Senhor que vem. A nossa vida é também tempo para darmos corpo e história à «imagem e semelhança» divinas impressas em nós no acto criador, pelo qual cada um realiza o projecto originário de comunhão na diferença e na harmonia do amor.
No tempo, somos chamados a palpitar da própria vida de Deus Trino e Uno.
O homem e a mulher, unidos pelo sacramento do matrimónio, são «sacramento», sinal e actuação dessa vida, dentro dos limites da linguagem humana. Por isso é que o matrimónio é indissolúvel, e só por causa da dureza do coração humano é que Moisés permitiu que se passe o documento de repúdio.
Os próprios discípulos acharem excessivamente dura a posição de Jesus em relação ao divórcio: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» (Mt 19, 10). Mas é d´Ele que vem a força para amar com paciência e misericórdia. «Bem-aventurados aqueles que sofreram com paciência» (Tg 5, 11). E esta bem-aventurança destina-se, não só aos que são fiéis ao matrimónio, mas a todas as relações interpessoais.
Parece-nos lógico que os outros tenham paciência connosco.
Mas temos alguma dificuldade em aceitar ter paciência com os outros: «Não vos lamenteis uns dos outros», exorta-nos o Apóstolo (Tg 5, 9). Deus não se lamenta de nós, «porque é rico em misericórdia e compaixão» (cf. Ef 2, 4).

A paciência, a misericórdia, a tolerância são necessárias em todo o tipo de relações interpessoais, particularmente no matrimónio, mas também na vida comunitária. Os nossos irmãos de comunidade, particularmente os idosos, os doentes, os feridos pelas agruras da vida, precisam de muita compreensão, amor e paciência.
A paciência é um fruto do Espírito: é aceitação, compreensão, misericórdia, perdão. Realize-se em nós e nestes nossos irmãos feridos a profecia de Ezequiel: “Dar-vos-ei um coração novo, infundirei em vós um espírito novo; retirarei o vosso coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (36.26). A caridade deve ser uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno (Cst 34).
Bendito és Tu, Senhor, que me lembras que hás-de vir julgar os vivos e os mortos. Ouvindo-te, sou levado a mudar a minha relação com a vida e com os outros. Não existo por acaso, nem avanço na vida sem rumo: Tu és a minha meta, a meta dos meus irmãos. Só Tu dás sentido e dás sabor às relações comigo mesmo e com os outros.
Fortalece a minha vontade sempre frágil, para que conheça o teu projecto original para cada homem e para cada mulher, esse projecto de amor e de alegria que a tua Palavra me revela e que, em Jesus, assumiu carne humana. Que eu saiba dar o justo valor ao que é humano, e colher no meu tempo fugaz fragmentos duradouros, reflexos de eternidade.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”

quinta-feira, 24 de maio de 2018

V FEIRA – 7ª SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES


V FEIRA – 7ª SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES

Primeira leitura: Tiago 5, 1-6
Tiago dirige agora uma invectiva contra os ricos. É a mais forte e veemente que encontramos na Bíblia (cf. Is 5, 8-10; Jer 5, 26-30; Am 8, 4-8; Miq 2, 89). É um solene aviso, ao estilo dos profetas, à sociedade em que vive, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
O apóstolo, primeiro descreve a sorte dos ricos; depois fala da sua culpa. Para isso, retoma, com tons mais duros, o que já antes dissera (cf. Tg 2, 6s.) sobre a relação pobres e ricos. Fá-lo com verbos fortemente expressivos.
Os ricos hão-de chorar compulsivamente, e com brados semelhantes ao ulular das feras porque as suas riquezas estão podres, as suas vestes comidas pela traça e o seu ouro e a sua prata enferrujados. As suas garantias de vida estão destruídas e, pior ainda, pesa sobre eles o juízo de Deus (v. 3b). O salário que não pagaram aos trabalhadores clama contra eles aos ouvidos do Senhor (v. 5). A vida frívola tornou-os semelhantes aos animais que engordam para a matança.
O pobre, pelo contrário, é amado por Deus, que não afasta dele o olhar e que está sempre atento aos seus clamores.
Evangelho: Marcos 9, 41-50
Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e chega a Cafarnaúm. Marcos insere aqui uma colecção de ensinamentos sobre o discipulado, aparentemente desligados entre si. Mas neles encontramos algumas palavras-chave que os ligam uns aos outros: a expressão «em nome» de Cristo, ou «por serdes de Cristo» (v. 41), já fora anunciada no v. 37; o termo «escândalo» (v. 42) antecipa a secção seguinte (vv. 43-48); a sentença conclusiva do «sal» (v. 50) apela para o versículo anterior.
No texto que escutamos, Jesus começa a tratar do acolhimento, apontando alguns gestos simples, feitos em seu nome, porque é Ele que dá significado às acções humanas, e lhes confere valor de eternidade (v. 41). Depois, fala do escândalo: quem põe obstáculos àqueles que ainda são frágeis na fé, merece uma pena severa.
Nos vv. 43-47, Marcos adopta a linguagem paradoxal para indicar a radicalidade e a dureza do juízo: é melhor sacrificar os órgãos vitais do que aderir ao pecado e cair na condenação eterna.
As imagens do sal e do fogo servem para retomar o tema do sacrifício de si mesmo em vista da preservação ou da purificação do pecado. A sabedoria de Cristo deve dar sabor a todas as nossas acções; o fogo do amor deve arder sempre para pôr a nossa vida ao serviço da comunhão.
É preciso dispor-se a perder… para tudo ganhar: «quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 35).
Apoiados na Palavra recebida, os Profetas interpelam-nos e fazem-nos erguer dos sofás do nosso egoísmo. Deus suscita-os em todas as épocas para erguerem a chama da esperança na escuridão circundante, denunciar as injustiças, e ajudar os pobres e erguer o seu grito para os céus.
Também nós, cristãos e consagrados, precisamos de ser incomodados e acordados para olharmos a realidade, não com os nossos olhos, mas com os olhos de Deus.
Os desafios que, no nosso tempo, nos são postos pela globalização estão à vista de todos. Também o apóstolo Tiago via, no seu tempo, o desequilíbrio entre ricos e pobres, e se dava conta do pecado de uns e da grandeza dos outros. Observando a realidade, em perspectiva divina, vemos o que é invisível à simples lógica humana.
Também cada um de nós é chamado a ser profeta no nosso tempo. Há que devorar a Palavra, há que deixar-se queimar por ela, para que os nossos gestos, mesmo os mais simples, sejam realizados em nome de Deus, e deixem a sua marca. Possuídos pela Palavra, seremos verdadeiros Profetas, e não poremos obstáculos à verdade.
No evangelho, Jesus exige que resistamos às tentações e renunciemos decididamente às ocasiões de pecado. A sua linguagem, como geralmente acontece, é fortemente expressiva: «Se a tua mão é para ti ocasião de queda, corta-a… Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o… se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o…» (cf. vv 43-47). É precisa coragem heróica para corresponder a este mandato do Senhor!
A palavra de Cristo faz-nos tomar consciência da nossa falta de coerência quando é preciso renunciar a pequenas coisas para progredirmos espiritualmente. A palavra de Cristo é semelhante ao bisturi de um cirurgião. O cirurgião usa o bisturi para salvar a vida, para curar o doente. A palavra de Deus, por vezes é mais cortante que um bisturi, quando actua em nós, para nos salvar a vida, para nos curar. E «mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena… mais vale entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena…mais vale entrares com um só olho no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena…» (cf. vv. 45.48).
A intenção de Jesus é positiva: quer dar-nos a vida em plenitude. Cada um de nós, inspirado por esta linguagem metafórica de Jesus, deve discernir o que deve efectivamente cortar para entrar na Vida. Para um, será uma certa relação ambígua, para outro será um determinado espectáculo ou leitura, para outro ainda, um certo modo de fazer carreira na política, de aumentar o volume de negócios e de rendimentos… A carta de Tiago pode ajudar ao discernimento.

O “profeta”, em sentido bíblico, é aquele que é chamado por Deus a falar “em nome de Deus” diante dos homens e a “falar em alta voz”. Geralmente o profeta do Antigo Testamento é alguém que tem uma profunda experiência pessoal de Deus. Por isso, não só anuncia em alta voz a palavra de Deus, mas testemunha com a sua vida a vontade de Deus e como deve ser a vida do homem segundo Deus.
Senhor, queremos, hoje, pedir-te a abundância do teu Espírito, porque estamos confusos, e já não sabemos distinguir o bem do mal. O pecado acumulou-se em nós, e tornou-se a nossa riqueza, o tesouro guardado nos cofres cerrados dos nossos corações. Que o teu Espírito, Senhor, volte a arder em nós e nos reconduza ao essencial, ao que verdadeiramente tem valor.
Que Ele nos dê um olhar límpido, capaz de ver a criação e as criaturas; que nos dê braços abertos capazes de acolher os irmãos e partilhar com eles o que somos e temos; que nos dê pés seguros capazes de percorrer os caminhos da esperança. Então, seremos teus profetas, arautos da vida nova, que tem a marca e a sabedoria da tua cruz.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org.portal/liturgia/”

quarta-feira, 23 de maio de 2018

IV FEIRA – 7ª SEMANA –TEMPO COMUM - – ANOS PARES


IV FEIRA – 7ª SEMANA –TEMPO COMUM -
– ANOS PARES

Primeira leitura: Tiago 4, 13-17

Estas palavras de Tiago dirigem-se aos ricos da comunidade, homens habituados a viajar e a fazer negócios que lhes trazem elevados lucros. Ávidos de dinheiro e de poder, julgam controlar o futuro. A sua presunção torna-os semelhantes ao fumo: tão depressa sobem como descem e se desfazem, porque são pessoas inconsistentes.

O apóstolo sublinha a importância de voltar os olhos e os pensamentos para o Senhor. Só assim poderemos tomar decisões sábias, mesmo no que se refere ao nosso dia a dia. «Se Deus quiser», diz o nosso povo cristão, quando se refere ao futuro. Parece que os cristãos, aos quais se dirigia Tiago, não usavam esse modo de falar e, programando o futuro, como se tudo dependesse unicamente deles, apenas projectavam o que convinha aos seus interesses. Para eles, enriquecer era uma vaidade, um modo de se afirmarem sobre os outros, uma tentativa de obter direitos e privilégios. O seu pecado consistia em que, conhecendo o bem, faziam o mal.

Evangelho: Marcos 9, 38-40

Ao terminarmos a leitura do capítulo 9 de Marcos, podemos fazer um pequeno resumo de alguns temas: a fé dos discípulos é frágil, não é suficiente para expulsar demónios; os próprios discípulos têm a mania das grandezas, orgulhando-se diante daqueles que não pertencem ao grupo dos discípulos. Parece-lhes que só eles têm capacidade para realizar acções correspondentes aos ensinamentos de Jesus. 
Mas o Mestre mostra que a sua missão e os seus ensinamentos não podem ser encerrados atrás de portas ou muros. O Espírito Santo sopra onde quer. Fazer prodígios «em nome» de Jesus, é actuar com liberdade, acolhendo o amor, e em total dependência de Deus, que não exclui ninguém.

Os discípulos não podem pretender um monopólio absoluto sobre Jesus. A Igreja deve estar aberta àqueles que não lhe pertencem expressamente, mas demonstram simpatia e benevolência em relação a ela. As exortações finais apresentam exactamente alguns princípios para a boa convivência comunitária.

É rico, não quem acumula muitos bens, mas quem é feliz, e quem sabe estar atento aos outros e às suas necessidades. Mas também é preciso estar atentos aos sentimentos com que damos algo aos irmãos carenciados, às motivações com que o fazemos. Quando a nossa generosidade é movida pela caridade de Cristo, sentimo-nos impelidos a novas iniciativas e a acções que nunca antes pensámos poder fazer. E pode acontecer que também nos admiremos de ver outros capazes de gestos de amor ainda maiores que os nossos.

É então que nasce o verdadeiro sentido de comunidade, de encontro entre pessoas que, reunidas no amor oblativo, têm como dinamismo vital o Espírito Santo, que assim realiza a sua missão: «onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mt 18, 29). 

O mesmo Espírito pode actuar por meio de pessoas que não pertencem à comunidade, ao nosso grupo. Jesus ensina-nos a sabedoria espiritual e a abertura do coração para enfrentarmos esses casos. João e os seus companheiros pensaram proibir a outros de fazerem o bem em nome do Senhor: «vimos alguém expulsar demónios em teu nome, alguém que não nos segue, e quisemos impedi-lo porque não nos segue» (v. 38). 

Também nós, cristãos do século XXI, podemos cair na tentação de não admitir que outros, que não são católicos como nós, façam o bem. Mas a Igreja assumiu, no Concílio Vaticano II, o ensinamento de Cristo, incitando-nos a alegrar-nos com todo o bem feito no mundo, ainda que não seja feito por nós (cf. GS). Não possuímos o monopólio do bem.

Não é fácil admitir que, pessoas que não estão de acordo connosco, possam fazer o bem. Mas Deus quer que o reconheçamos e nos alegremos com isso, porque «não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim», disse Jesus (Mt 9, 39). Uma boa acção leva a outra boa acção. Por isso, não a critiquemos, ainda que não estejamos de acordo com quem a faz.

Há que aprender a descobrir «os sinais da sua presença» (Cst. 28) também em homens que não são “dos nossos”. Pode até acontecer que os que nos parecem mais afastados sejam os mais próximos do Senhor. 
Assim aconteceu na vida de Jesus: Nicodemos e os judeus de Jerusalém são entusiastas dos sinais que Jesus realiza. Acreditam n´Ele e reconhecem-n´O como enviado de Deus. Mas não chegam à fé perfeita. E Jesus não Se fia neles, porque sabe o que há no coração do homem (cf. Jo 2, 23-25; 3, 1-10). Pelo contrário, chegam à fé os desprezados, os cismáticos samaritanos: «Este é, na verdade, o salvador do mundo» (Jo 4, 42) e mais ainda o pagão funcionário real, que acredita à palavra de Jesus: «Vai, o teu filho está salvo. Aquele homem acreditou na palavra de Jesus e pôs-se a caminho» (Jo 4, 50). O seu filho estava verdadeiramente curado: «Acreditou ele e toda a sua família» (Jo 4, 53).

Senhor, abre o meu coração para que possa receber toda a tua alegria e comunicá-la ao mundo. Perdoa-me a presunção com que, por vezes, realizo obras em teu nome. Tenho a boca, as mãos, o coração e a mente cheios de Ti, mas os meus sentimentos levam-me a procurar interesses e resultados egoístas. Não permitas que os tente justificar, porque, só Tu os podes justificar pela tua morte na cruz. Que a minha única riqueza seja ver a pobreza dos outros, para ir em sua ajuda. E que a minha pobreza seja colmatada pela riqueza que os outros têm para me dar.
Fonte: De um texto de | Fernando Fonseca, scj em : “dehonianos.org/portal/liturgia/”