domingo, 6 de maio de 2018

COMUNICADO DA ÚLTIMA SESSÃO PLENÁRIA DOS BISPOS DE MOÇAMBIQUE ABRIL 2028


COMUNICADO DA CEM ABRIL  19.04.2018

“Brilhe vossa luz diante dos homens” (Mt 5,16).

Às Comunidades cristãs e a todos os homens de boa vontade: paz, alegria e esperança no Senhor ressuscitado.

1.-Introdução.

Os Bispos Católicos de Moçambique, reunidos, de 16 a 19 de Abril de 2018, no Centro de Espiritualidade e Missão de S. Paulo de Laulane em Maputo, desejamos, através deste comunicado, manifestar-vos a nossa proximidade e comunhão convosco e com todos os homens e mulheres de boa vontade, particularmente neste momento em que o nosso povo é confrontado por inúmeros desafios.

A Assembleia dos Bispos, precedida por alguns dias de retiro, foi uma ocasião para rezarmos e reflectir sobre alguns aspectos da espiritualidade das nossas comunidades e da vida do nosso Povo.
Queremos, deste modo, partilhar convosco alguns frutos dos trabalhos durante estes dias assim como as nossas preocupações relativas à vida eclesial e social do momento presente.

2. Presença do Núncio Apostólico

Como de costume, tivemos a honra de acolher o Núncio Apostólico em Moçambique, Sua Excelência Dom Edgar Peña Parar. Na sua intervenção, partilhou connosco a situação da Igreja universal e do mundo em geral e exortou-nos a acompanhar e mostrar, na hora delicada em que nos encontramos, a nossa solicitude de Pastores às Comunidades cristãs e a todo o Povo Moçambicano; e, acolhendo o apelo do santo Padre pediu-nos que continuemos a rezar pela Paz no mundo, particularmente pela Síria, dura e longamente martirizada.

3. Reflexão sobre a realidade da Igreja em Moçambique

Ao debruçarmo-nos sobre este ponto, concentramos a nossa atenção especialmente sobre as três dimensões da evangelização: o Anúncio da Palavra, a Comunhão na fé e no amor celebrada nos sacramentos e o seu Testemunho na vida.
Sentimos a urgência de priorizar o cultivo da espiritualidade, fomentar o zelo apostólico, promover o amor e aprofundar a Palavra de Deus. Achamos importante insistir na Pastora de Conjunto, promover uma espiritualidade de comunhão, melhorar o nosso diálogo e comunicação a fim de que tenhamos, como as primeiras comunidades cristãs, “um só coração e uma só alma” (Act 4, 32).

4. Nossas Preocupações

Estamos preocupados com a crescente deterioração dos valores éticos e sociais no nosso País. Visível nas dívidas ocultas que incompreensivelmente continuam sem solução e responsabilização; nos frequentes raptos que semeiam medo e insegurança, na violência generalizada, nas manifestações de intolerância, na degradação da qualidade de vida, no aumento do fosso entre os poucos que detêm a riqueza e o poder e o povo, cada dia mais empobrecido, no paradoxo da população que cresce, por um lado e, por outro, na baixa produção e degradação das condições sanitárias, enfim, na falta de coerência entre o que se diz e o que se faz. Infelizmente, está a tornar-se num modo de ser em Moçambique prometer uma coisa e fazer outra ou omitir e privatizar informações às quais todos têm direito a ter acesso.
Sem testemunho de vida o anúncio do Evangelho fica incompleto, por isso sentimos a necessidade inadiável de formar os nossos cristãos para o testemunho coerente através do cultivo e prática de santidade de vida, como nos convida o Papa Francisco na recente Exortação Apostólica “Alegrai-vos e Exultai”.

5. Preocupados com a instabilidade em Mocimboa da Praia

Estamos também preocupados com as notícias que nos chegam de Mocimboa da Praia (Cabo Delgado), sobre ataques e violência nos últimos meses. Lamentavelmente reinam informações desencontradas sobre os verdadeiros actores e suas motivações. Este estado de coisas deixa nas populações um sentimento de instabilidade, medo e perplexidade que, no fim de contas, compromete o curso normal da vida.

6. Preservar a paz e democracia nos próximos pleitos eleitorais

Queremos congratular-nos com a forma como decorreram as eleições municipais em Nampula, sem grandes sobressaltos. Encorajamos os esforços de diálogo que os nossos líderes políticos realizam e o processo de descentralização, desarmamento e reintegração para o alcance de uma paz definitiva. Convidamos todos os cidadãos a participar massivamente nos próximos pleitos eleitorais. Exortamos especialmente os líderes dos Partidos para juntos envidarmos esforços no sentido de fazer o momento das eleições uma ocasião de festa cívica, de manifestar a nossa maturidade democrática, tolerância política e respeito pelo diferente. Que possamos consolidar com actos aquela paz e democracia que com discursos em público afirmamos buscar. Sobre o tema das eleições, convidamos a ler a recompilação das Cartas do Episcopado moçambicano que em breve serão publicadas.

7. Assembleia Nacional de Pastoral

Durante os nossos, vimos a necessidade de começar a preparar uma nova Assembleia Nacional de Pastoral movidos, entre outras, pelas seguintes constatações:
·        Necessidade de avaliar o grau de implementação, impacto e actualidade das linhas de acção pastoral traçadas na última Assembleia, realizada em 2005;
·        Mudança da realidade do contexto global do mundo bem como da sociedade moçambicana e da Igreja universal e local;
·        Aparecimento de novos desafios dentro e fora da Igreja que exigem novas respostas;
·        Necessidade de oferecer linhas de orientação pertinentes para uma renovada acção evangelizadora no contexto actual.
Pensamos que esta 4ª Assembleia Nacional de Pastoral seja celebrada dentro dos próximos 2 a 3 anos.

8. Apelos

Apelamos aos agentes de pastoral e a todos os fiéis em geral para cultivarem o gosto de ler, conhecer, meditar e deixar-se guiar pela Palavra de Deus. Poderemos de maneira mais eficaz, pôr remédio ao activismo exagerado que enferma muitas almas e recuperar o fervor da fé, pois, como diz o Apóstolo Paulo, “Toda a Escritura inspirada é proveitosas para ensinar, para compreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tim 3,16).
Exortamos a todos os cristãos, especialmente àqueles inseridos nos diversos âmbitos da vida política, económica e social, a iluminar a sociedade através de uma vida coerente com a própria fé: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vajam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).
Aos homens e mulheres de boa vontade, apelamos que na sua vida e actuação na sociedade se orientem pelos valores de coerência, integridade, solidariedade, transparência, tolerância, respeito e busca do bem comum.
Cristo Ressuscitado e vencedor da morte é o fundamento e autor da nossa esperança, na construção dum Moçambique de perdão, reconciliação, justiça e paz.

Os Bispos Católicos de Moçambique.

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