Sexta-feira depois das Cinzas - 16 Fevereiro 2018
Primeira leitura: Isaías 58, 1-9a
O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente,
livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar
toda a espécie de opressão, 7*repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo
aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão.
Neste discurso, o
profeta pretende alertar o povo para a falta de autenticidade com que
vive (vv. 1-3a), proclamar o verdadeiro jejum (vv. 3b-7) e indicar as
consequências positivas da ligação do jejum à prática da justiça (vv. 8-12).
O povo tinha regressado do exílio cheio de entusiasmo
e de esperança. Mas as dificuldades eram grandes. Deus parecia surdo e
indiferente às súplicas e ao culto do seu povo. Mas o profeta alerta para a prática
de um jejum misturado com injustiças sociais, e condena-o. O culto deve estar
unido à solidariedade com os pobres. Caso contrário, não agrada a Deus
e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na
caridade e na misericórdia para com os pobres e oprimidos. Isaías parece já ter
ouvido as palavras de Jesus: «Tinha fome e destes-me de comer … (cf. Mt 25,
31-46). Mas afirmar que o verdadeiro jejum e o verdadeiro culto consistem na
caridade, não significa negar o valor dessas práticas, mas afirmar que elas têm
sentido e valor em vista da mesma caridade. O jejum tem sentido e valor quando se
torna expressão de amor a Deus e ao próximo. Por sua vez, o verdadeiro
culto é relação com Deus, sem individualismo e falsidade.
Evangelho: Mateus 9, 14-15
Os discípulos de Jesus são acusados de não Jejuarem.
Jesus responde dando a entender que, com Ele, começaram os tempos messiânicos,
o tempo das núpcias, o tempo escatológico anunciado pelos profetas, tempo de
alegria durante o qual não se jejua, pois o Esposo está presente. Mas muitos
não conseguem ver em Jesus o Messias esperado, e não reconhecem que o Reino de
Deus é festa, é pérola pela qual se está disposto a deixar tudo com alegria. A
renúncia, por Deus, não é um peso. Não há que ter medo do rosto alegre do
Senhor. O jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos.
Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador.
O contexto deste evangelho ajuda-nos a compreendê-lo.
Nos versículos seguintes Jesus recorre a duas comparações: «Ninguém põe um
remendo de pano novo em roupa velha.. 17Nem se deita vinho novo em odres
velhos. »(vv. 16.17), que oferecem outra motivação em favor do comportamento
dos discípulos de Jesus. Com a vinda de Jesus, começou o tempo novo do Reino em
que já não se sentem prisioneiros do jejum ou de outras práticas da Antiga
Aliança. A novidade de Cristo não se limita a adaptar as velhas formas: arranca
o pano velho, rebenta os velhos odres. Há um novo começo.
O jejum começa a reentrar na nossa cultura actual por
razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de
religiosidade, com origem no Oriente. A Igreja, como sempre, também recomenda o
jejum, particularmente na Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações
ou até cair no egoísmo e do orgulho. Por isso, a mesma Igreja, nos alerta para duas
dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de
solidariedade.
Expliquemos: jejua-se porque Cristo, o Esposo, ainda
não está totalmente presente em cada um de nós nem na sociedade em que vivemos.
O Esposo está pronto. Mas nós não estamos prontos. Ainda não nos deixamos
invadir completamente pelo seu amor. Jejuamos para Lhe dar lugar em nós, para
que possa ocupar toda a nossa existência. Jejuamos para nos unirmos à sua
Paixão.
Mas também jejuamos para nos tornarmos sensíveis à
fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na
resolução dos problemas dos pobres e carenciados. A memória da paixão de Jesus
não é um simples ritual, mas um acto de misericórdia, no sentido da palavra do
Senhor: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13). A sua paixão é
obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade
com todos nós.
Tendo bem presentes estas dimensões, entendemos melhor
o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais
facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada,
sem nos preocuparmos com os outros.
Deixemo-nos conduzir pelo Espírito nas formas de
ascese a escolher para vivermos proveitosamente a nossa Quaresma. E sucederá
connosco o que sucedeu com Jesus: "O Espírito do Senhor está sobre Mim –
diz Jesus na sinagoga de Nazaré – … enviou-Me a anunciar a boa nova aos pobres
… e a pregar um ano de graça do Senhor’ (Lc 4,18-19; Cf. Cst 28). Amar um
pequeno, um pobre, é amar Jesus: "Todas as vezes que fizeste isto (as
obras de misericórdia) a um só destes meus irmãos mais pequenos, foi a Mim que
o fizestes" (Mt 25, 40; cf. Cst 28).
o tempo da Quaresma é propício a percorrermos os
diversos graus da caridade evangélica: "Ama o próximo como a ti
mesmo" (Mt 19, 19). É a regra de ouro que já foi proclamada no Antigo
Testamento e que Jesus faz Sua: não faças aos outros o que não queres que te
façam a ti (Cf. Mt 7,12); Lc 6,11; Lv 19,18; Tob 4,15). Este é o primeiro grau
da caridade. O segundo grau é: ama o próximo como amas a Jesus (Cf. Mt 25, 40;
cf. n. 28). O terceiro grau é amar o próximo como Jesus nos ama: "Este é o
Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amel’ (Jo 15,12). O quarto
grau, o mais perfeito, é revelado por Jesus em forma de oração: pede que os
seus discípulos se amem uns aos outros como as Três Pessoas da SS. Trindade se
amam: "Não rogo só por estes, mas também por aqueles que, graças à sua
palavra, hão-de acreditar em Mim, para que todos sejam um. Como Tu, ó Pai,
estás em Mim e Eu em Ti, sejam também eles uma só coisa, para que o mundo creia
que Tu Me enviaste" (Jo 17,20-21).
O fruto da caridade é Jesus presente no meio de nós:
"Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio
deles" (Mt 18, 20). Mas o preço da caridade é sempre a cruz, a negação de
nós mesmos, a superação do nosso egoísmo: "Se alguém quiser vir após Mim,
renegue a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-Me" (Lc 9, 23).
Senhor Jesus, infunde em mim o teu Espírito, que seja
o meu guia neste tempo da Quaresma. Quero comungar no teu jejum para estar
unido a Ti, para Te experimentar como o Esposo desejado. Aumenta em mim o
sentido esponsal da vida cristã. Ensiname a jejuar de quanto me faz esquecer
de Ti, de quanto me afasta da meditação da tua Palavra, de quanto me leva a
procurar outros «amantes» e a correr o perigo de Te ser infiel.
Que o meu jejum me abra também ao amor dos irmãos e me
faça percorrer o caminho da caridade até amar como Tu amas, até que o meu amor
pelos irmãos seja reflexo daquele amor que reina entre Ti, o Pai e o Espírito.
Jesus quis jejuar quarenta dias e quarenta noites.
Moisés e Elias tinham feito o mesmo antes de empreenderem a sua grande missão
perante o povo de Deus.
Nosso Senhor quis que este jejum absoluto e miraculoso
fosse algumas vezes reproduzido na Igreja. É atribuído a S. Simão, o estilita,
a Santa Catarina de Sena, etc.
O primeiro Adão tinha pecado por gula, o novo Adão
quis reparar pelo jejum.
Havia também a expiar toda a nossa sensualidade, que é
infinita.
Nosso Senhor quis também mostrar-nos como é preciso
combater as nossas más paixões. O nosso corpo é um inimigo que é preciso
enfraquecer e dominar, se não queremos que nos domine e que sujeite a nossa
alma.
«O jejum, diz S. Basílio, serve de asas à oração para
se elevar em altura e penetrar até aos céust. é também o guardião da
castidade».
O período de quarenta dias tem as suas oportunidades
misteriosas. É preciso sem dúvida este lapso de tempo para que a penitência
actue fortemente sobre a natureza. A Igreja pede-nos também quarenta dias de um
jejum relativo, para imitarmos o jejum absoluto de Nosso Senhor.
O jejum é o guardião da castidade para nós, sobretudo
neste período da primavera em que os sentidos estão mais excitados.
Dá asas à oração que a abundância de alimentos torna
pesada e sonolenta. Tenho aproveitado do exemplo de Nosso Senhor? Tenho
obedecido ao preceito da Igreja, na medida das minhas forças e da minha saúde?
Tenho feito durante quarenta dias uma penitência suficiente e verdadeiramente
eficaz? Tenho substituído por alguma outra mortificação o que não podia fazer?
Fonte:
resumo e
adaptação de um texto de “dehonianos/portal/liturgia
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