QUARTA-FEIRA –
SEMANA SANTA
28 Março 2018
Primeira leitura: Isaías 50, 4-9a
No terceiro
cântico são acentuados os sofrimentos do Servo de Javé: hostilidade,
perseguição, violência, fracasso. Como discípulo, o Servo não diz o que lhe
agrada, mas tem por missão transmitir as palavras, que atentamente escuta do
Senhor, aos desanimados e hesitantes. Por isso, não opõe resistência a Deus.
Sabe que Deus está com ele e, por isso, mantém-se forte e manso diante dos
perseguidores. Acolheu fielmente a Palavra e não recua diante da violência com
que tentam afastá-lo ou reduzi-lo ao silêncio. Não se verga ao sofrimento, nem
se deixa desnortear. Deus há intervir para o justificar diante dos opositores.
Por isso, proclama com determinação e fidelidade a Palavra escutada da boca de
Deus: «O Senhor Deus vem em meu auxílio; quem ousará condenar-me?» (v. 9).
Evangelho: Mateus, 26, 14-25
«Um dos Doze»,
um dos amigos íntimos de Jesus foi entregá-lo aos que O pretendiam matar. Foi
por sua iniciativa, livremente. A partir desse momento, continuando no grupo
dos discípulos, que partilhavam a vida e a missão do Mestre, ficou à espera de
«uma oportunidade: (v. 16) para O entregar. É arrepiante!
A liberdade
humana é capaz de tudo, até de se transcender na iniquidade, obra de Satanás
(cf. Lc 22, 3 e Jo 13, 2). Mateus dá-o a entender, quando cita Zacarias:
«Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de
prata» (v. 15; cf. Zc 11, 12). Mais significativo é o uso teológico do verbo
«entregar». Trata-se de uma «entrega-traição», da parte dos homens, e uma
«entrega-dom», da parte do Pai, que entrega o Filho, e da parte do Filho que
se entrega a Si mesmo até à morte na cruz (Jo 19, 30).
Jesus sente que
a sua «hora» se aproxima. Por isso, ordena que a celebração da Páscoa seja
devidamente preparada. Deseja ardentemente comê-la com os discípulos pois,
nela, o antigo memorial dará lugar ao novo, deixando-nos o seu Corpo e o seu
Sangue como alimento e bebida. A entrega de Si mesmo acontece num ambiente
toldado pelo anúncio da entrega-traição. Os discípulos mergulham num clima de
insegurança e de desconfiança. Fazem perguntas a Jesus, chamando «Senhor»
(Kyrios), enquanto Judas o chama simplesmente «Mestre. (Rabi). Mas Jesus é, de
facto, Senhor. Por isso, conhece o traidor e reconhece que nele se cumprem as
Escrituras. A insegurança dos discípulos representa a nossa própria insegurança
perante a possibilidade de também nós virmos a atraiçoar e a negar Jesus.
A Paixão de Jesus
não foi um acontecimento imprevisto. Tudo fora profeticamente anunciado, até o
preço da traição (cf. Zac 11, 12-13). A referência à profecia de Zacarias
leva-nos a ver Jesus como o rei manso e humilde de que fala o mesmo profeta
(Zac 9, 9). Mas é sobretudo Isaías que profeticamente anuncia, com pormenores
impressionantes, todo o drama de Jesus. A primeira leitura apresenta-nos, mais
uma vez, o misterioso Servo de Javé, atormentado e humilhado, mas cheio de
paciência, e de obediente e confiante abandono em Deus. É uma clara figura de
Jesus na sua Paixão (vv. 5-6), onde se revelará a majestade de Deus-Pai.
No evangelho
encontramos, de um lado, Judas que atraiçoa o Mestre e, do outro lado, Jesus
que dá orientações para a ceia pascal. Como mandavam os ritos, Jesus devia
explicar o significado dessa refeição singular e solene. Fê-lo dando-lhe um
sentido novo, em que se destacam dois elementos importantes: Jesus torna os
seus discípulos participantes da sua dignidade e do seu destino; o seu sangue
será derramado para remissão dos pecados.
Entre a
preparação e a celebração da ceia, é descoberto o traidor. Judas entrega Jesus,
e Jesus entrega-Se a Si mesmo. A traição torna-se ocasião para o dom voluntário
e total de Jesus. A sua morte torna-se fonte de vida. O seu Coração vence a
morte e transforma-a em vida para o mundo.
A Páscoa estava
desde sempre preparada em Deus. Mas, quando o Filho do homem veio realizá-la no
meio de nós, abriu-se para todo o homem um horizonte novo de ilimitada
liberdade, a liberdade de amar dando a própria vida, para se reencontrar em
plenitude no seio amante da Trindade.
Fonte: Resumo e
adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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