TERÇA-FEIRA –
6ª SEMANA – PÁSCOA- 8 MAIO 2018
Primeira leitura: Actos 16, 22-34
Lucas quer suscitar nos seus leitores a confiança em
Deus, que tem mais poder que os homens, e pode transformar as dificuldades em
graça. Por isso, «romanceia» muito o seu relato. Paulo e Silas tinham expulsado
o espírito pitónico de uma escrava bruxa.
Os seus senhores, que assim viram desaparecer uma
fonte de rendimento, arrastaram os missionários à presença dos magistrados, e
acusaram-nos de criar desordem na cidade, apregoando usos contrários aos dos
romanos.
Os magistrados, sem grandes investigações, mandaram
açoitar os acusados e puseram-nos na prisão, bem vigiados. Mais tarde,
invocando a sua cidadania romana, Paulo irá protestar contra os abusos
cometidos contra ele.
Entretanto, dá-se a clamorosa conversão narrada no
texto que hoje escutamos. O testemunho sereno dos prisioneiros, a sua lealdade,
a série de eventos extraordinários, impressionam o carcereiro, que pergunta aos
apóstolos: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» (v. 30).
A resposta é simples e directa: «Acredita no Senhor
Jesus» (v. 31). Assim, depois de Lídia, prosélita judaica, um funcionário
romano, entra a fazer parte da comunidade de Filipos, tão cara a Paulo.
Evangelho: João 16, 5-11
Jesus anuncia a sua partida deste mundo, e afirma que
ela é conveniente para os discípulos. Jesus fala da sua morte, que só poderá
ser entendida à luz do Espírito Santo. O testemunho de Jesus, que os discípulos
hão-de dar, só será possível depois de entenderem quem é Jesus, o que
significou a sua presença no meio de nós, e qual foi o sentido da sua morte e
da sua ressurreição. E só o Espírito lhes pode dar esse entendimento. Os
discípulos hão-de sofrer perseguições.
Mas elas serão intoleráveis se não
estiverem convencidos e seguros daquilo pelo qual serão perseguidos.
Além de dar testemunho de Jesus, o Espírito também acusará
o mundo de pecado por O ter rejeitado. Os crentes ficarão esclarecidos sobre o
erro do mundo, sobre o seu pecado de incredulidade.
A condenação de Cristo foi
inconsistente. A sua ressurreição condenou o príncipe deste mundo para sempre.
Jesus, morto e ressuscitado, é o verdadeiro vencedor.
A pregação, em Filipos, teve um começo prometedor. Mas
acabou de modo desastroso, quando se levantou um motim contra os missionários,
que foram acusados perante as autoridades e lançados na prisão.
Paulo, como
cidadão romano, estava isento destes processos sumários feitos pelas
autoridades locais. Mas, dessa vez, não invocou tal direito. E seguiu-se todo o
episódio descrito por Lucas.
Enquanto Paulo e Silas cantam os louvores de Deus na
prisão, dá-se um terramoto que escancara as portas da mesma. Os apóstolos
podiam ter fugido, como pensou o carcereiro. Mas permaneceram na prisão,
confiando em Deus e no seu poder para transformar as dificuldades e problemas
dos seus missionários em ocasiões de graça. E foi o que aconteceu. ~
O carcereiro converteu-se.
E a Igreja teve o primeiro
encontro com Roma, representada pelas autoridades da colónia romana de Filipos.
Lucas quer mostrar que o cristianismo nunca foi um perigo para a lei e para a
ordem no Império. Por isso, Roma deve reconhecer-lhe liberdade para pregar o
Evangelho.
A acção missionária da Igreja está sempre sujeita a vicissitudes idênticas às que Paulo e Silas tiveram de enfrentar. Mas há que prosseguir a missão, confiando em Deus e no seu poder.
A história da Igreja mostra-nos como Deus, pela
persistência e pela fé dos missionários, faz maravilhas. Lembro-me
concretamente da Igreja que está em Moçambique e do que teve de enfrentar, seja
durante a guerra colonial, seja durante os primeiros anos da independência do
país.
Não faltaram dificuldades de toda a ordem, incluindo
acusações de colaborar com uma ou outra força durante a guerra colonial, ou de
ser um instrumento do imperialismo, depois da independência.
Mas a Igreja não se deixou impressionar e permaneceu
em nome da fidelidade a Deus, e em nome da fidelidade ao povo. O seu notável
papel acabou por ser reconhecido.
O evangelho faz-nos ver como, enquanto o mundo condena
os discípulos de Jesus, o Espírito inverte a situação, revelando o verdadeiro
ser do mundo, o seu erro, a sua nulidade. É uma luz que emerge no critério do
juízo divino, diferente e até oposto ao do mundo.
Perseguidos e condenados pelos tribunais do mundo, os
discípulos podem julgar e condenar o mundo, enquanto esperam o juízo final que
revelará os termos exactos do entendimento divino.
Precisamos muito, hoje, deste Espírito que reforça os
corações, que torna evidentes as razões para crer, e que dá coragem para nos
opormos à mentalidade deste mundo cada vez mais seguro de si, e mais sedutor.
Precisamos,
sobretudo, que o Espírito nos mostre que muitos sectores do mundo «mundano» têm
em si componentes diabólicas, que a batalha entre Cristo e o príncipe deste
mundo continua, e que somos chamados a participar nessa luta decisiva dentro de
nós, entre nós e à nossa volta.
É verdade que todos somos criaturas frágeis, cansadas
e fatigadas: “cansadas” pela luta contra o mal; “fatigadas” pelo peso da nossa
carne fraca, e pelo peso das nossas culpas.
Mas Cristo, com misericordiosa bondade, convida-nos a
ir a Ele para termos força na luta: «Vinde a Mim, todos vós, que vos estais
cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei… Aprendei de Mim que sou manso e humilde
de coração e achareis alívio para as vossas almas, pois o Meu jugo é suave e o
Meu fardo é leve» (Mt 11, 28-30).
A nossa luta contra o mal passa pelo anúncio do
Evangelho, mas também pelo empenhamento em favor da justiça e da paz entre os
homens.
Isto é importante para as pessoas pobres e
desprotegidas, mas também é importante para a Igreja, frequentemente sentida
como “um corpo estranho”, mas que se torna credível quando se compromete
seriamente em favor do homem, e na luta pela sua libertação de todas as formas
de opressão.
Veni Sancte Spiritus! Vem Espírito Santo, para que
resistamos ao poder do mundo. Vê como somos fracos, como somos tímidos, e como
as razões do mundo avançam na conquista dos corações dos jovens e dos menos
jovens.
Que poderemos fazer, se não vieres em nosso auxílio?
Os nossos argumentos passam ao lado de muitos dos
nossos contemporâneos, sem lhes beliscar a couraça das seguranças em que põem a
sua confiança.
- Sem o teu Espírito, tornamo-nos como o sal que não
salga, ou como a luz que não alumia.
- Sem o teu Espírito, corremos o risco de
nos sentir defensores de uma causa perdida.
- Enche-nos do teu Paráclito, do teu
Advogado, do teu Arguente, do teu Defensor, do teu Consolador, para que não
fujamos à luta, não fiquemos desarmados, não nos afoguemos no difuso paganismo
que nos envolve.
- Faz- nos profetas críticos deste mundo, profetas entusiastas
do teu mundo, da tua verdade.
Fonte. Resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
Sem comentários:
Enviar um comentário