Primeira leitura: Deuteronómio 30,15-20
Os desterrados
de Israel são convidados a reflectir sobre as causas da sua sorte, a
acolher novamente a aliança do Senhor com todas as suas exigências e a
abrir-se à esperança.
Para ser mais
incisivo, o autor sagrado recorre à contraposição dizendo que se trata de uma escolha
entre a vida e a morte, entre o bem e o mal, entre a bênção e a
maldição. Há que fazer uma opção responsável, com todas as suas consequências. O
céu e a terra são testemunhas dessa opção (v. 19).
A vida é um dom
de Deus, mas também é participação no seu ser (c. 20). Deus é Aquele que vive e
faz viver. Há que estar unidos a Ele no amor e na obediência aos seus
preceitos. Esses preceitos não têm outra finalidade que não seja a de nos
ajudar a percorrer os seus caminhos (v. 16) e a alcançar a sua promessa (v. 20)
de vida e de bênção.
A primeira
leitura apresenta-nos Deus que, com afecto paterno, respeitando-nos e querendo
o nosso bem, nos apresenta dois caminhos, aconselhando-nos a escolher o bom:
«Coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal… Ordeno-te hoje que
ames o SENHOR… que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos,
preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o SENHOR, teu Deus,
te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar posse» (w. 15-16).
A vida consiste
em amar o Senhor, em observar os seus preceitos, em ser dócil à sua palavra. O
mal consiste em seguir os caprichos do coração … E leva à morte: «Se o teu
coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses
estranhos e os servires, declaro-vos hoje que morrereis … » (VII. 16- 17).
Deus avisa-nos,
mas não nos obriga a obedecer-lhe. Ninguém, como Ele, respeita a liberdade que
nos deu. Quero que O sirvamos, mas por amor e, por isso, livremente: «Escolhe»
(v. 19). Mas, como deseja o nosso bem, quase nos suplica: «Escolhe a vida para
viveres, tu e a tua descendência, 20amando o SENHOR, teu Deus, escutando a sua
voz e apegando-te a Ele» (v. 19).
Evangelho: Lucas 9, 22-25
Jesus anuncia,
pela primeira vez, a necessidade da sua paixão aos discípulos, que acabavam de
Lhe referir a opinião do povo sobre Ele e de proclamar a sua fé. Jesus reserva
este ensinamento a um pequeno grupo de discípulos, os mais íntimos. Mas a todos ensina o caminho a seguir por quem
pretende tornar-se seu discípulo. De acordo com os costumes de então, quem
decidia tornar-se discípulo de um rabi, caminhava seguindo os seus passos.
Àqueles que o
querem seguir, Jesus apresenta o caminho da abnegação, do sofrimento e da morte, o
caminho da cruz. Era frequente, sob a dominação romana, que um
condenado carregasse o braço transversal da cruz desde o lugar da condenação ao
lugar da execução.
Tratava-se,
pois, de uma imagem tremendamente realista: seguir a Cristo era viver como
condenados à morte pelo mundo, prontos a enfrentar o desprezo de todos. Mas é a
morte de Jesus, a sua cruz, que nos dá a vida verdadeira. Por isso, há que
estar prontos a perder tudo, que de nada serve, se não alcançarmos a vida.
A escolha da
vida não é óbvia, porque encerra um paradoxo: Jesus diz que se alcança a vida
segundo Deus, que é Deus, renunciando a nós mesmos, carregando a cruz de cada
dia, aceitando perder a vida presente por causa d ‘ Ele. É seguindo Cristo, de
modo radical, até ao fim, que se chega à vida. O seguimento de Cristo implica
passar pelo Calvário, pela cruz. Mas é por aí que se chega à ressurreição, que
se salva a vida.
O ensinamento
de Jesus deita por terra os modelos das velhas religiões. A grandeza do homem
não consiste em transcender a finitude da matéria, subindo à altura do ser do
divino (mística oriental), nem consiste em identificar-nos sacramentalmente com
as forças da vida latentes na profundidade radical do cosmos (religião dos
mistérios), nem é perfeito quem cumpre a lei até ao fim (farisaísmo), nem o que
pretende escapar da miséria do mundo, na esperança da meta que se aproxima
(apocalíptica) … Diante de todos os possíveis caminhos da história do homens,
Jesus apresenta-nos o seu caminho: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me».
A vida de
oblação, no concreto, no humilde dia a dia, consiste em aceitar com serenidade,
dando graças, as cruzes e canseiras; consiste em irradiar com espontaneidade
simples os frutos do Espírito. Assim realizamos o convite de Jesus: Quem quiser
ser Meu discípulo "tome a sua cruz, dia a dia, e siga-Mé’ (Lc 9, 23).
Sequi-lO na mansidão e na humildade do coração: "Aprendei de Mim que sou
manso e humilde de coração’ (Mt 11, 29). Irradiar alegria, paz, bondade, para
alívio, não só nosso, mas também dos nossos irmãos. Assim, como
"Sacerdotes do Coração de Jesus, vivemos hoje no nosso Instituto a herança
do Padre Dehon" (Cst. 26).
Fonte: Resumo e
adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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