sábado, 3 de fevereiro de 2018

5º Domingo do Tempo Comum – Ano B



5º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Que sentido têm o sofrimento e a dor que acompanham a caminhada do homem pela terra? Qual a “posição” de Deus face aos dramas que marcam a nossa existência? A liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum reflecte sobre estas questões fundamentais. Garante-nos que o projecto de Deus para o homem não é um projecto de morte, mas é um projecto de vida verdadeira, de felicidade sem fim.

Na primeira leitura  (Job 7,1-4.6-7),  um crente chamado Job comenta, com amargura e desilusão, o facto de a sua vida estar marcada por um sofrimento atroz e de Deus parecer ausente e indiferente face ao desespero em que a sua existência decorre… Apesar disso, é a Deus que Job se dirige, pois sabe que Deus é a sua única esperança e que fora d’Ele não há possibilidade de salvação.
O texto que nos é hoje proposto apresenta-se como uma reflexão do próprio Job sobre o sentido da sua vida.
Job começa por tecer considerações de carácter geral sobre a vida do homem na terra. O quadro apresentado é muito negativo… Para mostrar como a vida é dura, triste e dolorosa, ele utiliza três exemplos (vers. 1-2). O primeiro exemplo é o da vida do soldado, condenado a uma existência de luta, de risco e de sujeição. O segundo exemplo é o do escravo, condenado a uma vida de trabalho, de tortura e de maus tratos (só os breves momentos de descanso, à sombra, lhe dão algum alívio). O terceiro exemplo é o do trabalhador assalariado, condenado a trabalhar duramente de sol a sol (embora receba a recompensa de um salário). Estes são, na época, os três “estados” considerados mais penosos e miseráveis da vida do homem.
Depois de traçar o quadro da sua triste existência, Job dirige-se directamente a Deus
O sofrimento – sobretudo o sofrimento do inocente – é, talvez, o drama mais inexplicável que atinge o homem ao longo da sua caminhada pela história. Que razões há para o sofrimento de uma criança ou de uma pessoa boa e justa? Porque é que algumas vidas estão marcadas por um sofrimento atroz e sem esperança? Como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, Se situa face ao drama do sofrimento humano? A única resposta honesta é dizer que não temos uma resposta clara e definitiva para esta questão. O “sábio” autor do livro de Job lembra-nos, contudo, a nossa pequenez, os nossos limites, a nossa finitude, a nossa incapacidade para entender os mistérios de Deus e para compreender os caminhos por onde se desenrolam os projectos de Deus. De uma coisa podemos estar certos: Deus ama-nos com amor de pai e de mãe e quer conduzir-nos ao encontro da vida verdadeira e definitiva, da felicidade sem fim… Talvez nem sempre sejamos capazes de entender os caminhos de Deus e a sua lógica… Mas, mesmo quando as coisas não fazem sentido do ponto de vista da nossa humana lógica, resta-nos confiar no amor e na bondade do nosso Deus e entregarmo-nos confiadamente nas suas mãos.
A segunda leitura  ( sublinha, especialmente, a obrigação que os discípulos de Jesus assumiram no sentido de testemunhar diante de todos os homens a proposta libertadora de Jesus. Na sua acção e no seu testemunho, os discípulos de Jesus não podem ser guiados por interesses pessoais, mas sim pelo amor a Deus, ao Evangelho e aos irmãos.
Em geral, a nossa sociedade é muito sensível aos direitos individuais e valoriza muito a liberdade. Trata-se, sem dúvida, de uma das dimensões mais significativas e mais positivas da cultura do nosso tempo… Contudo, os próprios direitos ou a própria liberdade não são valores absolutos… Aliás, a afirmação intransigente dos próprios direitos e da própria liberdade pode resultar, por vezes, em prejuízo para os outros irmãos… Para o cristão, o valor realmente absoluto e ao qual tudo o resto se deve subordinar é o amor. O cristão sabe que, em certas circunstâncias, pode ser convidado a renunciar aos próprios direitos e à própria liberdade, porque a caridade ou o bem dos irmãos assim o exigem. O amor é, para o cristão, o “bem maior”, em vista do qual ele pode renunciar a “bens menores”. O discípulo de Jesus não pode impor os seus direitos a qualquer preço, sobretudo quando esse preço implica desprezar os irmãos.
• A expressão “ai de mim se não anunciar o Evangelho” traduz a atitude de quem descobriu Jesus Cristo e a sua proposta e sente a responsabilidade por passar essa proposta libertadora aos outros homens. Implica o dom de si, o esquecimento dos seus interesses e esquemas pessoais, para fazer da sua vida um dom a Cristo, ao Reino e aos outros irmãos. Que eco é que esta exigência encontra no nosso coração? O amor a Cristo e aos nossos irmãos sobrepõe-se aos nossos esquemas e programas pessoais e obriga-nos a sentirmo-nos comprometidos com o Evangelho e com o testemunho do Reino proposto por Jesus?
• O serviço do Evangelho e dos irmãos não pode ser, nunca, uma instalação numa vida fácil, descomprometida, cómoda, pouco exigente. Aquele que dedica a sua vida ao serviço do Reino não é um funcionário público, com um horário pouco exigente e um salário agradável, que cumpre as suas horas de serviço, que resolve os problemas “burocráticos” que a “profissão” exige e que se retira comodamente para o seu mundo isolado, em paz com a sua consciência… Mas é alguém que põe o amor aos irmãos e à comunidade acima de tudo, que está sempre disponível para servir, que é capaz de renunciar até aos seus tempos de descanso para acompanhar os irmãos, para os escutar, para os acolher. Para o discípulo de Jesus, o amor deve, sempre, estar acima dos próprios interesses e tornar-se dom, serviço, entrega total.
No Evangelho (Mc 1, 29-39),  manifesta-se a eterna preocupação de Deus com a felicidade dos seus filhos. Na acção libertadora de Jesus em favor dos homens, começa a manifestar-se esse mundo novo sem sofrimento, sem opressão, sem exclusão que Deus sonhou para os homens. O texto sugere, ainda, que a acção de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos.
O projecto de Deus para os homens e para o mundo não é um projecto de morte, mas de vida; o objectivo de Deus é conduzir os homens ao encontro desse mundo novo (o “Reino de Deus”) de onde estão ausentes o sofrimento, a maldição e a exclusão, e onde cada pessoa tem acesso à vida verdadeira, à felicidade definitiva, à salvação. Talvez nem sempre entendamos o sentido do sofrimento que nos espera em cada esquina da vida; talvez nem sempre sejam claros, para nós, os caminhos por onde se desenrolam os projectos de Deus… Mas Jesus veio garantir-nos absolutamente o empenho de Deus na felicidade e na libertação do homem. Resta-nos confiar em Deus e entregarmo-nos ao seu amor.
A história da sogra de Pedro que, depois do encontro com Jesus, “começou a servir” os que estavam na casa, lembra-nos que do encontro libertador com Jesus deve resultar o compromisso com a libertação dos nossos irmãos. Quem encontra Jesus e aceita inserir-se na dinâmica do “Reino”, compromete-se com a transformação do mundo… Compromete-se a realizar, em favor dos irmãos, os mesmos “milagres” de Jesus e a levar vida, paz e esperança aos doentes, aos marginalizados, aos oprimidos, aos injustiçados, aos perseguidos, aos que sofrem. Os meus gestos são sinais da vida de Deus (“milagres”) para os irmãos que caminham ao meu lado?
Na multidão que se concentra à porta da “casa de Pedro” podemos ver essa humanidade que anseia pela sua libertação e que grita, dia a dia, a sua frustração pela guerra, pela violência, pela injustiça, pela miséria, pela exclusão, pela marginalização, pela falta de amor… A Igreja de Jesus Cristo (a “casa de Pedro”) tem uma proposta libertadora que vem do próprio Jesus e que deve ser oferecida a todos estes irmãos que vivem prisioneiros do sofrimento… O que é que nós, discípulos de Jesus, temos feito no sentido de oferecer a proposta libertadora de Jesus aos nossos irmãos oprimidos? Ao olhar para a Igreja de Jesus, eles encontram solidariedade, ajuda, fraternidade, preocupação real com os seus dramas e misérias, ou apenas discursos teológicos abstractos e virados para o céu? Os nossos irmãos idosos, doentes, marginalizados, esquecidos encontram nos nossos gestos o amor libertador de Jesus que dá esperança e que aponta no sentido de um mundo novo, ou encontram egoísmo, indiferença, marginalização?
O exemplo de Jesus mostra que o aparecimento do “Reino de Deus” está ligado a uma vida de comunhão e de diálogo com Deus. Rezar não é fugir do mundo ou alienar-se dos problemas do mundo e dos dramas dos homens… Mas é uma tomada de consciência dos projectos de Deus para o mundo e um ponto de partida para o compromisso.
Fonte: resumo e adaptação local de “dehonianos.org/portal/liturgia”

Sábado – IV Semana –Tempo Comum – Anos Pares 3 Março 2018



Sábado – IV Semana –Tempo Comum – Anos Pares
3 Março 2018
Primeira leitura: 1 Reis 3, 4-13

O autor sagrado realça em Salomão três facetas: sábio (cc. 3-5), construtor (cc. 6-9), rico (c. 10). Mas a mais importante das três facetas é a sabedoria. Essa sabedoria abarca todos os campos: a governação (cf. 3, 16-28), as letras e as artes. Essa sabedoria é dom de Deus, fruto da oração. E a oração do rei é a melhor prova da sua sabedoria. A oração de Salomão, no santuário de Guibeon, é sábia e inteligente.

 Por isso, agradou ao Senhor. Não foi uma oração egoísta, mas uma oração em que pediu a Deus bons critérios para julgar e para discernir o bem e o mal, para governar com justiça.

A narrativa do sonho de Salomão tem o estilo das lendas populares. O protagonista aparece como um herói positivo, que segue a lei de Deus e oferece sacrifícios ao Senhor, podendo, por essa razão, pedir o que quisesse (vv. 4s.). Na sua oração, o rei usa a linguagem sapiencial e profética: pede «um coração cheio de entendimento», para fazer justiça ao povo, e «para discernir entre o bem e o mal»
Tal como nas lendas, o pedido do rei agrada a Deus e é atendido. Mas, com a sabedoria, Salomão recebe também a riqueza e a glória.

Evangelho: Mc 6, 30-34
Na segunda parte do seu evangelho (6, 30-10), Marcos diz-nos que Jesus, apesar de galileu, é profundamente universal: dirige-se aos outros, aos afastados, aos gentios; mas não esquece os clássicos, os eleitos.

Os Apóstolos vêm dos seus lugares de trabalho e contam a Jesus o que fizeram. Jesus escuta-os, mas não quer vê-los cair no triunfalismo do muito que fizeram e fazem, nem no activismo de quem se entrega às coisas do Senhor, esquecendo o próprio Senhor. Por isso, lhes diz: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco».

 É um momento de intimidade entre Jesus e os seus, um convite ao repouso e ao recolhimento. A comunidade dos Doze, com Jesus no barco, recompõe-se e renova-se em vista da secção dos milagres e da dupla multiplicação dos pães. Estes milagres são preanunciado e introduzidos com a referência à necessidade de alimento, material e simbólico: os discípulos «não tinham tempo para comer» (v. 31); as multidões «eram como ovelhas sem pastor» (v. 34).

É uma pena que a tradição os retiros e exercícios espirituais se tenham convertido em outras coisas que nem sempre contribuem para o bem dos homens e para o bem da Igreja.

Salomão não é grande por causa da sua riqueza, nem por causa da sua sabedoria. É grande porque soube dirigir a Deus a oração justa. Com verdadeira humildade, implorou de Deus a sabedoria como o mais elevado dom, que só Deus pode conceder. Soube também pedir o discernimento: «concede ao teu servo um coração cheio de entendimento… para discernir entre o bem e o mal» (1 Re 3, 8).

Quanto precisamos da sabedoria para nos conduzirmos pelos critérios de Deus, e não pelos critérios do mundo em que vivemos! Se a obediência vale mais do que os sacrifícios (cf. 1 Sam 15, 22), quanto precisamos de nos habituar a discernir, sempre e em toda a parte, a vontade de Deus acerca de nós, das nossas comunidades e do mundo!
Os discípulos de Jesus, ao regressarem, contam-lhe os êxitos da missão que lhes tinha confiado: expulsaram demónios, curaram doentes (cf. Mc 6, 13).
Jesus, quase não lhes presta atenção, e aponta-lhes algo de mais importante: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco» (Mc 6, 31).

No mundo agitado em que vivemos, perdemos o sentido do repouso. Mergulhados em mil e uma tarefas, corremos desenfreadamente, sem reservarmos tempo para nós. Jesus lembra-nos que não podemos viver sem nos alimentarmos, sem repousarmos. São exigências da nossa condição humana que não podemos desprezar. A própria eficácia do nosso apostolado depende mais da graça do Senhor do que das nossas correrias e esforços.

 Precisamos de tempo para estarmos a sós com o Senhor, crescermos na intimidade com Ele, e apresentar-lhe as situações e as pessoas que encontramos no nosso apostolado. Sem nos alimentarmos na mesa da Palavra e da Eucaristia, a nossa vida definha e o nosso apostolado é estéril.

Senhor, dá-me um coração que saiba discernir a vontade do Pai, que saiba amá-la, que saiba cumpri-la pronta e generosamente. Peço-te esta graça por intercessão de Maria, a Virgem que sabia escutar, a Virgem do «Sim». Em cada momento, quer me convoques para a missão, quer me chames a descansar, direi como Tu e como Ela:: Eis-me aqui; faça-se!

Ajuda-me a fazer silêncio, sobretudo dentro de mim. Dá-me o gosto da solidão preenchida pela tua presença. Liberta-me do frenesim da acção e da busca extenuante do barulho e da confusão.
Que eu saiba escutar o silêncio. Que eu saiba ouvir a tua voz nas pequenas coisas de cada dia: no rosto do irmão, no encanto da natureza, nos trabalhos e na história, no repouso e no sono, quando tudo mergulha no silêncio e só Tu podes penetrar no íntimo dos corações.
Fonte: resumo e adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

2 Fevereiro - Apresentação do Senhor -



2 Fevereiro - Apresentação do Senhor - 

Esta festa já era celebrada em Jerusalém, no século IV. Chamava-se festa do encontro, hypapántè , em grego. Em 534, a festa estendeu-se a Constantinopla e, no tempo do Papa Sérgio, chegou a Roma e ao Ocidente. Em Roma, a festa incluía uma procissão até à Basílica de S. Maria Maior. No século X, começaram a benzer-se as velas.

José e Maria levam o Menino Jesus ao templo, oferecendo-o ao Pai. Como toda a oferta implica renúncia, a Apresentação do Senhor é já o começo do mistério do sofrimento redentor de Jesus, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário. n do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção.
Primeira Leitura: Malaquias 3, 1-4
Os dois mensageiros anunciados pelo profeta introduzem-se mutuamente: um prepara a vinda do Senhor e outro realiza a Aliança, é o Esperado. Estas duas figuras perspetivam João Baptista e Cristo. Um é apenas precursor; o outro é o Messias esperado, de origem divina, o Redentor. O primeiro prepara o caminho; o segundo entra efetivamente no templo, santificando, pela oferta de si mesmo, o sacrifício da nova Aliança, os ministros e o culto.

Segunda leitura: Hebreus 2, 14-18
A carne e o sangue, submetidos ao poder da morte pelo inimigo, são divinizados e libertados por Cristo, Deus feito homem. A descendência de Abraão é restituída à vida. O Filho de Deus apresenta-se como primeiro entre muitos irmãos e como sacerdote, mediador na sua divindade e humanidade, da fidelidade de Deus, Pai da vida.

Evangelho: Lucas 2, 22-40
O Evangelho da Infância de Jesus tem o seu ponto alto no templo, lugar da plenitude do povo de Israel. É aí que Zacarias ouve a palavra que dirige a história para a sua meta (anúncio de João); é aí que o Menino é apresentado a Deus, revelado a Simeão e a Ana. É daí que regressa a Nazaré. Pano de fundo da cena da apresentação é lei judaica segundo a qual os primogénitos são sagrados e, por isso, devem ser apresentados a Deus. O Pai responde à apresentação e oferta de Jesus com o dom do Espírito ao velho Simeão, que profetiza. Israel pode estar descansado: a sua história não acaba em vão. Simeão viu o Salvador e sabe que a meta é agora o triunfo da vida.

Os pais de Jesus, de acordo com a lei mosaica, 40 dias depois do nascimento do primeiro filho, foram ao Templo de Jerusalém para oferecer o primogénito ao Senhor e para a mãe ser purificada. Mas este rito não foi exatamente igual aos outros. Nos ritos comuns, eram os pais que apresentavam os filhos a Deus em sinal de oferta e de pertença; neste rito é Deus que apresenta o seu Filho aos homens. Fá-lo pela boca do velho Simeão e da profetisa Ana. Simeão apresenta-O ao mundo como salvação para todos os povos, como luz que iluminará as gentes, mas também como sinal de contradição; como Aquele que revelará os pensamentos dos corações.
O encontro de Jesus com Simeão e Ana no Templo de Jerusalém é símbolo de uma realidade maior e universal: a Humanidade encontra o seu Senhor na Igreja. Malaquias preanunciava este encontro: «Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais».
No Templo, Simeão reconheceu Jesus como o Messias esperado e proclamou-o salvador e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia pela atitude assumida perante Ele; Jesus será ruína ou salvação. Como dirá João Baptista: Ele tem na mão a joeira para separar o trigo bom da palha (cf. Mt 3, 12).

É o que acontece, a outra escala, também hoje: no novo templo de Deus que é a Igreja, os homens «encontram» Cristo, aprendem a conhecê-lo, recebem-no na Eucaristia, como Simeão o recebeu nos braços; a sua palavra torna-se, aí, para eles, luz e o seu corpo força e alimento. É a experiência que fazemos, sempre que vamos à missa. A comunhão é um verdadeiro encontro entre Deus e nós. Hoje, essa experiência é acentuada pelo simbolismo da festa: a procissão com que entramos na igreja com o sacerdote, levando a vela acesa e cantando, era, sinal deste ir ao encontro de Jesus que nos chama no interior da sua igreja, na esperança de irmos ao seu encontro um dia no "Hypapante" eterno, quando formos nós a ser apresentados por Ele ao Pai.

A Candelária é festa de luz. A luz da fé não nos foi dada apenas para iluminar o nosso caminho, desinteressando-nos dos outros…
 A luz da fé também não é para ter acesa apenas na igreja, ou em certos momentos, mas em todos os momentos e situações da nossa vida… A nossa fé há de ser luz que ilumina, fogo que aquece… É luz e fogo quem é compreensivo e bom com todos… quem sabe apoiar os pequenos esforços… os pequenos progressos… quem tem palavras de amizade, de estímulo, de apoio… quem sabe dizer uma boa palavra, dar uma ajuda… O amor cristão tem a sua origem em Deus que nos amou e nos enviou o seu Filho com quem nos encontramos em vários momentos da nossa vida, particularmente quando celebramos a Eucaristia. Esse é o nosso encontro, enquanto esperamos o encontro definitivo no Céu.

Ó Jesus, eis-me aqui para fazer a vossa vontade. Quero estar atento e ouvir as vossas ordens, os vossos desejos, que me chegam através da vossa Palavra, das orientações dos vossos representantes na terra, dos acontecimentos da minha vida e da vida dos meus irmãos. Uno-me à oblação generosa do vosso divino Coração. Que quereis que vos faça? Dizei-mo, pelos meus pastores, pelas vossas inspirações, pela vossa providência. Falai, Senhor, que o vosso servo escuta. Iluminai-me com a vossa luz divina e refleti-la-ei nos meus irmãos.

«Eis-me aqui, meu Deus, para vos servir e para fazer a vossa vontade: Eis a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra». Esta é a regra, Maria obedece. Está escrito na lei, no Levítico e no Êxodo. A jovem mãe apresentar-se-á no templo para ser purificada, quarenta dias depois do nascimento de um filho e oitenta dias depois do nascimento de uma filha. 

Maria não costuma hesitar quando se trata da lei. Cumpre tudo à letra, segundo a Lei de Moisés. No quadragésimo dia, está em Jerusalém. Não examina se está dispensada pelo carácter sobrenatural da sua maternidade. A hesitação não lhe vem, é a lei. Como o seu divino Filho, renuncia a todo o privilégio e, contente com a sorte comum, obedece à lei. Jesus obedece e deixa-se levar, apresentar, resgatar, Maria obedece também e deixa-se purificar. 

Como Jesus, Maria leva no meio do seu Coração a lei de Deus, como sua regra de vida. Oh! Como esta obediência pontual, humilde, heroica, condena todas as nossas hesitações, toda a nossa procura de exceções e de dispensas! Maria podia dizer: Eis a serva do Senhor. E eu posso dizer: Ecce venio: eis que venho, Senhor, para obedecer, para fazer a vossa vontade. Eis o teu servo.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Quinta-feira - IV Semana –-Tempo Comum – Anos Pares - 1 Fevereiro 2018



Quinta-feira - IV Semana –-Tempo Comum – Anos Pares - 1 Fevereiro 2018
 
Primeira leitura: 1 Reis 2, 1-4.10-12

Tal como os patriarcas e os grandes chefes de Israel, David, ao ver aproximar-se a morte, reúne os seus filhos para lhes ditar as últimas vontades e pronunciar sobre eles a bênção final (Gn 49; Dt 33; Jos 23-34; 1 Sam 12). Apesar dos seus erros e pecados, David «seguiu os caminhos do Senhor» e pôde juntar-se aos seus pais, de acordo com as expressões do Deuteronómio de dos livros históricos (v. 10).
A permanência de Salomão no trono fica condicionada à observância dos mandamentos e preceitos da Lei de Moisés, enquanto na formulação da profecia de Natan não havia quaisquer condições (cf. 2 Sam 7, 14-16). Deduz-se, por isso, que o nosso texto foi composto durante o exílio e constitui um chamamento implícito à conversão. Os desterrados deviam saber que a restauração da monarquia, e a continuidade dinástica estavam condicionadas ao cumprimento das cláusulas da Aliança.

Evangelho: Mc 6, 7-13
A proclamação do reino não se faz de modo ocasional. Jesus cria uma «instituição» que põe em movimento e planifica o anúncio da Boa Nova. São os Doze que, depois da visita a Nazaré, Jesus envia em missão, dando-lhes os seus próprios poderes (cf. v. 7).
Distinguimos no texto três momentos:
-no primeiro, Jesus dá orientações quanto ao estilo de vida dos missionários: não devem levar provisões, mas confiar na generosidade daqueles a quem se dirigem;



- o terceiro momento é o da execução: os discípulos partem, pregam a conversão, fazem exorcismos e curas com sucesso (vv. 12s.).
Contentar-se com o essencial da vida, que se apoia na absoluta confiança no Senhor, é condição indispensável para estar ao serviço da Palavra. Isto tem a ver com cada um dos missionários, mas também com a própria Igreja que, não só há-de ser Igreja dos pobres, mas também Igreja pobre.
David, antes de dar ao filho Salomão orientações sobre o modo de tratar os inimigos do reino, recomenda-lhe a obediência fiel aos preceitos da Lei, única condição para o sucesso de qualquer empresa em que se venha a meter.

Num mundo que pretende organizar-se como se Deus não existisse, os crentes hão-de fazer-se eco desta advertência de David a Salomão. Num mundo de abundância, é fácil, para os próprios crentes, esquecer-se do essencial. A pressão dos media também pode levar-nos a orientar a nossa vida pelos lugares comuns em voga, ou a deixar-nos guiar por sondagens televisivas, quando ordenamos a nossa escala de valores.

Bem diferentes são os parâmetros propostos pelas leituras de hoje. Escutámos as recomendações de David a Salomão. Mas também Jesus, no evangelho, manda aos discípulos dispensar coisas que nos parecem indispensáveis. Nas suas viagens missionárias não hão-de levar «nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto». Podem ir «calçados com sandálias» mas não devem levar «duas túnicas» (cf. Mc 6, 8-9).

É verdade que precisamos de alimentação e de umas tantas coisas para sobrevivermos. É verdade que a saúde, a família e o trabalho são importantes. Mas nada disso se há-de sobrepor a Deus. Nada disso se há-de sobrepor ao Reino e à missão que nele nos é confiada. Nada disso é condição indispensável para ser discípulos do Senhor ou para O servir. Em vez de nos desculparmos com essas necessidades e com esses valores para não nos comprometermos no voluntariado, para não darmos o devido tempo à oração, para não nos dedicarmos o tempo ao serviço dos irmãos e ao apostolado, procuremos primeiro a palavra do Senhor, e tudo o resto virá por acréscimo.

O valor do homem não está em "ter" muito, mas no "ser", e o "ser" do homem é tanto mais perfeito quanto mais experimenta que «só Deus basta» e vive na sua intimidade: "Procurai primeiro o Reino dos Céus e tudo o resto vos será dado por acréscimo" (Mt 6, 33).
Este ensinamento de Jesus torna-se eficaz quando é testemunhado com a vida, quando um cristão demonstra, com a sua existência, que se torna cada vez mais pessoa humana, prescindindo de tantos bens, que os homens consideram indispensáveis. Se esse cristão for também religioso e missionário, o absoluto de Deus, o desapego dos bens e a confiança na Providência divina, não só devem ser realidades, mas também aparecer como tais aos olhos dos outros cristãos. Se assim não for, o religioso, o missionário, podem tornar-se contra-testemunho.

E também não basta o testemunho pessoal deste ou daquele religioso, deste ou daquele missionário. É indispensável o testemunho comunitário, o testemunho das próprias comunidades eclesiais.
Senhor, quando devo partir em missão, faço uma lista de muitas coisas a levar, porque as julgo necessárias. Hoje, Tu confundes-me, apresentando-me uma lista… do que não devo levar. Eu sei que não me queres desmazelado, mas apenas ensinar-me que não devo preocupar-me com demasiadas coisas… para não esquecer a confiança em Ti. Além disso, se aqueles a quem me envias me vissem excessivamente preocupado comigo mesmo, a minha pregação seria um contra-testemunho.
 Se me vissem utilizar meios poderosos, poderia tornar-se menos visível o poder da tua graça. Por isso, Te peço: afasta de mim a tentação de pôr a segurança da minha vida e o êxito da minha missão nas coisas ou nos meios a utilizar. Que eu me abra a Ti com um coração cada vez mais livre.
Nosso Senhor indica aos apóstolos três condições requeridas para o sucesso da sua missão. A primeira é o espírito de desinteresse. «Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente». Que os vossos ouvintes vejam que não é por ganho, mas pela salvação das almas e pela felicidade dos homens que trabalhais.

A segunda é o desapego das coisas da terra e o amor da santa pobreza: «Não leveis convosco nem ouro nem provisões».

A terceira é a mais inteira confiança nos cuidados e na protecção da divina Providência: «O trabalhador tem direito ao seu alimento». Estas condições são ainda hoje as do sucesso.

Fonte: resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.otg/portal/liturgia