sexta-feira, 10 de agosto de 2018

SÁBADO – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES -11 AGOSTO 2018

SÁBADO – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES -11 AGOSTO 2018 Primeira leitura: Habacuc 1, 12-2, 4 Para além do nome que aparece no início do escrito, nada sabemos deste profeta. Pensa-se que terá sido um profeta cultual, contemporâneo de Naum, e com uma missão e uma teologia semelhantes. Mas, enquanto Naum canta euforicamente a queda de Nínive, Habacuc mostra-se frio e céptico no diálogo com Deus no templo, chegando à ousadia de Lhe pedir contas, de lhe perguntar a razão de castigar o malvado por meio de outro pior do que ele. O malvado, neste caso, seria o império assírio. O pior seria o império neo-babilónico. Mas há quem prefira ver Judá como o malvado, e qualquer dos seus opressores como pior. No fundo, é a questão do mal numa das suas principais implicações: «Porque contemplas, em silêncio, os traidores, quando devoram os que são mais justos do que eles?» (v. 13). Deus parece conivente com os malvados (1, 14). Parece partilhar o sadismo do pescador que se alegra com os peixes apanhados e mortos (1, 15-17). No espírito do profeta avança uma inquietante hipótese: a insinuação da serpente acerca do ciúme de Deus em relação ao homem (cf. Gn 3, 4), terá algum fundamento? À falta de respostas verificáveis sobre as intenções de Deus, Habacuc reanima a sua fé (2, 1). Não se assusta com o silêncio “obstinado” de Deus perante as suas interrogações. Sabe que pode apoiar a sua existência nas promessas divinas, eternamente válidas (2, 3). O profeta acaba por compreender que a fé é a raiz profunda que garante a vida e a estabilidade. Quem presumir erguer-se como centro e fim da sua existência, ficará prisioneiro do seu orgulho, ficará instável (2, 4). Esta verdade há-de ser conhecida por todos (2, 2). Evangelho: Mateus 17, 14-20 Mateus está agora preocupado em transmitir os ensinamentos de Jesus aos seus discípulos. Mas não deixa de contar mais um milagre, inserindo aqui a narrativa da cura de um epiléptico. É mais um sinal do poder de Jesus. Mas as dificuldades, que, por vezes, encontravam os exorcistas da Igreja nascente, também podem explicar esta inclusão. O pedido do pai, para obter a cura do filho epiléptico, dá ocasião a Jesus para mais uns ensinamentos sobre a necessidade de acreditar n´Ele. Os discípulos não conseguem realizar o milagre porque o poder taumatúrgico não é deles. Pertence unicamente ao Mestre, que o concede àqueles que participam na sua missão (cf. 10, 1). Estes, que são os discípulos, devem aderir a Ele pela fé (cf. v. 20). «Geração descrente e perversa!» Esta expressão de Jesus manifesta a resistência que os seus contemporâneos, duros de coração, Lhe opõem. Em união com Ele, os discípulos podem fazer maravilhas e comunicar a salvação oferecida por Deus. Mas, a falta de fé, que os separa da união com Jesus, torna-lhes impossível essa missão. Habacuc vive numa época de angústia para os Israelitas que, libertados da Assíria, eram agora dominados pelos caldeus. O profeta olha para Deus, e olha para o seu povo. Começa por ver e proclamar a santidade de Deus: «Não és Tu, Senhor, desde o princípio, o meu Deus e o meu santo?» (v. 12). O domínio caldeu é, portanto, um meio que Deus usa para castigar os pecadores, e fazer justiça: «Tu estabeleceste, Senhor, os caldeus para exercerem a justiça» (v. 12). Mas os caldeus cometem excessos, opõem uma opressão intolerável. Então, o profeta ergue novamente o olhar para Deus: «Os teus olhos são demasiado puros para ver o mal, não podes contemplar a opressão. Porque contemplas, em silêncio, os traidores, quando devoram os que são mais justos do que eles?» (v. 13). Quantas vezes fazemos perguntas semelhantes a esta. Impressionam-nos vivamente a injustiça e a violência que alastram pelo mundo. Habacuc compara os caldeus a pescadores sádicos: «Tratas os homens como peixes do mar, como répteis que não têm dono. Eles (os caldeus) pescam-nos a todos no anzol, arrastam-nos com a sua rede, recolhem-nos em seu cesto e depois alegram-se e exultam» (vv. 14-15). E Deus parece conivente com o sadismo dos idólatras que: «oferecem sacrifícios às suas artes de pesca, e incenso à sua rede» (v. 16). E o profeta pergunta a Deus: «Continuarão eles a esvaziar a sua rede, massacrando povos sem piedade» (v. 17). As situações de extrema necessidade requerem um esforço de reflexão e de oração. É o que faz Habacuc: «Vou ficar de pé no meu posto de guarda, vou colocar-me sobre a muralha, vou ficar à espreita pa ra ver o que Ele me diz, que resposta dá à minha queixa» (Hab 2, 1). Deus responde com solenidade, exigindo que a sua promessa seja posta por escrito, o que quer dizer que não se trata de algo de imediato, mas que terá um valor duradoiro: «Escreve a visão, grava-a em tabuínhas, para que possa ser lida facilmente. Porque é uma visão para um tempo fixado: ela aspira pelo seu termo e não falhará» (Hab 2, 2-3). É preciso ter paciência e esperança. Deus faz o que promete: «Se tardar, espera por ela igualmente; que ela cumprir-se-á, com toda a certeza não falhará» (Hab 2, 3). E, qual é a mensagem? Esta: «Eis que sucumbe o que não tem a alma recta, mas o justo viverá pela sua fidelidade» (v. 4). Nas situações difíceis da vida, há que insistir na relação com o Senhor, em apegar-se à sua mão salvadora, para resistir às tempestades e não se afogar. A fé é adesão firme e segura ao Senhor. Só ela nos faz vencedores: «Se tiverdes fé como um grão de mostarda, – diz o Senhor – direis a este monte: ‘Muda-te daqui para acolá’, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível» (v. 20). Uma fé viva transforma ocasiões difíceis em graças preciosas. Em lugares e situações difíceis, muitos, pela fé viva, se tornaram santos, enquanto outros, com uma fé frouxa, permaneceram na mediocridade! Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de “Dehonianos.org/portal/liturgia”

SEXTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES -10 AGOSTO

SEXTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES -10 AGOSTO 2018 Primeira leitura: Naum 2, 1.3; 3, 1-3.6-7. O pequeno livro de Naum não apresenta as características da literatura profética, tais como oráculos condenatórios e salvíficos, chamamentos à conversão, ou anúncios de castigo. Trata-se de poemas exultantes de militarismo e vingança, a propósito da queda de Nínive. Terror dos povos vizinhos, incluindo Israel e Judá, o império assírio caía, no Verão de 612, às mãos de babilónios e medos. O povo de Israel e Judá celebrou com alegria a salvação e a paz reencontradas (2, 1). Javé concedera-lhas, humilhando o opressor, que usara a mentira, a rapina, os carros de guerra e o furor homicida dos seus soldados para semear violência e morte. O profeta vê o fim de tanto horror, e pode oferecer ao seu povo uma mensagem de alegria e consolação. Nínive, pelo contrário, não tem quem a console (3, 7). Evangelho: Mateus 16, 24-28 Depois da confissão de Pedro, Jesus confirmou a sua identidade de Messias e de Filho de Deus, e indicou o carácter doloroso do seu messianismo (cf. Mt 16, 16-17.21). Agora fala dos que O pretendem seguir. A sorte dos discípulos não será diferente da do Mestre (cf. 10, 24s.). E toda a atitude e toda a opção do discípulo terá sentido na sua relação com o Mestre. A escala de prioridades e valores é definida pela relação com Jesus, cujo percurso histórico marcado pelo sofrimento vivido no amor, será assumido pelo discípulo (v. 24). Este experimentará o paradoxo de «perder para encontrar», de «morrer para viver» (v. 25). As suas obras hão-de manifestar a opção por Jesus como centro da sua existência. Tal opção será recompensada no dia do juízo (v. 27). De facto, o Messias Sofredor é também o Juiz escatológico. O Messias humilhado é também o Rei glorioso. Naum apresenta-nos dois cenários contrastantes: de um lado, o pequeno e oprimido reino de Judá, que, no século VI a. C. se encontrava em situação muito precária; de outro lado, Nínive, a esplendorosa capital do poderoso império assírio. No Magnificat, Maria proclama que Deus, exercendo a força do seu braço, derruba os poderosos dos seus tronos e exalta os humildes. Foi o que aconteceu, segundo Naum, à Assíria e à sua capital, destruídas pelos babilónios e medos, enquanto Judá, pequena nação, escuta uma promessa cheia de alegria: «Eis sobre os montes os pés do mensageiro que traz notícias de paz» (v. 1). E vem o convite à festa, à acção de graças «porque – diz o Senhor- o ímpio não passará mais pela tua terra; está completamente destruído» (v. 1). Pelo contrário, Nínive, «cidade sanguinária, cheia de fraude, de violência e de contínuas rapinas!» (2, 1), será devastada. O profeta descreve poeticamente a desgraça de Nínive: «Ruído de chicotes, barulho de rodas, cavalos a galope, movimento de carros! Ginetes ao assalto, espadas que reluzem, lanças que cintilam…» (vv. 2-3). Segue a ameaça de cobrir Nínive «de imundície e de infâmia, hei-de expô-la como espectáculo (2, 6). E «todos os que te virem, fugirão de ti, dizendo: «Nínive está devastada!» (2, 7). E o profeta conclui: «Quem se compadecerá dela? Onde irei buscar quem te reconforte?» (2, 7). A resposta vem noutro texto: «Todos os que ouvirem notícias tuas baterão as palmas contra ti; pois, sobre quem é que não passou a tua contínua maldade?» (3, 19). A destruição de Nínive é considerada um evento alegre, porque põe fim à opressão, à crueldade. Ao longo da história, e mesmo nos nossos dias, assistimos à queda de tantos regimes despóticos e opressores, e à alegria que esses eventos trouxeram a tantos países e povos. Ainda, há poucos anos, assistimos espantados ao desmoronar-se de um desses colossos. Quem poderia imaginar que tal iria acontecer? Mas aconteceu. Outros «impérios» cairão! Deus continua a reger o mundo. O seu ritmo nem sempre corresponde à nossa impaciência, mas está activo. Há que ter confiança: «No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33). Em muitas situações, o discípulo é chamado a carregar a cruz, com o Senhor, até ao Calvário, até à morte. Mas o Senhor garante-nos «quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la» (v. 25). A lógica de Deus não inclui triunfos idênticos aos dos poderosos deste mundo, que até acabam por se revelar transitórios. Mas inclui perder a própria vida, gastá-la ao serviço dos outros, sem recusar os sofrimentos que daí podem vir, e continuando sempre a amar. Que viver assim, torna-se uma testemunha silenciosa, mas eficaz, da verdadeira libertação. Fonte: resumo e adaptação de um texto de: “Dehonianos.org/portal/liturgia”

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

QUINTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 9 Agosto 2018

QUINTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 9 Agosto 2018 Primeira leitura: Jeremias 31, 31-34 O texto que hoje escutamos é o testemunho espiritual de Jeremias, síntese do seu pensamento e da sua obra e, de certo modo, síntese de toda a literatura profética. Declara que a intervenção de Javé, que permite ao povo regressar do cativeiro, marca uma mudança de rumo na história. O regresso de Israel à sua terra, a recuperação de uma existência livre e harmoniosa, atinge o auge no estabelecimento de uma «nova aliança» (v. 31). Javé, o Senhor, inclinara-se sobre Israel, erguera-o para Si (cf. Dt 32, 11; Os 11, 4) e, pela aliança sinaítica fizera dele sua propriedade (cf. Dt 32, 9). Israel, todavia, mostrara-se incapaz de observar os mandamentos – lei de vida – faltando ao compromisso assumido (cf. Ex 24, 3; Js 24, 24). O pecado da infidelidade tinha marcado a sua existência e a sua história. Sobreveio o exílio. Mas Deus teve compaixão do seu povo e fê-lo regressar, como num novo êxodo. E, maravilha das maravilhas, oferece-lhe uma nova aliança, em que a lei já não será escrita em tábuas de pedra, mas no próprio coração (v. 33). Será uma lei interior a observar, não com ritos formais, mas pela interiorização de valores como a obediência e o amor, postos em prática. Javé, ao perdoar os pecados de todos, sem distinção, também lhes dá capacidade para cumprirem os preceitos da nova aliança. Cada um poderá conhecer a vontade de Deus, impressa no seu coração e de cumpri-la (cf. v. 34ª). Há um reconhecimento radical da pessoa de cada um. E, por dom da misericórdia divina, Deus pertencerá a cada um e cada um pertencerá a Deus (v. 33c.) Evangelho: Mateus 16, 13-23 Quem é este homem a quem o vento e o mar obedecem? Quem é Jesus? Quem dizem os homens que Ele é? E, vós, quem dizeis que Eu sou? Pedro toma a palavra e responde em nome da comunidade dos discípulos: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (v. 16). Verificada a compreensão que os discípulos têm de Jesus, o Evangelho de Mateus dá uma volta decisiva. Se as obras e as palavras de Jesus tinham revelado a sua missão messiânica, de modo que o povo acreditasse n´Ele (vv. 13ss.), à excepção dos nazarenos (cf. 13, 53-58), os discípulos pela boca de Pedro, reconhecem também a sua natureza divina (v. 16). Pedro assume grande relevo nesta cena: se, por um lado, professa a fé no Filho de Deus, por outro lado recusa que Ele seja o Servo Sofredor (v. 21); se primeiro recebe de Jesus plena autoridade sobre a comunidade dos discípulos (vv. 18ss.), logo depois é chamado «Satanás» porque o seu ponto de vista se opõe ao de Deus, e é obstáculo para Jesus cumprir a vontade do Pai (v. 23). As contradições que assinalam o discipulado de Pedro (cf. Mc 14, 26-31) evidenciam a obra da graça divina na fragilidade humana: é o mistério da Igreja, cujo chefe é tal, não por mérito próprio, mas porque Deus lhe confia o serviço que o faz referência para os irmãos. Só Deus é garantia de salvação da comunidade na luta do mal e da morte contra o bem e a vida (v. 18). A comunidade pode confiar em Pedro, porque as suas decisões serão assumidas por Deus (v. 19). Mas a salvação e a glória terão de passar pela cruz (v. 21). Escutamos hoje o texto que, provavelmente, é o cume mais elevado de todo o Antigo Testamento: o oráculo da nova Aliança, no «Livro da Consolação» de Jeremias. Esta profecia revela uma inspiração profunda, uma pureza perfeita. Outros oráculos misturam perspectivas de prosperidade terrena, de riquezas materiais à da relação com Deus. Este oráculo centra tudo na relação pessoal com Deus. A nova Aliança será diferente da primeira, a do Sinai: «Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto» (v. 32). Efectivamente há várias diferenças. A primeira é que, enquanto no Sinai as leis foram escritas em tábuas de pedra, eram leis exteriores, que não mudavam o coração do homem, agora são escritas no coração da pessoa, são leis interiores: «Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração» (v. 33). A lei de Deus será entendida na sua intenção de amor, porque a vontade de Deus é sempre vontade de amor. Deus não manda para complicar, para oprimir, para obrigar, mas para estabelecer uma relação de amor. É pois uma lei que se aceita voluntariamente, livremente. Porque é uma lei interior, permite uma relação íntima com Deus: «Serei o seu Deus e eles serão o meu povo» (v. 33). Esta promessa já se encontrava, várias vezes, no Antigo Testamento. Mas não se podia realizar, porque o coração do homem era mau. Agora, depois da nova Aliança, essa intimidade recíproca já era possível, porque já não era entre Deus e o povo, mas entre Deus e cada um: era uma relação pessoal: «Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão, dizendo: ‘Aprende a conhecer o Senhor!’ Pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno» (v. 34). Já não são precisas exortações como as de Jeremias porque, na nova Aliança, haverá uma relação pessoal, a consciência pessoal de cada um diante do Senhor. Esta nova aliança fundamenta-se na misericórdia infinita de Deus, manifestada em Jesus Cristo, e que não parecia possível no tempo de Jeremias. Fonte: Resumo e adaptação de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”

terça-feira, 7 de agosto de 2018

QUARTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 8 AGOSTO 2018

QUARTA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 8 AGOSTO 2018 Primeira leitura: Jeremias 31, 1-7 Jeremias, cheio de entusiasmo, anuncia o regresso dos exilados, tingindo a sua linguagem de um colorido folclórico. Israel já não está divido em dois reinos, mas reunificado sob a soberania de Javé (vv. 2s.). O Seu amor gratuito e fiel, a sua ternura para com o povo eleito, fê-lo regressar (cf. v. 3). A memória do deserto, da libertação do Egipto, símbolo de todos os desterros e libertações, volta agora a ser o lugar em que todos os que escaparam à espada, os que constituem o «resto», encontrarão a graça, ou, mais precisamente, Javé. Deus forma a identidade do seu povo, dá-lhe uma cidade onde habitar, terra para cultivar e dela tirar o sustento (vv. 4ª.5; cf. Js 24, 13; Sl 107, 35-37). De todos estes dons, brota a alegria, manifestada ao som de instrumentos e de danças (v. 4bc). Esta alegria de Israel vai contagiar as nações vizinhas, que hão-de convergir para Jerusalém, centro restabelecido do culto javista. Aí louvarão a Deus pela salvação, inesperada pelo pequeno grupo dos sobreviventes à deportação, mas maravilhosamente realizada pelo poder divino (v. 6s.; cf. Sl 105, 12-15.43-45; Is 52, 7-10).. Evangelho: Mateus 15, 21-28 A mulher cananeia, de que nos fala o texto, é designada por «siro-fenícia» em Marcos (7, 24-30). O que ambos os evangelistas pretendem indicar é que se trata de uma mulher pagã, não judia. A cena, sob o ponto de vista literário, está construída no esquema pedido-recusa, num crescendo que, partindo do silêncio de Jesus à primeira interpelação da mulher, continua com a referência à sua missão, que teria por alvo unicamente o povo judeu, e culmina com a distinção brutal entre filhos e cachorrinhos. Tanto Mateus como Marcos coincidem em que a missão de Jesus, durante o seu ministério terreno, se limitou ao povo judeu. Mas também coincidem em que Jesus, neste caso, abriu uma excepção. Para Mateus, a razão da excepção foi a grande fé da mulher, o que é omitido por Marcos. O encontro entre Jesus e a mulher cananeia anuncia, e já realiza, o encontro entre a salvação e o paganismo. Sem negar a escolha preferencial de Israel, «filho primogénito» (v. 24; cf. Os 11, 1; Mt 10, 5ss.), a missão salvífica de Jesus é dirigida a todos os povos. Será, também essa, a característica da acção da Igreja, por mando específico do seu Senhor e Mestre (cf. Mt 28, 18-20). A luta que a mulher cananeia trava com Jesus, para alcançar o que pede, é um exemplo concreto do que Jesus mandou: «Pedi… procurai… batei…» (cf. Lc 11, 9). Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia

TERÇA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 7 AGOSTO 2018

TERÇA-FEIRA – XVIII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - 7 AGOSTO 2018 Primeira leitura: Jeremias 30, 1-2.12-15.18-22 Jeremias queixara-se de Deus, que só parecia cumprir a parte trágica da promessa vocacional que lhe fizera, fazendo dele profeta da destruição e da desgraça. Mas Deus também cumpriu a outra parte da promessa: Jeremias também foi profeta de salvação e ressurgimento, como nos mostram os capítulos 30 e 31, o chamado “Livro da Consolação”. Os oráculos destes capítulos, que claramente pertencem a Jeremias, remontam provavelmente ao primeiro período de actividade do profeta, que inicialmente os dirigiu ao reino de Israel, mas que, depois da queda de Jerusalém, os estendeu a Judá. Jeremias mostra o valor educativo do sofrimento por que passa o seu povo (vv. 12-15), obrigado ao exílio, e sob o domínio de um povo estrangeiro, havia um século. A aplicação da lei de Talião ao povo, de acordo com a doutrina da retribuição temporal, terá um efeito purificador: Israel irá perceber que o remédio para os seus males não vem das nações estrangeiras, cujo favor tenta obter, mas de Javé, que sempre cuida do seu povo e lhe garante a restauração. Os vv. 18-21 falam dessa restauração como efeito da compaixão de Deus (v. 18ª). As imagens utilizadas pelo profeta evocam uma cidade em festa: os edifícios em ruínas são restaurados (v. 18b), os seus habitantes são honrados por Deus e temidos pelos outros povos (vv. 19s.). Israel terá um rei bem aceite por Deus (cf. Dt 17, 15ª). Pode-se ver neste texto a esperança de Jeremias na reunificação do povo eleito, e na recuperação da sua soberania. A fórmula da aliança (v. 22) confirma a reencontrada liberdade, na fidelidade a Deus, auspiciada pelo profeta. Evangelho: Mateus 14, 22-36 22Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. 23Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E, chegada a noite, estava ali só. 24O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. 26Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. 27No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!» 28Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» 29«Vem» – disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. 30Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e, começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» 31Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» 32E, quando entraram no barco, o vento amainou. 33Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus, dizendo: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!» 34Após a travessia, pisaram terra em Genesaré. 35Ao reconhecerem-no, os habitantes daquele lugar espalharam a notícia por toda a região. Trouxeram-lhe todos os doentes, e pediam que os deixasse tocar ao menos na orla do seu manto. E quantos lhe tocaram foram completamente curados. Mateus coloca a narrativa da tempestade acalmada no contexto dos episódios orientados para a formação do grupo dos discípulos (Mt 14, 13-16, 20) e antes do grande “Discurso sobre a comunidade” (c. 18). Este facto confere ao texto uma particular caracterização eclesiológica. O evangelista já tinha narrado uma tempestade que surpreendera os discípulos enquanto o Mestre dormia (8, 23-27). Nessa ocasião, Jesus revelou-se como “Senhor do mar”, o que suscitou a pergunta sobre a sua identidade mais profunda. Jesus aproveitou para reafirmar a necessidade da fé para quem O quisesse seguir (cf. 9, 19s.). No episódio de hoje, a tempestade surge quando os discípulos avançam sozinhos pelo mar, enquanto Jesus tinha ficado a «orar na solidão» (v. 23). A sua chegada milagrosa gera nos discípulos perturbação e medo (v. 26). Mas a sua palavra serena-os e dá-lhes coragem (v. 27). Pedro até se atreve a imitar o Mestre, descendo ao mar e tentando caminhar sobre as ondas (vv. 28ss). Mas a sua fé hesita, e Jesus tem de lhe estender a mão, e mostrar-lhe que, só apoiado n´Ele, pode chegar à salvação (vv. 30ss.). A mesma experiência de salvação é feita por todos aqueles que contactam com Jesus, que assim reconhecem a sua verdadeira identidade, e podem dizer, como Pedro: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!» (v. 32). A vocação a que Deus chamara Jeremias tinha um duplo aspecto: «arrancar e demolir.. construir e plantar» (cf. Jr 31, 28). Nos primeiros anos da sua missão, o profeta teve de realizar, sobretudo, a primeira finalidade: proclamar mensagens de destruição. Depois da queda de Jerusalém, realizou a segunda finalidade: construir e plantar. A primeira letiura, que ainda começa com uma verificação negativa, pertence à segunda parte. Era certo que a destruição de Jerusalém, e a ruína do templo, punham os hebreus numa situação sem remédio: «A tua ferida é incurável, maligna é a tua chaga. Ninguém quer tomar a tua defesa para curar o teu mal, para o qual não há remédio» (vv. 12b-13). Mas o Senhor, pelo seu profeta, reanima a esperança, restabelece a confiança. Os castigos não visavam uma destruição definitiva, mas apenas purificar o povo infiel à Aliança. Para libertar Jerusalém pecadora, não havia outro meio senão permitir a sua destruição. Uma vez que isso tinha acontecido, era possível realizar a obra positiva. E Deus promete-a: «Restaurarei as tendas de Jacob, e terei compaixão das suas moradas. A cidade será reconstruída das suas ruínas, e os palácios reedificados no seu lugar» (v. 18). E haverá festas: «deles sairão cânticos de louvor e gritos de alegria» (v. 19). E surge uma inesperada referência ao novo chefe do povo eleito: «Dela surgirá o seu chefe, dela sairá o seu soberano. Mandarei buscá-lo e ele se aproximará de mim… oráculo do Senhor» (v. 21). A liturgia de hoje sugere uma relação entre este oráculo sobre o chefe do povo de Deus e a vocação de Pedro. O evangelho mostra-nos o apóstolo que, inspirado, está disposto a arriscar a vida para se aproximar de Jesus, que caminhava sobre o mar: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas» (v. 28). E, «Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus» (v. 30). À palavra de Jesus, não hesitou em arriscar a vida. É precisa coragem para arriscar a vida na tentativa de se aproximar de Jesus. E quantos o fizeram ao longo da história! Mas, quem tem responsabilidades na Igreja, há-de estar disposto para isso. Ainda lembramos, comovidos e edificados, o Papa João Paulo II que, depois do atentado na praça de S. Pedro, não se fechou no Vaticano, mas continuou a procurar o Senhor na vida da Igreja e na vida dos homens, percorrendo incansavelmente o mundo, fiel à sua missão, certo da ajuda do Senhor. Só uma fé menos viva, ou frouxa, nos pode pôr em perigo: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» (v. 31) Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”.

domingo, 5 de agosto de 2018

6 AGOSTO 2018 - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

6 AGOSTO 2018 - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR A festa da Transfiguração do Senhor, situada antes do anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração prepara os Apóstolos para a compreensão desse mistério. Quase com o mesmo objectivo, a Igreja celebra esta festa quarenta dias antes da Exaltação da Cruz, a 14 de Setembro. A Transfiguração, manifestação da vida divina, que está em Jesus, é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. Os Apóstolos, quando virem Jesus na sua condição de Servo, não poderão esquecer a sua condição divina. Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s. Daniel, em visão nocturna, vê a história do ponto de vista de Deus. Sucedem-se os impérios e os opressores, mas o projecto de Deus não falha. Ele é o último juíz, que avaliará as acções dos homens e intervirá para resgatar o seu povo. Aos reinos terrenos contrapõe-se o Reino que o Ancião confia a um misterioso “filho de homem” que vem sobre as nuvens. Trata-se de um verdadeiro homem, mas de origem divina. No nosso texto já não se trata do Messias davídico que havia de restaurar o Reino de Israel, mas da sua transfiguração sobrenatural: o Filho do homem vem inaugurar um reino que, embora se insira no tempo, “não é deste mundo” (Jo 18, 36). Ele triunfará sobre as potências terrenas, conduzindo a história à sua realização escatológica. Jesus irá identificar-se muitas vezes com esta figura bíblica na sua pregação e particularmente diante do Sinédrio, que o condenará à morte. Segunda leitura: 2 Pedro 1, 16-19 Pedro e os seus companheiros reconhecem-se portadores de uma graça maior que a dos profetas, porque ouviram a voz celeste que proclamava Filho muito amado do Pai, Jesus, seu mestre. Mas a Palavra do Antigo Testamento continua a ser “uma lâmpada que brilha num lugar escuro” (v. 19), até ao dia sem fim, quando Cristo vier na sua glória. Jesus transfigurado sustenta a nossa fé e acende em nós o desejo da esperança nesta caminhada. A “estrela da manhã” já brilha no coração de quem espera vigilante. Evangelho: Lucas 9, 28b-36 A Transfiguração confirma a fé dos Apóstolos, manifestada por Pedro em Cesareia de Filipe, e ajuda-os a ultrapassar a sua oposição à perspectiva da paixão anunciada por Jesus. Quem quiser Seu discípulo, terá de participar nos seus sofrimentos (Mt 16, 21-27. A Transfiguração é um primeiro resplendor da glória divina do Filho, chamado a ser Servo sofredor para salvação dos homens. Na oração, Jesus transfigura-se e deixa entrever a sua identidade sobrenatural. Moisés e Elias são protagonistas de um êxodo muito diferente nas circunstâncias, mas idêntico na motivação: a fidelidade absoluta a Deus. A luz da Transfiguração clarifica interiormente o seu caminho terreno. Quando a visão parece estar a terminar, Pedro como que tenta parar o tempo. É, então, envolvido com os companheiros pela nuvem. É a nuvem da presença de Deus, do mistério que se revela permanecendo incognoscível. Mas Pedro, Tiago e João recebem dele a luz mais resplandecente: a voz divina proclama a identidade Jesus, Filho e Servo sofredor (cf Is 42, 1). Jesus manda os seus discípulos rezar. Hoje, toma à parte os seus predilectos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais longa e intimamente. Estes três representam particularmente os pontífices, os religiosos, as almas chamadas à perfeição. Para rezar Jesus gosta da solidão, a montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente. A transfiguração é uma visão do céu. É uma graça extraordinária para os três apóstolos. Não nos devemos agarrar às graças extraordinárias que são por vezes o fruto da contemplação. Pedro agarra-se a isso. Engana-se. Queria ficar lá: «Façamos três tendas», diz. Não sabia o que dizia. A visão desaparece numa nuvem. Há aqui uma lição para nós. Entreguemo-nos à oração habitual, à contemplação. Não desejemos as graças extraordinárias. Se vierem, não nos agarremos a elas. Os frutos desta festa são, em primeiro lugar, o crescimento da fé. Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do Salvador. «Não são fábulas que vos contamos, diz S. Pedro (2Pd 1, 16), fomos testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho bem-amado, escutai-o». S. Paulo encoraja a nossa esperança recordando a lembrança da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão: «Veremos a glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança» (2Cor 3, 18). – Esperamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo terrestre e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso» (Fil 3, 21). Mas este mistério é sobretudo próprio para aumentar o nosso amor por Jesus. Nosso Senhor manifestou-nos naquele dia toda a sua beleza. O seu rosto era resplandecente como o sol. Os apóstolos, testemunhas da transfiguração, estavam totalmente inebriados de amor e de alegria. «Que bom é estar aqui», dizia S. Pedro. «Façamos aqui a nossa tenda». A beleza de Cristo transfigurado. Nosso Senhor falava então da sua Paixão com Moisés e Elias: nova lição de amor por nós. Ele, mesmo na sua glória, não pensa senão em nós e nos sacrifícios que quer fazer por nós. Lições também de penitência, de reparação, de compaixão pelo Salvador. Porque teve de sofrer tanto para nos resgatar, choremos os nossos pecados, amemos o nosso Redentor, consolemo-lo. A voz do Pai celeste diz-nos: “Escutai-o”, palavra cheia de sentido, como todas as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino Filho por guia, por chefe, por mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do Evangelho e nos conselhos de perfeição. A palavra de Deus nunca nos falta, é a nossa docilidade que falta habitualmente. Esta palavra divina - «Escutai-o» - espera de nós uma resposta. Não basta apenas uma promessa vaga: «hei-de escutar». É preciso uma disposição habitual: «escuto, escuto sempre; falai, Senhor, o vosso servo escuta». Fonte: resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B A liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum repete, no essencial, a mensagem das leituras do passado domingo. Assegura-nos que Deus está empenhado em oferecer ao seu Povo o alimento que dá a vida eterna e definitiva. A primeira leitura dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores. A segunda leitura diz-nos que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo. Mais uma vez, a Palavra de Deus que nos é proposta dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores. Para Deus, “alimentar” o Povo é ajudá-lo a descobrir os caminhos que conduzem à felicidade e à vida verdadeira. O Deus em quem nós acreditamos é o mesmo Deus que, no deserto, ofereceu a Israel a possibilidade de libertar-se de uma mentalidade de escravo e de descobrir o caminho para a vida nova da liberdade e da felicidade… Ele vai connosco ao longo da nossa caminhada pelo deserto da vida, vê as nossas necessidades, conhece os nossos limites, percebe a nossa tendência para o egoísmo e o comodismo e, em cada dia, aponta-nos caminhos novos, convida-nos a ir mais além, mostra-nos como podemos chegar à terra da liberdade e da vida verdadeira. Este texto fala-nos da solicitude e do amor com que Deus acompanha a nossa caminhada de todos os dias; convida-nos, também, a escutar esse Deus, a aceitar as propostas de vida que Ele faz e a confiar incondicionalmente n’Ele. • As “saudades” que os israelitas sentem do Egipto, onde estavam “sentados junto de panelas de carne” e tinham “pão com fartura”, revelam a realidade de um Povo acomodado à escravidão, instalado tranquilamente numa vida sem perspectivas e sem saída, incapaz de arriscar, de enfrentar a novidade, de querer mais, de aceitar a liberdade que se constrói na luta e no risco. Esta mentalidade de escravidão continua, bem viva, no nosso mundo… É a mentalidade daqueles que vivem obcecados pelo “ter” e que são capazes de renunciar à sua dignidade para acumular bens materiais; é a mentalidade daqueles que trocam valores importantes pelos “cinco minutos de fama” e de exposição mediática; é a mentalidade daqueles que têm como único objectivo na vida a satisfação das suas necessidades mais básicas; é a mentalidade daqueles que se instalam comodamente nos seus esquemas cómodos, nos seus preconceitos e se recusam a ir mais além, a deixarem-se interpelar pela novidade e pelos desafios de Deus; é a mentalidade daqueles que vivem voltados para o passado, que idealizam o passado, recusando-se a enfrentar os desafios da história e a descobrir o que há de positivo e de desafiante nos novos tempos; é a mentalidade daqueles que se resignam à mediocridade e que não fazem nenhum esforço para que a sua vida faça sentido… A Palavra de Deus que nos é proposta diz-nos: o nosso Deus não Se conforma com a resignação, o comodismo, a instalação, a mediocridade que fazem de nós escravos e que nos impedem de chegar à vida verdadeira, plenamente vivida e assumida; Ele vem ao nosso encontro, desafia-nos a ir mais além, aponta-nos caminhos, convida-nos a crescer e a dar passos firmes e seguros em direcção à liberdade e à vida nova… E, durante o caminho, nunca estaremos sozinhos, pois Ele vai ao nosso lado. • A ideia de que Deus dá ao seu Povo, dia a dia, o pão necessário para a subsistência (proibindo “juntar” mais do que o necessário para cada dia) pretende ajudar o Povo a libertar-se da tentação do “ter”, da ganância, da ambição desmedida. É um convite, também a nós, a não nos deixarmos dominar pelo desejo descontrolado de posse dos bens, a libertarmos o nosso coração da ganância que nos torna escravos das coisas materiais, a não vivermos obcecados e angustiados com o futuro, a não colocarmos na conta bancária a nossa segurança e a nossa esperança. Só Deus é a nossa segurança, só n’Ele devemos confiar, pois só Ele (e não os bens materiais) nos liberta e nos leva ao encontro da vida definitiva. • O cristão é, antes de mais, alguém que encontrou Cristo, que escutou o seu chamamento, que aderiu à sua proposta. A consequência dessa adesão é passar a viver de uma forma diferente, de acordo com valores diferentes, e com uma outra mentalidade. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo. Antes de mais devemos tomar consciência de que também nós encontrámos Cristo, fomos chamados por Ele, aderimos à sua proposta e assumimos com Ele um compromisso. O momento do nosso Baptismo não foi um momento de folclore religioso ou uma ocasião para cumprir um rito cultural qualquer; mas foi um verdadeiro momento de encontro com Cristo, de compromisso com Ele e o início de uma caminhada que Deus nos chama a percorrer, com coerência, pela vida fora, até chegarmos ao homem novo. Paulo convida insistentemente os crentes a deixar a vida do homem velho… O homem velho é o homem dominado pelo egoísmo, pelo orgulho, que vive de coração fechado a Deus e aos irmãos, que vive instalado em esquemas de opressão e de injustiça, que gasta a vida a correr atrás dos deuses errados (o dinheiro, o poder, o êxito, a moda…), que se deixa dominar pela cobiça, pela corrupção, pela concupiscência, pela ira, pela maldade e se recusa a escutar a proposta libertadora que Deus lhe apresenta. Provavelmente, não nos revemos na totalidade deste quadro; mas não teremos momentos em que construímos a nossa vida à margem das propostas de Deus e em que negligenciamos os valores de Deus para abraçar outros valores que nos escravizam? Paulo apela a que os crentes vivam a vida do homem novo. O homem novo é o homem continuamente atento às propostas de Deus, que aceita integrar a família de Deus, que não se conforma com a maldade, a injustiça, a exploração, a opressão, que procura viver na verdade, no amor, na justiça, na partilha, no serviço, que pratica obras de bondade, de misericórdia, de humildade, que dia a dia dá testemunho, com alegria e simplicidade, dos valores de Deus. É este o meu “projecto” de vida? Os meus gestos e atitudes de cada dia manifestam a realidade de um homem novo, que vive em comunhão com Deus e no amor aos irmãos? • Todos nós, no dia do nosso Baptismo, optámos pelo homem novo… É preciso, no entanto, termos consciência que a construção do homem novo nunca é um processo acabado… A monotonia, o cansaço, os problemas da vida, as influências do mundo, a nossa preguiça e o nosso comodismo levam-nos, muitas vezes, a instalarmo-nos na mediocridade, nas “meias tintas”, na não exigência, na acomodação; então, o homem velho espreita-nos a cada esquina e toma conta de nós… Precisamos de ter consciência de que em cada minuto que passa tudo começa outra vez; precisamos de renovar continuamente as nossas opções e o nosso compromisso, numa atenção constante ao chamamento de Deus. O cristão não cruza os braços considerando que já atingiu um nível satisfatório de perfeição; mas está sempre numa atitude de vigilância e de conversão, para poder responder adequadamente, em cada instante, aos desafios sempre novos de Deus. No Evangelho (jo 6,24 -35), Jesus apresenta-Se como o “pão” da vida que desceu do céu para dar vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto é, que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem os seus valores, que adiram à sua proposta. O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência Na verdade, o dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Como podemos “encher” a nossa vida e dar-lhe pleno significado? Onde encontrar o “pão” que mata a nossa fome de vida? • Jesus de Nazaré é o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o Evangelho deste domingo nos propõe. É em Jesus e através de Jesus que Deus sacia a fome e a sede dos homens e lhes oferece a vida em plenitude. Isto leva-nos às seguintes questões: que lugar é que Jesus ocupa na nossa vida? Ele é, verdadeiramente, a coordenada fundamental à volta da qual construímos a nossa existência? Para nós, Jesus é uma figura do passado (embora tenha sido um homem excepcional) que a história absorveu e digeriu, ou é o Deus que continua vivo e a caminhar ao nosso lado, oferecendo-nos vida em plenitude? Ele é “mais uma” das nossas referências (ao lado de tantas outras) ou a nossa referência fundamental? Ele é alguém a quem adoramos, com respeito e à distância, ou o irmão que nos indica o caminho, que nos propõe valores, que condiciona a nossa atitude face a Deus, face aos irmãos e face ao mundo? O que é preciso fazer para ter acesso a esse “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”? De acordo com o Evangelho deste domingo, a resposta é clara: é preciso aderir (“acreditar”) a Jesus, o “pão” que o Pai enviou ao mundo para saciar a fome dos homens. Aderir a Jesus é escutar o seu chamamento, acolher a sua Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-l’O no caminho do amor, da partilha, do serviço, da entrega da vida a Deus e aos irmãos. Trata-se de uma adesão que deve ser consequente e traduzir-se em obras concretas. Não chegam declarações de boas intenções, ou actos institucionais que nos fazem constar dos livros de registo da nossa paróquia; aderir a Jesus é assumir o seu estilo de vida e fazer da própria vida um dom de amor, até à morte. • No Evangelho deste domingo, Jesus mostra-Se profundamente incomodado quando constata que a multidão o procura pelas razões erradas e, sem preâmbulos, apressa-Se em desfazer os equívocos. Ele não quer, de forma nenhuma, que as pessoas O sigam por engano, ou iludidas. Há, aqui, um convite implícito a repensarmos as razões porque nos envolvemos com Cristo… É um equívoco procurar o Baptismo porque é uma tradição da nossa cultura; é um equívoco celebrar o matrimónio na Igreja porque, assim, a cerimónia é mais espectacular e proporciona fotografias mais bonitas; é um equívoco assumir tarefas na comunidade cristã para nos auto-promovermos ou para resolvermos os nossos problemas materiais; é um equívoco receber o sacramento da Ordem porque o sacerdócio nos proporciona uma vida cómoda e tranquila; é um equívoco praticarmos certos actos de piedade para que Jesus nos recompense, nos livre de desgraças, nos pague resolvendo algumas das nossas necessidades materiais… A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. A recusa de Jesus em realizar gestos espectaculares (como fazer o maná cair do céu), mostra que, normalmente, Deus não vem ao encontro do homem para lhe oferecer a sua vida em gestos portentosos, que deixam toda a gente espantada e que testemunham, de forma inequívoca, a sua presença no mundo; mas Deus actua na vida do homem de forma discreta, embora duradoura e permanente. Deus vem, todos os dias, ao encontro do homem e, sem forçar nem se impor, convida-o a escutar a Palavra de Jesus, propõe-lhe a adesão a Jesus e ao seu projecto, ensina-lhe os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos de Deus, para o conseguirmos perceber e encontrar, no caminho da nossa vida. Fonte: resumo e adaptação de um texto de “Dehonianos.org/portal/liturgia/”