– Quarta-feira - II Semana – Tempo Comum – Ano par -
Primeira leitura: 1 Samuel 17,
32-33.37.40-51
No combate,
que o texto nos descreve, mais do que dois homens, David e Golias, enfrentam-se
duas teses, duas políticas: a tese da política da fé contra a tese da
política da força e da técnica humanas. É significativa a descrição de
Golias, filisteu, povo que já dominava a força dos metais e fabricava armas
desse tipo. David, pelo contrário, incapaz de usar essas armas, enfrenta Golias
«em nome do Senhor» (v. 45). «Uns confiam nos carros, outros nos cavalos: nós
confiamos no nome do Senhor, nosso Deus» (cf. Sl 20, 8). Confiar em Deus, mais do que nos
homens e nos meios humanos é um tema recorrente na Bíblia.
O nosso
texto realça a fé de David que enfrenta uma situação ignominiosa para o povo e
para a fé em Deus; a impotência do rapaz, mas também a sua fé na Providência
divina, já tantas vezes experimentada; o conteúdo religioso do desafio que é o
confronto entre os deuses e o único Deus verdadeiro. Assim se conclui que a
verdadeira fé pode enfrentar e desfazer as mais ameaçadoras dificuldades.
O texto que
a liturgia nos propõe hoje contém a quinta e última polémica de Jesus com os
seus adversários. No fundo é uma reafirmação de que o Evangelho transcende toda
a «ordem
estabelecida», e que ela deve ser relativizada quando não concorrer para o bem
do homem. O clima está cada vez mais carregado: Jesus mostra indignação
e amargura; os seus interlocutores revelam obstinação e astúcia e tramam a
morte de Jesus (v. 6).
Mas o Senhor
não se deixa intimidar. Continua fielmente o seu serviço profético, insistindo
numa instituição sabática que sirva o homem. É um drama que se irá repetir
muitas vezes até ao fim. Fazer bem ao homem, exigirá a Deus o preço da
eliminação do seu Filho.
As leituras
de hoje ensinam-nos a enfrentar as lutas e as dificuldades da vida de modo
correcto. Acanhar-se, como fizeram Saul e o seu exército, que «ficaram
assombrados e cheios de medo» (1 Sam 17, 11), não é solução. Mas uma esperança
ilusória, que leve a refugiar-se em Deus de modo genérico, esperando tudo dele,
contando apenas com a sua presença no meio de nós, como de algum modo tinham
feito os israelitas na batalha em que perderam a arca do Senhor (cf. 1 Sam 4,
11), também não é solução.
David
mostra-nos como enfrentar adequadamente as nossas lutas. Não se deixa dominar
pelo medo, pela falta de coragem, e procura os meios para enfrentar o combate:
«tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no
alforge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou
contra o filisteu» (1 Sam 17, 20). São instrumentos humildes e quase ridículos,
diante do equipamento «moderno» do filisteu. Mas eram aqueles de que podia
dispor. Quanto ao resto, confiava em Deus.
Quando
dispomos de todos de meios que julgamos necessários, podemos confiar mais neles
do que em Deus. Mas, quando nos sentimos pobres, avançamos porque Deus o quer e
no-lo pede. É a atitude da pobreza espiritual de que falará S. Paulo: «Basta-te
a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.» De bom grado,
portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a
força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas
necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou
fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 9-10).
David faz o
que pode e confia em De us. Alcança um triunfo que só poderá ser atribuído a
Deus. Por isso, todos ficarão a saber que há um Deus em Israel (1 Sam 17, 46).
Se a primeira leitura nos fala de vitória, a vitória de um «fraco», que Deus
apoia, o evangelho também nos fala de vitória, a vitória de Jesus sobre a
paralisia do homem e sobre a interpretação opressiva da Lei por parte do
fariseus.
Certamente
todos podemos ler nestas páginas da Escritura algumas experiências de luta
nossas. Provavelmente já todos nos encontramos perante situações que parecem
exigir forças e meios superiores àqueles de que dispomos, ou julgamos dispor.
Talvez, alguma vez, nos tenhamos sentido bloqueados, incapazes de actuar,
condenados à impotência, reduzidos a objectos da compaixão dos outros.
A Palavra de
Deus convida-nos à ousadia, a actuar: «em nome do Senhor» (1 Sam 17, 45), isto é, pondo n´Ele
a nossa confiança. Não podemos ficar sempre à espera de nos sentir idóneos para
enfrentarmos os desafios que nos são postos. Há que avançar com os meios de que
dispomos, conscientes dos nossos limites, das nossas paralisias, confiando no
Senhor. E a vitória irá acontecer, para que se «saiba que há um Deus em Israel»
(1 Sam 17, 46).
Num mundo
que nos enche de angústias e nos torna muitas vezes pessimistas, porque nos
parece que “tudo… jaz sob o poder do maligno” (1 Jo 5, 19), Cristo, “Homem
novo” (Ef 4, 24) dá-nos coragem, ilumina-nos, pacifica-nos e dá-nos alegria
(Cf. Jo 20, 20-21), porque n´Ele, “apesar do pecado, dos fracassos e da
injustiça, a redenção é possível, oferecida e já está presente. Insistimos
sobretudo na convicção de que «está presente». “Corramos com perseverança a
carreira que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da
fé” (Heb 12, 1-2), que deu a Sua vida por nós e, agora, glorioso, intercede por
nós junto do Pai (Cf. Heb 7, 25). E Jesus não faltará às Suas promessas: “Não
vos deixarei órfãos…” (Jo 14, 18).
Fonte: adaptação e resumo de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”
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