SEXTA-FEIRA – SEMANA SANTA
30 Março
2018
O CORAÇÃO DE
JESUS ABERTO PELA LANÇA
Mas um dos
soldados perfurou-lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água. Aquele
que o viu é que o atesta… E isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura:
nem um só dos meus ossos se há-de quebrar. E ainda: Hão-de olhar para aquele
que trespassaram (Jo 19, 34-36).
O último acto da Paixão de Cristo, a abertura
do seu lado, explica e resume toda a vida do Salvador. Tomou um Coração para o
abrir como a fonte de todas as graças.
Dai-nos,
Senhor, a graça de beber nas fontes da santidade e do amor.
PRIMEIRO
PONTO: A ferida.
Vamos ao
Calvário, depois da morte de Jesus. A multidão afastou-se, os amigos ficam.
Alguns soldados vêm verificar ou, se é o caso, apressar a morte dos pacientes,
para que o espectáculo do seu suplício prolongado não entristeça o dia do sábado.
Um dos
soldados adiantou-se, portanto, e abriu o lado de Jesus com uma lança. É um
grande mistério da história sagrada, onde tudo é mistério e acção divina. A
ferida exterior é aqui a revelação simbólica da ferida interior, a do amor.
O amor, eis o algoz de Jesus! Cristo morreu porque quis, foi o amor quem o
matou … É assim que a Igreja canta, para saudar o Coração trespassado do seu
esposo: «ó Coração vítima de amor, Coração ferido por amor. Coração morrendo de
amor por nós!
Nosso Senhor
permitiu este golpe de lança para chamar a nossa atenção para o seu coração,
para nos fazer pensar no seu amor que é a fonte de todos os mistérios da
salvação: as promessas do Éden, as profecias e as figuras da antiga lei, a
acção providencial sobre o povo de Deus, a incarnação, a vida, os ensinamentos
e a morte do Salvador. A abertura do lado de Jesus, é como a fonte que regava o
paraíso terrestre, é como a fenda do rochedo que deu a água para saciar o povo
de Israel.
SEGUNDO
PONTO: O sangue e a água. –
E saiu
sangue e água, diz S. João. O ferro ao retirar-se deixou jorrar uma dupla fonte
de sangue e de água, na qual os Padres da Igreja viram o símbolo desta
outra maravilha de amor, os sacramentos, canais preciosos da graça da salvação.
– Rio de água que, no santo baptismo e no banho da penitência, lava a alma da
mácula original; rio de sangue que cai todas as manhãs nos cálices dos altares,
para se expandir pelo mundo fora, consolar a Igreja sofredora do Purgatório e
reanimar a Igreja que combate sobre a terra; rio refrescante, onde o coração,
ressequido pelos trabalhos e pelas tentações, vai saciar-se de piedade, de
caridade e de santa alegria.
Senhor,
concedei-nos beber desta água e deste sangue, para não mais tenhamos esta sede
doentia das coisas do mundo que nos tortura, e que sejamos inebriados pelo
vosso amor.
TERCEIRO
PONTO: «Olharão para dentro daquele que trespassaram»
É a palavra
do profeta Zacarias, recordada por S. João. O profeta disse: «Olharão para
dentro daquele que trespassaram. S. João aplica estas palavras à abertura do
lado de Jesus; devia pensar no interior de Jesus, no Coração mesmo de Jesus que
ele pôde entrever pela chaga aberta do lado, no momento do embalsamamento.
Esta ferida
entrega-nos e abre-nos o Coração de Jesus. Espiritualmente, nós aí lemos o amor
que tudo deu, mesmo a vida. Neste amor mesmo, nós reconhecemos o motivo e o fim
de todas as obras divinas: Deus criou-nos, resgatou-nos, santificou-nos por amor.
No Coração de Jesus, é o fundo mesmo da natureza divina que nós penetramos na
sua mais maravilhosa manifestação. «Deus é amor». S. João leu isto no Coração
de Jesus.
Tenho
necessidade de contemplar esta ferida para ver como eu sou amado e como por
minha vez devo amar. Lá hei-de aprender como um coração amante deve agir,
sofrer, tudo dar, até à morte, por Deus e pelas almas.
Vamos mais
profundamente ainda, e vejamos tudo o que sofreu o mais delicado dos corações:
os desprezos, as calúnias, as traições, os abandonos, as desistências. Todas as
dores estão reunidas neste Coração e transbordam. Sentiu-as todas, a todas
santificou. Nas nossas dores, por mais extremas que sejam, tenhamos confiança
na simpatia e na compaixão deste Coração, que quis assemelhar-se a nós no
sofrimento, para ser mais compassivo e mais misericordioso (Heb 2, 17).
Comecemos
nós mesmos lamentar este amor que não é amado e por compadecer com as suas
dores.
A abertura
do Coração de Jesus recorda-nos o seu amor, a sua bondade, o seu sofrimento. Ele espera de mim o amor em troca,
a gratidão, a compaixão. Eis-me aqui, Senhor, para viver convosco e em Vós.
Não permitais que eu jamais me separe de vós.
Sem comentários:
Enviar um comentário