CIRMO
CONFERÊNCIA DOS SUPERIORES E SUPERIORAS
MAIORES DOS INSTITUTOS E CONGREGAÇÕES DA VIDA CONSAGRADA EM MOÇAMBIQUE
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA
Maputo, 11-13 Abril 2018
TEMA: A VIDA CONSAGRADA EM MOÇAMBIQUE:
DESAFIOS E SOLUÇÕES
MENSAGEM FINAL
Animados/as
pelo Espírito do Senhor ressuscitado, os Superiores e Superioras Maiores de
MOÇAMBIQUE, reunidos nos dias 11 a 13 de Abril de 2018, nas instalações do
ISMMA, em Assembleia Nacional Extraordinária, para reflectir sobre o tema: “A vida consagrada em Moçambique:
desafios e soluções”; saudamos a todos os Consagrados e Consagradas em
Moçambique, desejando a todos e a cada um/a a paz do Senhor Ressuscitado.
1 -
A Vida Consagrada nascida do Espírito e presente na Igreja como DOM continua a
ser estimulada a ser anúncio da mística e profecia do Reino já presente neste
mundo. Nós os Superiores e Superioras Maiores, agradecemos ao Deus da vida pelo
dom dos carismas da Vida Consagrada nas congregações presentes em Moçambique e
da sua fecundidade no dom das vocações.
2 -
Na abertura desta Assembleia esteve presente o Senhor Dom Edgar Peña Parra,
Núncio Apostólico, a quem exprimimos a gratidão pela sua proximidade e
preocupação pela Vida Consagrada em Moçambique.
Ele
na sua intervenção apresentou cinco desafios da Vida Consagrada em Moçambique:
formação,
vivência dos conselhos evangélicos, vida comunitária, inculturação e
testemunho.
3 -
Conscientes da sua responsabilidade na missão que lhes foi confiada, de
Superiores e Superioras Maiores, constatámos com agrado o empenho abnegado de
muitos consagrados e consagradas na vivência dos valores evangélicos em várias
frentes da missão.
Não
obstante esta presença positiva, não escondemos a preocupação perante alguns
desafios que vão fragilizando o testemunho. Tais como:
1. A
vivência da fé, interculturalidade na comunidade e exercício da autoridade e a
vivência da obediência;
2. A
vivência do voto de pobreza e a sua relação com a gestão e a partilha dos bens.
3. O
compromisso pastoral dos consagrados e consagradas;
4. A
formação; pastoral vocacional; discernimento vocacional;
5.
Uso das TICs (tecnologias da informação e comunicação);
Ao
longo destes dias, depois dos trabalhos de grupo e feitos os respectivos plenários, nós, os Superiores e Superioras Maiores
apresentamos a todos os consagrados e consagradas algumas soluções para os
desafios apresentados.
4 - Vivência da fé.
Quanto
à vivência da fé, Jesus respondeu aos seus interlocutores: “ Eu vo-lo digo,
se não vos converterdes, perecereis todos igualmente” (Lc 13, 3). Assim
nós, os Superiores e Superioras Maiores, compreendemos que a questão da fé toca
a humanidade que está em cada um e sobre a qual assenta a vocação cristã. A
fraca formação humana e cristã afecta o relacionamento com Jesus Cristo e com o
outro. A fragilidade da vivência dos valores evangélicos e a superficialidade
no relacionamento com Jesus Cristo contribui negativamente para a formação
correcta da consciência e favorece o relativismo, permissivismo e a duplicidade
de vida, deixando espaço para a prática da feitiçaria como busca de soluções
mágicas às perguntas da vida.
Por
isso, nós, os Superiores e Superioras Maiores, apelamos para uma criação de uma
cultura de vivência radical da fé em Jesus Cristo libertador; ao resgate do
nosso primeiro amor; a uma contínua e profunda formação humana e cristã na qual
assenta uma verdadeira vida comunitária intercultural.
5 - Quanto
ao exercício da autoridade, recordam a conversa de Jesus com os seus discípulos:
“sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os
grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós” (Mt 20,
25.26). Nós, os Superiores e as Superioras Maiores, orientamos para que haja a
compreensão e a caridade no acompanhamento das fraquezas, mas também firmeza em
tomar decisões recorrendo às normas canónicas específicas, para o bem do irmão,
da congregação e da Igreja local. Encorajamos a revalorizar a correcção e
promoção fraterna como expressão da caridade na comunidade (cfr Mt 18, 15-18).
6 -Formação.
Sendo
a formação um dos grandes desafios da Vida Consagrada em Moçambique para o qual
todos os outros convergem, nós, os Superiores e Superioras Maiores, reflectimos
e constatámos que há um deficiente acompanhamento e discernimento vocacional,
fraco compromisso pastoral e mau uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs).
Animados
pelo apelo de S. Paulo “Tende os mesmos sentimentos de Cristo” (Fil.
2,5), são impelidos a continuar apostar com seriedade e audácia na formação dos
formadores. Esta deve levá-los a viver com alegria e sem medo o seu testemunho
de vida e incuti-lo em todos os consagrados/as, a fazer um bom acompanhamento e
discernimento vocacional dos jovens com critérios sérios, a valorizar o
envolvimento das famílias, clarificar as motivações iniciais e dar prioridade a
um processo formativo humano-querigmático-catequético.
Feita
a reflexão e a partilha aprofundada no espírito de comunhão, e inspirados pela
Palavra de Deus: “conhecereis a
verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32), sentem-se impulsionados
a dar orientações concretas para a vida co-sagrada em Moçambique.
7 -Voto de pobreza.
No
que se refere ao voto da pobreza, partindo do diálogo de Jesus com o jovem
rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos
pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21), nós,
os Superiores e Superioras Maiores, alertamos para a necessidade de uma
autêntica e transparente vivência deste conselho evangélico, para tal orientamos que as contas-salário auferidas pelos
consagrados sejam transferidas automaticamente pelo banco para a conta da
comunidade ou da congregação; a criação de uma comissão dos ecónomos maiores a
nível nacional para tratar assuntos de interesse comum. Nós, os Superiores e
Superioras Maiores, como primeiros responsáveis, fiquemos atentos para garantir
a transparência na gestão e prestação de contas.
8 - Compromisso pastoral.
A
exemplo das primeiras comunidades cristãs “que tinham um só coração e uma só
alma” (Act. 4,32) e dentro de uma Igreja ministerial, nós os Superiores e
as Superioras Maiores orientamos e convidamos a reavivar o compromisso pastoral,
a revigorar as equipas missionárias e a fortalecer a colaboração, dentro da
Vida Consagrada e na Diocese onde se encontra, como expressão de comunhão.
Isto
porque constatámos que em Moçambique a actual preocupação pela
auto-sustentabilidade está a ofuscar a opção primária da vida consagrada, no
que diz respeito à nossa presença e acção pastoral na igreja local. A tentação do profissionalismo e a procura da
segurança económica nos leva a um fraco compromisso no crescimento da fé das
comunidades cristãs. Jesus nos ensina que não podem servir a Deus e ao dinheiro
(cfr Mt 6, 24) e o mesmo Mestre exorta a procurar antes o reino de Deus e a sua
justiça (cfr Mt 6, 33).
9 - Tecnologias de informação e comunicação.
Vive-se
na era da comunicação. Acompanhando o desenvolvimento tecnológico dos meios de
comunicação e redes sociais, nós, os Superiores e as Superioras, constatamos
que os mesmos meios tornam-se um perigo nas mãos de quem não os usa com critérios
que orientam à vida comunitária e consagrada sã. Para tal apelamos para a
necessidade de educar no bom uso das TICs, mostrando as suas vantagens e
desvantagens e aproveitando as suas potencialidades como meios de
evangelização.
10 - DIREs.
A
Direção Nacional de Migração esclarece que todos os missionários estrangeiros
que vêm trabalhar em Moçambique, a partir de novembro de 2017, devem vir com
visto de trabalho ou de estudante e não com visto de residência, segundo o
decreto 108/2014 de 31 de Dezembro, que aprova o Regulamento da Lei n.º 5/93, de
28 de Dezembro, que estabelece o regime jurídico do cidadão estrangeiro fixando
as respectivas normas de entrada, permanência e saída do País, os direitos,
deveres e garantias. Contudo não tem valor retroactivo. Os que já têm DIRE,
temporário, permanente ou vitalício, não são abrangidos por esta lei.
11 - Conclusão
Cientes de que se o Senhor não
construir a casa em vão trabalham os que a constroem (Sl 126), nós, os
Superiores e as Superioras Maiores, rogamos ao Deus da história e do tempo que
nos torne testemunhas credíveis deste tesouro que levam em vaso de argila (cfr
2Cor 4, 7).
Como
nos recorda na recente Exortação Apostólica Alegrai-vos e exultai, sobre
a santidade no mundo actual, o Papa Francisco adverte para todos seremos santos
e espera de nós que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e
indecisa.
Maputo, 13 de Abril de 2018
Os Superiores e
Superioras Maiores
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