sábado, 17 de março de 2018

V DOMINGO DA QUARESMA

V Dmingo da Quaresma
O evangelho de hoje reafirma a verdade de que é impossível tornar-se discípulo de Jesus se não tivermos a coragem de segui-lo até a cruz. Pois é lá que veremos, de fato, quem Ele é (Filho do Homem) e o significado da sua missão (dar a vida pela salvação da humanidade). No pedido dos gregos a Filipe: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”, pode-se entrever, inclusive nos tempos de hoje, a motivação de muitas pessoas que manifestam apenas uma curiosidade de ver Jesus, mas nem sempre estão dispostas a conhecê-lo e assumir o seu caminho (Herodes também queria ver Jesus, cf. Lc 9,9). Contudo, a resposta de Jesus indica o momento no qual Ele será visto: “chegou a hora em que o Filho do Homem será glorificado”. A glória de Jesus, segundo São João, é o momento da sua morte, por isso Ele mesmo declara: “Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo, mas, se morre, então produz muito fruto”.
O pão que na Eucaristia se torna o Corpo de Cristo não tem apenas significado de alimento, mas traz em si a memória de todo o processo de como se tornou pão: é o resultado de um grão de trigo que caiu na terra, morreu, produziu fruto e que, depois de ser triturado, tornou-se massa e, finalmente, pão, alimento. Pensar o pão apenas na sua fase final, é colocar em risco o reconhecimento do seu valor inestimável, pois ele não chegou à mesa de forma mágica, fácil, mas é resultado de um árduo processo de vida e morte: “Quem se apega a sua vida perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”.
Jesus explicita que só há um modo de aproximar-se Dele: “Se alguém me quer servir, siga-me”. Na perspectiva bíblica “servir” também tem significado de culto, adoração. No início da perícope João diz que “havia alguns gregos entre aqueles que tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa”. Portanto, o servir a Jesus não é prestar-lhe um culto qualquer, mas é, antes de tudo, fazer a vontade do Pai, e a vontade do Pai é reconhecê-lo como seu Filho, crendo nele. Os gregos pedem para ver Jesus, mas é o Pai quem vai mostrá-lo. Por isso, naquele momento, antecipa-se a hora de Jesus quando se escuta a voz do céu: “Eu o glorifiquei”, em referência à Encarnação: “E o Verbo se fez carne… E nós vimos a sua glória”, “e o glorificarei de novo”, um anúncio da realização da hora de Jesus na cruz: “quando for elevado da terra atrairei todos a mim”. Portanto, a glória de Deus se manifesta de modo concreto no seu Filho que é o Verbo encarnado, o Cristo crucificado e o Senhor ressuscitado.
Cristo elevado na cruz se tornou a escada entre a terra e o céu, da qual Ele mesmo falou no início do evangelho de João: “Vereis o céu aberto, e os anjos do céu subindo e descendo sobre o Filho do homem” (1,51). Ao ser elevado da terra, Jesus também elevou consigo a nossa humanidade, assumida na encarnação e redimida na cruz.

Por conseguinte, sem ir ao calvário, ou seja, sem presenciar a manifestação da sua glória, da revelação do seu amor no ato extremo de sua doação na cruz, não será possível vê-lo realmente e saber quem Ele é. Contemplar aquele que foi traspassado é a condição indispensável para compreender tudo aquilo que Ele fez e ensinou. Por isso, no lava-pés, diante da incompreensão de Pedro ao ver seu mestre abaixado lavando os seus pés como um escravo, Jesus anuncia: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde” (Jo 13,7). Só quando for elevado na cruz será possível compreender o significado profundo do seu abaixar-se para lavar os pés dos seus amigos. Pois, assim como para lavar os pés dos discípulos depôs o manto e usou a água da bacia, na cruz foi despojado de suas roupas e fez jorrar do seu coração sangue e água para purificar a humanidade do seu pecado.
O Cristo exaltado na cruz realiza o julgamento definitivo desse mundo. Pois, no crucificado eleva-se tudo aquilo que o ser humano necessita para derrotar o mal, a injustiça, o pecado, por isso tem o poder de atrair todos a si.
Por isso, na Sexta-feira Santa a Igreja ergue o sinal da vitória do Cristo Senhor justamente para proclamar nesse gesto a realização da sua palavra. Não ergue um símbolo de fracasso e derrota, mas o sinal de que o cordeiro imolado é verdadeiramente vitorioso.
FONTE:Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

sexta-feira, 16 de março de 2018



SÁBADO – 4ª SEMANA DA QUARESMA - 17 MARÇO 2018 

Primeira leitura: Jeremias 11, 18-20
Escutamos, hoje, a primeira das chamadas «confissões de Jeremias», que são como pedaços de luz que nos permitem entrever a caminhada interior do profeta pelas repercussões pessoais da sua missão. Trata-se de um testemunho precioso, único na Bíblia. Por vontade de Deus, Jeremias descobre que os seus conterrâneos tinham armado uma cilada para o arrancarem do meio deles (v. 19).

Não sabemos quais as causas históricas da conjura. Mas o modo como o profeta viveu essa situação tornou­-se paradigmático. Jeremias, vítima inocente, compara-se a um cordeiro levado ao matadouro, imagem já presente no quarto cântico do Servo sofredor de Javé (cf. Is 53, 7) e amplamente usada no Novo Testamento para descrever o Messias sofredor que, em silêncio, expia o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29; 1 Pe 1, 19; Ap 5, 6ss.).

Martirizado no corpo e no espírito, o profeta, manso, atreve-se a pedir a Deus a vingança dos seus inimigos. Jeremias é um homem do Antigo Testamento, que segue a lei de Talião. Jesus será o verdadeiro inocente que morre, abandonando nas mãos do Pai, não só a ele mesmo, mas também os seus adversários e algozes, para que sejam perdoados. Jeremias é figura. Jesus é a realidade. É Ele o verdadeiro cordeiro conduzido ao matadouro sem lançar um balido.

Evangelho: João 7, 40-53

João mostra-nos a multidão que rodeia Jesus e se interroga sobre a sua identidade e faz palpites. A palavra autorizada do Senhor fascina os próprios guardas enviados para O prenderem (v. 46). Mas há dois argumentos de peso, com sentido contrário: Jesus vem da Galileia, e as Escrituras dizem que o Messias havia de nascer em Belém. Mais ainda: os chefes do povo e os fariseus não acreditam n ‘Ele; como pode o povo comum ter uma opinião diferente? Os detentores do poder e da sabedoria olham a situação com sarcasmo e desprezo, porque temem perder o seu prestígio. Apenas Nicodemos ousa invocar a Lei que não condena ninguém sem antes ser ouvido. O resultado é ser, também ele, tachado de ignorante.

João termina abruptamente a narrativa (cf. v. 53), deixando uns com maior desejo de conhecer Jesus e outros mais decididos na recusa d ‘ Ele. Mas a Palavra não emudece: ainda não tinha chegado a sua hora.

Aproxima-se a Paixão. As leituras fazem-nos escutar o grito sofrido de Jeremias e as interrogações sobre a identidade de Jesus. O profeta faz-nos ver até que ponto havemos de estar dispostos a sofrer para sermos fiéis a Deus, e servi-lo de coração puro. O evangelho dá-nos conta do avolumar das controvérsias e das hostilidades contra Jesus, verdadeiro cordeiro que serenamente se encaminha para o matadouro.

Os guardas, enviados a prender Jesus, voltam sem cumprir a ordem, porque «Nunca nenhum homem falou assim» (v. 46). Mas os fariseus, de coração cada vez mais endurecido, ripostam: «Será que também vós ficastes seduzidos?» (v. 47b). Barricados nos seus preconceitos, não querem ouvir nada sobre Jesus. Apenas O querem prender.

Também hoje as opiniões se dividem acerca de Jesus. Muitos fecham-se nas suas dúvidas e na sua indiferença, porque recusam Aquele que pode trazer a paz aos corações e a união entre os homens. Muitos não buscam realmente a verdade, mas apenas confirmar os seus preconceitos. Também não faltam ameaças, perseguições, condenações de inocentes. Felizmente também não faltam pessoas corajosas, como Nicodemos, capazes de desafiar a opinião dos «poderosos», porque estão decididamente apaixonados pela verdade. Para estar com Cristo, é preciso estar cordialmente abertos aos desejos de Deus, à verdade de Deus, à luz de Deus. Então seremos capazes de acolher a Cristo em todos os momentos e situações da vida.

Não foi fácil, para os contemporâneos de Jesus, acreditar n ‘ Ele. Devemos estar gratos àqueles que acreditaram e nos transmitiram a fé. Com esta gratidão, havemos também de nos sentir estimulados a procurar Cristo onde Ele se nos revela, hoje. É a única coisa importante, na nossa vida: reconhecer a Cristo, encontrar-nos verdadeiramente com Ele, aderir a Ele de todo o coração.

A leitura e a meditação destes textos, confrontando-os com a nossa história, são uma preciosa ajuda para conhecer Cristo, para viver Cristo e para colaborarmos na construção do Reino de Deus.

Fonte: Resumo e adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”

quinta-feira, 15 de março de 2018



SEXTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA -
16 MARÇO 2018 

Primeira leitura: Sabedoria 2, la.12-22
o autor sagrado, depois de ter convidado a uma vida segundo a justiça (cf. Sab 1, 1-15), dá a palavra aos ímpios que expõem a sua «filosofia»: a vida deve ser vivida na busca frenética do prazer, eliminando – não importa com que violência – tudo o que for obstáculo a esse prazer. 

Os ímpios de que fala o texto são presumivelmente os hebreus apóstatas da comunidade de Jerusalém que, aliados aos pagãos, perseguem os irmãos que permaneceram fiéis a Deus e à aliança. A sua forma de vida é insuportável: armam ciladas, insultam e condenam à morte, desafiando o próprio Deus (cf. v. 18; v. 20).

O «resto» de Israel vive a sua paixão e profetiza a do Messias. É Jesus o verdadeiro justo, o Filho predilecto, o manso posto à prova, escarnecido (v. 19) e condenado a uma morte infame (v. 20). 

É Ele, sobretudo que, tendo posto toda a confiança no Pai, ressurge do abismo da morte. A esperança do Antigo Testamento adquire uma dimensão inesperada, e ultrapassa toda a «profecia»: pelo mérito de um só, todos são tornados «justos», desde que estejam abertos à graça.

Evangelho: João 7, 1-2.25-30
Jesus não é um provocador. Mas a sua pessoa suscita interrogações e inquietações crescentes nos seus contemporâneos, enquanto os chefes Judeus, movidos pela sua aversão, decidem matá-lo (v. 1b). Jesus aguarda serenamente a hora do Pai. Não foge, mas também não apressa os tempos. Evita a Judeia e, quando decide subir a Jerusalém, fá-lo «quase em secreto. (v. 24). 

Mas é rapidamente reconhecido e logo as opiniões se dividem, agora sobre a sua “messianidade”. Para alguns, membros de círculos apocalípticos, se Jesus vem de Nazaré, não é mais do que um impostor (vv. 26s.) pois, para eles, «quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem» (v. 27). 

Entretanto, Jesus sabia bem donde vinha. Por isso, «bradava», proclamando de modo solene e autorizado: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28-29). 

Com subtil ironia, afirma que a sua origem é efectivamente desconhecida dos que julgam saber muito e, por isso, não o reconhecem como enviado de Deus. Estas palavras ecoam nos ouvidos dos adversários como ironia, insulto e blasfémia. Tentam apoderar-se d ‘ Ele, mas não conseguem, pois é Ele o Senhor do tempo e das circunstâncias. Submeteu-se totalmente aos desígnios do Pai, e a sua hora ainda não tinha chegado.

João gosta de jogar com os símbolos. No seu evangelho, os pormenores têm sempre um valor simbólico. É o caso da conjura contra Jesus colocada poucos dias antes da festa dos Tendas. Nesta festa, agradecia-se a Deus pelas colheitas, mas também se recordavam os 40 anos de caminhada no deserto. Construíam-se tendas mesmo em Jerusalém. Muitos retiravam-se nelas para meditarem. Era um regresso simbólico ao deserto.

A controvérsia referida por João situa-se na vigília deste tempo propício à meditação. É como que um último esforço, feito por Jesus, para levar os seus adversários a meditarem sobre a sua pessoa e sobre as «obras» por Ele realizadas. Não resultou em relação aos judeus. Julgam conhecer a Jesus e saber tudo sobre Ele. Na verdade, não sabem. Jesus aproveita a ocasião para Se manifestar mais claramente: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28b-29). Mas o resultado foi o aumento da hostilidade dos judeus. Decidem prender Jesus e acabarão por fazê-lo.

Mas a tentativa de Jesus pode resultar em relação a nós, se acolhermos a sugestão da liturgia de hoje e aproveitarmos a caminhada, que estamos a fazer rumo à Páscoa, para relermos e meditarmos este texto tão denso e inesgotável, e nos interrogarmos mais a fundo sobre o mistério da pessoa de Jesus e aderirmos a Ele com um amor maior.

O livro da Sabedoria mostra-nos que, mesmo as coisas mais positivas, podem ser aproveitadas para fazer o mal ou para fazer pior. Se o justo é manso, os maus dizem: «Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência» (v. 19). 

Se se diz Filho de Deus e se ufana de ter a Deus por Pai, decidem experimentá-lo e condená-lo a uma morte infamante, para ver se Deus o protege! (cf. Sab 2, 18-20).
Peçamos ao Senhor que nos dê um coração simples e aberto às suas iniciativas surpreendentes para tomarmos a atitude dos justos e rejeitarmos a dos pecadores.
Senhor Jesus, manso e humilde de coração, dá-nos a graça de revivermos em nós atua mansidão e a tua humildade. Como Tu, queremos, em toda e qualquer situação, mesmo diante do mal, da oposição e da hostilidade, manifestar a luz e a bondade. Queremos também aceitar que, em algumas ocasiões, a atitude dos outros seja de crítica e de condenação contra nós. Ajuda-nos a manter a paciência e a calma nessas ocasiões, como Tu as soubeste manter. Que jamais nos deixemos tomar pela ira e pela raiva, mas saibamos corrigir-nos do que julgarmos necessário. Então, estaremos no bom caminho, Contigo, homem das dores e da esperança.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”

quarta-feira, 14 de março de 2018

QUINTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA 15 MARÇO 2018



QUINTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA
15 MARÇO 2018
Primeira leitura: Êxodo 32,7-14
Havia pouco que Deus estabelecera aliança com Israel, e a confirmara com uma solene promessa (cf. Ex 24, 3). Moisés ainda estava no monte Sinai, onde recebia das mãos de Deus às tábuas da Lei, documento base dessa aliança. Entretanto, o povo caía na idolatria, adorando o bezerro de ouro, obra das suas mãos, como se fosse o Deus que o tirara Egipto (v. 8). Deus, acende-se em ira e informa Moisés do sucedido (v. 7): a aliança fora quebrada. Deus quer repudiar Israel, apanhado em flagrante adultério, e começar uma nova história cheia de esperanças (v. 10) com Moisés, que permanecera fiel. Mas Moisés, que recebera a missão de guiar Israel à terra prometida, não abandona o seu povo, não cede à tentação de pensar apenas em si mesmo. Como Abraão, diante da cidade pecadora (cf. Gn 18), Moisés intercede pelo povo pecador. Procura «acalmar» a justa ira de Deus, fazendo uma certa «chantagem» (cf. v. 12) e recordando-Lhe as promessas feitas aos antigos patriarcas. A sua oração toca o coração de Deus. As características antropomórficas, com que Deus é descrito neste episódio, atestam a antiguidade deste texto.
Evangelho: João 5, 31-47
Jesus continua a responder aos Judeus. O discurso apologético vai endurecendo. Aumenta gradualmente a separação entre o «eu» de Jesus e o «vós» dos adversários. O texto marca o culminar do processo intentado por Deus contra o seu povo predilecto, mas obstinadamente rebelde, cego e surdo.
Jesus apresenta quatro testemunhos que deveriam levar os seus ouvintes a reconhecê-lo como Messias, enviado pelo Pai, como Filho de Deus: as palavras de João Baptista, homem enviado por Deus; as obras que ele mesmo realizou por mandado de Deus; a voz do Pai; e, finalmente, as Escrituras. Estes testemunhos, na sua diversidade, têm duas características que os unem: por um lado, em resposta à acusação de blasfémia dirigida contra Jesus pelos Judeus, remetem para o agir salvífico de Deus; por outro lado, elas não dizem nada de realmente novo.
Os Judeus estão sob processo porque não procuram a «a glória que vem do Deus» (v. 44), mas tomam a glória uns dos outros. Caíram, assim, numa cegueira radical, interior. Agarrados à Lei, recusam o Espírito. Jesus revela-lhes o risco que correm e avisa-os: pensam alcançar a vida eterna perscrutando os escritos de Moisés, mas são esses mesmos escritos que os acusam. O intercessor deverá tornar-se seu acusador? O texto termina convidando cada um a examinar a autenticidade e a verdade da própria fé.
O povo de Israel, revela uma memória curta. Foi libertado por Deus, no meio de prodígios e celebrou livremente a aliança com o Senhor. Mas, logo que sobrevieram novas dificuldades, esqueceu-se de tudo e caiu na idolatria. Assim pode acontecer também connosco. Mas o verdadeiro crente não abandona a Deus, quando surgem dificuldades, como se fosse Ele a causá-las. Pelo contrário, continua a sentir-se dependente de Deus, ligado a Ele e, como Moisés, não desiste de orar por si e de interceder pelos irmãos. A oração de intercessão revela maturidade na fé. O crente adulto na fé vê as provações dos irmãos como suas. Por isso reza por eles, faz-se intercessor universal, disposto a carregar sobre si as fraquezas dos outros, e a sofrer para que possam ser aliviados. Foi a atitude de Moisés; será a atitude de Jesus.
Ao reagir contra o pecado do povo, Deus diz a Moisés: «a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destrui-los-ei Mas farei de ti uma grande nação. (v. 10). O povo pecou e merecia ser destruído. Mas os desígnios de Deus deviam cumprir. Por isso, propõe a Moisés tornar-se pai de um novo povo. Moisés recusa a proposta de Deus e implora:
«Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este povo (J» (v. 12). Mais adiante faz ele uma proposta a Deus: «perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste (Ex 32, 32), isto é, destrói-me também a mim. Moisés solidarizou-se completamente com o seu povo, para alcançar de Deus a salvação do seu povo.
Tudo isto se realiza de modo completamente inesperado no mistério de Cristo.
Na morte de Cristo, Deus destrói o povo. A morte de Cristo é destruição do mundo antigo, do homem velho, como escreve S. Paulo. Mas não é apenas destruição, porque a morte do Senhor leva à ressurreição. Jesus é, pois, o novo Moisés que aceita morrer com o povo e pelo povo, mas é também o novo Moisés, pai de uma nova grande nação. A palavra de Deus, «farei de ti uma grande nação», realiza-se na ressurreição de Cristo. De modo imprevisível, as Escrituras dão testemunho da ressurreição de Cristo.
Lemos nas Constituições: «Unidos à acção de graças e à intercessão de Cristo, somos chamados a colocar toda a nossa vida ao serviço da Aliança de Deus com o seu Povo» (n. 84). A nossa vida oferecida a Deus, para sua glória, e para o serviço dos irmãos, e uma atitude de perdão e de súplica pelos pecadores, são um óptimo testemunho de Deus-Amor, que não se demonstra com teorias, mas que transparece na vida daqueles em cujos corações habita.
Senhor Jesus, que Te manifestas como Filho de Deus, realizando as suas obras, tem piedade de nós. Acolhe-nos no teu Coração misericordioso e dá-nos a vida. Tu, que és a testemunha fiel e verdadeira do Pai, faz-nos ouvir a sua voz. Filho obediente do Pai, faz-nos recordar a paixão eu sofreste por nós, e a descobri-la naqueles que continuam a vivê-la no corpo e na alma. Filho inocente do Pai, intercede por nós pecadores e permite-nos solidarizar-nos Contigo nessa intercessão. Queremos ir a Ti para termos a vida, a Ti que és a presença incarnada de Deus-misericórdia.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”

terça-feira, 13 de março de 2018

QUARTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA – 14 MARÇO 2018



QUARTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA –
14 MARÇO 2018
Primeira leitura: Isaías 49, 8-15
Deus dá nova coragem ao seu Servo experimentado pelo sofrimento e dilata os confins da sua missão a toda a terra. A sua primeira acção consistirá na libertação dos Israelitas do Egipto, porque chegou o tempo da misericórdia, o dia da salvação (v. 8). Deus entra no curso da história humana para a transformar. O Servo é como Moisés: mediador da Aliança. Como Josué, restaurará e redistribuirá a terra. Será o arauto de um novo êxodo. Os exilados enchem-se de esperança.
A partir do v. 12, o profeta contempla de Jerusalém o povo que regressa à pátria, vindo de Babilónia e de outras paragens onde andava disperso. O próprio universo exulta e entoa hinos ao Senhor que «se compadece dos desesperados». O seu amor é semelhante ao de uma mãe pelos seus filhos: um amor cheio de ternura e profundidade, um amor visceral. O nosso Deus não é um deus longínquo, um juiz implacável. É um Deus próximo e solícito.
Evangelho: João 5, 17-30
Aos judeus, que O perseguem por curar em dia de sábado, Jesus revela a sua identidade de Filho de Deus, e coloca-se acima da Lei. Segundo especulações judaicas, de que encontramos vestígios no v. 17, o repouso sabático dizia respeito à obra criadora de Deus, mas não à permanente actividade pela qual incessantemente dá a vida e julga. Nos vv. 19-30, Jesus mostra que se conforma em tudo ao agir de Deus: «o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai> (v. 19). Esta afirmação surge novamente no v. 30, revelando o sentido de todo o texto. A total unidade de acção entre o Pai e o Filho resulta da total obediência do Filho, que ama o Pai e partilha do seu amor pelos homens pecadores. O Pai doa ao Filho o que só a Ele pertence, o poder sobre a vida e a autoridade no juízo (vv. 21 s.). Esta íntima relação entre o Pai e o Filho pode alargar-se aos homens pela escuta obediente da palavra de Jesus.
Deus fez do seu Servo, que é Jesus Cristo, sinal e instrumento de aliança com o seu povo: «designei-te como aliança do povo». Esta afirmação permite-nos penetrar mais profundamente no mistério de Cristo. Em primeiro lugar, leva-nos a contemplar a sua união com o Pai. Jesus é o Filho muito amado, que contempla tudo quanto o Pai faz, para também Ele o fazer: «o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho».
O Filho de Deus veio ao mundo, não para fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai: «porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou». Por isso, Jesus é imagem viva, activa, do Pai: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo», Porque está perfeitamente unido ao Pai, Jesus Cristo pode ser aliança para o povo. Como Filho muito amado do Pai, vem convidar todos os homens para a festa da vida. A ninguém é negado esse convite. O único abandonado é precisamente o Filho muito amado, que um Amor maior entrega à morte para a todos dar a vida.
Intimamente unido ao Pai, o Filho fez-Se solidário connosco e veio revelar-nos o amor misericordioso de Deus. Jesus Cristo é aliança de Deus connosco para nos dar a vida. Transmite-nos a palavra de Deus para nos transmitir a vida de Deus: «assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer», Os mortos são os que vivem em pecado, porque, desligados de Deus, não têm em si a vida divina e não podem amar a Deus nem aos irmãos. Só a Palavra de Deus, que revela o amor o seu amor misericordioso, comunica a vida e dá capacidade para amar.
O evangelho de hoje revela-nos que, para estarmos unidos a Deus, precisamos de estar unidos a Cristo. É permitindo e realizando essa união com o Pai que Cristo se revel a aliança de Deus para nós.
Senhor Jesus, Tu és verdadeiramente Aquele em Quem encontramos o Pai. Mas és também Aquele em Quem encontramos os irmãos e as irmãs. Só em Ti os podemos amar de verdade. Por isso, queremos permanecer em Ti, especialmente neste tempo da Quaresma, quando já se aproxima a celebração do teu mistério pascal. Várias vezes, durante o dia, queremos penetrar no teu Coração para nele bebermos o amor ao Pai e o amor aos irmãos. Tu és a nossa aliança, a nova e eterna aliança que o Pai nos oferece. Queremos viver em Ti.
É nas meditações dos sofrimentos de Nosso Senhor que havemos de retirar as forças necessárias para seguirmos os exemplos de abandono que Ele deu na sua vida de menino. O desejo de nos unirmos aos seus sofrimentos adoça as penas que podemos encontrar na imolação de nós mesmos. Estas penas, unimo-las à sua imolação do Calvário e são um meio de nos associarmos à sua dolorosa Paixão. Esta união de intenção é-lhe muito agradável. O amor com o qual a fazemos aumenta o seu valor aos seus olhos.
O seu amor é assim um meio de suportar todas as provações pelas quais devemos passar, de aligeirar e mesmo de transformar em alegrias tudo o que sem isto seria mágoa ou amargura.
Somos flagelados com ele, quando lhe oferecemos amorosamente as mortificações da carne e as humilhações do orgulho. Somos coroados de espinhos, quando unimos amorosamente aos seus sofrimentos todas as contrariedades que provamos. Caminhamos com Ele na via dolorosa do Calvário, quando seguimos, unidos a Ele pelo amor, as vias onde lhe apraz fazer-nos passar. Somos pregados à cruz com Ele quando unimos à sua crucifixão as situações penosas ou dolorosas nas quais lhe apraz colocar os seus amigos. Agonizamos com Ele sobre a cruz, quando unimos às suas penas as angústias de uma situação na qual quer que nos encontremos.
Quem quer que ama passa por provações. É preciso sofrer estas provações com Ele, em união com os sofrimentos da sua Paixão. A união de amor identifica de algum modo os nossos sofrimentos com os de Jesus. Mas não é necessário para isso que experimentemos dores semelhantes às suas. São-lhe sempre semelhantes quando são generosamente aceites e oferecidas em união com as suas.
Fonte:
Resumo e adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia!”