25º Domingo do
Tempo Comum – Ano A
A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos
caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos
homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.
A primeira leitura (Is 55,6-9), pede aos crentes que voltem para Deus. “Voltar para Deus” é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.
O homem só poderá converter-se a Deus e abraçar os
seus esquemas e valores, se se mantiver em comunhão com Ele. É na escuta e na reflexão da Palavra de Deus,
na oração frequente, na atitude de disponibilidade para
acolher a vida de Deus, na entrega confiada nas mãos de Deus, que o crente
descobrirá os valores de Deus e os assumirá. Aos poucos, a acção de Deus irá
transformando a mentalidade desse crente, de forma a que ele viva e testemunhe
Deus e as suas propostas para os homens.
A conversão é um
processo nunca acabado. Todos os dias o crente terá de optar entre os
valores de Deus e os valores do mundo, entre conduzir a sua vida de acordo com
a lógica de Deus ou de acordo com a lógica dos homens. Por isso, o verdadeiro
crente nunca cruza os braços, instalado em certezas definitivas ou em
conquistas absolutas, mas esforça-se por viver cada instante em fidelidade
dinâmica a Deus e às suas propostas.
Finalmente, o nosso texto sugere uma reflexão sobre a
imagem que temos de Deus. Temos de descobrir, no diálogo pessoal com Ele, esse
Deus que nos transcende infinitamente. Sem preconceitos, sem certezas absolutas,
temos de mergulhar no infinito de Deus, e deixarmo-nos surpreender pela sua
lógica, pela sua bondade, pelo seu amor.
A segunda leitura (Filip 1,20c-24.27ª), apresenta-nos o exemplo de um
cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou
aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no
centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projecto.
Um dos elementos que mais impressionam e questionam
neste testemunho é a centralidade de
Cristo na vida de Paulo. Diante de Cristo, todos os interesses pessoais e
materiais do apóstolo passam a um plano absolutamente secundário. O apóstolo
vive de Cristo e para Cristo; nada mais lhe interessa. Paulo aparece, neste
aspecto, como o perfeito modelo do cristão: para os baptizados, Cristo deveria
ser o centro de todas as referências e interesses, a “pedra angular” à volta da
qual se constrói a existência cristã. Que
significa Cristo para mim? Ele é a referência fundamental à volta da qual
tudo se articula, ou é apenas mais um entre muitos interesses a partir dos
quais eu vou construindo a minha vida? Quando tenho de optar, para que lado cai
a minha escolha: para o lado de Cristo, ou para o lado dos meus interesses
pessoais?
A liberdade total de Paulo face à morte. Essa liberdade
resulta do facto de a fé que anima o apóstolo lhe permitir encarar a morte, não
como o mais terrível e assustador de todos os males, mas como a possibilidade
do encontro definitivo e pleno com Cristo. Dessa forma, Paulo pode entregar-se
tranquilamente ao exercício do seu ministério, sem deixar que o medo trave o
seu empenho e o seu testemunho. Também aqui a atitude de Paulo interpela e questiona os crentes… Para um
cristão, a morte é o momento da realização plena, do encontro com a vida
definitiva. Não é um drama sem sentido, sem remédio e sem esperança. Para um
cristão, não faz sentido que o medo da perseguição ou da morte impeça o
compromisso com os valores de Deus e com o compromisso profético diante do
mundo.
O Evangelho (Mt 20,1-16ª), diz-nos que Deus chama à salvação
todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades
ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a
forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa
mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo
interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.
O Reino de Deus é para todos sem excepção. Para Deus não
há marginalizados, excluídos, indignos, desclassificados… Para Deus, há homens
e mulheres – todos seus filhos, independentemente da cor da pele, da
nacionalidade, da classe social – a quem Ele ama, a quem Ele quer oferecer a
salvação e a quem Ele convida para trabalhar na sua vinha. A única coisa
verdadeiramente decisiva é se os interpelados aceitam ou não trabalhar na vinha
de Deus. Fazer parte da Igreja de Jesus é fazer uma experiência radical de
comunhão universal.
Todos têm lugar na Igreja de Jesus… Mas todos terão a
mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há trabalhadores mais importantes do que os outros, não há
trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres
que aceitaram o convite do Senhor – tarde ou cedo, não interessa – e foram
trabalhar para a sua vinha.
Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a
cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para
fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os
outros irmãos. Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e
todos devem ser acolhidos, amados e considerados de igual forma.
Fonte: rsumo e adaptação local de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia"