COMUNICADO DA CEM
ABRIL 19.04.2018
“Brilhe vossa luz diante dos homens” (Mt 5,16).
Às Comunidades cristãs e a todos
os homens de boa vontade: paz, alegria e esperança no Senhor ressuscitado.
1.-Introdução.
Os Bispos Católicos de
Moçambique, reunidos, de 16 a 19 de Abril de 2018, no Centro de Espiritualidade
e Missão de S. Paulo de Laulane em Maputo, desejamos, através deste comunicado,
manifestar-vos a nossa proximidade e comunhão convosco e com todos os homens e
mulheres de boa vontade, particularmente neste momento em que o nosso povo é
confrontado por inúmeros desafios.
A Assembleia dos Bispos,
precedida por alguns dias de retiro, foi uma ocasião para rezarmos e reflectir
sobre alguns aspectos da espiritualidade das nossas comunidades e da vida do
nosso Povo.
Queremos, deste modo, partilhar
convosco alguns frutos dos trabalhos durante estes dias assim como as nossas
preocupações relativas à vida eclesial e social do momento presente.
2.
Presença do Núncio Apostólico
Como de costume, tivemos a honra
de acolher o Núncio Apostólico em Moçambique, Sua Excelência Dom Edgar Peña
Parar. Na sua intervenção, partilhou connosco a situação da Igreja universal e
do mundo em geral e exortou-nos a acompanhar e mostrar, na hora delicada em que
nos encontramos, a nossa solicitude de Pastores às Comunidades cristãs e a todo
o Povo Moçambicano; e, acolhendo o apelo do santo Padre pediu-nos que
continuemos a rezar pela Paz no mundo, particularmente pela Síria, dura e
longamente martirizada.
3.
Reflexão sobre a realidade da Igreja em Moçambique
Ao debruçarmo-nos sobre este
ponto, concentramos a nossa atenção especialmente sobre as três dimensões da
evangelização: o Anúncio da Palavra,
a Comunhão na fé e no amor celebrada
nos sacramentos e o seu Testemunho
na vida.
Sentimos a urgência de priorizar
o cultivo da espiritualidade, fomentar o zelo apostólico, promover o amor e
aprofundar a Palavra de Deus. Achamos importante insistir na Pastora de Conjunto,
promover uma espiritualidade de comunhão, melhorar o nosso diálogo e
comunicação a fim de que tenhamos, como as primeiras comunidades cristãs, “um
só coração e uma só alma” (Act 4, 32).
4.
Nossas Preocupações
Estamos preocupados com a
crescente deterioração dos valores éticos e sociais no nosso País. Visível nas
dívidas ocultas que incompreensivelmente continuam sem solução e
responsabilização; nos frequentes raptos que semeiam medo e insegurança, na
violência generalizada, nas manifestações de intolerância, na degradação da
qualidade de vida, no aumento do fosso entre os poucos que detêm a riqueza e o
poder e o povo, cada dia mais empobrecido, no paradoxo da população que cresce,
por um lado e, por outro, na baixa produção e degradação das condições sanitárias,
enfim, na falta de coerência entre o que se diz e o que se faz. Infelizmente,
está a tornar-se num modo de ser em Moçambique prometer uma coisa e fazer outra
ou omitir e privatizar informações às quais todos têm direito a ter acesso.
Sem testemunho de vida o anúncio
do Evangelho fica incompleto, por isso sentimos a necessidade inadiável de
formar os nossos cristãos para o testemunho coerente através do cultivo e
prática de santidade de vida, como nos convida o Papa Francisco na recente
Exortação Apostólica “Alegrai-vos e
Exultai”.
5.
Preocupados com a instabilidade em Mocimboa da Praia
Estamos também preocupados com as
notícias que nos chegam de Mocimboa da Praia (Cabo Delgado), sobre ataques e
violência nos últimos meses. Lamentavelmente reinam informações desencontradas
sobre os verdadeiros actores e suas motivações. Este estado de coisas deixa nas
populações um sentimento de instabilidade, medo e perplexidade que, no fim de
contas, compromete o curso normal da vida.
6.
Preservar a paz e democracia nos próximos pleitos eleitorais
Queremos congratular-nos com a
forma como decorreram as eleições municipais em Nampula, sem grandes
sobressaltos. Encorajamos os esforços de diálogo que os nossos líderes
políticos realizam e o processo de descentralização, desarmamento e
reintegração para o alcance de uma paz definitiva. Convidamos todos os cidadãos
a participar massivamente nos próximos pleitos eleitorais. Exortamos
especialmente os líderes dos Partidos para juntos envidarmos esforços no
sentido de fazer o momento das eleições uma ocasião de festa cívica, de
manifestar a nossa maturidade democrática, tolerância política e respeito pelo
diferente. Que possamos consolidar com actos aquela paz e democracia que com
discursos em público afirmamos buscar. Sobre o tema das eleições, convidamos a ler
a recompilação das Cartas do Episcopado moçambicano que em breve serão
publicadas.
7.
Assembleia Nacional de Pastoral
Durante os nossos, vimos a
necessidade de começar a preparar uma nova Assembleia Nacional de Pastoral
movidos, entre outras, pelas seguintes constatações:
·
Necessidade de avaliar o grau de implementação,
impacto e actualidade das linhas de acção pastoral traçadas na última
Assembleia, realizada em 2005;
·
Mudança da realidade do contexto global do mundo
bem como da sociedade moçambicana e da Igreja universal e local;
·
Aparecimento de novos desafios dentro e fora da
Igreja que exigem novas respostas;
·
Necessidade de oferecer linhas de orientação
pertinentes para uma renovada acção evangelizadora no contexto actual.
Pensamos
que esta 4ª Assembleia Nacional de Pastoral seja celebrada dentro dos próximos
2 a 3 anos.
8. Apelos
Apelamos
aos agentes de pastoral e a todos os fiéis em geral para cultivarem o gosto de
ler, conhecer, meditar e deixar-se guiar pela Palavra de Deus. Poderemos de
maneira mais eficaz, pôr remédio ao activismo exagerado que enferma muitas
almas e recuperar o fervor da fé, pois, como diz o Apóstolo Paulo, “Toda a
Escritura inspirada é proveitosas para ensinar, para compreender, para
corrigir, para instruir em justiça” (2 Tim 3,16).
Exortamos
a todos os cristãos, especialmente àqueles inseridos nos diversos âmbitos da
vida política, económica e social, a iluminar a sociedade através de uma vida
coerente com a própria fé: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que
vajam as vossas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).
Aos
homens e mulheres de boa vontade, apelamos que na sua vida e actuação na
sociedade se orientem pelos valores de coerência, integridade, solidariedade,
transparência, tolerância, respeito e busca do bem comum.
Cristo
Ressuscitado e vencedor da morte é o fundamento e autor da nossa esperança, na
construção dum Moçambique de perdão, reconciliação, justiça e paz.
Os Bispos
Católicos de Moçambique.
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