Sábado - II
Semana –– Tempo Comum – Anos Pares
20 Janeiro 2018
Primeira leitura: 2 Samuel 1, 1-4.11-12.19.23-27
Saul é o fundo negro em que ressalta a figura de
David. Já o vimos várias vezes. Hoje verificamo-lo novamente. Saul, devido à sua
má conduta, foi abandonado e recusado por Deus (1 Sam 15). Hoje, executa-se a
sentença (1 Sam 31). É o fim trágico de uma vida marcada por um destino
sinistro e fatídico. David chora sinceramente a desgraça de Saul e do seu amigo
Jónatas. Parece uma elegia guerreira, sem referências religiosas.
Todos estes factos ilustram as vicissitudes do Povo de
Israel, libertado do Egipto por Deus e sempre suspenso no fio da sua graça e do
seu julgamento. A lamentação de David é uma tomada de consciência da
não-redenção em que o povo, vítima dos filisteus, vive naquele momento.
Por outro lado, a elegia revela a nobreza de alma do
eleito do Senhor, preocupado com o seu povo, admitindo a relativa grandeza do
seu adversário, capaz de ternura para com o amigo Jónatas. O Senhor escuta a
lamentação como uma sentida invocação em momento de prova.
Evangelho: Mc 3, 20-21
A presença e a actividade de Jesus adquirem notável
ressonância. Mas essa ressonância não leva necessariamente à fé. Jesus tem de
enfrentar as primeiras recusas, a começar pela dos seus familiares que decidem
tomar medidas drásticas contra os embaraços que lhes estava a causar. A
consanguinidade não é suficiente para criar sintonia com o Evangelho. O
discípulo de Jesus também está sujeito a ser isolado e hostilizado, até pelos seus
familiares.
A primeira leitura, tendo como pano de fundo o ódio e
a crueldade de Saul, realça a magnanimidade e a lealdade de David, um homem
segundo o coração de Deus (cfr. Act 13, 13). Um mensageiro anuncia a David a
morte de Saul e de Jónatas numa batalha contra os filisteus travada no monte
Gelboé. Havia mais de um ano que David fugia de Saul, que via nele um perigoso
rival, andando de terra em terra, e acabando por se refugiar na própria região
dos inimigos de Israel, que eram os filisteus. Nesse momento, encontrava-se em
Ciclag.
A notícia da morte de Saul devia enchê-lo de alegria.
Todavia David reage com uma dor profunda e sincera. Rasga as vestes em sinal de
luto, chora, jejua, e entoa uma emocionante elegia: «A Honra de Israel pereceu
sobre as colinas! Tombaram os heróis!… Saul e Jónatas, amados e
gloriosos…tombaram… no campo de batalha! » (cfr. 2 Sam 1, 19-24).
O sofrimento de David com a morte de Saul e de Jónatas
vem na linha do respeito, da lealdade e da fidelidade ao rei, «ungido do
Senhor», e da sincera amizade por Jónatas. Jamais o jovem filho de Jessé
respondeu ao ódio com o ódio, à crueldade com a crueldade. Jónatas tornou-se o
mais caro amigo de David: «Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti! Como
eu te amava! O teu amor era uma maravilha para mim mais excelente que o das
mulheres» (2 Sam 1, 26). A verdadeira amizade tem como preço o dom de si mesmo
e tem como ganho a experiência do amor. David, com a sua generosidade, com a
sua magnanimidade, ensina-nos a viver como homens e mulheres «segundo o coração
de Deus.
O amor cristão não é algo de genérico, de vago.
Dirige-se a pessoas muito concretas, com limites, defeitos e pecados. O próximo
são aqueles que encontramos no caminho, talvez caídos e cobertos de chagas. O
amor cristão vai até aos próprios inimigos: «Amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem» (Mt 5, 44).
Também quem professa a castidade consagrada não pode
viver um amor desencarnado, um amor que corra o risco de não amar ninguém. A
Sagrada Escritura diz-nos: "A doçura de um amigo dá segurança à alma"
(Prov. 27, 9); "Um amigo fiel é uma protecção" (Sir 6, 5); "Por
um amigo, podes perder dinheiro" (Sir 29, 20). Pensemos na amizade de
Jónatas, que amava David como a si mesmo (cf. 1 Sam 18, 1-5; 20, 1-41). Pensemos
no discípulo que Jesus amava (cf. Jo 13, 23). E pensemos em "Jesus (que)
amava Marta, a sua irmã e Lázaro" (Jo 11, 5).
Obrigado, Senhor, porque Te declaras meu amigo e me
permites tratar-Te como amigo: «Já não vos chamo servos, mas amigos» (Jo 15,
15). Obrigado por todos os amigos que me tens dado e por todos quantos me
convidas a amar, homens e mulheres. Os amigos fazem-me conhecer a mim mesmo, e
fazem-me conhecer-Te a Ti.
Obrigado pelas alegrias e pelos sofrimentos que
vivemos juntos. Com eles, aprendi que a partilha multiplica os dons e que,
dando generosamente, recebemos com abundância. Obrigado por cada um dos meus
amigos, que têm sido presenças de luz e de esperança na minha vida. Lembra-te
daqueles que ainda não experimentaram a amizade, ou que se sentiram atraiçoados
pelos amigos. Que todos possam experimentar-Te como Amigo, sempre presente e
fiel, sempre leal e generoso.
Fonte:
adaptação local de um texto de"dehonianos.org/portal/liturgia"
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