sexta-feira, 25 de maio de 2012

Profanada a imagem da "Santinha"

A imagem de N. S. de Fátima destruída e a pedra usada por quem causou a destruição
Por volta das 12.00H de hoje, 25.05.2012, o Comandante da Polícia Distrital de Gurúè comunicou ao Sr. Bispo que a imagem de N. S. de Fátima, que se encontra numa gruta conhecida pelo nome da "Santinha", foi destruída com o lançamento de uma pedra por um desconhecido.
A gruta da "Santinha". A imagem de N. S. de Fátima estava colocada na parte superior.

D. Francisco, acompanhado pelo Pe. Manuel Nassuruma, Secretário da Diocese, e pelo o Pe. Luciano Cominotti, Administrador Diocesano e por dois jovens da comunidade local,logo a seguir, nesta mesma tarde, foram até à "Santinha" e constaram a veracidade dos factos.

O nome do lugar "Santinha" pintado sobre a rocha

Devotadamente, rezaram um "Ave- Maria", em desagravo pela profanação, pelo bom entendimento e  pela paz religiosas e civil, que sempre caracterizou o relacionamento entre os cidadãos da Alta Zambézia. Nunca foi motivo de lutas ou desentendimento a questão religiosa. Este lugar  da "Santinha" foi sempre um lugar "ecuménico", abeto a todos, espaço de oração, de descanso, de sossego e de lazer para os cidadãos de Gurúè, sem distinção de credo, de condição social ou de quaisquer outro classe de discriminação.
A água a correr pelas rochas da "Santinha", ao lado da gruta.


Ao regresso à cidade, D. Francisco foi até ao Comando da Polícia onde apreciou os danos causados à imagem e a pedra usada por quem praticou o lamentável facto.
Pormenor dos destroços da imagem de N. S. de Fátima,  recolhidos pela Polícia no próprio lugar dos factos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

"Partilha de bens". Carta Pastoral de D. Francisco Lerma


Carta Pastoral

“Partilha de bens”

A sustentabilidade económica e cristã na Diocese de Gurúè


Caríssimos Diocesanos


1. O tema da economia, tão debatido em todo o lado, pelos governos, instituições públicas e privadas e nas famílias, para nós, discípulos de Jesus Ressuscitado, para além dos seus aspectos técnicos, deve ser iluminado pela luz do Evangelho, pelo testemunho que nos deixaram as primeiras comunidades cristã e não só. Eis o que os primeiros cristãos nos transmitiram:

A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse (Act 4,33 - 35).

2.Os Bispos e os cristãos da Igreja em Moçambique, motivados com renovado empenho pelas três Assembleias Nacionais de Pastoral dos últimos 35 anos (I ANP, Beira 1977; II ANP, Matola 1991; III ANP, Matola 2005), queremos partilhar de facto o que a Providência põe nas nossas mãos e, ao mesmo tempo, sentimo-nos fortemente comprometidos e decididos a favorecer o processo de autonomia económica das Comunidades, das Paroquias e das Dioceses. 

3.Nesta linha de procura da autonomia económica, é fundamental o contributo de cada padre, religioso, religiosa, animadores e de todos os cristãos, sobretudo sentindo-se comprometidos em primeira pessoa no esforço por encontrar fontes de receitas para as próprias actividades pastorais, acabando com a ideia de que: “… a Diocese tem que fazer tudo pois ela é rica, recebe dinheiro de Roma e tem que pagar o meu trabalho”. 

Este modo de considerar a problemática económica da nossa Igreja tem que ser afastado totalmente da nossa maneira de pensar, como se a Igreja (Diocese, Paróquias, comunidades…) fosse uma coisa e os baptizados (padres, irmãs, animadores, cristãos) outra.


4.A II Assembleia Nacional de Pastoral (Matola 1991) analisou profundamente as causas desta situação de dependência quase absoluta do exterior, e indicou orientações comuns rumo à consolidação da Igreja local, com a auto -  sustentabilidade local:
“É, portanto, urgente que as Igrejas particulares de África se proponham o objectivo de chegar quanto antes a prover às suas necessidades, assegurando desse modo a sua auto-suficiência”(Cfr. II Assembleia Nacional de Pastoral, nn.36-41).

5.Acabou o tempo das “calamidades” e do período que lhe seguiu ainda muito forte hoje dos “projectos”, sem os quais nada ou quase nada é feito. Mantinha-se e ainda se mantém uma dependência muito acentuada dos projectos financiados do exterior. Para qualquer coisa que se deseja fazer ou se projecta, continuamos a depender da boa vontade do financiamento exterior e do pouco ou quase inexistente das nossas próprias forças. Nas três últimas décadas, a Igreja em Moçambique vem-se debruçando constantemente sobre esta realidade para melhor compreender e assimilar a responsabilidade de cada cristão de prover as necessidades da vida da Igreja, das suas actividades e demais subsídios necessários à evangelização.

6.A situação de pobreza absoluta que afecta a maioria da nossa população e a nós próprios, afecta também a nossa Igreja, pois ela está inserida no nosso meio. A Igreja já deitou raízes no nosso povo, nós próprios somos a Igreja. Este problema está também unido à promoção humana, pois a Igreja sempre desenvolveu a sua missão evangelizadora paralelamente com a promoção humana. Na fidelidade aos ensinamentos e ao exemplo de seu Mestre, a Igreja sempre se preocupou com as necessidades básicas do homem:

“Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25, 35-36).

7.Torna-se difícil corrigir a mentalidade paternalista e assistencialista como em grande parte dos casos era feita a pastoral e demais actividades da Igreja. De facto, tal maneira de agir criou nos cristãos um mal-entendido sobre o potencial económico dos Padres, das Missões, da Igreja e sobre a sua nula responsabilidade neste sector tão importante para consolidar a Igreja local. Muitos pensam ainda hoje erradamente:
A Igreja é rica! A Igreja é que deve dar e não o crente até porque a esmagadora maioria das pessoas é pobre!” (III Assembleia Nacional de Pastoral, nº 116).
8.Não devemos esperar sermos ricos para contribuirmos para as despesas da nossa família. A Igreja somos nós e cada um contribui livremente e segundo as suas possibilidades para com as necessidades dos seus irmãos e da sua Igreja. O exemplo da viúva pobre do Evangelho que ofereceu no Templo apenas umas pequenas moedas foi elogiado pelo próprio Jesus. Os ricos dificilmente olham para o pobre nem para as necessidades da Igreja. Eles olham para os seus próprios interesses:

“Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.» (Mc 12, 41-44)


9.Na última sessão do Conselho Presbiteral (04.04.2012) e, posteriormente, na reunião mensal da Comissão Diocesana para os Assuntos Económicos, foi feita uma revisão trimestral do Orçamento Geral da Diocese (OGD 2012) para a distribuição dos subsídios mensais e demais despesas diocesanas (Subsídios para os Padres e as Paróquias, Seminários, Secretariado de Pastoral, Casa Diocesana, carros, etc.). Os bens de que dispomos e distribuímos são dons da Providência provenientes da contribuição dos cristãos e do subsídio ordinário de Propaganda Fide. Não há neste momento mais outras fontes de receita. Os subsídios para os projectos estão totalmente sujeitos aos respectivos Projecto (Ver o Anexo: ORÇAMENTO PARA O ANO DE 2012).

10.Convido-vos a fazer uma reflexão séria sobre a economia diocesana, apresentando a situação da nossa Diocese e indicando algumas orientações para o futuro em consonância com as ORIENTAÇÕES DIOCESANAS ACTUALIZADAS, fruto da VI ASSEMBLEIA DIOCESANA DE PASTORAL.

11.Acredito profundamente que o que se distribui pelas paróquias é o que nos vem da Providência: isto é, o subsídio ordinário de PROPAGANDA FIDE, algumas ofertas que vão aparecendo uma ou outra vez, mas muito raramente, a Contribuição Diocesana Anual dos próprios cristãos e o que oferecem pela celebração dos sacramentos e das visitas pastorais. Certamente este é o espírito com o qual devemos receber estes subsídios e os subsídios dos Projectos, destinados aos pobres, às nossas actividades pastorais e ao nosso próprio sustentamento. O que a Providência nos dá deve ser distribuído no espírito da economia de comunhão das primeiras comunidades cristãs.

12.Todos sabemos que a crise económica mundial reduziu dramaticamente as somas dos subsídios que a Propaganda Fide e os demais benfeitores (Missio, Kirche in Not, Manos Unidas, Mãos Unidas, etc.) podem distribuir de facto. Esta situação se, por um lado, é desagradável e nos cria sérios problemas sem solução imediata, por outro lado obriga-nos a começar ou a intensificar com maior urgência a economia sustentável a partir de bases locais.

13.Durante as duas décadas de vida da nossa Diocese, os subsídios distribuídos (ordinários e extraordinários) se, por uma parte, foram uma ajuda válida para o crescimento das nossas paróquias e de toda a Diocese no seu conjunto; por outra parte, não favoreceu o estudo e a procura em como criar fontes de economia locais para o sustento da Igreja e das obras da Evangelização, isto é, a formação dos agentes da pastoral, a vida das comunidades e das Paróquias, os Seminários, os Noviciados, o clero diocesano, os meios de transporte, a reabilitação e manutenção dos edifícios (casas paroquias, igrejas e capelas), publicações de livros e demais actividades pastorais. Tudo ou quase dependeu e depende ainda hoje dos Projectos.

Autonomia económica

14.O Bispo e todos os cristãos da nossa Igreja Diocesana, motivados com renovado empenho desde a VI Assembleia Diocesana de Pastoral (Março 2011), queremos partilhar de facto o que a Providência põe nas nossas mãos e, ao mesmo tempo, sentimo-nos fortemente comprometidos e decididos a favorecer o processo de autonomia das Comunidades, das Paroquias e de toda a Diocese. 

15.Nesta linha de procura da autonomia económica, é fundamental o contributo de cada missionário, padre diocesano, religioso, religiosa, animadores e de todos os cristãos, sobretudo sentindo-se comprometidos em primeira pessoa no esforço por encontrar fontes de receitas para as próprias actividades pastorais, acabando com a ideia de que: a Diocese tem que fazer tudo pois ela é rica, recebe dinheiro de Roma e tem que pagar o meu trabalho. 

Tal maneira de pensar tem que ser afastada totalmente da nossa mente, como se a Diocese fosse uma coisa e os baptizados (padres, irmãs, animadores, cristãos) outra.

16.Isto obriga-nos a começar com a redução gradual dos subsídios mensais no futuro imediato, se não houver uma aceitação prática da entrega da Contribuição Diocesana como foi estabelecido na VI ASSEMBLEIA DIOCESANA DE PASTORAL, pois o subsídio ordinário de Propaganda Fide não é suficiente para manter o subsídio actual até ao fim do ano: “A Contribuição Anual Diocesana por cada cristão a partir dos 16 anos de idade é de 50,00MT ou o equivalente em produtos não perecíveis” (Cfr. Orientações Diocesanas, nº 119). 

17.Este é um dever dos cristãos para com a Igreja que começa, primeiro na mente e no coração; só depois é que cada um vai contribuir da melhor maneira, segundo o Quinto Preceito da Igreja que estabelece o seguinte: “Contribuir para as necessidades materiais da Igreja, segundo as próprias possibilidades”.

18.Vivendo neste mundo globalizado, sociedade de consumo, também nós somos tentados pelo seu estilo de vida, em contradição com a miséria e a pobreza da maioria da população a quem devemos anunciar o Evangelho.
Torna-se necessário por parte de todos estarmos atentos a estas tentações que dificilmente aparecem na lista dos nossos pecados.

Um passo em frente

19.Todos nós devemo-nos sentir responsáveis e comprometidos em primeira pessoa nesta procura de caminhos concretos (Cfr. Orientações Diocesanas, nº 185). De facto, para chegarmos a uma autonomia económica é necessária a colaboração de todos com espírito de fraternidade, rejeitando toda a forma de juízo e de arrogância. É necessário organizarmo-nos para termos os meios materiais para a vida da Igreja e das suas actividades (Cfr. Orientações Diocesanas, nº 186).

Vos apresento algumas sugestões que nos podem ajudar neste caminho:

a. -Formação
As Orientações Diocesanas afirmam que “Perante a falta de formação e de informação dos fiéis sobre a auto- sustentabilidade da Igreja, urge que todos nos empenhemos no trabalho de conscientizar os cristãos para assumirem como próprias as necessidades económicas da Igreja” (OD, nº 185,c).

Alem da referida formação de base de todos os membros da comunidade, é necessário a formação de ecónomos aos vários níveis: leigos, religiosos (as) e clero. Devem ser pessoas com experiência pastoral e identificadas com a própria Igreja que possam assumir com amor, sentido de pertença, dedicação e competência a animação das comunidades, Paróquias e Diocese para esta finalidade. O Secretariado Diocesano de Pastoral há-de preparar uns temas apropriados para os cursos de formação nesta área. Com este material esperamos que cada Paróquia realize cursos de formação para os ecónomos das comunidades e da Paróquia.

b.-Conselho para os Assunto Económicos
Onde ainda não exista, haja a constituição do Conselho para os Assuntos Económicos nas Paróquias e nas comunidades, segundo as Orientações Diocesanas. O número dos membros deve ser impar (3, 5 ou 7), para evitar os empates nas votações (Cfr. Orientações Diocesanas nº 188).

c.-Orçamento anual
 No princípio de cada ano é necessário prever as despesas anuais, fazendo o Orçamento Geral da Paróquia (e no seu caso, o de cada Comunidade ou Zona), que deve ter em conta as despesas correntes do ano anterior e as possíveis despesas ordinárias e extraordinárias do ano que começa. Trata-se do que chamamos  as “Entradas ou Receitas” e as “Saídas ou Despesas”. (Cfr. Orientações Diocesanas nº 188).

d.-Livro de Contabilidade
 Cada Paróquia deve ter o seu Livro de Contabilidade actualizado, onde se escreve todo o movimento das contas, o que se recolhe e o que se gasta: todas as “entradas” (receitas) e todas as “saídas” (despesas) (Cfr. Orientações Diocesanas nº 189).

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e.- Seminários.
 Torna-se necessário fazer uma análise sobre os nossos seminários e  a contribuição das famílias e das paróquias. Com a diminuição dos subsídios da Propaganda Fide, aumento do custo de vida e com a criação do nosso Seminário Propedêutico de S. José (1º Ano), torna-se necessário fazer uma análise sobre os nossos seminários: a contribuição em géneros ou em dinheiro das famílias e das paróquias.

O nosso Seminário de S. José de Gurúè, deve manter-se com a colaboração directa das Paróquias, especialmente em géneros. Cada paróquia assumirá as despesas deste seminário durante um mês com produtos alimentícios (milho, arroz, feijão, mandioca, batata, cebola, alho, bananas) e animais (galinhas, cabritos, etc.), segundo as suas possibilidades.


f.-O uso do dinheiro pessoal e do dinheiro da comunidade.
 Devemos pensar que tudo o que recebemos das comunidades, do subsídio diocesano ou dos benfeitores, provem da Providência, pertence a todos e todos somos chamados a partilhar o que recebemos; devemos justificar o uso que foi feito do dinheiro recebido (subsídios, ofertas, projectos…).

g.-Revisão das despesas gerais que fazemos normalmente e, de modo especial, na manutenção dos carros e nas viagens não necessariamente pastorais. É necessário que nos interroguemos se nos devemos permitir tantas viagens por qualquer motivo. É justo deixar a Paróquia por qualquer motivo?

     h.-Trasparência
Perante o pedido de justificação das despesas feitas, da contabilidade escrita e actualizada devidamente, muitos podem sentir-se ofendidos. Justificar o dinheiro recebido e como foi usado é normal em qualquer sociedade ou grupo que queira ser justo e transparente no uso do dinheiro sem ter nada a ocultar. Isto não é falta de confiança, simplesmente uma lei de justiça e de transparência. Isto faz parte essencial da pobreza do Evangelho. Dificilmente entra na lista dos pecados de um evangelizador e de um pastor da Igreja.

20.Subsídios

Na Distribuição de subsídios mensais:
·       Os subsídios mensais recebidos da Administração Diocesana são para a sustento dos padres que não tem outras fontes de receitas, para as necessidades mais urgentes da paróquia, para a manutenção ordinária da casa diocesana, para os seminários e para o Secretariado Diocesano de Pastoral.

·       Os Seminários, as casas de formação de religiosos e religiosas e os centros de leigos: todos nós devemo-nos sentir comprometidos em primeira pessoa em manter estes centros de formação, pois são o futuro desta Igreja local, (“Consolidar a Igreja local”: evangelização, sacerdotes, religiosos/as e agentes de pastoral a todos os níveis), em comunhão com toda a Diocese. Peço mesmo uma colaboração económica, segundo as suas possibilidades aos Religiosos e Religiosas que mantém actividades económicas na Diocese, nos termos que cada comunidade achar mais conveniente.

·       É necessário também recordar aqui a obrigação de enviar sem esperar o mês de Dezembro, por fases ou tudo de uma vez, à Administração Diocesana ou à Secretária da Diocese, a Contribuição Diocesana Anual segundo as normas assumidas na VI Assembleia de Pastoral e já vigentes na Diocese (Cfr. Orientações Diocesanas, nº 191). Quem recebe a Contribuição passará um recibo à quem entrega o dinheiro para poder  justificar perante os cristãos a entrega feita.


21. A luta contra a pobreza um dever de todos
A última das orientações sobre os caminhos a seguir é que a luta contra a pobreza e a dependência absoluta do exterior é um dever de todos os cidadãos e para nós os cristãos por imperativo evangélico e por dignidade humana. A III Assembleia Nacional de Pastoral conclui com estas palavras:

“A superação da pobreza material não é tudo. É necessário que isto Aconteça, sim, mas tendo sempre presente a elevação do homem à categoria de filho de Deus” (III ANP n.122).

22.Faço um apelo ao espírito de comunhão diocesana e de família, à co-responsabilidade e partilha, ao sentido de pertença a esta Igreja local, de ser e de estar em comunhão, que deve animar a nossa evangelização e todas as nossas actividades pastorais.

23.Na Diocese, família reunida no nome do Senhor, todos nos devemos sentir acolhidos como irmãos (cf. Rom 15, 7), interessarmo-nos uns pelos outros, evangelizar unidos numa pastoral de comunhão e de conjunto, partilhando as alegrias, os sofrimentos e as esperanças da Diocese seja qual for o trabalho ou actividades que cada um exerce.
Esta comunhão é alma e a vida da nossa família diocesana, desta Igreja local de Gurúè  que caminha nas terras da Alta Zambézia.

Gurúe, 1º de Maio de 2012

Festividade de São José Operário

Vosso Bispo

+Francisco

domingo, 20 de maio de 2012

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012

Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012

Silêncio e palavra: caminho de evangelização
Amados irmãos e irmãs,
Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspeto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.

O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.

Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.

No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de céticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).

Devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, n.º 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.

Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a concelebração eucarística com os membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.

Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Constituição dogmática Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.

Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.

Vaticano, 24 de janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012.
BENEDICTUS PP XVI
(Tradução portuguesa oferecida pela Santa Sé)