terça-feira, 8 de maio de 2018

MENSAGEM DA ASSEMBLEIA DOS RELIGIOSOS/AS DE MOÇAMBIQUE. MAPUTO. ABRIL 2018


CIRMO
CONFERÊNCIA DOS SUPERIORES E SUPERIORAS MAIORES DOS INSTITUTOS E CONGREGAÇÕES DA VIDA CONSAGRADA EM MOÇAMBIQUE

ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA
Maputo, 11-13 Abril 2018

TEMA: A VIDA CONSAGRADA EM MOÇAMBIQUE: DESAFIOS E SOLUÇÕES

MENSAGEM FINAL

Animados/as pelo Espírito do Senhor ressuscitado, os Superiores e Superioras Maiores de MOÇAMBIQUE, reunidos nos dias 11 a 13 de Abril de 2018, nas instalações do ISMMA, em Assembleia Nacional Extraordinária, para reflectir sobre o tema: “A vida consagrada em Moçambique: desafios e soluções”; saudamos a todos os Consagrados e Consagradas em Moçambique, desejando a todos e a cada um/a a paz do Senhor Ressuscitado.

1 - A Vida Consagrada nascida do Espírito e presente na Igreja como DOM continua a ser estimulada a ser anúncio da mística e profecia do Reino já presente neste mundo. Nós os Superiores e Superioras Maiores, agradecemos ao Deus da vida pelo dom dos carismas da Vida Consagrada nas congregações presentes em Moçambique e da sua fecundidade no dom das vocações.

2 - Na abertura desta Assembleia esteve presente o Senhor Dom Edgar Peña Parra, Núncio Apostólico, a quem exprimimos a gratidão pela sua proximidade e preocupação pela Vida Consagrada em Moçambique.
Ele na sua intervenção apresentou cinco desafios da Vida Consagrada em Moçambique:
formação, vivência dos conselhos evangélicos, vida comunitária, inculturação e testemunho.

3 - Conscientes da sua responsabilidade na missão que lhes foi confiada, de Superiores e Superioras Maiores, constatámos com agrado o empenho abnegado de muitos consagrados e consagradas na vivência dos valores evangélicos em várias frentes da missão.
Não obstante esta presença positiva, não escondemos a preocupação perante alguns desafios que vão fragilizando o testemunho. Tais como:
1. A vivência da fé, interculturalidade na comunidade e exercício da autoridade e a vivência da obediência;
2. A vivência do voto de pobreza e a sua relação com a gestão e a partilha dos bens.
3. O compromisso pastoral dos consagrados e consagradas;
4. A formação; pastoral vocacional; discernimento vocacional;
5. Uso das TICs (tecnologias da informação e comunicação);

Ao longo destes dias, depois dos trabalhos de grupo e feitos os respectivos plenários, nós, os Superiores e Superioras Maiores apresentamos a todos os consagrados e consagradas algumas soluções para os desafios apresentados.


4 - Vivência da fé.
Quanto à vivência da fé, Jesus respondeu aos seus interlocutores: “ Eu vo-lo digo, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente” (Lc 13, 3). Assim nós, os Superiores e Superioras Maiores, compreendemos que a questão da fé toca a humanidade que está em cada um e sobre a qual assenta a vocação cristã. A fraca formação humana e cristã afecta o relacionamento com Jesus Cristo e com o outro. A fragilidade da vivência dos valores evangélicos e a superficialidade no relacionamento com Jesus Cristo contribui negativamente para a formação correcta da consciência e favorece o relativismo, permissivismo e a duplicidade de vida, deixando espaço para a prática da feitiçaria como busca de soluções mágicas às perguntas da vida.
Por isso, nós, os Superiores e Superioras Maiores, apelamos para uma criação de uma cultura de vivência radical da fé em Jesus Cristo libertador; ao resgate do nosso primeiro amor; a uma contínua e profunda formação humana e cristã na qual assenta uma verdadeira vida comunitária intercultural.

5 - Quanto ao exercício da autoridade, recordam a conversa de Jesus com os seus discípulos: “sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós” (Mt 20, 25.26). Nós, os Superiores e as Superioras Maiores, orientamos para que haja a compreensão e a caridade no acompanhamento das fraquezas, mas também firmeza em tomar decisões recorrendo às normas canónicas específicas, para o bem do irmão, da congregação e da Igreja local. Encorajamos a revalorizar a correcção e promoção fraterna como expressão da caridade na comunidade (cfr Mt 18, 15-18).

6 -Formação.
Sendo a formação um dos grandes desafios da Vida Consagrada em Moçambique para o qual todos os outros convergem, nós, os Superiores e Superioras Maiores, reflectimos e constatámos que há um deficiente acompanhamento e discernimento vocacional, fraco compromisso pastoral e mau uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
Animados pelo apelo de S. Paulo “Tende os mesmos sentimentos de Cristo” (Fil. 2,5), são impelidos a continuar apostar com seriedade e audácia na formação dos formadores. Esta deve levá-los a viver com alegria e sem medo o seu testemunho de vida e incuti-lo em todos os consagrados/as, a fazer um bom acompanhamento e discernimento vocacional dos jovens com critérios sérios, a valorizar o envolvimento das famílias, clarificar as motivações iniciais e dar prioridade a um processo formativo humano-querigmático-catequético.
Feita a reflexão e a partilha aprofundada no espírito de comunhão, e inspirados pela Palavra de Deus:  conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), sentem-se impulsionados a dar orientações concretas para a vida co-sagrada em Moçambique.

7 -Voto de pobreza.
No que se refere ao voto da pobreza, partindo do diálogo de Jesus com o jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21), nós, os Superiores e Superioras Maiores, alertamos para a necessidade de uma autêntica e transparente vivência deste conselho evangélico, para tal orientamos que as contas-salário auferidas pelos consagrados sejam transferidas automaticamente pelo banco para a conta da comunidade ou da congregação; a criação de uma comissão dos ecónomos maiores a nível nacional para tratar assuntos de interesse comum. Nós, os Superiores e Superioras Maiores, como primeiros responsáveis, fiquemos atentos para garantir a transparência na gestão e prestação de contas.

8 - Compromisso pastoral.
A exemplo das primeiras comunidades cristãs “que tinham um só coração e uma só alma” (Act. 4,32) e dentro de uma Igreja ministerial, nós os Superiores e as Superioras Maiores orientamos e convidamos a reavivar o compromisso pastoral, a revigorar as equipas missionárias e a fortalecer a colaboração, dentro da Vida Consagrada e na Diocese onde se encontra, como expressão de comunhão.
Isto porque constatámos que em Moçambique a actual preocupação pela auto-sustentabilidade está a ofuscar a opção primária da vida consagrada, no que diz respeito à nossa presença e acção pastoral na igreja local. A tentação do profissionalismo e a procura da segurança económica nos leva a um fraco compromisso no crescimento da fé das comunidades cristãs. Jesus nos ensina que não podem servir a Deus e ao dinheiro (cfr Mt 6, 24) e o mesmo Mestre exorta a procurar antes o reino de Deus e a sua justiça (cfr Mt 6, 33).

9 - Tecnologias de informação e comunicação.
Vive-se na era da comunicação. Acompanhando o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação e redes sociais, nós, os Superiores e as Superioras, constatamos que os mesmos meios tornam-se um perigo nas mãos de quem não os usa com critérios que orientam à vida comunitária e consagrada sã. Para tal apelamos para a necessidade de educar no bom uso das TICs, mostrando as suas vantagens e desvantagens e aproveitando as suas potencialidades como meios de evangelização.

10 - DIREs.
A Direção Nacional de Migração esclarece que todos os missionários estrangeiros que vêm trabalhar em Moçambique, a partir de novembro de 2017, devem vir com visto de trabalho ou de estudante e não com visto de residência, segundo o decreto 108/2014 de 31 de Dezembro, que aprova o Regulamento da Lei n.º 5/93, de 28 de Dezembro, que estabelece o regime jurídico do cidadão estrangeiro fixando as respectivas normas de entrada, permanência e saída do País, os direitos, deveres e garantias. Contudo não tem valor retroactivo. Os que já têm DIRE, temporário, permanente ou vitalício, não são abrangidos por esta lei.

11 - Conclusão
Cientes de que se o Senhor não construir a casa em vão trabalham os que a constroem (Sl 126), nós, os Superiores e as Superioras Maiores, rogamos ao Deus da história e do tempo que nos torne testemunhas credíveis deste tesouro que levam em vaso de argila (cfr 2Cor 4, 7).
Como nos recorda na recente Exortação Apostólica Alegrai-vos e exultai, sobre a santidade no mundo actual, o Papa Francisco adverte para todos seremos santos e espera de nós que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. 

Maputo, 13 de Abril de 2018
Os Superiores e Superioras Maiores

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