QUARTA-FEIRA – 6ª SEMANA
–PÁSCOA
Primeira leitura: Act 17, 15. 22-18,1
Em Atenas, Paulo utiliza uma nova técnica para
anunciar o Evangelho. Não começa por citar as Escrituras, como entre os judeus,
mas começa por referir a religiosidade dos gregos.
O discurso no Areópago de Atenas é um exemplo de
inculturação, que não atraiçoa a originalidade da mensagem cristã. Mesmo
dirigindo-se a estóicos e epicuristas, mesmo citando poetas gregos, Paulo faz
um discurso de profeta, anunciando um homem «ressuscitado de entre os mortos»
(v. 31).
Ainda que se insira na linha dos filósofos e dos
poetas, que tinham criticado a idolatria, diz o que eles nem sequer podiam
imaginar: a verdade alcança-se por meio de um homem ressuscitado de entre os
mortos, que também será o juiz final, isto é, o critério definitivo do bem e do
mal.
Um discurso, tão pouco racional, divide, mais uma vez,
o auditório. Muitos afastam-se de riso nos lábios. Mas alguns aderem à
mensagem.
Ao citar este discurso de Paulo, Lucas quer dar um
exemplo de como se pode apresentar o Kerygma aos pagãos cultos. Os resultados
são sempre idênticos: há quem acolha a Palavra e quem a rejeite. Apesar de
tudo, nasce uma comunidade cristã na capital da cultura daquele tempo.
Evangelho: Jo 16, 12-15
Jesus, durante a sua vida terrena, não pôde ensinar
muitas coisas aos discípulos, porque não eram capazes de as entender, pelo
menos em profundidade. Só o Espírito Santo é o mestre interior e o guia para a
verdade completa.
A vinda do Espírito Santo inaugurará uma nova fase do
conhecimento da palavra de Jesus. O seu ensinamento será dado no íntimo do
coração de cada discípulo. Por ele, hão-de conhecer os segredos da verdade de
Cristo e interiorizá-los.
A missão do Espírito será semelhante à de Jesus, mas
dirigida para o passado e para o futuro. Como durante a sua vida terrena o
Filho nada fez sem o consenso e a unidade do Pai, assim também o Espírito há-de
agir em perfeita dependência de Jesus, na Igreja pós-pascal.
O Espírito será guia na compreensão da palavra de
Jesus e do próprio Jesus; fará ver a realidade de Deus e dos homens como o Pai
e o Filho a vêem; fará conhecer a mundo e a história na perspectiva da novidade
iniciada com a morte e a ressurreição de Cristo.
Paulo verifica que os atenienses são muito religiosos,
que sabem muito de religião, que se tinham preocupado em honrar todos os deuses
e que, entre muitos erros, tinham tido uma boa inspiração, ao de dedicar um
altar «ao Deus desconhecido» (v. 23). A consciência da sua ignorância podia ser
uma preparação para acolher a revelação do verdadeiro Deus.
Mas, para isso, ainda precisavam do Espírito de
verdade, que só é dado por meio do Ressuscitado. Muitos, todavia, não estavam
preparados para isso. De facto, «ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos,
uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre
isso ainda outra vez» (v. 32). Mas houve quem estivesse preparado para
acolher o Espírito de verdade, concordando com Paulo: «Alguns dos homens, no
entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé» (v. 34).
Uma coisa é saber muito sobre religião e repeti-lo
como uma teoria qualquer, e outra é fazer experiência de fé, tomando
consciência profunda do que é ser salvo por Jesus.
Essa experiência e essa
consciência são uma graça do Espírito Santo, o Espírito de verdade, segundo as
palavras de Jesus. É o Espírito que nos permite fazer a exegese das palavras do
Senhor, para caminharmos pela história com a «mente de Deus», isto é, com o seu
modo de ver e de julgar, de sentir e de actuar. Essa «mente de Deus» coloca,
muitas vezes, os discípulos em confronto com a mentalidade do mundo.
O verdadeiro sentido das coisas, da história, dos
acontecimentos está reservado àqueles que têm o Espírito, o deixam falar e
escutam a sua voz num coração purificado: «Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus» (Mt. 5, 8). As épocas mais criativas da história, para a
fé, foram aquelas em que os cristãos se empenharam seriamente na libertação
interior, na oração, na santidade.
As palavras do Senhor realizam-se maximamente nos
santos, e são eles que melhorem compreendem as coisas de Deus e o momento
histórico em que vivem. Conhecer a realidade segundo Deus é algo de diferente
do conhecimento simplesmente racional: é deixar que o Espírito fale num coração
vazio de coisas demasiadamente terrenas.
Senhor, purifica o meu coração, pela infusão do teu Espírito.
Senhor, purifica o meu coração, pela infusão do teu Espírito.
Assim poderei compreender «Verdade completa», não só
sobre Ti e sobre os teus projectos, mas também sobre o mundo e sobre a
história.
Purifica o meu olhar interior para que possa ver os
teus caminhos, e o meu ouvido interior para que possa escutar a tua vontade.
Purifica o meu instinto, para que se oriente para Ti.
- Dá-me um coração desapegado e vazio para Te deixar falar.
- Dá-me um coração humilde para escutar a voz da tua Igreja.
- Dá-me a tua luz divina para
que saiba julgar o mundo, a sua mentalidade e as suas obras. Purifica-me e
ilumina-me, Senhor.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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