Transfiguração
do Senhor
A festa da Transfiguração do Senhor, celebrada no
Oriente desde o século V, celebra-se no Ocidente desde 1457. Situada antes do
anúncio da Paixão e da Morte, a Transfiguração prepara os Apóstolos para a
compreensão desse mistério. Quase com o mesmo objectivo, a Igreja celebra esta
festa quarenta dias antes da Exaltação da Cruz, a 14 de Setembro.
A Transfiguração, manifestação da vida
divina, que está em Jesus, é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite
da Páscoa.
Os Apóstolos, quando virem Jesus na sua condição de Servo, não
poderão esquecer a sua condição divina.
Primeira leitura: Daniel 7, 9-10.13s.
« vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho
de homem».
No nosso texto já não se trata do Messias davídico que
havia de restaurar o Reino de Israel, mas da sua transfiguração sobrenatural: o
Filho do homem vem inaugurar um reino que, embora se insira no tempo, “não é
deste mundo” (Jo 18, 36). Ele triunfará sobre as potências terrenas, conduzindo
a história à sua realização escatológica. Jesus irá identificar-se muitas vezes
com esta figura bíblica na sua pregação e particularmente diante do Sinédrio,
que o condenará à morte.
Segunda leitura: 2 Pedro 1, 16-19: “ testemunhas oculares da sua majestade :Este é o meu Filho, o meu muito
Amado”.
Evangelho: Lucas 9, 28b-36: «Este é o meu
Filho predilecto. Escutai-o.»
A Transfiguração confirma a fé dos Apóstolos, manifestada por Pedro em Cesareia de Filipe, e ajuda-os a ultrapassar a sua oposição à perspectiva da paixão anunciada
por Jesus. Quem quiser Seu discípulo, terá de participar nos seus sofrimentos
(Mt 16, 21-27).
A
Transfiguração é um primeiro resplendor da glória divina do Filho, chamado a
ser Servo sofredor para salvação dos homens. Na oração, Jesus transfigura-se e
deixa entrever a sua identidade sobrenatural.
Moisés e Elias são protagonistas de um êxodo muito
diferente nas circunstâncias, mas idêntico na motivação: a fidelidade absoluta
a Deus. A luz da Transfiguração
clarifica interiormente o seu caminho terreno.
Quando a visão
parece estar a terminar, Pedro como que tenta parar o tempo. É, então,
envolvido com os companheiros pela nuvem. É a nuvem da presença de Deus, do
mistério que se revela permanecendo incognoscível. Mas Pedro, Tiago e João
recebem dele a luz mais resplandecente: a voz divina proclama a identidade
Jesus, Filho e Servo sofredor (cf Is 42, 1).
Jesus manda os seus discípulos rezar. Hoje, toma à
parte os seus predilectos, Pedro, Tiago e João, para os fazer rezar mais longa
e intimamente. Estes três representam particularmente os pontífices, os
religiosos, as almas chamadas à perfeição. Para rezar Jesus gosta da solidão, a
montanha onde reina a paz, a calma, onde pode ver-se a grandeza da obra divina
sob o céu estrelado durante as belas noites do Oriente.
A transfiguração é uma visão do céu. É uma graça
extraordinária para os três apóstolos. Não nos devemos agarrar às graças
extraordinárias que são por vezes o fruto da contemplação. Pedro agarra-se a
isso. Engana-se. Queria ficar lá: «Façamos três tendas», diz. Não sabia o que
dizia. A visão desaparece numa nuvem. Há aqui uma lição para nós.
Entreguemo-nos à oração habitual, à contemplação. Não desejemos as graças
extraordinárias. Se vierem, não nos agarremos a elas.
Os frutos desta
festa são, em primeiro lugar, o
crescimento da fé.
Os apóstolos testemunham-nos que viram a glória do
Salvador. «Não são fábulas que vos contamos, diz S. Pedro (2Pd 1, 16), fomos
testemunhas do poder e da glória do Redentor. Ouvimos a voz do céu sobre a
montanha gritando-nos no meio dos esplendores da transfiguração: É o meu Filho
bem-amado, escutai-o». S. Paulo encoraja a nossa esperança recordando a
lembrança da glória do salvador manifestada na transfiguração e na ascensão:
«Veremos a glória face a face, diz, e seremos transfigurados à sua semelhança»
(2Cor 3, 18).
– Esperamos o
Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo terrestre e
o tornará semelhante ao seu corpo glorioso» (Fil 3, 21). Mas este mistério é
sobretudo próprio para aumentar o nosso amor por Jesus. Nosso Senhor
manifestou-nos naquele dia toda a sua beleza. O seu rosto era resplandecente
como o sol. Os apóstolos, testemunhas da transfiguração, estavam totalmente
inebriados de amor e de alegria. «Que bom é estar aqui», dizia S. Pedro.
«Façamos aqui a nossa tenda».
Nosso Senhor falava então da sua Paixão com Moisés e
Elias: nova lição de amor por nós. O Coração de Jesus, mesmo na sua glória, não
pensa senão em nós e nos sacrifícios que quer fazer por nós. Lições também de
penitência, de reparação, de compaixão pelo Salvador. Porque teve de sofrer
tanto para nos resgatar, choremos os nossos pecados, amemos o nosso Redentor,
consolemo-lo.
Este é o meu Filho muito amado: Escutai-o.
– A voz do Pai celeste diz-nos: “Escutai-o”, palavra
cheia de sentido, como todas as palavras divinas. Deus dá-nos o seu divino
Filho por guia, por chefe, por mestre. Escutai-o, fala-nos nas leis santas do
Evangelho e nos conselhos de perfeição. Têm a missão para vos dizer a vontade
divina. Fala-vos pela sua graça, na oração, na união habitual com ele. A
palavra de Deus nunca vos falta, é a vossa docilidade que falta habitualmente.
Esta palavra divina - «Escutai-o» - espera de vós uma resposta. Não basta
apenas uma promessa vaga: «hei-de escutar». É preciso uma disposição habitual:
«escuto, escuto sempre; falai, Senhor, o vosso servo escuta». Escutarei no
começo de cada ação, para saber o que devo fazer e como devo fazê-lo.
Fonte: resumo e adaptação de um texto de: <dehonianos.org/portal/liturgia>