XXX Domingo Tempo Comum Ano “ A”.
Subsídio para a reflexão.
1ª Leitura: Êxodo 22,20-26;
2ª Leitura: 1ª Tessalonicenses 22,34-40.
Evangelho: Mateus 22,34-40.
De novo, os fariseus.
De novo, uma pergunta: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?»
Quem a faz é um «doutor da Lei», um
especialista da Bíblia.
Toda a gente em Israel sabia qual
era o mais importante de todos
os mandamentos: o descanso do sábado..
Jesus de Nazaré era mestre em Israel. Como outros mestres,
interpretava a Lei de Deus (Antigo
Testamento), e ensinava-a
aos discípulos e à multidão. Portanto, o
doutor da Lei sabia que Jesus
conhecia qual era o grande mandamento.
Por que faz a pergunta?
Com intenção de «o experimentar», diz
Mateus. Se Jesus desse a
resposta esperada, os fariseus
retrocariam: então, por que
não guardas tu esse mandamento – o maior
da Lei?!
Os fariseus representam a religião da observância. Pelo cumprimento
de uma série de mandamentos, regras, etc.,
a pessoa torna-se “justa”.
Ela é segura de agradar a Deus e de
merecer a salvação, se segue
os preceitos que a Lei meticulosamente
determina. Para esse fim,
os mestres tinham compilado 613
mandamentos da tradição bíblica
e oral. Que, para a maioria da gente, se
tornava um fardo pesado.
Não estranha que Jesus andasse em
constante conflito com os fariseus.
O anúncio que o Mestre traz vai em
direcção totalmente oposta à deles.
Deus ama-nos gratuitamente. A salvação é
dom seu, não mérito ou
conquista nossa. Esse é o coração do Evangelho, realmente uma Boa
Notícia! Na religião que os fariseus
representam, o acesso a Deus
é reservado a poucos. Jesus veio escancarar a todos as portas da união
com Deus. Sim, os mandamentos devem ser cumpridos – se percebemos
que eles ajudam o homem a ter mais vida,
a ser mais feliz: «o sábado é
para o homem, não o homem para o sábado», sublinha Jesus. Deus não
sente ciúmes do ser humano, não é seu
concorrente – é seu aliado!
Por isso, o mandamento maior só pode ser um: «Amarás!».
Amarás porque Aquele que te chamou à
vida é puro Amor!
Na verdade, não é um mandamento; é um
lembrete. Uma mãe não ama
o filho por um decreto – ama porque está
na sua natureza amar. Uma
flor não exala perfume, não regala a sua
beleza por um mandamento
– é da sua natureza perfumar,
encantar. O cristão não ama por preceito.
Ama, porque «todo aquele que ama nasceu
de Deus» (1João 4,7).
O cristão não é aquele que acredita numa
doutrina e nuns preceitos;
o cristão é aquele que «acredita no
amor» (1João 4,16).
Não somos chamados a uma observância
pesada de mandamentos.
Somos chamados a amar. Porque o Amor é a força propulsora
do universo e da vida. Podemos amar, porque Alguém nos amou
primeiro (1João 4,19). E saberemos
amar, se nos deixarmos sempre
mais envolver por esse Amor – livre,
gratuito. Se deixarmos que Ele
sare as feridas de desamor que
carregamos, e que levam ao egoísmo,
ao fechamento ou à busca desenfreada de
amores que não saciam.
Então, sim, «amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração».
«Todo», porque, sarado pelo Amor, o teu
ser será um todo unitário,
capaz de estar presente «todo» na
relação com Deus e com os outros.
Um amor não fragmentado.
Tinham-lhe perguntado qual era “o”
mandamento. Mas Jesus acrescenta:
há um segundo, que lhe é
semelhante: «Amarás o teu próximo como
a ti mesmo». Outra revolução religiosa! (O mundo ainda espera que se
realize.) Amar a Deus, prestar-lhe culto
segundo umas normas não é
assim tão difícil. Amar as pessoas de
carne e osso é outra história!...
Amar
a Deus, que não vemos, pode ser até uma doce ilusão. Amar
as pessoas que vemos – e tantas são
antipáticas! – é outro conto!...
S. João adverte-nos contra um ilusório
amor desencarnado: «A Deus
nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns
aos outros, Deus permanece
em nós, e em nós o amor é perfeito» (1João 4,12). A primeira leitura
de hoje (Êx 22,20-26) explica isso com a
concreta linguagem social
judaica: «Não prejudicarás o estrangeiro... Não maltratarás a
viúva
nem o órfão... Não emprestarás aos
pobres dinheiro com usura...».
Porque o nosso amor é frágil, precisamos
começar por beber da Fonte
do Amor. E voltar a ela
constantemente. E então, como de
verdadeiro
Amor se trata, nos dilatará o
coração. E fará caber nele todos os filhos
e filhas de Deus.
Amado, amarás!...
Fonte: um texto de João Pedro Fernandes,
CSsR.