SEGUNDA FEIRA – SEMANA SANTA
Primeira leitura: Isaías 42, 1-7
A liturgia
apresenta-nos, hoje, a figura do Servo de Javé, que nos ajuda a entrar no
mistério pascal, que celebramos com particular intensidade. A eleição, a missão
e o sofrimento desta misteriosa figura, são profecia do destino de Cristo. De
facto, a sua missão é de capital importância, mas extremamente difícil. Por
isso, o próprio Deus o apoia. Este Servo é consagrado com o espírito profético,
para levar a todas as nações «a verdadeira justiça», isto é, o conhecimento dos
juízos de Deus.
A missão do
Servo é descrita tendo como pano de fundo os costumes de Babilónia, onde o
«arauto do grande rei» era encarregado de proclamar pelas ruas da cidade os
decretos de condenação à morte. Se, ao terminar a volta, ninguém se erguesse
para defender o condenado, o arauto quebrava a cana e apagava a lâmpada que
levava, para indicar que a condenação se tornara irrevogável.
Mas o Servo do
único verdadeiro rei, que é Deus, não quebra a cana, nem apaga a lâmpada. Sendo
portador do juízo de Deus, não vai para condenar, mas para salvar. Com a força
da mansidão e com a firmeza da verdade, cumpre a sua missão, levando às mais
remotas paragens a Lei que todos esperam (cf. v. 4).
A figura do Servo realiza-se em
Cristo, simultaneamente servo sofredor e libertador da humanidade, escolhido para realizar a salvação, iluminar os povos, e estabelecer a
nova e eterna aliança (cf. v. 6), selada com o seu sangue.
Evangelho: João 12, 1-11
O cuidado de
João em referir a cronologia dos acontecimentos com precisão permite-nos
reviver pontualmente a graça dos últimos eventos que prepararam a páscoa de
Jesus.
O jantar de
Jesus, em Betânia, é prelúdio da Última Ceia. A refeição, tomada em grupo, era
um gesto sagrado porque indicava comunhão de sentimentos e de vida, e era
ensejo para dar graças a Deus por todos os seus dons, a começar pela vida.
No episódio que
o evangelho de hoje refere, esse aspecto era realçado pela presença de Lázaro,
«ressuscitado dos mortos- (v. 9). Mas, na cena descrita por João, tem
particular realce Maria, com o seu gesto de amor adorante, sem cálculos nem
medida. Essa mulher derrama sobre os pés de Jesus um perfume que podia custar o
salário recebido por um trabalhador manual durante dez meses. E, anota João, «a
casa encheu-se com a fragrância do perfume. (v. 3).
Maria é imagem
da Igreja-Esposa, unida ao sacrifício de Cristo-Esposo, que contrasta com a
esquálida figura de Judas. O amor dilatou o coração de Maria, irmã de Lázaro,
enquanto a mesquinhez fechou irremediavelmente o de Judas Iscariotes.
Contemplar
Maria Madalena que «traz aos pés de Jesus o perfume simbólico do seu amor e da
sua reparação». É belo deter-nos nesta cena, tão cheia de afecto e de amizade,
numa página carregada de presságios e interrogações.
O nosso seguimento de Jesus pode desenrolar-se
como caminho da morte à vida, como aconteceu a Lázaro, ou como solicitude
atenta e cuidadosa no serviço ao Mestre e aos seus, como aconteceu com Marta;
mas pode também assemelhar-se a um caminho de amor adorante, como aconteceu com
Maria, ou a um caminho de resistências e de calculismos, que acabam por sufocar
quem os segue, como aconteceu com Judas.
É importante
estar com Jesus, escutar a sua Palavra, partilhar a sua vida. Mas, mais
importante ainda, é reconhecer e acolher o amor que Ele tem por nós, o amor que
Ele é. Judas não o soube acolher. Por isso, condenou o «desperdício» de Maria,
e fez cálculos, a pretexto de ajudar os pobres. Maria, pelo contrário, fez
desse amor a sua vida. O Pobre, por excelência, é Jesus, que nos dá tudo quanto
possui, tudo quanto é. Por isso, só Ele deve ser o centro da nossa vida, sem
qualquer espécie de cálculos. O Mestre dá-nos tudo! Há que dar-lhe tudo, sem
cálculos nem reservas. A nossa entrega total a Cristo acaba por beneficiar toda
a Igreja: «a casa encheu-se com a fragrância do perfume>>{v. 3) .
Maria estava
longe de se aperceber da profundidade do seu gesto. Mas Jesus encarregou-Se de
lha revelar: era já uma homenagem pelo sacrifício que estava para realizar:
«Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura!» (v. 7). Jesus
está para dar a sua vida, para derramar o seu sangue: «Isto é o meu corpo
entregue … este é o meu sangue derramado por vós> (cf. Mt 26, 26s.).
Era justo que
Maria honrasse esse corpo oferecido, derramando sobre ele o perfume precioso.
Participemos nessa homenagem de Maria. Vivamos esta semana em grande espírito
de gratidão, de recolhimento, na emoção de sermos amados, e amados até à morte.
Sejamos generosos com o Senhor que deu tudo e Se deu todo por nós.
Correspondamos ao seu amor. Deixemo-nos amar. Tornemo-nos, cada vez mais,
profetas desse amor.
Senhor Jesus,
concede-me a graça de viver estes dias da tua Paixão perto de Ti, de ser
excessivamente generoso contigo, como foi Maria que «desperdiçou» um perfume
tão precioso para Te honrar. Que jamais ceda à tentação de pensar que, aquilo
que faço por Ti, podia ser útil para outros fins mais ou menos «piedosos» … Dá-me
a graça de compreender, quanto é possível neste mundo, o teu amor por mim.
Então compreenderei também que, tudo quanto faço por Ti, é pouco, ainda que
pareça muito.
Santa Madalena
é o modelo de um amor sincero e verdadeiro, saído do mais perfeito
arrependimento. Desde o momento da sua conversão, Madalena é generosa. Ela
lança-se aos pés de Nosso Senhor, derrama abundantes lágrimas, afronta o
respeito humano, consagra a Nosso Senhor perfumes de um grande preço. É já uma
alma amante. Dá-se sem reservas a Nosso Senhor, e doravante o seguirá,
fielmente o servirá.
Fonte: Resumo e adaptação
de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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