2ª -FEIRA –III SEMANA DA PÁSCOA
16 Abril
2018
Primeira leitura: Actos 6, 8-15
Lucas, até este
momento, centrou a sua atenção no grupo dos Apóstolos. Agora centra-a no grupo
dos diáconos e particularmente em Estêvão.
Este diácono
apresenta as mesmas características do Apóstolos: prega, faz milagres, está cheio
de graça e de poder, ou seja, é particularmente favorecido pela assistência
divina, o que lhe permite pregar o Evangelho e realizar os prodígios que
acompanham essa pregação.
A acção de Estêvão provoca um conflito idêntico ao que
tinha provocado a acção dos Apóstolos.
Mas há uma
diferença: o conflito surge entre o diácono e o grupo dos judeus mais abertos,
procedentes da Diáspora. Estêvão mostra-se excessivamente aberto e radical,
mesmo para os «progressistas».
A sinagoga dos
libertos era constituída por descendentes dos judeus que foram levados escravos
para Roma por Pompeu (63 a.C.) e que, tendo sido libertos, se tinham inserido
num bairro da cidade.
Também para
eles a pregação de Estêvão era radical, porque atacava o Templo e as tradições
mosaicas. As acusações contra ele tinham algum fundamento.
Mas os olhares
que se fixam nele acabam por descobrir um particular resplendor, semelhante ao
do anjo que indica a presença de Deus, semelhante ao rosto de Moisés, quando
desce do Sinai, depois de se encontrar com Deus.
Para Lucas,
Estêvão é uma testemunha escolhida por Deus para dar a conhecer a sua vontade.
Evangelho: João
6, 22-29
Temos impressão
de que os acontecimentos narrados por João apenas servem para dar realce aos
ensinamentos de Jesus. Isso é, em parte, verdade.
De facto, João
introduz, aqui e ali, notas e glosas cuja única finalidade é levar o leitor a
tomar a sério a narrativa, que não é inventada, mas que corresponde à
realidade. No nosso texto encontramos uma dessas notas.
A multidão está
em Cafarnaúm e dirige ao Mestre uma pergunta cujo objectivo é apenas satisfazer
a curiosidade: «Rabi, quando chegaste cá?» (v. 25).
Jesus não
responde, mas revela à multidão as verdadeiras intenções que a levaram a
procurá-lo.
Afinal, seguem a Jesus por causa do pão
material que lhes deu, sem se preocuparem em compreender o sinal dado pelo
Profeta.
Diante da cegueira espiritual daquela gente, Jesus proclama a diferença entre o pão material e corruptível, e o pão que «perdura e dá a vida eterna» (v. 27).
Diante da cegueira espiritual daquela gente, Jesus proclama a diferença entre o pão material e corruptível, e o pão que «perdura e dá a vida eterna» (v. 27).
Há que passar
das preocupações meramente materiais aos horizontes da fé e do Espírito, a que
apenas a sua pessoa dá acesso. Jesus possui o selo do Espírito e o dinamismo
divino do amor.
Os seus
interlocutores perguntam: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de
Deus?» (v. 28).
Esta pergunta revela mais um equívoco: não se
trata de cumprir novas observâncias ou realizar novas obras. A única coisa
necessária é aderir ao plano de Deus, isto é, «crer naquele que Ele enviou» (v.
29).
O livro dos
Actos diz-nos que Estêvão, «cheio de graça e força, fazia extraordinários
milagres e prodígios entre o povo» (Act 6, 8).
O seu
entusiasmo leva- o a fazer uma primeira tentativa de inculturação do
cristianismo entre os judeus provenientes da Diáspora, de língua e cultura
grega.
Mas também
entre eles, em princípio mais abertos, havia conservadores que procuravam defender-se
de influências estranhas ao judaísmo.
Por isso,
Estêvão tem o mesmo destino de Jesus: é recusado. O seu martírio produz
importantes frutos, não só entre os judeus de língua grega, mas também entre os
próprios gregos.
Estêvão é um provocador. Mas a sua provocação vem de uma sabedoria superior, é fruto de uma particular compreensão do plano de Deus, que previa o anúncio do Evangelho, não só em Jerusalém, mas «até aos confins da terra».
Estêvão é um provocador. Mas a sua provocação vem de uma sabedoria superior, é fruto de uma particular compreensão do plano de Deus, que previa o anúncio do Evangelho, não só em Jerusalém, mas «até aos confins da terra».
O Espírito serve-se do seu carácter entusiasta
e aguerrido. Perde porque actua numa sociedade intolerante. Mas o Evangelho
acaba por ganhar e percorrer o mundo.
João, ao
recordar a multiplicação dos pães, refere um pormenor significativo: o facto do
Senhor ter dado graças (v. 23). O sinal da multiplicação dos pães está ligado à
oração de bênção e de acção de graças feita por Jesus. Na última ceia, terá a
mesma atitude.
Havemos de aprender com o Senhor a dar graças pelo que
já temos, quando nos esforçamos por multiplicar o pão. Um modo muito concreto é
partilhar, em nome de Deus, o que temos com os mais carenciados.
Quando fazemos isso, é como se multiplicássemos o que
damos, porque o nosso não é um dom simplesmente humano, mas um dom da
generosidade de Deus.
Também não podemos deixar de dar atenção ao equívoco
dos seus interlocutores, que Jesus acaba por desfazer: «Que havemos nós de
fazer para realizar as obras de Deus?» (v. 28).
Os judeus pensavam que, para alcançarem a salvação,
tinham de cumprir novas observâncias ou realizar novas obras. Mas Jesus afirma
claramente que a única coisa necessária é aderir ao plano de Deus, isto é, «crer
naquele que Ele enviou» (v. 29).
Como nos tempos de Estêvão, também hoje, o nosso
esforço evangelizador há- de ter em conta a inculturação, isto é, a compreensão
do pensamento, da linguagem, do sentir, das atitudes que assumem, dos juízos de
valor que fazem os homens, as mulheres, os jovens de hoje acerca dos grandes
problemas da vida e da morte.
Isso poderá não ser suficiente para que a Palavra de
Deus seja aceite. Mas, sem esse esforço, ela não será acolhida nem cumprida. É
por essa razão que as Constituições nos lembram que a nossa vida religiosa é
continuamente interpelada pelas provações e procuras da Igreja e do mundo (cf.
n. 144).
Finalmente, o cristão, e com maior razão o Sacerdote do
Coração de Jesus, dão glória a Deus por meio da oração de louvor e de acção de
graças, muitas vezes esquecida.
Mas é, sobretudo, por meio da vida, particularmente
pela prática da caridade, que devemos ser uma oração de louvor e de acção de
graças para Deus.
Obrigado, Senhor, pelas testemunhas corajosas e
«imprudentes» que continuas a enviar à tua Igreja. Obrigado pelos profetas
incómodos. Uns e outros sacodem adversários e amigos, dentro e fora dos nossos
ambientes, provocam a difusão do evangelho em meios onde não pareceria possível
penetrar.
Dá-nos coragem para enfrentarmos decididamente incompreensões
e mal- entendidos, por causa do teu nome. Dá-nos força para nos lançarmos a
caminhos não andados,
porque o teu evangelho há-de chegar «aos confins da terra».
Fonte: Resumo e adaptação local de
um texto de:“dehonoanos.org/portal/liturgia/”
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